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As Sete Meninas
"SÃO PAULO - A Polícia indiciou por abandono de incapaz e prendeu quatro mães de meninas que praticam arrastões em lojas da Vila Mariana, Zona Sul de São Paulo. Elas foram presas na noite desta quinta-feira quando foram buscar as filhas, que novamente haviam sido levadas para a delegacia, após a tentativa de assalto a uma motorista." (O Globo on line)
"São direitos Constitucionais da criança:
Ser bem alimentada, vacinada e receber acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento.
Contar combons servios de saúde, boas creches e pré-escolas.
Viver em lugar saud[avel, ter oportunidade de brincar e aprender.
Receber afeto e viver sem violência.
Ser acompanhada pela mãe nos serviços de saúde."
- Constituiçao Federal, 1988.
Se você mora no Rio, está acostumado com elas.
Faz de conta que náo as vê, ou, apavorado, foge. Atravessa a rua. Fecha bem a janela de seu carro.
Falam alto, palavrões, baixo calão, barrigas e pernas de fora. Cabelos duros de sujeira.
São vizinhas suas. Minhas.
As da foto acima moram em São Paulo. Cidade rica, produtiva, industrial.
Cidade dos Jardins da Elite. Das Faculdades USP e Mackenzie. Do Hospital Albert Schweiser.
É, são de lá.
Essas meninas que vemos na foto estavam na rua dando trabalho a polícia. São bandidas, assaltantes, criminosas. O policial Ibrahim (eu o vi na TV) disse que foram presas nos seus últimos plantões. Presas, e soltas.
Até que o delegado Marcio de Castro Nilsson resolveu prender as mães. Pronto. Cheguei onde eu queria. As mães. Foram chamadas para buscar as menores, e compareceram com suas calças, casacos e bolsas. Não estavam assim rasgadas e sem proteção, sujas, descalças, e ao relento. Não. As mães tem se beneficiado do crime das filhas menores, e quiçá de outros crimes. É visível. Não deviam estar sem banho e sem teto.
As mães foram presas e indiciadas por abandono de incapaz - são essas senhoras aí em cima
O delegado merece toda nossa admiração. Chamou as mães, sob pretexto de entregar as filhas, e prendeu as progenitoras por abandono de incapaz. Encontrou na lei uma armadilha - não há registros de que estivessem procurando as filhas - e prendeu as distintas. Se náo estavam procurando, estavam abandonando. Quem náo cuida, abandona. Não há meio termo ou disfarces. Ou é abandono, ou é responsabilidade. Bravo, delegado, esse pensamento é maior do que parece.
Sabem o que mais me intrigou? Não as víboras incitando a prole ao crime. Não foi corromper, abusar, maltratar, privar. Talvez essas senhoras tenham também sobrevivido assim. Talvez sejam vítimas de vítimas e náo conheçam outra saída para o pão e a cervejinha de cada dia.
Intriguei-me com a alegria que as meninas manisfestaram quando as mães chegaram. Uma dava pulinhos, toda feliz. Cortou meu coração. Queriam suas mães, cruéis, vis, leite e sangue venenosos, no entanto o único pseudo amor que conheceram.
Talvez até as defendam, e encontrem justificativas infantis para suas ações. E todas as sete choraram, muito, quanto foram separadas - mães para a prisão, meninas para o abrigo.
É. As meninas malandras e maliciosas, treinadas para furtos e arrastões, essas que podem te cortar com navalha, choraram como bebês. O que tiveram por família tinha se acabado.
Talvez sonhem com uma mãe diferente, carinhosa, que dê banho, faça dever, leve ao médico. Que converse. Que ajude. Talvez vejam com essa generosidade, com essa teimosia de ilusão.
E eu teimo também. Sonho com um Brasil diferente. Com controle da natalidade e aborto legalizado.
Com as tais boas creches e escolas da Constituição.
Com mães que gostem de serem mães. E meninas com o direito de serem meninas. E com um Estado Brasileiro que possibilite a ambas o cumprimento de seus deveres e o gozo de seus direitos.
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