quarta-feira, 29 de junho de 2011

A carta encontrada

Copacabana
Correio de Beijo
De Maresia

Palavras Esquecidas
Para amiga querida, querida

Viveram juntos, namoraram juntos.

Problemas, questões, mudanças.

Acordaram a separação e venceu a desesperança. Cada um pro seu lado, vida que segue.

E tudo parece se ajeitar na dupla solidão. O mundo fica um pouco mais triste mas se aguenta, porque se aguenta tanta coisa, se aguenta isso também. Há distrações, e a tristeza dói quando lembrada. Desviam portanto, os pensamentos.

Mas toda casa tem armários, todo armário tem gavetas.
E tinha uma carta na gaveta. Escrita em outros tempos, com outros sentimentos, ou os mesmos com outras vestimentas, com outras roupas também penduradas, e sem uso.

Esquecemos de usar tantas roupas. Esquecemos de tantos sentimentos.

A carta conta o Amor. O Amor que se busca, que se persegue, que se conquista.
O Amor que justifica canções e economias, suspiros e atitudes.
O Amor que esqueceram que houve um dia.

A carta, quando entregue, trouxe mais Amor. Anos depois, quando encontrada, trouxe Dor. Onde náo há Amor, há dor. Náo há meio termo.

E a moça chorou. Porque tudo na vida que se quer é Amor. Quando reclamamos do outro, reclamamos por náo encontrar Amor em seus gestos e palavras. Quando discutimos a relação, discutimos os sinais exteriores do Amor. Quando emagrecemos, é por Amor. Quando engordamos, é raiva do Amor.

Quando escrevemos uma carta, papel e tinta, é para registrar. Para ficar claro e provado e visto. Para ser dito, além de sentido.

E carta trouxe de volta o amor vivido, intensamente vivido - os amores intensos sáo mais dolorosos quando se vão - é como perder um ente querido. Fará falta, muita, será esquecido em meio a rotina, mas nunca, nunca substituído.

A carta ficou lá, sem som e cheia de vozes. Sem movimento, inerte, e dançando com suas palavras vivas. O tempo suspenso a leitura prosseguindo prosseguindo prosseguindo...

A moça relembra o dia em que a leu pela primeira vez; a invasão de felicidade, suave, suave, feliz, segura.
Voltam os efeitos do amor, e das palavras sinceras do amor.
A sensação deliciosa do Amor.

Poderá buscá-lo, perdê-lo, enganá-lo.
Poderá até jogá-lo de volta e fechar a gaveta e o coração.

Tudo é possível, há várias saídas possíveis.

E a carta é uma prova, um documento - houve Amor, profundo Amor, extenso amor. Amor que salta de gavetas fechadas, e repete palavras já esquecidas.
Amor que abre portas de armário, e que se tranca dentro da vida dolorida.

Rio Sem Preconceito

Rio sem preconceito
com educação e saúde
com respeito


Espelho espelho meu
Existe alguém mais sem preconceito do que eu?

O Rio é, e sempre será, a terra da Liberdade


A Prefeitura do Rio de Janeiro delegou o Projeto Rio Sem Preconceito a Carlos Tufvesson, sob a supervisão da Coordenação Especial da Diversidade Sexual. Em festa impecável, ímpar em organização, foram premiadas as personalidades do ano de 2011 que mais contribuíram e se destacaram na luta contra os preconceitos de cor, raça e religião.

Premiados: Luciano Huck, Lucinha Araújo, Matheus,o jogador de vôlei, o deputado federal Jean Willis, Lea T, o ministro Ayres, o rabino Milton Kunder, Bruno Chateaubriand, Gilberto Braga, Ricardo Linhares e Preta Gil.
Reunidos, seus salários atingem três dígitos facilmente.

Linda festa. Apresentadores Cristiani Torloni e Toni Garrido. Bebel Gilberto cantou acompanhada por Pedro Baby. Luis Salem e Aluisio Abreu subverteram Je ne regret rien, ficou fantástico, e o elenco de Hair fechou a premiação com Deixe o Sol entrar.

Famosos, famosos, artistas, diretores, cantores, travestis, políticos, o prefeito e sua elegante esposa. Champagne. Flashes como trovões.

Senhores. O preconceito, sinto dizer, não está na elite econômica.
A elite já se protegeu. Os direitos a herança, pensão, doação já foram resolvidos com o casamento dos iguais em gênero e afeto. O preconceito está na falta de educação e de saúde.
Na falta de oportunidades de trabalho.
Na falta de orçamento para capacitação de professores.
Na falta de boas creches públicas para crianças até seis anos de idade.
Na falta de serviço psicológico gratuito.
Na falta de incentivo ao esporte, a música e ao teatro.

Enfim, na falta de tudo que nos torne um ser humano melhor.

A elite não precisa de prêmios. Já tem os seus ganhos, e são muitos. Muito bem empregados e instruídos, e vestidos, e resididos, e perfumados. As festas de Bruno Chateaubriand e seu companheiro André Ramos sempre foram disputadas. Aceitos e queridos pelos seus próximos, como tantos outros casais gays, merecidamente conquistaram o direito de legalizar sua situação. A transexual Lea T é filha de Toninho Cerezo e hoje desfila para a Maison Dior. Seria assim se tivesse nascido no complexo do Alemâo?

Lea T desfila na Europa

Ser rico e ter bom sobrenome derruba qualquer preconceito e abre qualquer porta.

Quero ver o Rio sem Preconceito nas comunidades. No investimento em educação, moradia e transporte de qualidade. Quero ver o preconceito contra o pobre acabar; o preconceito não é sexual, é social. Vamos confessar, mirar-nos nos espelho da verdade. Rejeita-se o pobre. Um negro mal vestido é bandido. Um negro bem vestido é um negão de tirar o chapéu. Uma negra da Baixada, magra e mal vestida é mendiga. Uma negra do Leblon, magra e bem produzida é maneca. Transexual pobre é traveco, travecão. Rico, é top model.

O Rio sem Preconceito parece-me a exploração do filão gay. O paparico ao melhor cliente, o que comprará as mercadorias mais caras.
Abonados e bem sucedidos, sim, lutam, estudam, buscam. Tenho muitos amigos gays que ganham melhor e são mais competentes que muitos heterossexuais. Buscam atingir a independência econômica cedo, para que se façam respeitar.

O Estado do Rio quer lutar contra o preconceito? Trate seus cidadãos com igualdade. Possibilite a todos as mesmas oportunidades. Vá além dos rótulos e elimine o preconceito de uma vez.

Não precisa festa, nem coordenadoria especial. Não precisa premiação, nem socialites maquiadas.
Precisamos sim, é de respeito ao cidadão nos atos administrativos do Estado. A todos os cidadãos, pobres e ricos.
Esse é o prêmio que merecemos todos, o prêmio da dignidade.

Prefeitura do Rio - para pobres, ricos, heteros e homos... Para todos

terça-feira, 28 de junho de 2011

Hay que reformar, sin perder la ternura

Rio
Havana
Brasil
Cuba

A Revolucionária e sua Luta Diária

Esta que vos fala, e Aleida Guevara, a que luta por seu povo e honra o nome de seu pai, Che Guevara



Caríssimo, vi, ouvi, aplaudi. Momento histórico de minha fugaz existência. Estive lado a lado com Aleida Guevara, a filha de Che Guevara, o corpo vivo e a alma eterna da Revolução Cubana.

Não vou enaltecer Cuba e seu sistema que deu certo. Relatarei aqui suas palavras, sábias, simples, solidárias, justas, enfeitadas pelo lindo sotaque cubano, e pelo seu olhar, direto e tranquilo. Sem pretender convencer ninguém de nada, convence a todos de tudo. Esta que vos fala, cujo ato de maior audácia é escrever, foi plenamente convencida por Aleida de que é preciso revolucionar. Mas comeces por ti, criatura, ela ensina: "O Homem Novo é aquele que transforma a si mesmo e à sociedade. Jamais está pronto, está sempre aperfeiçoando-se."

Sim, os cubanos se transformaram. De empregados explorados dos norte-americanos para donos de Cuba. De lavradores miseráveis em produtores. Detém os meios de produção e os meios de comunicação, que abastecem e informam su pueblo. Tem rádios e televisão com 5 programas diários para a educação política dos jovens. Conhecem sua História, sem segredos, em prosa e verso. Tem mais e melhores hospitais e escolas que todo o Brasil. Estão agora lutando contra o analfabetismo científico, pasmem.

Mas isto não é de graça, como explica a líder internacional. Isto custa trabalho, e sacrifício. "Uno piensa como vive. Si vive solo para si, piensará solo en su bien estar, jamais en el ben estar social". Viver com foco no bem estar social. Ter consciência social. Como fomentar tal virtude? Ela ensina: através do trabalho voluntário, onde o ganho é entender-se útil. Através do constante diálogo com os jovens. Acrescenta que a "revolução não é para levá-la na boca para fora. É para trazê-la no coração".

Várias perguntas foram feitas pelos presentes. Percebo com tristeza que a maioria quer mais é falar de si, promover-se, citar seus feitos e conhecimentos, do que perguntar. Mas Guevara Filha é uma dama. Respeita os egos. Aguarda que terminem. Anota suas perguntas, para respondê-las com precisão. Encontro uma colega de faculdade, e mudanças à parte, nos reconhecemos. Bem criadas, alimentadas e medicadas, sofremos com a dor e as privações dos inocentes de nosso Brasil. Ela pergunta, apropriadamente, como Cuba vê o papel feminino na sociedade, como lidam com o aborto, e que acham de termos uma mulher na Presidência.
A Sra. Aleida elogia as cubanas. Dizem que sabem fazer-se respeitar e estão ombro a ombro com o homens. Diz que chegaremos ao momento de escolher o melhor Presidente, não importa se homem ou mulher, o que interessa é que seja o melhor capacitado. O aborto é livre, e realizado com segurança em hospitais muitíssimo bem aparelhados - aliás, Cuba ofereceu bolsas de medicina a jovens e jovens latino americanos, brasileiros inclusive. Foram. Cursaram e concluíram com louvor sua graduação. Retornaram aos seus países de origem, e seus diplomas não foram reconhecidos. Temos milhões de crianças sem assistência médica. Essa é Cuba. Esse é o Brasil.

Chega a minha vez de perguntar. Tremo, nunca estive diante de pessoa de tantos feitos, com a carga genética do guerrilheiro. Ela, que constrói uma sociedade justa, com o amor e a firmeza necessárias para que se lo cumpra, a sra. Guevara está a dois metros de mim, vejo suas mãos, que pegariam agora mesmo em armas se necessário fosse. Indago qual, dentre as muitas ações tomadas nos últimos anos, a que garantiu o aumento da qualidade de vida de su pueblo, e qual, dentre as ações que os brasileiros devem tomar, seria a mais urgente para nuestro pueblo.

Levanta-se, e me olha nos olhos. Se disser-me neste momento que eu largue tudo e junte-me à sua luta irei sem pestanejar. Não o faz, mas já juntei-me à sua luta sim. Responde que o melhor que fizeram foi fortalecer a economia cubana. Sem uma economia desenvolvida não se desenvolverão a educação e a saúde. E diz que o que temos que fazer, urgente, é a Reforma Agrária. Enquanto as melhores terras estiverem nas mãos de 27 famílias teremos fome no Brasil. Prossegue afirmando que somos o único país que tem a Reforma Agrária na sua Constituição, e que, sin embargo, no la hicemos.

Aplaudida, aplaudida, aplaudida.

Um argentino pede que fale sobre a internet e qual a relação com a China.

"Não podemos pagar por acessos individuais", ela informa com a maior dignidade. " Os médicos e professores e estudantes tem correio eletrônico, e os computadores que temos são fruto de negociação com os chineses". Sim. Os cubanos não tem internet em suas casas, a banda larga é caríssima. Sem vergonha nenhuma. Não podem pagar, não tem. Ponto.

Mas todos tem casa, comida, saúde, e prosperidade. Vivem de cabeça erguida, saudáveis, alimentados, prósperos.

São respeitados dentro e fora de seu país. Morreram em lutas armadas, em menor número que nossos mortos por desnutrição, por fome, por acidentes de trânsito e por falta de assistência médica.

E Cuba tem essa luz, essa Aleida Guevara, a protegê-los e lutar por eles.
Terão,certamente, tudo o que precisarem.

domingo, 26 de junho de 2011

O Discurso Direto do Erotismo

Rio de Janeiro,
Cidade Maravilhosa
Cheia de encantos mil


Reações inequívocas

Pensou em quê?


Somos seres sexuais. Chega de blá blá blá. Podemos amar o próximo, desenvolver o intelecto, o emocional, o psíquico. Cultura, Arte, Música. Recreios para a alma e alentos para o Espírito.

Anos de civilização, organização da sociedade e imposição de regras de conduta ao bicho homem, e alguma (necessária) castração. Vivemos assim muito bem, controlados, respeitando (ou não) nossos pares, percebam a repetiçào dos parênteses - há ressalvas sim. A maioria comporta-se bem com seus impulsos sexuais, mas todos nós respondemos direta e instintivamente ao apelo erótico e sua maior arma, a imagem do corpo.

Uma amiga inteligente e sensível impressionou-se com um quadro, tela a óleo, exposto em chique galeria do Shopping Leblon. Em meio a paisagem deslumbrante da praia, a derriére de uma deusa carioca ofuscava todo o resto.

É o discurso direto do erotismo. O convite ao sexo, à satisfação do desejo absurdo de que somos providos pela condição animal. Poderemos sofisticá-lo, domá-lo, controlá-lo. Direcioná-lo para o ser amado, e inventamos a fidelidade, como reserva ecológica para a preservação das relações de amor e respeito. Senhores, a fidelidade é um instrumento de controle, é o apelo do amor perante as tentações...

Tudo isso comprovou-se ontem. Éramos quatro mocinhas elegantes, em agradabílissimo encontro, noite linda, muito assunto. Bem acomodadas em uma pizzaria familiar, ambiente jovem - os jovens são mais soltos, e eis que uma moça de seus dezessete anos no máximo levanta-se, ou chega subitamente, náo sei. Sua túnica, curta e solta, de seda preta, fininha, cobria somente a região da calcinha. Além disso, não ia. De pé, era assustador. Levava a crer que havia sido roubada, roubaram-lhe as calças, a legging, o short, o que fosse. Fazia falta, e muita, uma segunda peça, poderia ser até uma peça curta, o que náo podia era uma mocinha sair de casa daquele jeito. Via-se, pelas sandálias e bolsinha, caras, e pelo bom trato da pele e cabelos, que não era dinheiro o que faltara para completar o traje. Faltou orientação mesmo. Não se pode permitir que a filha ou enteada saia sem calças pela noite do Rio de Janeiro.

Mais não bastasse, a moça resolveu inclinar-se para fotos. Estamos na época das fotos, flashes, digitais, e os amiguinhos de sua mesa a solicitavam. Claro. Todos sentados, a moça derrama-se para a frente, o bumbum arrebita, e toda a pizzaria, clientes, suas esposas sisudas, os garçons, o caixa, os seguranças, os manobristas, as cadeiras, as mesas, e as pizzas também, todos vimos, revimos e reagimos àquele bumbum de fora, às 23 horas do sábado, na Cobal do Humaitá, ao ar livre.

Mostrava e escondia. Ofertava muito e retrocedia. Posso afirmar que era um bumbum claro, pequeno e usava calcinha ínfima, menor que muitos bikinis sob o Sol.

Os homens riram nervosos. As mulheres emburraram. Os amigos da moça aproveitaram.
Mais foto, mais gargalhada, a Cobal parou. Ela não sossegava quieta.

Certo que os acompanhados chegaram em casa e fizeram amor com as mulheres. Excitados e eufóricos. Riam, nervosos, mexiam-se nas cadeiras. Quem náo tinha par, deu seu jeito, ah deu. Um senhor a minha frente estava estagnado, olhos arregalados, parecia diante de um fantasma. Pensei: será que este senhor nunca viu um bumbum assim ou é o comportamento que o choca? Seus olhos eram o retrato do espanto.

As mulheres enciumaram. Outras brincavam, melhor não ficar chato, mas todos, todos saímos dali intrigados. A beleza feminina e seu atrevimento. Sua ousadia, sua provocação. Qual dos senhores ali presentes resistiria se essa moça se aproximasse? Duvido. Seria pedir demais.

Minha reação? Voltar a malhar, caríssimos.

Podemos ser ótimas pessoas, carinhosas, alegres, inteligentes, independentes e bem resolvidas.

Mas para o frisson e o desejo irresistível no bicho homem, o discurso direto é o papo reto de um bumbum arrebitado e um belo par de coxas.

sábado, 25 de junho de 2011

Sou Roberto e tenho uma nêga chamada Teresa

Rio, Noite, Lapa
O Rei
A Rainha


Roberto Carlos tem outra
A Rainha do Samba, Teresa Cristina, linda cantando Roberto Carlos,o Rei
Foto: Divulgação



Roberto já foi Rock. Lá pelos anos 70, era um rebelde sim, e dos bons. Mal intencionado, de cabelos compridos e carros velozes pela Estrada de Santos. Guitarradas.
Assumia que tudo estava certo como dois e dois são cinco - a sabedoria dos bons rebeldes.

O passar dos anos o acalmou. Largou disso. Entregou-se aos lençóis macios onde os amantes se dão, pediu um café para nós dois e por aí afora. Ganhou Globo Especial, Reveillon e Natal na Globo e iates, cruzeiros com Roberto.

Só que, como bem diz o dramaturgo Leandro Goulart, deixemos o rótulo para as azeitonas. Somos muitos em um só. Temos muitas faces e vamos mostrá-las, todas.
Embaixo do REI, o transgressor e seu rock de primeira. Embaixo da sambista Teresa Cristina, a cantora de primeira. Embaixo do céu, o Circo Voador.

A mistura ficou sensacional, bicho.

A banda "Os Outros" leva um som de rock brasileiro. Titãs. Barão Vermelho. Paralamas talvez.
E fizeram um show fantástico para um Circo vibrante. Embaixo da Lua, embaixo dos Arcos. Embaixo, por cima e pelos lados das mil pessoas que cantaram as velhas músicas de Roberto, com sua Teresa. O Portão, Quero que você me aqueça neste inverno, Eu quero ser sua canção, eu quero ser seu tom, Adeus, As curvas da Estrada de Santos, Como dois e dois.

A juventude ali presente sabia as letras, e cantou junto. As letras das músicas que só estáo nos cds velhos, dos velhos tempos, e que falarão para sempre. Como chegaram aos ouvidos desta garotada? Sabiam todas, e cantaram. Os representantes da geraçao anterior, e da anterior a anterior, ali estavam e cantaram de novo. Um milhão de amigos bem mais forte pode cantar, sem dúvida.
Ela canta Eu te proponho, todos aceitamos na hora. Abracei-me ali, ao meu amor, prôpus, e aceitei seguirmos juntos a mesma estrada, vejam bem, com a bençao de Teresa Cristina.

Esqueçamos a Teresa que canta Paulinho da Viola, Martinho da Vila, descalça. A menina pobre de Vila Valqueire incorporou a fã, armada com sua voz possante - e que descubro versatilíssima - surpreendendo os que já a conhecem. Defende com garra a beleza das canções de seu ídolo. É outra cantora, é outra Teresa, entregue, apaixonada. Encarna as amadas do Rei, uma a uma. Distribui rosas vermelhas, distribui sorrisos, canções de amor. O casamento da voz de Teresa com o som dos Outros deu certo, foi o côncavo e o convexo.

Da onde veio a idéia? A explicação vem de meu amor, eita homem bem informado. Teresa foi jurada no Sambódromo, este ano, quando Roberto foi homenageado pela Beija Flor. A sambista desabou de emoção. Confessou ardorosamente sua paixão, e a idéia evoluiu.
Aliás, como seria bom se a moda pegasse: cada cantora homenageando seu ídolo, rasgadamente, como uma criança. Permitindo-se soltar o coração.

Nada de Claudias Leite e Ivetes e Hebes a cantar dramaticamente, em longos vaporosos, com a orquestra e arranjos originais, ou quase. O Roberto de Teresa é o Roberto sem rótulos, que se permitia passeios musicais variados. Ousado, sonhador, quente, mal criado, ou vocês acham que era fácil mandar todo o mundo para o Inferno? A repetiçao da frase a suavizou, mas é forte em sua criação, e exigiu, em sua época, atrevimento para lançá-la aos quatro ventos.

A majestade do samba criou um reino novo, livre, leve, solto, roqueiro, onde todos somos súditos dela e do Rei. Onde tudo fica certo, como dois e três sáo cinco.

E só para fechar, eu não sei Roberto está namorando, ou solteiraço, mas o fato é que ele tem uma nêga chamada Teresa.

O abraço que comemora o sucesso. Teresa, com flor na cabeça e no coração. Os Outros: Vitor Paiva, baixo, Fabiano Ribeiro, bateria, Eduardo Sodré e Papel guitarras, Botika vocais, e Yuri Villar sopros.


Roberto Carlos, desfilando na Beija-flor, Teresa devia estar por perto, julgando e pensando: como é grande o meu amor por você...

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A Música IIusória de Guinga

Le Blon, terra da música
terra da arte
sou abduzida pela Música ilusória de Guinga
e da Orquestra Sinfônica da Petrobrás

Guinga, ele mesmo, em foto de divulgação. Aceitemos seu convite, que a música nos una


Dia 22 de Junho, quarta feira coroada pela música. E que música.

A música em sua forma sublime e em sua função mais nobre: levitação.
A orguestra sinfônica, regida pelo belo e talentoso Carlos Prazeres, elevou-nos, suave e certeiramente, ao mundo astral.
Entre as estrelas.

Esse projeto - MPB e JAZZ, concebido por Wagner Tiso, - é, sem força de expressão, uma viagem. E eu me deixei levar. Fascinante viagem, pelos violinos sem fim da Orquestra Sinfônica da Petrobrás, e pela composição de Carlos Althier de Souza Lemos Escobar, mais conhecido como Guinga.


Em seu oitavo ano, o projeto já homenageou Noel Rosa, Dolores Duran, Jacob do Bandolim, e trouxe convidados como Stanley Jordan e Dominguinhos


Autor de delicadezas preciosas como Senhorinha, imortalizada por Milton Nascimento, e o Silêncio de Iara, um hino ao murmúrio das águas, Guinga é apresentado como um compositor popular. Desculpem, senhores, não é náo. O povo náo conhece Guinga, não teve esta oportunidade, esta possibilidade. O povo está direcionado para outras atrações, que dificultem propositadamente seu conhecimento sobre a riqueza musical do nosso Brasil.

Uma pena, devia ser conhecido por todos. Ouso dizer que sua música devia ser obrigatória no curriculo escolar: haveria uma matéria sobre os compositores brasileiros, e ele lá estaria. Emblemático. Há em suas notas, Villa Lobos, certamente que há. Em suas letras há pitadas de Chico Buarque. Conduz-nos a planícies amanhecidas, e, por incrível que pareça, sua música lembra os silêncios da alma, quando calamos para ouvir melhor a voz do coração.

É carioca, e sua carioquice aparecerá no balanço de Abluesado e Geraldo no Leme, mas há algo de Minas Gerais nele. Como se viesse do interior de Minas, com suas tranquilas montanhas e riachos e terrenos verdejantes. Acalmando, explicando, reverenciando.

O som produzido foi amplo, extenso, vasto. Infiltrou-se pelos ouvidos e entorpeceu os 900 espectadores do Teatro Oi Casa Grande. Testemunhamos a execuçao inicial, o Prelúdio das Bachianas Brasileiras número 4, de Villa Lobos, em total sintonia com as execuções que seguiram: Casa de Villa,e Sete Estrelas. Em Canção Desnecessária, ouvimos a voz rouca de Guinga pela primeira vez, e é, em sua imperfeição, humana, gentil, sofrida.

Sugiro que escutem. Sugiro que escutem essa valsa, essa especificamente. A Música Ilusória e avessa, como ele mesmo diz. Há tristeza, muita, mas não a tristeza da dor sentida, mas a da dor cicatrizada, que serviu para amadurecer a emoção. Vinicius de Moraes tinha razão - a tristeza torna a beleza especial, incisiva, intrigante, profunda.

Ao falar com seu público, Guinga transborda emoção. A elegância em elogiar os músicos, com franca admiração, enaltecendo sua dedicaçao ("são escravos da arte"), e de pedir aos presentes o que é impossível recusar: "vamos nos unir, vamos deixar as rusgas que não levam a nada, vamos aproveitar a intimidade que a música proporciona." Um recado de amor e de paz a ser transmitido. Eis-me aqui: seguiu para os caríssimos o sábio recado do artista.

Finda o show com Senhorinha, bis e outro bis. Volta ao palco três vezes, é ovacionado. De mãos dadas com o Maestro, e com os seus especiais participantes Lula Galvão, Jesse Sadoc, Paulo Sergio Santos e André Boxexa, respectivamente no violão, no trompete, na clarineta, e na percussão.

Sim, Guinga, vamos unir-nos ao redor de sua música. Com você e a Orquestra Sinfônica da Petrobrás, o mundo lá fora ficou mais leve, mais íntimo, e mais bonito.
Ilusão, ou náo, mas com certeza mais bonito.


Nota: você sabe a diferença entre Orquestra Sinfônica e Filarmônica? Deixa que eu explico. Diferem pela natureza de sua criação: a primeira contaria, para sua manutençao, com a verba gerada por suas apresentações, digamos assim. A segunda, patrocinada por amigos e admiradores. Atualmente todas as orquestras são mantidas por instituições públicas ou privadas, portanto fica só a intençao da formação inicial.
Não há diferença entre os instrumentos e o número de músicos; tais requisitos são determinados pelo compositor ou pelo adaptador da obra para Concerto. A Orquestra de Câmara apresentará menos instrumentos, e incluirá o violão, para um tom mais intimista

terça-feira, 21 de junho de 2011

A fome dos juízes

Terra Adorada,
Idolatrada,
Salve salve


O almoço será servido

" CNJ aprova auxílio-alimentação para juízes brasileiros

Por uma penada administrativa, os juízes de todo o País passarão a receber, além do salário superior a R$ 20 mil, auxílio-alimentação e poderão, ainda, vender e embolsar 20 dos 60 dias de férias a que têm direito anualmente, além de tirar licença remunerada para fazer cursos no exterior e não remunerada para tratar de assuntos pessoais.

Os integrantes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovaram nesta terça-feira, 21, o texto de uma resolução que amplia as vantagens dos magistrados e permite o pagamento imediato desses privilégios pelos tribunais de todo o Brasil.

Os novos benefícios não têm respaldo da Lei Orgânica da Magistratura (Loman), de 1979. Para conseguirem esses privilégios, os magistrados argumentaram que, pela Constituição, devem ter o mesmo tratamento garantido aos integrantes do Ministério Público. A Lei Orgânica do MP prevê essas regalias para os integrantes da carreira." (Felipe Recondo, o Estado de S.Paulo, 21 de Julho de 2011)


Senhores, caríssimos e queridos senhores.

A somar todas as verbas divulgadas pela mídia - os 20 milhões do Palocci, salários e gratificações do funcionalismo público, os contratos milionários com a empreiteira Delta, firmados pelo ilibado Governo do Estado do Rio - aos benefícios aos magistrados e membros do Ministério Público, todos nos sentimos absolutamente tranquilos ao afirmar que o Brasil é de uma forma incontestável, um país rico. Riquíssimo. O dinheiro corre fácil e farto nas veias de nossa terra.

Sobra verba e os homens públicos extrapolam. É a vez dos juízes. Conhecidos pelo excesso de critérios e detalhes processuais, e argumentos fundamentados no melhor entendimento, e concursos, e requisitos, esses senhores perdem o juízo quando autorizam, em causa própria, benefício alimentação. Esses senhores perderam o bom senso.

Ascintosamente advogam por si e forçam a interpretação da legislaçao, com tamanha conveniência que assusta. A lei é sua rotina e especialidade; sabem que seu vales e benefícios teriam que ser garantidos por Lei aprovada no Senado Federal, mas por ora servem-se fartamente do Conselho Nacional de Justiça. A Advocacia Geral da União tentará derrubar o apetite judiciário, e confio que tire o doce da boca dos gulosos senhores magistrados.

Seus vencimentos náo sáo suficientes, pobrezinhos. Ganham pouco. Em breve pleitearão também bolsa escola, para seus desassistidos filhos. Benefício é benefício, e ninguém pode ser excluído do abraço paternalista de nosso Estado. Ao Ministério Público, e aos Magistrados, o benefício alimentação.

Engordaráo.

Aos alunos da Escola Pública, merenda estragada. Adoeceráo.

Aos doentes do Hospital Público, a sorte.

Em rede nacional, Fátima Bernardes, acima de qualquer suspeita, afirma que náo há CTI disponivel para uma criança de 7 anos internada na rede pública de Pernambuco.
Provavelmente esta criança falecerá, como outros mil brasileiros do mesmo Pernambuco faleceram por falta de estrutura hospitalar. Neste momento esta criança definha por falta de verba. Por falta de orçamento.

Seus impostos estáo em dia? Os meus estáo. Que bom, pois custearão a licença remunerada para que as excelências estudem no exterior. O quê? Não sei. Alguma ciência de aplicaçao imediata que traga alívio e prosperidade aos pacatos cidadãos brasileiros? Não sei.

Ah, sim, tem mais. A merenda estragada e o hospital sem UTI não são problemas pessoais dos togados. Se fossem, teriam eles dias garantidos de afastamento para resolvê-los, também encarregaram-se de aprovar essa indispensável medida. Podem ter seus problemas pessoais, sim, e compreendem que seu afastamento do exercício jurisdicional náo será remunerado. Que cordatos que são. Assim que os resolvam, voltarão tranquilos para a labuta diária. Minha empregada doméstica náo. Faltou na segunda feira para levar a mãe idosa ao Hospital Geral de Bonsucesso. Não conseguiu que a senhora fosse atendida. Não conseguiu senha. A mãe dela continua doente, precisará retornar ou procurar outro hospital. Vou descontar, ah se vou. Se o Dr.Juiz tem desconto, ela terá também. Igualdade de tratamento, para o juiz e para a doméstica.

O Brasil precisa de uma revoluçao.
E é urgente. Somos ricos em divisas e miseráveis em nosso egoísmo. Ricos em dinheiro, e cegos por dinheiro. Até Dom Miguel do Mosteiro de São Bento e sua cegueira pedagógica.

Esquecem que sem integridade náo haverá, nunca, dinheiro que chegue.

Mas enquanto isso, lavem as mãos. Sentem-se à mesa, será servido o almoço.
Os juízes e magistrados e outros que o valham teráo sua conta paga pelo sagrado benefício alimentação.

Nota: com as devidas desculpas ao meu amigo Adriano, juíz, e gente boa para caramba

domingo, 19 de junho de 2011

O patinho Feio

Rio de Janeiro,
O bom Patinho Feio


Lá vem o Pato, o feio que é bonito


O Patinho Feio, em texto de Maria Clara Machado.
Ao Centro, George Sauma. À direita, sua mãe, a elegante pata Fabiana Valor, cercados por Nedira Campos e Claudia Paiva.

A história do Patinho Feio, no conto original de Andersen, é uma história de rejeição, de bullying e de preconceito. A mãe pata choca equivocadamente um ovo de cisne. Nasce a ave, feiosa, que será espezinhada pelos irmãozinhos e pela própria mãe. Abandonado e entregue à própria sorte, o infeliz sobrevive e encontrará a felicidade entre os cisnes. Veja bem: será feliz entre os da mesma raça. Queridos, é a história do nazismo. Rejeita o que náo é ariano, judeu com judeu, alemão com alemão.

Fui. Fui com meu pequeno. Algo me dizia que George Sauma, o filho pateta de Marisa Orth em Toma Lá Dá Cá, amenizaria a crueldade do conto. Algo também me dizia também que Renato Vieira, coreógrafo dos deuses, não comungaria de maldades.

É, tenho intuições. Às vezes me enganam, mas não desta feita.
Minhas intuições estavam certas, certíssimas.

O que assistimos, eu e meu Patinho, foi a uma versão politicamente correta do clássico. Entre lindas coreografias e leves canções o Patinho Sauma é desajeitado. As irmãs patinhas são fofas e o maltratam, mas não tanto; eis que ele reage a tempo e toma sozinho a decisão de ir embora.
Vejam bem, é completamente diferente - não é a Mummy malvada que expulsa o filho, e ela ainda pergunta se ele quer ir. Há a figura da Rainha Pata Avó, uma imperatriz Pata, que bate o martelo: vá mesmo. A maldade dilui-se entre os três personagens, Patinho, Pata e Pata Avö, o que dilui também a covardia da história original.

No seu solitário destino, o Patinho sofrerá. Mais uma vez a versão é vitoriosa e apresenta gatinhas, galo, galinha, gato, dançando divinamente. Pudera. Renato Vieria os coreografou.
O pas-de-deux do galo e da galinha Fabiana Valor é um primor, tecnicamente preciso e engraçadinho com bicadas e ciscadas. Figurinhos de excelente gosto tornam o visual de toda a peça delicioso. As crianças aprendem o refrão criado por Jonh Neschling, e o Patinho está só, mas náo triste e sofrido.

O final se aproxima. O patinho assume: sou feio mesmo, em voz alta, corajosamente. Entram em cena cisnes cor de prata, em passos de ballet. Cercam-no, levam-no e ele volta um príncipe negro e reluzente.

Apuro os ouvidos. É a hora da verdade. Quero só ver se vão dizer, no palco da Gávea, para uma platéia seleta, que só o belo é bom. Que bom que tornou-se belo e encontrou os seus iguais. Que bom que os patinhos estão com os patinhos e que os cisnes estão com os cisnes. Aguardo essas declarações preconceituosas que justificam os guetos e os holocaustos. Aguardo o pronunciamento da tirania da Beleza. Eis que nada disso ocorre!!! Eis que o Patinho declara que é feliz porque descobriu quem é!!!! Aplaudo.

As crianças aplaudem e aprendem: somos felizes ao descobrirmos quem somos. Nada de tentar parecer outro bicho. Assuma-se, seja que bicho você for. Pássaro, gato, pato ou flor (eu também aprendi o refrão).

Conseguiram. A história triste com final feliz mostrou-se triste e superável. Sábia versão da vida: a tristeza pode ser superada, pelo auto-conhecimento.

O Belo Patinho Feio conseguiu o que levamos a vida inteira e muitas vezes náo conseguimos; saber exatamente quem se é.

E eu descobri quem é George Sauma. Um ótimo ator. Pato ou cisne, feio sempre, menos quando sapateia. Aí, caríssimos, George é um gato.

A Casa Assassinada

Na Primeiro de Março,
estamos a um passo da Ouvidor
E aqui vimos a casa e a mulher
morrerem de amor



Maison de France, Maison du Thèatre
Xuxa Lopes e Pedro Henrique Moutinho, rasgando a linha do equilíbrio


Abre o veludo.

Uma mulher, ricamente vestida, jaz sobre um catre de madeira.

Sobre ela um rapaz nu, jovem e musculoso.

Vemos seu dorso.

Costas, glúteos.

Ele a chama de mãe. Chora e geme de desejo.

Afasta-se da mulher inerte, e põe-se de pé.

Nu frontal. Nu masculino. Choca, mas o que seguirá chocará também.

Incesto, traições, manipulações da verdade - e só ao fim entenderemos. O diretor nos manteve engasgados por hora e meia. O texto genial guarda para a última cena a verdade, e a anuncia pela garganta da atriz: "a verdade é uma ciência solitária".

A arte imita a vida. A Solidão eterna dos segredos do desejo.

A imposição do silêncio face aos fatos, face às regras, face às imutáveis regras da tradicional aristocracia mineira, e das regras que impomos cruelmente a nós mesmos em quaisquer sociedades....

Por quê?

Porque nao amar o jovem jardineiro e suas violetas?

É possível proibir o amor?

O texto de Lucio Cardoso foi escrito em 1959. Montado e remontado por nomes imortais do teatro, agora em cartaz no Maison. Xuxa Lopes como protagonista, papel vivido por Norma Bengel em outras épocas. Sua Nina encanta e revolta. Do alto de seus seus sessenta anos é mais sedutora que muitas jovens de quinze; consumida pelo desejo e pela impossibilidade de assumí-lo, age com crueldade. Odiada. Amada. Seduziu, assim, a todos nós. Outro sedutor deslavado é seu cunhado travestido, caricatura homossexual, mantido pela família Menezes como um exilado, uma vergonha, trancado em seu quarto como um leproso. Rejeitado por todos, é o ombro amigo de Nina. Magistral interpretaçao de Sergio Rufino; seu travesti exerce seu efeminismo (palavras do patriarca Menezes) com extravâgancia e transborda sentimentos. É talvez o único amigo de Nina - toda mulher precisa de um confidente, e quem melhor que ele? Ele, o travesti. Submete-se ao cárcere, mas nào ao pulso forte do irmão mais velho. Veste-se de mulher, rica, opulenta, louca. Como a Mulher, submete-se à aparência da regra, mas jamais à regra em si.

E a casa cai, dia a dia, sob o peso de amores e mortes. Toneladas de lembranças, sonhos, delírios. A casa ruindo sob peso insuportável de revelaçoes, pontuadas por tangos e anunciadas por óperas. Fantasmagóricas óperas.

Drama, drama, tragédia. Do vermelho sangrento do vestido de Nina ao negro traje de luto luxuoso, da mesma forma os personagens passeiam entre a Paixão e a Morte. Tortuoso passeio.
Sofrido como a figura da cunhada Ana, tão sombria, ventríloqua, boneca feia e sem vida. Não se iludam. Essa mulher calada traz em si a revolta dos mal amados, e com dedos de ódio modificou o destino dos Menezes.

Para quem entende o drama de amar o proibido, o espetáculo é fascinante.

Para quem conhece o potencial repressor do Homem, é assustador.

Fascinante texto, o autor brasileiro parte da característica tradicionalista da zona rural de Minas Gerais - "lugar horrível para se morrer", como disse a protagonista Nina - e constrói uma trama universal; devia ser obrigatória a leitura do livro que o originou.

Fascinantes a montagem e a direçao de Gabriel Vilella. Maliciosa, manipuladora, prepara flagras e alívios. Sem flagrantes haveria sombras somente. E dolorosas dúvidas. Como propiciar o alívio sem oferecer, primeiro, a dor?

O espectador teme, sinceramente, que as dúvidas sejam certezas. Reais.

Seria por demais possível: reconheceríamos que a saudade e o desespero coabitam no casarão da Solidão... e que o casarão não fica em Minas; o endereço é o seu, do seu peito, caríssimo leitor, bem aí no meio do seu coração ...

Sergio Rufino, estrela, estrela, estrela mil vezes

sábado, 18 de junho de 2011

O Salão do Livro

Rio de Janeiro
Trabalho e Cultura o ano inteiro
Mas Salão do FNLIJ é só uma vez por ano
Que pena


Semear a Leitura é Semear Cultura
Vamos Regar


Você sabe o que é a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil?
Deixa que eu explico: é uma instituição de direito privado, de utilidade pública federal e estadual, de caráter técnico, educacional e cultural, sem fins lucrativos, estabelecida na cidade do Rio de Janeiro. Criada em 1968, é a seção brasileira do International Board on Books for Young People - IBBY.

Isto quer dizer que é tudo de bom.

O Estado interfere apenas reconhecendo sua utilidade pública. Os cidadãos trabalhadores do ramo do livro (autores, editores, bibliotecários,pedagogos, e por aí vai) organizaram-se para que o livro, além de prosseguir como negócio rentável, possa chegar a todos.

Tem por Missão (e está em sua página oficial) promover a leitura e divulgar o livro de qualidade para crianças e jovens, defendendo o direito dessa leitura para todos, por meio de bibliotecas escolares, públicas e comunitárias.

Defender o direito à leitura. O direito ao sonho. Ao conhecimento. A cultura.
Defender o direito a bibliotecas. Defender, defender, defender.

Em nossa sociedade tudo está sob ameaça, e precisamos de defesa.
Uma criança que náo conhece Monteiro Lobato está ameaçada de uma infância sem sítio, sem Emília, sem D. Benta, uma infância sem esse sonho. Uma infância castrada do sonho.

O livro para a criança é tão essencial quanto suas refeições. Provado que só o alimento náo basta para crescer.

Há crianças que encontrarão facilmente na leitura a passagem para outro mundo possível, atrás da capa um mundo novo, povoado de personagens e de cenários, e de fantasias e de mensagens. Aprenderão de pronto a IMAGINAR, a enxergar imagens, formas e ações, com os olhos da emoção.

Outras precisarão também de muita orientação especializada. Bibliotecárias, professoras, contadores de história. Que lhes seja dado o passaporte carimbado para as férias no parque da diversão das letras.

Eu fui ao Saláo do Livro Infantil. Rapidamente, ao apagar das luzes. Meu Amor que me avisou. Eita homem bem informado, sô. Cadê a divulgação? Os Banners do evento, pendurados em postes em frente ao Rio Sul, náo sáo vistos, nem de dia, nem à noite. São bandeirinhas, em fundo branco. No mesmo ponto, há lindos folders luminosos oferecendo espetáculos teatrais e musicais, que chamam a atençao pelas fotos de famosos, e pela beleza e qualidade. É passar e olhar. Tem fartos patrocínios e gerarão bilheteria. Explicado.

Enquanto houve tempo, precioso tempo, andei entre os stands da feira. Logo na entrada o stand a troca de livros usados, em bom estado, por outros, também em perfeito estado. Troquei. Gostei.

Passeei como criança, fascinada pela fartura de temas e por ilustrações encantadoras, estupefata com a produção farta, rica, abundante. Temos de tudo na literatura infanto juvenil brasileira: ficção e aventura, temas da terra, fauna, flora; urbanos, rurais, indígenas. Temos de tudo, e tudo agrada.

O stand da Editora Cortez merece destaque: seus livros enaltecem nosso Brasil. O escritor Marcus Vinicius Lucio traduz, com carinho e precisão, as palavras complicadas de nosso Hino Nacional, e o livro ficou lindo. Explica tim tim por tim tim. Uma coleção de autores vários sobre nossas capitais, perfeita para uma aula agradável de geografia.
E assim vai. Aqui Maria Clara Machado, ali Lygia Bojunga Nunes. Adiante Ruth Rocha, na esquina ôpa: Bruxa Onilda!

Na bilheteria, na organização, em todo o salão, jovens ligados a arte e cultura trabalhando bem e ganhando bem; conduzindo, guiando, compartilhando o que aprenderam.

Eu vi um projeto de mundo novo que gostei. As com crianças uniformizadas, do ensino público, em visitas com suas mestras heróicas, sendo semeadas para florescer saudáveis.

Pareceram-me bem felizes ali, defendidas dos videos games e do funk pesado; da violência doméstica e da falta de carinho. Cercadas pelos autores mágicos que falam sua língua, e suavemente vão contando-lhes histórias e assim, devagar e consistentemente cultivam, página a página, palavra a palavra, o imaginário infantil.

Poderoso elemento transformador da sociedade - a leitura partilhada promove a tolerância, a paz e a solidariedade. Os infantos saíram munidos. Cada um com um livro, presente valioso, nas mãos. Um livro bom, novo, dado com carinho pela Fundaçao, para suas crianças.

Presente de qualidade. Leitura de qualidade. Cultura.
E Cultura, por mais incrível e louco que pareça, cultura promove Amor.

Esta que vos fala e Marie Claire, personagem da Bruxa Onilda...

quinta-feira, 16 de junho de 2011

A oportunidade

Gávea,
Sábado,
Rio, frio.

Entrada Principal Shopping, onde tudo aconteceu

Desço apressada do táxi com meu pequeno. Ansioso ele, ansiosa eu.
Estávamos em cima da hora para o teatrinho, os dois alegres e apressados. Bem agasalhados em moletons, botas, jaquetas.

Em frente ao Shopping, um pipoqueiro. Que cheiro! Vamos, é rapidinho, duas moedinhas. Capriche aí por favor, ótimo, obrigada.

Parto em retomada à rota do teatro.

Um menino aproxima-se, quieto, e olha para mim. Achei que pediria à tia para comprar uma pipoca para ele. Não. Sua figura contrasta absurdamente com a minha e de meu filhote. Estamos limpos, cheirosos, gorduchos. Estamos com roupas de frio, confortáveis. E vamos ao teatro.

Ele me olha nos olhos.

- Tia, me dá um dinheirinho para eu comprar uma blusa.

O frio é de lascar. O menino, magrinho, de idade indefinida, pode ter 10 ou 14, em short e camiseta. Chinelos, os pés secos e empoeirados. Uma mochila cheia nas costas, meio rasgada. Seu rosto é bonito, usa um brinco, e o cabelo cortado assim com desenhos à máquina. Pensei: ele tem sua vaidade.

Somei o dinheiro do táxi e da pipoca. Engasguei. Deve ser mais do que tem para comer um dia inteirinho. Só penso em saciar-me, confortos e gulodices.

Pensei em todas as roupas de frio que tenho em casa, novas e velhas, que náo cabem em meus filhos ou em mim, e que poderiam servir-lhe. Plano: eu ligo para casa, alguém entrega ao porteiro, ele pega com o porteiro. Timing perfeito, cada um na sua funçao, a encomenda chegará ao destino, e eu cumpro minha programaçao deste sábado.

- Escute, eu tenho uma porçao de casacos para você, quer buscar?
- Onde é, tia, é longe?
- Náo, eu te explico onde é. Você sabe onde fica o ponto final do 455?
- Sei náo, tia
- Você sabe onde fica a Galeria River, perto do Arpoador?
- Sei náo, tia.
- Sabe onde é a rua Raul Pompéia?
- Pôxa, náo sei náo.
- Você está com quem?
- Com minha prima, já é grande ela já.
- Será que ela sabe?
- Ela está lá cuidando da bebê dela, náo sei se ela sabe náo.

Vi que a coisa náo avançava por aí, hora do Patinho Feio entrar no palco, e mudei de idéia.
O frio aumentando.

- Bem, façamos o seguinte: amanhá te trago a roupa.

O menino baixou os olhos.

- Tia, é que eu preciso para mim é que meus irmãos também tão sem blusa.

Morri.

- Bem, vamos pensar em outra coisa,né?
Olha, eu vou demorar uma horinha no máximo. Fique por aqui, quando eu sair, você vai comigo.
- Tá bom entáo, tia, entáo vou ficar por aqui e vejo a senhora sair por ali, então.

Eu mandei o menino passar mais uma hora de frio. Sessenta minutos ao sereno, uma criança sem proteçao alguma.

Entro já arrependida. Meu Deus, e agora, como levarei este menino comigo? Eu tinha a intençao de voltar de taxi, tenho outro compromisso, mas náo posso colocar um menor, aparentemente um menor desassistido, de rua, no táxi comigo. Pode dizer que o forcei a ir, pode gritar, pode tudo.

Bem, iremos de ônibus, é mais seguro. Vou me enrolar com o horário mas darei um jeito. Ok. Lindo teatrinho, Patinho para lá, Patinho para cá, Cisne no fim, saímos. Eu já saio buscando o menino com os olhos. Meu pequeno o vê antes de mim.
Está no meio de uma turma onde é o menor deles, e o mais desnudo. Seus companheiros parecem mais velhos, mais magros, mais secos e empoeirados. Está lá a tal prima, uma mulher feita, com o bebê inquieto em seu colo. Papelóes e jornais no cháo. Garotos em camisas esgarçadas e os braços cruzados por baixo, aproveitando o pouco tecido para aquecerem-se mais, e com isso escondendo suas mãos. Tive vontade de tirá-lo dali, deste bando, desta corja, mas não fui em sua direçao. Fuji. Tive medo.

Tive medo de me aproximar. Escurecendo, esfriando, ele precisa de casacos e eu me afasto. Temo. Temo que venha comigo e que outros venham junto. Ele precisa de casacos, tenho os casacos e me afasto. Temo que me assaltem, temo que aprendam o caminho da minha casa.
Eu me afasto. Agarro a máo de Pedrinho e me afasto.

Sei que sentirá frio, que pode adoecer, mas me afasto. Tão fria quando o termômetro, pensei, unicamente, em mim. Rapidamente me enfio em um táxi, agora também com medo de ter sido vista.

Penso no menino que precisa de tudo neste mundo e tem por companhia quem nada pode dar-lhe, a não ser maus conselhos.

Penso no menino que passou frio aquela noite por causa do meu medo, e dos meus compromissos inadiáveis, e minhas correrias sem fim. Eu, que só penso em mim, que tenho casacos sobrando, e náo quero perder nada, nem o teatro, nem o evento, nem a pseudo segurança.

Deixei o menino com frio. Pode ter adoecido. Afastei-me. Náo sou diferente, em nada, dele, tenho carne, osso, frio, fome, mas virei as costas e parti. Como os deputados, como os senadores, como os políticos, como a polícia, como os juízes. Como os bispos em seus palácios. Como todos que eu critico, eu só pensei em mim.

Não era adequado, náo era conveniente, náo dava tempo. Era arriscado. Sigo para minha vida, e o menino que me olhou nos olhos fica para trás, desprotegido, indefeso, pedindo ajuda a quem náo quer ajudar.

Perdi uma grande oportunidade de fazer diferente.

Eu, que tanto gosto da irreverência, do atrevimento, do pioneirismo. Fiz como os burgueses preconceituosos e como os acadêmicos, como os indiferentes tecnocratas. Fiz como os soldadinhos de chumbo, todos iguais, que marcham na mesma direçao.

Perdi a oportunidade de aquecer uma criança em uma noite fria.

Que Deus me dê outra chance, e que Deus me perdoe, porque eu já não consigo.

terça-feira, 14 de junho de 2011

O Cavalinho Inglês

Rio de Janeiro,
Colégio São Paulo,
Muitos,
muitos anos atrás


Vejam que pônei forte, vigoroso, bem tratado. Lindo


Tive uma professora chamada tia Carminha. Senhora de hábitos rigorosos, de educaçao clássica, cultíssima. Da Família Pacheco Leão, nome de rua no bairro do Jardim Botânico. Sob sua face simples e seus trajes austeros, trazia consigo um coração de ouro e um baú de histórias a contar. Nós, pequenos e uniformizados, sentadinhos, aguardávamos ávidos por sua chegada. Era recebida em nossa turma com festas.

Começava suas aulas de português com um conto, sempre. Diria-os fábulas. E tia Carminha ofereceu-nos a do cavalinho inglês.

Não entendi. Preferia o do menino chinês, que se perdera dos pais, e fora identificado anos depois por ter um dedo a menos; ou ainda da cachorrinha que salvara o bebê. Eu preferia os finais felizes.

O conto do cavalinho inglês pareceu-me triste e sem graça.

Hoje o entendo mais triste ainda, e náo tem graça mesmo.
Mas entendo, também tristemente, sua mensagem.

O negócio é o seguinte: um senhor excêntrico, inglês, tinha em sua bela propriedade um cavalinho de raça. Queria-o muito bem, paparicava-o com papas de aveia e alfafa.
Tratadores especializados.

Veio a crise na Inglaterra. O senhor náo quis se desfazer do caro bichinho, e resolveu que iria acostumá-lo com menos mimos. Dispensou os empregados, todos, e inclusive os tratadores. Chega de papas de aveia. O cavalo emagreceu, e aguentou. A crise aperta. Cortaria a alfafa. Aos poucos. Um pouco menos a cada dia.
"- Aumentarei a água, e diminuirei aos poucos a tal da alfafa", pensou o nobre senhor.

O cavalinho foi se acostumando. A cada dia, menos alimento. O fazendeiro dividido entre todos os afazeres, dedicava-lhe pouco tempo. O cavalinho perdendo peso, mas sobrevivendo. Relinchando menos, trotando menos. Sossegado, mas vivo. O fazendeiro satisfeito: está dando certo! Esse bicho há de sobreviver sem me dar custos! Vai ficar só na água e está ótimo.

Quando o cavalinho estava quase se acostumando, mas quase mesmo, bem, aí o animal morreu.

A turma fez: Ah.... que pena. E a liçao seguiu.

Esta história ficou em meu coraçao para sempre, como a querida tia Carminha e sua rara sensibilidade: ela sabia que era para lembrarmos depois. No momento certo, a história voltaria a nossa memória, cheia de significados.

O cavalo é o Amor. O nobre inglês, é a criatura que amamos, e que precisa cuidar do nosso Amor.

Poderemos até sobreviver com pouco, ou com menos do que precisamos, mas nunca, nunca seremos saudáveis, viçosos e felizes se racionados forem os carinhos e os cuidados.

O Amor em exuberância precisa de força, de vigor, de plenitude, de fartura.

Se você tem aí seu cavalinho, seja o marido, amigo, filho, defenda-o da miséria emocional. Dê-lhe muito, do bom e do melhor. De mão aberta, sem economias.

Que ele valha mais que todas as moedas do mundo. Mais que as posses, que as escrituras, que os contratos. Mais que o status social. Mais que o tempo contado, mais que os planejamentos.

Mais que nossos medos e maluquices. Mais que a insegurança e as perdas sentidas.
Que seja simples amá-lo, espontâneo. Que seja inevitável.

Amor com amor se paga. A única paga possível, caríssimos, é mais Amor.

(já dizia tia Carminha...)

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Martha Medeiros e Fernando Pessoa

Rio de Janeiro
Domingo
Dia dos Namorados


Palavras sobre o Amor



Adoro Martha Medeiros.
Não sei o que viveu para ter tanto conhecimento, em profundidade e variedade, sobre as realidades tão diversas do Amor, ou se sua sabedoria é fruto de cuidadosa observação.

O fato é que impressiona como sempre nos identificamos com o que escreve, ora mais, ora menos, ora totalmente, mas sempre o que diz parece conhecido, soa como vivido.

Neste especial dia 12 de Junho, em sua página dominical, ela explica que amamos apesar de. Apesar dos defeitos que náo vimos nos primeiros meses, apesar das diferenças e concessóes que precisam ser feitas em nome da harmonia do casal. Apesar de mágoas e frustracões. Prossegue justificando que essa superaçao tem por objetivo estarmos inseridos no universo emocional do outro. Termos emoçoes em comum, uma interseçao de vidas que recompensa esses pequenos (ou grandes) sacrifícios.

Sendo Martha Medeiros quem é, pus-me imediatamente a concordar: certíssima. Meu primeiro marido era alcoólatra. Amei-o assim mesmo. O segundo, mulherengo. Amado também. O terceiro, alcoólatra e mulherengo. Não faltou-lhe, em nada, Amor.

Parei. Espere aí Martha. Não é apesar de. É porque. O defeito do outro faz com que sua qualidade apareça. Quanto mais ele bebe, mais comedida sou. Quanto mais mulherengo, mais fiel. Quanto mais perdulário, mais sou produtiva. Grosseiro? Seremos carinhosas e gentis. Treinamento para santa. Gostamos tambem de sermos AS BOAS, AS MARAVILHOSAS, O MULHERÀO.

Precisamos mostrar nossas qualidades. Os defeitos de nossa cara metade destacam nossas virtudes, tornam-nos assim mais heróicas e competentes. Amar um príncipe é facílimo e todas podem fazê-lo sem nenhuma dificuldade; e viver a sombra do príncipe não queremos. Não vemos, nunca vimos nem veremos graça no príncipe. Queremos oportunidade para desenvolturas emocionais, para competições. Desafios.

A grande questáo entre os casais náo são as personalidades distintas, e aparentemente incompatíveis. Sáo as satisfações.

O homem se satisfaz com a busca. Ama porque busca.
A mulher se satisfaz com o encontro. Ama porque pensa ter encontrado.

Quando o homem acha que conseguiu, ama menos. Precisará de outros objetivos.
Quando a mulher acha que encontrou, ama mais. Não precisa de mais nada.

Fecho com Fernando Pessoa, ilustre aniversariante de hoje, poeta vivo. Suas palavras são estrelas, constelações eternas no espaço sideral.

"Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?" (Fernando Pessoa)


Neste dia dos Namorados, Meu Amor, esse Te Amo, assim, simples e descomplicado é tudo que posso dizer-lhe. Espero que baste.

domingo, 12 de junho de 2011

Os Anjos, vivos ou mortos

Planetário por Acaso
Rio dos acasos


"Os Anjos devem morrer", com os Ciclomáticos, por Ribamar Ribeiro

Os anjos Renato Neves, Getúlio Nascimento,Julio Cesar Ferreira, Carla Meirelles, Mauro Carvalho
Foto: divulgação

A descrição da peça, segundo o próprio grupo: “Com um cabaré-teatro decadente como cenário, o espetáculo conta a história de Madame, Divina, Mignon, Mimosa III, Nossa Senhora das Flores e Genet. Tudo isso envolto em muito suspense sórdido, em que todos querem ser Madame. Madame não tem sexo, Madame não tem cor, Madame não tem idade. Todos são como anjos. E os anjos devem morrer. O enredo traz uma trama biográfica ficcional sobre o universo de Jean Genet, pela visão do diretor e dramaturgo Ribamar Ribeiro”.


Senhores eu vi. Foi por acaso, fomos para assistir uma comédia.
Chegamos ao Teatro Maria Clara Machado, no Planetário. Um frio de doer os ossos, e eis que a comédia tinha saído de cartaz. O Teatro oferecia gentilmente este espetáculo por simbólicos cinco reais. Entramos.

Vimos um cabaré de lacraias.
Criadas a pão e fel por Madame.
Madame, travestida, corrompida. É a rainha mãe, corrompe, maltrata, castiga, idolatra.
Madame é uma tirana.

A dona do bordel, a dona cruel. Mantém a empregada humilhada, e adula a estrela do show. Todas desejam o mesmo homem, carne e osso de homem, barba de homem, cabelos de homem.
Todas desejam gerenciar o bordel.

Há nus. Há agressóes. Palavróes.
Chocam e assustam. São caricaturas viáveis de tantos tipos por aí. A peça contará com todo talento do mundo, do texto ao elenco, direçao, figurinos. Foram os cinco reais mais valiosos de minha vida. Um ticket para o universo louco e mau de Jean Genet.

Para inserir sua platéia no clima noir o ambiente é escuro mesmo, e o espectador é mantido em suspense. Os diálogos exigem toda a sua atenção. São rápidos, pesados, confessam alianças, amores, desamores, furtos, assassinatos. Misturam português e francês.

Os atores eram para mim desconhecidos, desculpem, há tanto a conhecer neste Brasil de atores divinos. Encantei-me com todos e cada um deles. Perfeitos. Getulio Nascimento é uma moça, um anjo sem sexo, olhos de moça ou de anjo, náo sei, mas de fino trato e péssimas intenções. Madame, o gordo, é opulenta, é rica, é insuportável. Mignon é um canalha de primeira. A empregada, coitada, vive na ilusão subserviente de prestar serviços pessoais a Madame. Madame a despreza. Madame ama Mignon, que ama Divina, a estrela, que ama o Anjo, que náo ama ninguém.

Repetem o refrão - Madame é linda, madame é boa, madame é meiga. Mentem. Covardemente tramam seu fim. São todos anjos endemoniados, certamente. Enfeitiçam com sua exposição das feridas, e afloram nosso sadismo: ficamos hipnotizados pela baixeza a que poderemos chegar.

A montagem do grupo "Os Ciclomáticos", sobre o mundo transtornado de Genet, é corajosíssima. No momento em que a homofobia está com seus dias contados, o palco mostra a crueldade do homem entre os iguais de seu gênero. O macho se conduz com intrepidez em qualquer de suas opções sexuais. Permite-se, não conhece limites ou restrições. Avança furiosamente, até conseguir o que deseja.

E quando o macho é gay, é mais macho ainda. Carrega consigo a força do homem e o devaneio da mulher - é uma combinação explosiva e irresistível. Madame explode de amor e ódio. Divina idem. Entendo as várias mulheres que se apaixonam por gays. Sua figura e sua alma tem o melhor de cada um dos sexos.

Jean Genet retratou o submundo em que viviam os homossexuais desabonados de sua época. Condenados a marginalidade, a vergonha, ao desprezo, uniam-se aos ladrões e aos cafetões. As excecões eram os ricos senhores, finos e de boas famílias, que casavam-se com castas mulheres e soltavam a franga madrugada afora. Excessos à parte, ainda vemos isso por aí.
Basta dar uma volta na Atlântica à noite - carros de luxo atrás de travestis.

A maldade humana sobrevive às décadas. Abandonado pela mãe, Jean Genet jamais curou-se dessa dor. Roubou para comer e depois por gosto, para transgredir e vingar-se do destino. Encontrou maior satisfação na transgressáo; ser homossexual em seu contexto era também uma trangressáo, e esta, bastante prazerosa. Muito melhor que as regras engessadas de uma sociedade burguesa, segregadora, preconceituosa e cega.

Salvo da prisão pelo seu talento, reconhecido por Jean Paul Sartre (apenas!), que abraçou sua causa. Reconheceu nele a chama do gênio, e ao contrário dos anjos, os gênios devem viver.

Genial Genet, Geniais Ciclomáticos e Genial Ribamar Ribeiro.


"Jean Genet, escritor maldito, provocou as mais diversas reações sobre sua personalidade e obra. Condenado, por crime de morte, à prisão perpétua, obteve o perdão em 1948 graças aos esforços de Jean Cocteau e Jean-Paul Sartre, rendidos a seu talento literário. Em 1983 foi-lhe concedido o mais importante prêmio literário francês, o Grande Prêmio Nacional. Em seus romances e peças de teatro, cujos protagonistas são quase sempre delinqüentes e marginais, Genet abala a consciência social e a fragilidade do sistema de valores da sociedade burguesa. Dentre suas obras destacam-se Nossa Senhora das Flores (1944), Querelle – Amar e Matar (1947), que foi levado ao cinema em 1982 por Rainer Werner Fassbinder com o título Querelle, e Diário de Um Ladrão (1949), e as peças de teatro Haute Surveillance (1949), O Balcão (1956), Os Negros (1958) e Les Paravents (1961)."

sábado, 11 de junho de 2011

Salvemos os bombeiros e o Estado do Rio

Rio de Janeiro
Rio dos Bombeiros


Por uma isonomia salarial nacional



No alto da bela construção do Corpo de Bombeiros do Cantagalo, em Copacabana, a inscrição lema: "NADA DO QUE É HUMANO NOS É INDIFERENTE".

Todos podemos confirmar - a corporação dos bombeiros é feita de CORAÇÕES.

Vermelhos e pulsando.

Corações bentos pelas lágrimas dos que sofrem enquanto aguardam a chegada milagrosa dos heróis.
Lágrimas dos que são salvos,aliviados, gratos, incrédulos de que o perigo passou.

Não é profissão: é vocação. É apostulado. É ser salvador 24 horas por dia, em todos os locais onde houver gente. E é trabalho justo. Trabalho honesto.

Onde houver crianças abandonadas, queimando, sufocando, perdidas. Pessoas alagadas, soterradas.
Atropelados, acidentados, desesperados.
Pessoas acometidas por males súbitos, por violências. Para garantir o socorro imediato ao público do Sambódromo e do Rock Rio, que movimentam milhóes, e onde caberia, perfeitamente, gratificações extras. Merecidos acréscimos por trabalho extra.

O Estado do Rio de Janeiro é o segundo maior arrecadador de impostos. A Taxa de Incêndio não é destinada como devia, os impostos se perdem. Repetidamente se perdem.

Um cargo administrativo na Policia Federal ganha 10 vezes mais que um bombeiro.
Os policiais civis tem uma série de linhas de crédito e facilidades para compra de imóveis e altos valores de seguro de vida e os bombeiros não.
Os militares, bem, os militares em seus quartéis fazendo contas e flexões, os militares então, bem, nem se fala.

Os integrantes da CBMERJ (Corporação dos Bombeiros Militares do Estado do Rio de Janeiro) não tem salário justo, não tem equipamentos em bom estado, não tem apoio psicológico. Superam todas as insuficiências e fazem um trabalho excelente. Invejável.

Eu nào quero as explicações técnicas de funcionalismo público. Não estou nem aí para diferenças entre União, Estados e Municípios. Quero a isonomia salarial nacional. Que os bombeiros do Rio
saiam dos seus 1000 reais e cheguem aos 4 mil reais de Brasilia,ou que todos na Terra Adorada tenham um piso único, que honre com os maravilhosos serviços que prestam ao ser humano.
Que sejam protegidos da mão cruel da baixa remuneraçao, a grande vilã da nossa sociedade.

O profissional mal remunerado se revolta. E nossos heróis estão raciocionando sua revolta há pelo menos 4 anos, com negociações, diálogos, conversas.

O Estado do Rio náo conversa. Sérgio prende e arrebenta. Tratou as famílias dos bombeiros acampados em seu quartel tal qual os bandidos do Alemão. Pior, no Alemão teve o cuidado de proteger as mulheres e as crianças.

Pobre Sergio. Conquistou o ódio do carioca. O Carioca tem orgulho dos bombeiros e está com eles.

Os 429 libertados hoje saem mais fortes do que antes. São os exilados que retornam vitoriosos do cárcere. Sua liberdade desmoraliza o tirano - sim, é um tirano, o incompetente administrador do Estado do Rio de Janeiro é um irracional tirano. Que pena que este homem está a frente da Cidade mais linda do mundo. O Rio se desfaz a olhos vistos. O transporte público é um lixo. A educação pública é um lixo. As Upps sáo o único alívio que as comunidades experimentaram. Pudera: precisava-se conter a guerra civil que ameaçava a segurança da elite.

Senhor Governador, o senhor está degolando a galinha dos ovos de ouro. Sem o apoio da população, vai precisar de toda a PM do mundo, e talvez não conte tanto assim com mais essa corporaçao esmagada por péssimos salários.

Comprou uma briga feia. Mexeu com os bombeiros. Orgulhosos de si e de seu magnifíco trabalho, tem o apoio absoluto de todo o Rio de Janeiro. E o Senhor, quem o apóia?

Pense bem.... Que nada do que é humano lhe seja indiferente, sr. Governador.

Salvemos o Brasil

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Dia de Namorar

Rio de Janeiro
Rio de Sonhar

Rio de Namorar

Beije

Amigos, hoje é sexta feira, dia de se entregar a boemia.

Mas essa sexta é como o pré- Reveillon, como o pré-Carnaval, como a véspera do aniversário. O dia que a gente começa a sentir o frisson pelo que virá. Esta sexta-feira é pré-Namorados.

Daqui a 48 horas teremos licença para declarar publicamente o amor que sentimos. Para pagar os micos do amor, os deliciosos micos de amor.

No dia 12 estamos confortáveis para confessar o Eu te Amo; aquele... que estava travado na garganta. Ou aquele outro Eu te Quero Tanto...mais fácil de sentir e declarar. Dia 12 é dia de boas falas.

Aliviados, deixaremos o coração tomar conta das palavras. Porque passamos todos os dias calando o o peito. Cruzamos tempos na defensiva. Observando o outro. Se ele dá mais um passo, damos também. Se pára, paramos. Passou da hora que liga, não ligamos. Combinamos que só vamos se convidados, mas não avisamos essa regra. E não nos convidamos.
Não vamos.

Muros, defesas, planos B. Planos de sobrevivência. Padrões, imposições. Suposições. Conclusões individuais sobre um tema que precisa de um par.

Poucos são os que se lançam ao Amor, e não é à toa. È porque amar e não ser amado fere demais.
Entregar-se sem amparo é desamparar-se.
É dor que arderá silenciosamente até vir um novo amor, que terá o desafio de superar o anterior. Covardia. O Amor que dói parece maior, mas não é Amor, é dor.

Dia 12 é dia de esquecermos tudo isso que passou.

De olhar para o Felizardo é dizer: Eu Te Amo, cara, Eu te amo.
Sou Feliz para caramba porque você existe na minha vida; se fiz algo errado, perdão, e você me fez, já está perdoado.

Aquela música romântica,eu hoje vou deixar rolar; aquele beijo demorado e colado vai rolar também. Aquele desejo de ficar junto todas as 24 horas deste dia, vai se realizar também.

(Aquelas coisas que sempre queremos fazer e não posso dizer no blog vamos fazer também.)

Sentiremos uma enorme vontade de parar o tempo, e de sermos namorados para sempre, sem mágoas, sem culpas, sem castigos.

Sem feridas. Sem cicatrizes, sem condenações.

Sem freios e sem ilusões desmedidas. No compasso delicioso das marés...no tempo preciso e poético das luas.

Mas se o caríssimo leitor não tem namorado, ou até mesmo se tem e simplesmente não poderá estar com ele neste dia 12, relaxe.

Bom mesmo nesta vida é ser Feliz, sozinho ou acompanhado.
Ser descomplicado.
Sorte dos descomplicam a solidão. Dos que curtem os amigos.

Dos que encontram alegria no dia-a-dia e no sonho.

Dos que tem orgulho do que fazem, do que sentem, dos que tem convicção que a vida é bela, e essa beleza espalha-se por onde olham.

Esse sentimento de Amor pela vida, não vem de namorado.
Vem de você.
E segredo: se carregas esse Amor no peito, fica mais fácil namorar, mais leve, mais gostoso.

É o Amor mais suave e presente que há. Mais transformador.

Então, Feliz Dia dos Namorados, Feliz Dia 12, Feliz Sempre!....

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Conceição, let`s sing again

Rio de Janeiro,
Fria Terça Feira

A voz de uma vida inteira
Forever Conceição


Cauby sings Sinatra
Leblon,
A estrela, com direçao musical de Ronaldo Rayol e produçao de Thiago Marques Luiz



Assisti a um dos melhores espetáculos de minha vida.
Cauby, voz eterna, brilho eterno, cantando Sinatra.
Sua voz baila, não tem oitenta anos. Sua voz tem a emoção de oitenta vidas em cada nota.

Poucas palavras expressariam a beleza deste show. Poucas refletiriam o charme de Cauby. Como uma tentativa de homenagem à noite maravilhosa que ofereceu aos cariocas, escolhi as palavras mais bonitas dentre as que ele enfeitou com seu brilho, brilho de estrela.


Conceição,

Eu me lembro muito bem,

But let me try again.

We can have it all

But please, Conceição,

Please be true

Porque enquanto sonhavas com o que o Morro não tem

Eu cantei, eu cantei, eu cantei,

E foi cruel cantar assim.

Because I`ve got you under my skin

And each time that I try forget

I stop before I begin.

And for all we have before

let`s try once more

In my way,

Eu voltei para me certificar

que tu nunca mais vais voltar vais voltar vais voltar

e para o morro

Conceiçao.

But now the end is near

(reflita Conceição)

and so I face the final curtain

I know I gave it all that I could give

e se chorei, eu chorei,

chorei até ficar com dó de mim,

I did it my way.

e foi por ti Conceição,

que tentando a subida, desceu

E eu dava por ti um milháo

But now let`s make a brand start of it

You and me again

it`s up to you, Conceição,

Forever let me try again


Todos os beijos do mundo para Cauby,
que viva para sempre,
que cante para sempre,
lindo assim.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

As Feras

Rio de janeiro,

Brasil

Jaula para as feras



Costumo rejeitar assuntos violentos ou pessimistas para o blog.

Temos que encontrar nas palavras consolo, força, estímulo.

Mas desta vez náo posso.

Acabo de assistir o video do pai que surra com chutes seu filho de 8 anos como quem chuta um inimigo mortal. Em um sítio onde a criança poderia estar brincando, o menino cai ao chão, entregue, resignado. Não reaje, náo chora, parece até morto. O irmão menor, de sete anos, desesperado, implora ao agressor que pare. Ele náo pára e ainda arrasta o menor pelo chão, como se fosse jogá-lo longe. O pai odeia os filhos, odeia sua carne, seu próximo, odeia os seres a quem devia defender. É ele o grande perigo dos meninos.

A violência, horrorosa, ocorreu em Registro, interior de São Paulo. O filho mais velho, de 16 anos, que deve ter passado o diabo na mão deste monstro, filmou tudo e levou a policia.
A policia prendeu. A familia do monstro pagou a fiança, o monstro fugiu para a mata. A fiança náo podia ter sido aceita, o Ministério Público expediu mandado de prisáo. Trinta e cinco policiais dedicados a esta missáo, o monstro enfim é preso.

Os meninos estáo sob a guarda do Conselho Tutelar da regiáo. Com taquicardia, desesperada por não poder ajudar os meninos de Registro, por não poder vingá-los, prossigo a leitura dos jornais. Vem o caso do Colégio Sáo Bento, tradicionalíssimo, quase que uma maçonaria católica, seleto, elitizado, reacionário. Muito bem. Um aluno, de 14 anos, espanca um menino de 6 anos. Um cotoco de gente. Os amigos do mais velho, sua quadrilha, impedem os amiguinhos do menor de pedir socorro.

O pequeno desmaia. Apanha enquanto desmaiado. Só então aparecem os inspetores da distinta instituiçao. Ignoravam as feras de seu quintal.

Agora mil explicações para os rapazes. Não me convencem. Um adolescente de 14 anos, da classe alta do Rio de Janeiro tem mais entendimento que muitos adultos do Brasil afora. Sabem o que fizeram. São sádicos típicos. Para mim, são aprendizes do monstro de Registro.

E assim o mundo segue. Covardias. Crueldades com as crianças. Jogados pelas janelas, enforcados por amantes enlouquecidas. Ameaçados de serem jogados aos cães. Resolveram acabar com os menores, indefesos, os que náo tem opção, e a quem o destino escolheu para torturas físicas e emocionais; a quem o destino afastou das pessoas de bem, que nunca chegam a tempo.

Crianças que por momentos indescritíveis sentem na carne toda a força dos covardes. Pagam por pecados de outras vidas, passadas e futuras, a quem o Senhor todo poderoso lá do céu não considera como merecedores de protecão. Onde está Deus que náo lança um raio na cabeça desses monstros?

É o fim dos tempos: odiar as crias da nossa raça. Odiar nossos iguais, nossa carne, nosso sangue e coração. Odiar os fracos e os humildes. Reduzí-los a pó.
Bater, surrar, humilhar. Ignorar sua dor, seu desconsolo, seu desamparo. Rir de sua fragilidade e de sua dependência.

Onde náo há amor, há dor. Náo há meio termo.

O ser humano esqueceu do amor. Quer dor. Para si e para os que estiverem por perto.

Não sabe mais amar.

Virou fera. Não. As feras selvagens sáo melhores. Matam para comer, e náo, nunca, jamais, por prazer.

domingo, 5 de junho de 2011

Garotos

Gávea
Teatro das Artes

Ipanema começa
Leblon prossegue
Gávea acontece

Garotos, cinco, de uma só vez. Para quem pode...

Ícaro, José, Caio, Ivan e Gabriel estão no elenco de 'Garotos' | Foto: Divulgação


Fui a estréia.
Cheguei cedo ao Shopping, escolhi um ponto estratégico de observaçao e pedi um chocolate quente.
Assisti ao desfile de estrelas. Maiores, menores, iniciantes, experientes.
Tímidas, ou desesperadas para serem notadas.

Mas as estrelas mesmo estariam no palco. Eu juro, fui sem esperar nada. Tal qual as verdadeiras surpresas, o impacto é estrondoso.

Os rapazes acima sáo jovens, e espantam pelo talento. O texto, de Leandro Goulart, parece ter sido escrito para eles - são jovens falando de jovens, mas com a firmeza e a conviccáo de quem já viveu as maluquices e as delícias da juventude. Jovens ávidos por experimentar e por partilhar sentimentos, pensamentos, e ações.

Temos no palco cinco atores capazes de tudo. Da comédia a depoimentos comoventes. Interpretam hilariamente mulheres e idosos. Assumem outro sexo e outra idade, como caricaturas de bom gosto. Mudam a voz, o falar, o andar. Acho que mudam até seus dentes. Amarram a camisa na cabeça e na cintura e o figurino fica irreconhecível. E como rebolam e fazem biquinhos, que coisa.

Revezam-se como protagonistas de passagens típicas - e necessárias - da juventude. Falam sobre drogas, gravidez, masturbaçao, A primeira namorada, e a separação. Falam sobre a amizade corporativa machista, e sobre a possibilidade de amar o mesmo sexo.

Dizer que é peça para adolescentes náo é verdade. Os adolescentes talvez náo se identifiquem tanto, fazem comédia de algumas de suas causas. Mas dizer que é para adultos, também é excluir os teens. Em seu texto há uma fala especialíssima, que definirá o público alvo: " - Deixemos os rótulos para as azeitonas."
Sim. Não vamos rotulá-los. Devem ir adolescentes e adultos de todas as idades. Todos somos seu público.

Devem ir os que gostarem de arte. De teatro. De comédia, rápida e precisa, e de drama, amplo.
Os que cantaram na praia, ao som de violáo, desejando a irmã da namorada do amigo, e rezando baixinho para que ela venha em sua direção e simplesmente sorria.

Para quem curtiu um Fabio Junior e seus vinte e poucos anos - os que gostarem de relembrar e de se reencontrar.

Para os que náo temam a força, revolucionária, da juventude. Porque assusta. Assusta ver rapazes tão jovens e tão talentosos juntos de uma vez só. São cinco, vigorosos, ágeis, promessas realizadas da interpretaçao. Imagino que sejam aplicados, disciplinados, dedicados. Enquanto tantos tem desculpas, eles tem sucesso.

E o espectador deve desligar o celular, pelo amor de Deus. Se tocar durante a peça eles debocham, acertadamente. Incluem o caco no texto e o teatro vem abaixo em risos e aplausos.

Eles sáo ótimos, desejo que alcancem seu reconhecimento, e que sejam aplaudidos.
Desejo que essa cara seja a cara do ator da nossa década, e que esse teatro consistente e vibrante se multiplique, entre todos nós, de zero a cem anos de idade.

Justamente Emilio

Rio de Janeiro

Rival
Manda a tristeza embora
Não é Carnaval nem folia,
mas neste Rival ninguém chora


Emilio, agora, justamente agora me sorri

Emilio Santiago, no Reino Musical do Rival
Sua big band é formada por Adriano Souza e Clebson Santos (teclados), Humberto Mirabelli (violão), Alex Rocha (baixo), Amaro Jr (bateria), Jacaré (percussão) e Zé Arimatéia (flugelhorn).

O convite da amiga querida, que convida outras amigas, e as amigas juntas juntam-se a platéia. A esse coro apaixonado por Emilio Santiago. Privilegiados, todos nós, estamos diante de uma das vozes mais lindas de todos os tempos.

O show era para lançar seu cd Só danço samba, mas o samba que me desculpe: Emilio se lançou foi para os fãs. E nós, para ele. E o samba que me perdoe mais uma vez: é no romântico, no bolero, e na salsa, que o veludo de sua voz envolve e aquece. O veludo cai como uma luva no seu vem cá que eu vou te contar uma coisa, mas vem pertinho. Fomos.

Samba para o sr. Santiago tem que ter muito, mas muito swingue. Tem que ser samba rock, samba canção, senáo é muita voz para pouco balanço, e quem balança náo deve ficar parado.

Sua voz pede espaço. Deixem que cante as músicas que fecham nossos olhos.
Deixem que seu samba seja romântico.

O Rival parou de respirar quando ele cantou The Shadow of your smile. Até as garçonetes pararam. Náo cabia mais uma alma lá dentro, e o coro era único.

Seguimos todos assim ardorosos e entregues, pelo bolero Solamente una Vez, pelo samba bolero Agora, e por Verdade Chinesa e Saigon. Simonal era assim, mudava o ritmo, o idioma, a voz acompanhava e aumentava.
O público enlouquecendo, com Simona e com Emilio, diante desse derramar de talento.

E ele nos convida a fecharmos os olhos.
A lembrarmos do tanto que já amamos e como ainda há para amar.... que bom, Emilio, que bom.

Embalados por tamanho artista, esquecemos do dia que passou e lembramos só dos melhores dias das nossas vidas. Ele nos convida a torcer que o melhores dias e os melhores sentimentos se prorroguem, suaves, para dançarmos com quem amamos, e nos sentirmos amados.

Dançar de rosto colado.

E o amor me pareceu o refráo de todas as músicas que cantou. Como o refrão da música preferida, que dá vontade de cantar de novo e de novo e de novo.

Onde fica Saigon? Quero ir para Saigon, hoje, agora, e quero ouvir Emilio Santiago de lá.