domingo, 5 de junho de 2016

Eu, um dinossauro



Rio de Janeiro
Planeta Terra antes das inundações
Período pré-homo sapiens



                                  Prazer em conhecer


Caríssimos, esta sou eu.

Um dinossauro.
Não, não se surpreendam. A cada dia noto mais semelhanças minhas com o esplêndido animal.
Antigo, pesado, e mal humorado.
Somos imensos, barulhentos; anti-sociais.
No fundo, apenas criaturas incompreendidas.
Pertencemos a eras longínquas. Tempos e tempos idos. Não entendemos a linguagem atual, e os atuais interlocutores tampouco entendem a nossa. Não nos adequamos aos modelos, o que complica muito em tempos de caminhos tão polarizados e parametrizados.
Então vamos conversar? Ops... o diálogo conosco é problema na certa. Quando não provoca um conflito, detona outro pior.
Se ficamos, há pânico. Se partimos, há tremor de terra.
Nosso falar é um rugido, um grunho, vem de dentro. Rasga o ar.  Assustamos as demais espécies - e outros coleguinhas de menor envergadura - por puro desconhecimento de nossos hábitos; parecemos devoradores, mas não somos. Parecemos aterrorizantes, mas somos inofensivos. Inocentes vegetarianos.
Temos sido perseguidos através da História. Inventam que queríamos exterminar o Bicho Homem. Querem nos eternizar em lendas cruéis. Calúnias. Tal contemporaneidade não existiu; essa suposta convivência não foi autorizada pelo Criador. Daí nossa resistência ao convívio. Não fomos habituados.

Sigo ruminando meus alfaces e aguardando minha tribo, que anda em outro planeta, certamente, para desfrutarmos de um momento pacífico onde a natureza e o animal vivam sempre em comunhão.

No mais, é curtir a solidão, digo, a realeza dos temidos.  Enquanto houver produções bilionárias sobre meus irmãos dinossauros, estarei em alta.