Rio
Leblon
Eu e Você Você e Eu
Juntinho
Prepare-se para uma viagem ao mundo redondo de Tim Maia
Foto: Divulgação.
Tim Maia: Vale Tudo
Texto: Nelson Motta, Direção: João Fonseca
Eu já sabia que era bom. Excelente até. Muitas reportagens sobre a temporada de TIM MAIA:Vale Tudo no Teatro Carlos Gomes. Lotação esgotada, brigas na bilheteria. Sucesso. Tiago Abravanel superando expectativas, cantando, dançando, incorporando.
Mas não esperava o que vi no Oi Casa Grande. Eu vi Tim Maia. Seu vozeirão. Seu swing. Suas maluquices.
Vi o Tim da infância, entregando marmitas, beliscando petiscos das marmitas dos fregueses. Engordando...O Tim boa praça da adolescência, cheio de amigos, botando a galera para dançar no meio das ruas da Tijuca.
Vi quando foi para os Estados Unidos, quando foi preso por porte de drogas e dirigir veículo roubado. Deportado, retorna, e solto, e livre, se joga na música, criando um som irrestível e inédito no Brasil.
Assustada. Não sei se estive na platéia do teatro ou se estive no mundo espiritual, guiada por sua música para uma visita ao passado. A presença de Tim é real, e não há nenhum toque mórbido ou póstumo, é Tim ao vivo. Não me falem em Tiago Abravanel. Falem de Tim Maia.
Amparado por elenco de talento, o ator-revelação impressiona tanto quanto a personalidade que incorpora, reconheçamos, interpretar, cantar e dançar como Tim não é para qualquer um mesmo. Abravanel contracena com feras - Isabela Bicalho ( como canta! E já foi Narizinho!), Lilian Waleska, ("É com esse que eu vou"), e os maravilhosos Pedro Lima, André Vieri, Bernardo La Roque, Reiner Tenente, Evelyn Castro, Pablo Ascoli, Aline Wirley (Rudge / Hair)e Leticia Pedroza, que representam as feras Roberto Carlos, Imperial, Nelson Motta, os amores e a família de Maia. Roberto Carlos é uma figuraça, um comédia. Aliás, a direção consegue manter um tom debochado, nessa história de triste fim. Mais: consegue um tom descarado, como era Tim. Debochado.
As quase três horas de espetáculo são livres, leves, soltas, embora temperadas pelo uso de drogas e pela solidão que o acompanhava; por sua busca sôfrega pelo amor. Busca vã. Sua ironia, que fazia piada da vida e de si mesmo. Piadas amargas, que são nossas também: "Aqui nesta platéia 99,9% é corno, não é não?" Desminta quem puder. "Gordo. Ou beija, ou penetra." Houve controvérsias na platéia.
Compartilhamos, agoniados, da impotência de seus amigos e de suas mulheres diante do descabimento de suas ações, loucas e incrivelmente coerentes com seu descompromisso com a vida.
O fascínio deste gênio é sua coerência extremada. Para ele Valia Tudo, mesmo. Sem ressalvas ou meios caminhos. É droga? Então é droga, muita, todo dia, misturadas, desmanchadas no whisky. É música? Então é música, a melhor, o melhor timbre, o melhor som. È amor? Amor, porrada, paixão, entrega. Solidão? Solidão. Para valer? Para valer e doer.
Tim cria uma conduta desregrada para si e para seus próximos. Acompanhe quem puder, ou caia fora.
Esse foi o mundo de Tim. Um mundo de brilho, de sucesso, e de solidão. Fora do mundo possível. Impossível sobreviver. Ele era de outro planeta, e fez o planeta Brasil dançar até o último minuto. Muito. Com tudo.
O resto? O resto, caríssimos, o resto vale.
Nota: neste momento você deve ouvir a metaleira da Banda Vitória Régia. Ouça. Vale tuuuudo...vale.... vale tuuuuuuuuudo....
Foto: divulgação.
Tiago Abravanel, Isabella Bicalho, Lilian Valeska, Pedro Lima, André Vieri, Bernardo La Roque, Reiner Tenente, Evelyn Castro, Pablo Ascoli, Aline Wirley, Leticia Pedroza
Ótima resenha do espetáculo!
ResponderExcluirJá assisti(infelizmente só uma vez, mas pretendo voltar), e suas palavras foram perfeitas pra descrever essa maravilha de musical!
Parabéns a você pelo ótimo artigo, e ao elenco e produção pelo show impecável!