Ocorrência: briga de casal
Chanel que nos acuda
Um mimo, o par de sapatos Chanel
Carissimos, essa história é baseada em fatos verídicos. Mesmo. Tomarei todo o cuidado para preservar os envolvidos. (segundo advogados, agora que afirmei que é real tenho que tomar mais cuidado ainda )
O caso é o seguinte. A mulher de hoje está perdendo o charme. Esquecendo da distinção. Andando muito à vontade, largadinha mesmo. Qualquer roupinha a gente veste, um batom e já vamos para a rua. Errado. Erradíssimo. Nós, cariocas, somos mestres no despojamento, mas alto lá - a elegância mais tradicional pode salvar nossa pele. Vejamos a vida real.
A moça, moça bonita de gênio forte, como manda o figurino e o já referido ditado do meu avô ("moça bonita tem que ter gênio, senão é só enfeite") namorava rapaz de futuro promissor. Homem jovem, belo, inteligente, bom partido toda vida. Assediadíssimo, portanto. Disputado a tapa no escasso mercado do gênero homem tipo homem, com h para toda obra, trabalhador, e etc.
Ela não ficava atrás não. Elegantérrima, arisca, atrevida. Moça bonita mesmo dos pés a cabeça. Olho aberto, ela desconfiou.
Tinha uma pequena no caminho. Seu nome muito citado, volta e meia vinha à conversa entre os dois. Gostou não. Trabalhavam juntos, o que é perigosíssimo, sabemos. O convívio aproxima demais, cria oportunidades demais. Homem é bicho bobo, cai em armadilhas fácil demais.
Faro apurado, ela partiu para o flagra.
Impecável. Chic de doer, Chanel da cabeça aos pés. Dirigiu-se à casa do rapaz, hora de serviço, que fazia ele em casa aquela hora? Mulher tem radar, e funciona que é uma beleza. O rapaz tinha caído em tentação sim, e o flagra estava armado.
O caríssimo abriu a porta? Nem ele. Escândalo, porta socada, gritos. Moça bonita em Chanel, gritando, chama atenção até de falecidos, e os vivos atentos chamaram a polícia.
Chegou a polícia. Rapaz trancado. Passara rapidamente do status de namorado para o status de inimigo perseguido; queria vê-la algemada, e distante dele o mais rápido possível. Moça desconsolada. Ninguém a convencia a deixar o local. Passa hora. Outra hora. Veio amiga, veio mãe, veio ex-namorado prometendo amor eterno, veio irmão. Nada. A moça só saía dali com o flagra constatado.
Mas tem gente que está no lugar certo, na hora certa. Aproximou-se um policial, assim, de soslaio, falando baixo. À paisana, distintivo discreto, meio mais velho, meio sabidão. Chegou perto, ofereceu lenço de papel, ofereceu água mineral. A moça acalmou, bebeu água. Ofereceu cigarro. Aceitou. Charmosa até na dor, tragou, sôfrega, como uma diva do cinema.
Era a deixa para o homem da lei. " - Sabe, eu sei que a senhora está nervosa, com razão. Como que é que um rapaz faz um negócio desses com a senhora? Uma moça assim tão chique... De sapato Chanel e tudo".
A moça parou. " - Que adianta um Chanel numa hora destas??? Mas o senhor conhece Chanel, como sabe que meu sapato é chanel?"
Polícia "- Sapato não, né. Isto é uma obra prima, uma coisa rara. A senhora está muito bem, muito bem calçada e trajada. Chanel, eu vi o filme. E pode usar, é elegante, tem porte. Fica muito bem. Muito melhor que essas maluquetes de piercing no umbigo, isso não é estilo fino. Mulher para casar, para apresentar para mãe tinha que ser assim, igual a senhora. Chique. Chanel."
A moça insiste: "- É, que adianta? Estou aqui do lado de fora, e ele aí com outra"
Policial: " - Ah, mas não deve ser assim que nem a senhora não. Onde é que se arruma mulher assim, de sapato bonito, bolsa bonita, por aí? Tem não. A senhora fica tranquila, vai arrumar namorado muito melhor que esse, que lhe dê o devido valor. Que admire assim, sua elegância, sua presença, seu estilo. Fosse a senhora uma moça largada, qualquer, que não se cuida, eu não falava nada. Mas a senhora, a gente tá vendo que é moça de gosto, que merece o melhor. Vai arrumar marido à sua altura, e não é qualquer coisa não"
Moça: "- O senhor acha mesmo?"
Policial: " - Tenho é certeza. Uma pessoa que se veste assim, tem capricho. Tem cabeça para escolher roupa, como é que não vai saber escolher namorado? Deve ter fila para sair de braço dado com a senhora. Posso falar, tem idade para ser minha filha. Uma beleza de moça, isso é que a senhora é. Esse rapaz deve estar é doido, e doido é com médico, não é com a gente da polícia não"
Moça: "- Sua filha, não, quê isso. Nem me chame de senhora, por favor. Sei que é por educação, mas pode me chamar pelo meu nome"
Policial: " - E qual o nome desta flor?..."
Moça: "- O senhor acha mesmo?"
Policial: " - Tenho é certeza. Uma pessoa que se veste assim, tem capricho. Tem cabeça para escolher roupa, como é que não vai saber escolher namorado? Deve ter fila para sair de braço dado com a senhora. Posso falar, tem idade para ser minha filha. Uma beleza de moça, isso é que a senhora é. Esse rapaz deve estar é doido, e doido é com médico, não é com a gente da polícia não"
Moça: "- Sua filha, não, quê isso. Nem me chame de senhora, por favor. Sei que é por educação, mas pode me chamar pelo meu nome"
Policial: " - E qual o nome desta flor?..."
E nessa prosa de moda, capricho e flor, o policial foi adoçando a madame. A moça foi retirada do local sem sentir. Saiu de braços dados com o policial, esperançosa de dias melhoras. Levada pela família para merecido descanso e recuperação de sua integridade emocional.
Fica o recado. Chanel. Dior. Givenchy.
Prada.
Marcas assim, que destacam um mortal na multidão.
Embora no amor - e na dor - corpo e alma estejam nus e descalços, e embora o coração não permita etiquetas, e as rejeite veementemente, na hora do flagra um bom Chanel pode fazer a diferença, pode sim. Ajuda, e como.
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