segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O segundo tempo

Planeta Terra
Hemisfério Sul
Brasil
Para quem é bom de bola



Contagem Regressiva - vamos continuar o jogo

Caríssimos, o tempo urge.
Recente pesquisa de respeito divulgada em jornal de larga circulação, afirmou que o brasileiro vive, em média, 84 anos. Atenção: os que atravessaram a fronteira da quarta década  estão  na segunda metade de sua existência no planeta Terra.  No segundo tempo da vida.  

E o segundo tempo traz uma vantagem enorme: já conhecemos o campo, o adversário, o ritmo do jogo. Temos conhecimento e domínio de nossa habilidade e nossa deficiência, e não arriscamos mais nada sem um cálculo seguro. Somos portanto, jogadores melhores, muito melhores. Ainda potentes, velozes e fortes, a experiência nos ensinou muito.  Estamos craques nos dribles do adversário e ele não nos engana fácil não.

Divido com o caro, prezado e estimado leitor pequenos ensinamentos para seguirmos vitoriosos na partida, com fé, amor e paixão.

1. Preparo físico é fundamental. Alimentação, sono, exercícios. Manter-se no seu peso ideal - comida, bebidas e companhia de qualidade.
2. Preparo emocional. Afeto, amizade. Honestidade de sentimentos e ações. Sem meias palavras em nome da ética, ou de interesses outros; o compromisso deve ser com a verdade, o que garante uma autêntica consciência tranquila.
3. Permitir-se. Curtir com vontade e entrega. Saborear o passe. A bola passa bem rápido e você não há de querer pisar na bola. 
4. Treinar. Treinar para ser feliz. É exercício diário e exigente. Muitas tentações para tornarmo-nos mal humorados e resmungões. Fujamos destes dribles maldosos.
5.   Não tente adivinhar o jogo do adversário. É impossível. Sequer nossa equipe joga conforme a tática, quem dirá os que estão no outro time. Joga direitinho, faz a tua, e segue.
6. Finalizar as jogadas. Nada de ponta solta. Cumpre teu papel em campo.
7. Descanse antes da próxima partida.

Esta humilde aprendiz deseja a todos, em que tempo estejam, seja intervalo, aquecimento ou prorrogação, uma vida cheia de chutes a gol.
Fecho este inusitado post  com palavras do apóstolo Paulo, Adaptadas, é claro:
           
"Ainda que eu saiba de todas as coisas, se eu não tiver Amor, eu nada serei".

Amar, caríssimos, é o grande lance para o Gol da felicidade.















terça-feira, 21 de agosto de 2012

O Policial e o Sapato Chanel

Rio de Janeiro
Ocorrência: briga de casal
Chanel que nos acuda





Um mimo, o par de sapatos Chanel

Carissimos, essa história é baseada em fatos verídicos. Mesmo. Tomarei todo o cuidado para preservar os envolvidos.  (segundo advogados, agora que afirmei que é real tenho que tomar mais cuidado ainda )

O caso é o seguinte.  A mulher de hoje está perdendo o charme. Esquecendo da distinção. Andando muito à vontade,  largadinha mesmo. Qualquer roupinha  a gente veste, um batom e já vamos para a rua. Errado. Erradíssimo. Nós, cariocas, somos mestres no despojamento, mas alto lá - a elegância mais tradicional pode salvar nossa pele. Vejamos a vida real.

A moça, moça bonita de gênio forte, como manda o figurino e o já referido ditado do meu avô  ("moça bonita tem que ter gênio, senão é só enfeite") namorava rapaz de futuro promissor.  Homem jovem, belo, inteligente, bom partido toda vida. Assediadíssimo, portanto. Disputado a tapa no escasso mercado do gênero homem tipo homem, com h para toda obra, trabalhador, e etc.

Ela não ficava atrás não. Elegantérrima, arisca, atrevida. Moça bonita mesmo dos pés a cabeça. Olho aberto, ela desconfiou.
Tinha uma pequena no caminho. Seu nome muito citado, volta e meia vinha à conversa entre os dois. Gostou não.  Trabalhavam juntos, o que é perigosíssimo, sabemos. O convívio aproxima demais, cria oportunidades demais. Homem é bicho bobo, cai em armadilhas fácil demais.

Faro apurado, ela partiu para o flagra. 
Impecável. Chic de doer, Chanel da cabeça aos pés. Dirigiu-se à casa do rapaz, hora de serviço, que fazia ele em casa aquela hora? Mulher tem radar, e funciona que é uma beleza.  O rapaz tinha caído em tentação sim, e o flagra estava armado.

O caríssimo abriu a porta? Nem ele. Escândalo, porta socada, gritos. Moça bonita em Chanel,  gritando,  chama atenção até de falecidos, e os vivos atentos chamaram a polícia. 

Chegou a polícia. Rapaz trancado.  Passara rapidamente do status de namorado para o status de inimigo perseguido; queria vê-la algemada, e distante dele o mais rápido possível.  Moça desconsolada. Ninguém a convencia a deixar o local. Passa hora. Outra hora. Veio amiga, veio mãe, veio ex-namorado prometendo amor eterno, veio irmão. Nada.  A moça só saía dali com o flagra constatado.

Mas tem gente que está no lugar certo, na hora  certa. Aproximou-se um policial, assim, de soslaio, falando baixo. À paisana, distintivo discreto, meio mais velho, meio sabidão. Chegou perto, ofereceu lenço de papel, ofereceu água mineral. A moça acalmou, bebeu água. Ofereceu cigarro. Aceitou. Charmosa até na dor, tragou, sôfrega, como uma diva do cinema.

Era a deixa para o homem da lei. " - Sabe, eu sei que a senhora está nervosa, com razão. Como que é que um rapaz faz um negócio desses com a senhora? Uma moça assim tão chique... De sapato Chanel e tudo".
A moça parou. " - Que adianta um Chanel numa hora destas??? Mas o senhor conhece Chanel, como sabe que meu sapato é chanel?"
Polícia "- Sapato não, né. Isto é uma obra prima, uma coisa rara.  A senhora está muito bem, muito bem calçada e trajada. Chanel, eu vi o filme.  E pode usar, é elegante, tem porte. Fica muito bem. Muito melhor que essas maluquetes de piercing no umbigo, isso não é estilo fino. Mulher para casar, para apresentar para mãe tinha que ser assim, igual a senhora. Chique. Chanel."
A moça insiste: "- É, que adianta? Estou aqui do lado de fora, e ele aí com outra"
Policial: " - Ah, mas não deve ser assim que nem a senhora não. Onde é que se arruma mulher assim, de sapato bonito, bolsa bonita, por aí? Tem não. A senhora fica tranquila, vai arrumar namorado muito melhor que esse, que lhe dê o devido valor. Que admire assim, sua elegância, sua presença, seu estilo. Fosse a senhora uma moça largada, qualquer, que não se cuida, eu não falava nada. Mas a senhora, a gente tá vendo que é moça de gosto, que merece o melhor. Vai arrumar marido à sua altura, e não é qualquer coisa não"
Moça: "- O senhor acha mesmo?"
Policial: " - Tenho é certeza. Uma pessoa que se veste assim, tem capricho. Tem cabeça para escolher roupa, como é que não vai saber escolher namorado? Deve ter fila para sair de braço dado com a senhora. Posso falar, tem idade para ser minha filha. Uma beleza de  moça, isso é que a senhora é. Esse rapaz deve estar é doido, e doido é com médico, não é com a gente da polícia não"
Moça: "- Sua filha, não, quê isso. Nem me chame de senhora, por favor.  Sei que é por educação, mas pode me chamar pelo meu nome"
Policial: " - E qual o nome desta flor?..."

E nessa prosa de moda, capricho e flor,  o policial foi adoçando a madame.  A moça foi retirada do local sem sentir. Saiu de braços dados com o policial, esperançosa de dias melhoras. Levada pela família para merecido descanso e recuperação de sua integridade emocional.

Fica o recado. Chanel. Dior. Givenchy.
Prada.
Marcas assim, que destacam um mortal na multidão.
Embora no amor - e na dor - corpo e alma estejam nus e descalços, e embora o coração não permita etiquetas,  e as rejeite veementemente, na hora do flagra um bom Chanel  pode fazer a diferença, pode sim. Ajuda, e como.



Na cama

Rio de Janeiro
Santa Tereza

Ocupação horizontal
Que beleza

  É preciso cama, e com amor 

ÔPS!!!!
Não é nada disso.
Juro por Deus que não vou falar das maravilhas do amor carnal, juro mesmo, vou não.

Bem,  vou é falar de repousar.  É, verbo em desuso: coisa antiga.
Ficar de cama sarava de um tudo, que era uma beleza.
Gripe?  Vitamina C e cama.
Fraturas?  Gesso, gesso mesmo, brancão, dois dias para secar, pé para cima, e cama. Nada de botas Robocop para circular por aí, não.
Criança levada?  Dois tapas no bumbum, e pode chorar na cama que é lugar quente.
Males do fígado, do rim? Mulher parida?  Canja de galinha e cama limpa.
Pneumonia? Cama, mas muda de posição senão piora.

Hoje não. Hoje tem a tal da reação. Engole um comprimido sei lá de quê e reage. Vai a luta.
Calma -  tudo tem seu tempo. O corpo e sua cura também. Repousar é um exercício de paciência, de pacifismo. Lutar pacificamente pela recuperação de si mesmo. Evolução espiritual, caríssimos, evolução.
Pobre de mim, impaciente e afoita,  primitiva criatura taurina. Gulosa, andei abusando dos frios. Parma, salaminhos, e outros presuntinhos. Um gorgonzola aqui, outro ali... Só, mais um pouquinho, amor, vai.
Embolou. A coisa pesou, a coisa ficou esquisita. Que fez meu amor? Homem sábio que é, colocou-me na cama. De molho. De repouso. Ficou ali, ao meu lado, dia e noite, paciência sem fim. E eu sou chata, hein. Reclamo, resmungo, o travesseiro está duro, está frio, está calor, está apertado, cadê você, vem para cá, vai para lá, ajeita assim, o som está alto, o som está baixo, tenho sede, não quero água, ai maldito salaminho.

Confesso - o estado de repouso nos fragiliza. Somos fortes por imposição desta maluquice de mundo, que contraria nossa essência humana o tempo inteiro, ou há quem imagine que nascemos para matar um leão, assim, todo dia?  Claro que não!!!! Doentes, acamados, voltamos a ser os filhotes que precisam de cuidado o tempo todo.  A realidade é essa: não somos fortes. Não somos independentes. Em algum momento, precisamos ser olhados, cuidados, amamentados. Remédio na boca, água na boca, cobertas arrumadas, lençóis trocados. Acordamos vinte vezes, inquietos, incomodados, assustados, e precisamos vermo-nos acompanhados, ali, juntinho ao nosso corpo enfermo o corpo do amado.  Precisamos ser bem queridos, sim, muito bem queridos, porque tem que ser com amor, zelo com amor,  senão não vale de nada; senão é coisa de enfermeira alemã.  Senão magoa, e mágoa é doença danada que não cura fácil não.  Mágoa é mais difícil, carece de outros tratamentos.

A valentona aqui virou criança boba. Bebê indefeso.  Grandalhona, desinibida, qual o quê.  Fiquei pequena, arriada, encolhida.
Na cama, inocente. Mão estendida para te alcançar,  para segurar em você. Medo de afundar, de piorar, de   agravar.
Febre veio e passou. Enjôo veio e passou. Dor corpo afora, veio, parecia que ia doer mais, mas passou.
Salaminho, nunca mais. Amor, sempre.  Para sempre. De mãos dadas comigo, abraçado comigo. De repouso comigo.  Sorrindo para mim, a postos para mim. Pronto para mim. Aguardando, pacientemente, pela minha melhora.

E ficamos assim, que amor cura, e paciência cura. Ficamos na horizontal, parados, imóveis. Permanecemos deitados através do tempo,  incomum e necessariamente imóveis.

Repousar junto é prova de amor. E afinal, quantas mil maneiras, enfim, temos de ocupar esta cama?






segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Onde?

Rio
Por Onde?
Onde?
É na Terra da Certeza




O paraíso existe

Este fim de semana eu conheci uma moça bonita. Conheço várias moças bonitas, na sua maioria como esta. Intrigantes.
Parece que intrigar é acessório da beleza - deixar no ar indagações sem resposta, perguntas que se multiplicam sem traçar rastro de explicação plausível.

Preciso esclarecer que não estou falando do mistério que envolve algumas criaturas mágicas, esse je ne sais quoi poderoso e indecifrável, e inimitável, que embeleza certas mulheres (e homens) de forma arrebatora. Quem resiste ao olhar fugidio, que provoca a vontade de sermos objeto deste olhar, de retê-lo em nossos olhos? E de mãos que pouco se movem e que para observá-las temos que nos utilizar de subterfúgios, como perguntar a hora, por exemplo. Não é disso que se trata, desse despertar da curiosidade.

Tampouco refiro-me ao enigma sobre a estampa feminina, praticamente outro objeto de pesquisa científica.  É impressionante como certas fêmeas são belas, e todas nós temos vontade de copiar o método utilizado, mas precisa de muita intimidade e segurança para verbalizar.  Aquilo de querer saber " - Como faz para ter esta pele? Como faz para conservar-se magra? Ficar assim, jovem, com tudo em cima? Da onde tirou esse sorriso que encanta? "Onde comprou esta roupa linda?" Só se estivermos muito de bem com a vida ...

Na verdade, eu falo das perguntas graves. As sérias e profundas interrogações, que ensejam dúvidas a comprometer os próximos meses de vida. Sim, vez por outra cruzam nosso caminho deusas abençoadas com beleza, charme, educação e estilo, além de qualidades e  aptidões apreciadas em nossa sociedade ocidental. Mas falta o principal: BEM ESTAR. REALIZAÇÃO. SATISFAÇÃO CONSIGO.  Elas trazem uma fraqueza no olhar. Uma pressa de estarem onde estão. Uma agitação, como se estivessem perdidas e sem ter a quem pedir informação. Buscam apoio sem encontrar. Sem saber para onde vão; muito menos por onde ir. Sem saber se vai dar tempo de chegar, hesitam entre ficar e partir.
As perguntas que pairam sobre suas cabecinhas indecifráveis não são percebidas por estes anjos, não. Só os mais vividos e ensinados pelo destino entendem do que se trata, e ficam matutando. Aí a gente puxa conversa para que elas possam falar.
" - É comigo mesma, coração. Pode dizer."

E a moça foi falando. Mil palavras sem conexão lógica para contar sua mágoa, frases confusas que não convencem ninguém. Compreendo a confusão. As Moças Bonitas costumam ser muito assediadas pelo Bicho Homem e suas espécies mais carnívoras, o quê dificulta bastante sua existência pacífica nesta Terra Adorada - os predadores identificam de longe a fragilidade destas presas, e atacam. Sugam seu sangue devagarzinho. Saboreiam a iguaria até enjoarem. Como conseguem enganá-las assim? Fácil.  Oferecem a ilusão do amor, qual moça não quer amar? Saciados, o apetite vai minguando, era fumaça, miragem, era promessa vazia. Ficam as perguntas, vagas, evasivas, repetitivas.  " - Nossa, parecia que ele gostava de mim.  Porque não deu certo? Por quê ando em círculos? Eu fiz de tudo. O que faltou?  Para quê tudo isto?"  Daí a inquietação que aparentam, findo o banquete dos rapazes.

Os últimos anos me ensinaram que a essência da felicidade está na simplicidade dos fatos e ações. Pé no chão, que palavra e ação tem que ser coerentes. Se tiver muita variação, muita pergunta, é trabalho de doutorado, e deixemos esse árduo serviço intelectual para os acadêmicos.  Na vida real, se tiver muita hipótese, justificativa e relevância, e tiver que fazer pesquisa de campo, esqueça. Se não sabe bem, se não entende bem, se não quer bem, esqueça.  A dúvida é a marca do fracasso;  as situações intermediárias e multifacetadas tem prazo curto, curtíssimo, e precisam ser resolvidas em tempo certo - se passar, azedam o caldo. Foi-se. Ou entrega-se ao Amor, ou parte para outro. E vale para profissão também.  Ou se dedica e decola no trabalho escolhido, ou parte para outro ofício.  A escolha é sua, a vida é sua, a dor é sua, e a alegria também. Orgulho de ser quem se é! Orgulho de Aprender, Menina! Vamos parar de enganar-se, de dificultar as respostas. Estão aí e temos que encarar. Vamos assumir que são somente duas, esta técnica ajuda muito; o terreno das nuances é perigosíssimo. Fiquemos com a segurança do SIM ou NÃO.
Vai por mim -  É ou Não É. Quero ou não Quero. Vim para valer, ou Nem Vou.  Amo ou não Amo.  Sou Melhor, ou Estou Fora. Sigo ou Desisto, e pronto.

Torço. Torço para que abra os olhos e esclareça o coração. Sem medo. Encontre suas respostas, fáceis ou difíceis, e não se contente enquanto não for absolutamente feliz  - a felicidade é um Todo indivisível.
Digo porque vivo - na terra da felicidade não há espaço para dúvida. Brota, cresce e floresce da certeza.  Regue todo dia que o paraíso, caríssima, revela-se.  É um lugar maravilhoso.










sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Mix e Remix

Santa Tereza
e onde mais seja




Misturados

"Nada melhor do que não fazer nada
só para deitar e rolar com você"   (rita lee)


Eu não venho aqui falar de sexo,
nem de pornografia  ou erotismo 

Venho aqui falar de coisa mais rara,
mais difícil de encontrar.

Bem sabemos que nos dias de hoje nada é mais fácil que encontrar um par para trepar.
Tampouco este é o tema desta sexta feira, pelo amor de Deus.

Sou moça fina, mãe de família, não posso ser assim reles e vulgar.
(falar sobre sexo exige cuidado - as pessoas adoram fazer, mas tem pavor de comentar
temem rótulos, temem o castigo, o pecado. Temem fofocas.
Não tenho medo destas bobagens.
Tive foi medo de não saber mais amar)

Escrevo hoje sobre mais, muito mais que trepar.
Mais, muito mais que praticar o ritual milenar da conjunção carnal
O exercício de nossa vocação de procriar,
porque ainda que infertéis, a vocação fala alto, e precisamos praticar.

Falo de diluir-se um no outro
Desmanchar-se para adquirir nova forma.
Mergulhar no organismo alheio
que já não é alheio
é de uso comum
é de corpo inteiro.

Digo de derreter-se fundir-se 
E soldar, pelo calor mútuo de duplos tecidos,
um novo tecido cutâneo, que reveste de uma vez só a ambos;

digo de não mais reconhecer-se Um. 
digo de ser, parecer e reconhecer-se um Novo Ser.
Amamentado aquecido acolhido esperado
Amado, muito amado.

digo sobre olhar-se como nunca ter-se visto
e reconhecer-se como se sempre se tivesse assim imaginado.

( era assim que eu via nos sonhos)

Venho aqui falar de misturar
Mixar e remixar
Pela sobreposição inversão e lateralidade;
Pela vontade
De criar, através do calor e do contato mais calor e mais contato
Multiplicar o olfato, paladar visão e tato;
a audição não.
Nesta alquimia não se ouve nada que não venha do coração
e sua linguagem é necesssariamente silenciosa, e se há som,
são incompreensíveis gemidos.
Uivos.

Sim, venho falar de instintos,
sem ideologia ou filosofia - sem conceituação.
Soltos livres loucos instintos.  
Deixar que a alma siga por físicos caminhos, 
e que falem os peitos
os testículos
os aurículos as artérias
os ouvidos.
que falem todos os lábios,
todas as membranas e mucosas.
Pulsam com força essa multidão de veias  da barriga  da coxa da bunda da perna
das virilhas.
e calam a solidão com sua língua crua e viva.
Corajosa língua.
Vemo-nos mordidos por outros dentes
sem sentido e sem dor .
Lindos dentes os dentes do amor, capazes de tirar sangue sem dor,
doadores universais que são de incomum prazer.
Estranho e irresistível este único ventre com dois umbigos
E não há explicação estética, pois dele surgem braços e mãos e pés e unhas
poderia ser um desequilíbrio, mas não,
todas as partes tem uso e sentido
do joelho ao tornozelo,
passando pelas 
costas nuca pescoço cintura costela quadril
coluna vértebra medula 
vísceras em movimento
curadas úlceras.
Pensamentos permissivos que estariam no útero
e se não tenho útero, como ainda estão em mim?
Os pensamentos estão em seus dedos.


      Há quem diga até que estamos parecidos.
      Esta gente é sábia; faz sentido.
      Somos macho e fêmea da mesma espécie em extinção
      Encontramo-nos para sobrevivermos são e salvos
                    -   E Seguirmos em casal neste mundo cão








quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Papo Reto

Metrô
Do Flamengo
a Ipanema



                                                                          Vamos papear
                                  

Eu vinha de metrô,
muito distraída de mim.
Mas duas senhoras, confortavelmente instaladas em bancos paralelos,
- e eis aí um desafio à geometria, que afirma que os paralelos não se encontram-
estavam também distraídas de mim e do resto do mundo,
e atentas uma a outra
(portanto a atenção faz o encontro) 
puseram-se a papear.
E contaram sua vida no breve espaço entre o metrô Flamengo e a Praça General Osório.
Entre uma estação e outra,
entre os avisos gravados e apitos,
entre o ir de vir de estranhos,
elas prosseguiram.
Nada as interrompia.
Sei que uma é mãe, a outra não quis filhos;
mas cuida de seus pais idosos, que viraram seus filhos.
Sei que uma é muito feliz no casamento,
a outra aprendeu a viver com marido e sem amor.
Uma disse que tudo é exercício de carinho
(achei bonito isso)
A outra disse que tem muita conveniência no mundo.
Houve um silêncio triste.
Falaram de adoção de crianças e de cães
De responsabilidade e de abandono.
De liberdade e de culpa.
De escolher sempre que possível,
e aceitar o impossível de escolher.
Falaram de amizades verdadeiras,
que valem mais que amores falsos.
Falaram de casar, de não casar, de casar e separar,
de casar e amar, de casar e desamar.
De suportar.
Falaram de patrão e de empregada
De síndico e delegada.
Ouvi até que uma tem um amante.
(meu ouvido é bom)
É, é amigo de seu primo
ou primo de seu amigo
ou talvez ainda primo do amigo do primo,
não sei direito, mas sei que ela disse que ele a faz feliz,
e que com ele passa as melhores horas de sua vida.
Ela mente para o marido frio, dizendo que vai ao dentista,
Mas não vai não.
(Pelo menos não na hora que diz que vai.)
E acrescentou que é um ótimo álibi - o celular fica desligado,
porque ninguém pode atender o telefoninho danado
se está anestesiado.
Assustei-me com sua coragem em confessar ou inventar assim, uma traição,
em público,
para uma estranha.
ao meio dia e meia,
no metrô de Ipanema.
(às vezes é mais fácil confiar nos estranhos)

Quem quis ouvir, ouviu, e quem não quis, ouviu também.
Pensei em Glorinha Khalil, a chic Glorinha,
que disse que ser chic é ser discreto: não insinuar, não perguntar, não inquirir, não revelar segredos,
Manter-se neutro e respeitoso.
Não fui chic não. 
Guardei cada palavra e conto aqui
(nem sempre é possível, Glorinha!...)
Intrigada que fiquei com nosso espírito brasileiro
E nossa vontade de compartilhar, debater e reafirmar
nossa opinião junto ao outro.
Precisamos expor o que sentimos,
Seja para termos apoio, e para gerarmos vínculos e afinidades,
Seja para chocarmos e ferirmos,
o que também não deixa de ser um vínculo.
(vinco= marca; o que marca mais que uma palavra dolorida?)
E no fim das contas, Glorinha, somos todas mulheres faladeiras,
mulheres brasileiras.

       - Temos muita vida a viver e não temos mesmo muita etiqueta.








quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Dançarina e Ladrão

Em algum lugar do Chile
Da Latino América
De mim
De você


Ricardo Darin, Abel Ayala e Miranda Bodenhofer, sob a direção de Fernando Drueba - arte e realidade

" Com a chegada da democracia no Chile, após a saída do ditador Augusto Pinochet do poder, o jovem Angel (Abel Ayala) e o veterano Vergara (Ricardo Darín) são anistiados. Enquanto Vergara está disposto a abandonar o crime para se reencontrar com a família, Angel quer que ele o ajude em um golpe idealizado por um companheiro de prisão. Paralelamente, Angel conhece e se apaixona por Victoria (Miranda Bodenhofer), uma jovem muda que sonha se tornar bailarina. "(adorocinema.com)


Esta é a versão oficial do filme.
Não acreditemos, caríssimos, assim tão facilmente, nas palavras impressas - é preciso ver o filme. Como diz Gilberto Gil, se a gente não ver não há. E há que ver este trio de  marginais. Criminosos? Não sei. Crime é ação ou omissão que infrige a lei, e não a moral. Sabemos que moral e lei andam bem separadas aqui pela América Latina, então não os julgarei criminosos; são mais inocentes que os legalmente corretos, garanto.   Não me corrompo pelos códigos de conduta do Estado.
 .
Corajosos sobreviventes da cruel ditadura Pinochet, livres da prisão, foram aprisionados na pobreza, na miséria e na solidão. Covarde solidão, imposta e contra a qual não conseguem lutar, a não ser que se unam em mais um ato ilegal. Daí adiante não vou. O caríssimo tem que ir por seus pés, já que não temos a mesma suerte de Angel, herói anti herói que anda a cavalo. Ni la misma suerte de Victoria, a bailarina, que desliza sobre seu corpo. Vamos a pé mesmo, mas de olhos bem abertos. Veremos um filme de arte, apresentado comercialmente como um filme romântico, porque os filmes de arte não lotam cinemas. É um filme de arte,Vitoria dançando é arte, Angel voando e cavalgando é arte.

Os corajosos namorados Vitoria e Angel, e quem quiser que os impeça

O diretor foi muito sábio.  Para trazer esta fábula á realidade, além de situá-la (muito superficialmente, que pena) no cenário político da pós-ditadura, terreno impreciso e ainda assombrado por fantasmas conhecidos, contou com a bruta verdade de Ricardo Darin.
Pausa, aqui, respeitosa pausa. Darin é ator, diretor, escritor, roteirista, e o que mais o seja, o será de primeira linha. Traz às telas a revelação (dolorosa ou confortadora) de que somos humanos, envelhecemos, temos cabelo branco, olheiras, bolsas em baixo dos olhos. Criamos barriga e mau humor, e é assim mesmo, e ponto. Com o passar dos anos nossas mágoas profundas doem menos, e experimentamos algum alívio nisto; além do mais essas mesmas cicatrizes nos tornam imensa e irrevogavelmente melhores e mais interessantes. Deixamos de ser figurinhas de um álbum e passamos a ter personalidade, história, passado, presente e , que maravilha, temos futuro. Sarcástico, companheiro, humano, sofrido, atrevido, Darin como o vilão anti vilão Vergara Grey faz a ponte entre a arte e a realidade, e nos convence que tudo aquilo aconteceu de fato, e que os fugitivos estão agora fazendo amor e tomando uma boa taça de vinho...
Muitas e muitas cenas poéticas, a escolher. Emocionam. A dançarina, em sua rôta majestade, a nos tirar o fôlego; o ladrão, inocente como um bebê, acreditando que seria feliz nesta Terra ingrata; e o ladrão mor, Darin, angustiado e embriagado cantando os primeiros versos de El dia en que me quieras. A cena final, suave, silenciosa, que sugere novo início, novo começo, como deviam sugerir todas as cenas finais, na tela e na vida.
Os personagens em suas diferenças confirmam o que eu digo: os homens em suas diferenças amam e precisam de amor, e de sonhos, possíveis ou impossíveis; e de paz, e de felicidade. Lutam, matam e roubam se preciso for; atravessam fronteiras geladas com firmeza e determinação. Machões, ladrões, dançarinas, velhas professoras, viúvas, madames. Somos todos absolutamente iguais: o amor e o sonho falam mais alto em nossos corações, que todas as leis, que todas as regras de comportamento e que todos os ditadores.

Vamos dançar - todos precisamos de sonho, todos nós

" Acaricia o meu sonho, 
com  o leve múrmurio do teu suspirar
 Como eu seria feliz nesta vida, 
          se os teus olhos negros me quisessem olhar... 
Ah, como queria que risses para mim,
Com essa tua risada suave
Que é quase um cantar..."  
( El dia en que me quieras, Carlos Gardel)