segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O Samba de Pedro Miranda

Lapa Lapa Lapa

Lapear
Sambar
Apimentar

                                                         
Capa do Cd Pimenteira, com o bamba Pedro Miranda


Tudo começou quando conheci meu benzinho. Ele perguntou:
" - Gosta de Pedro Miranda? Vai tocar no Demo hoje."

Confesso - andei por fora do samba muito tempo. Fiquei assim, meio sem graça, e falei: "- Gosto, gosto sim", respondi baixinho, tipicamente baixo, como fazemos quando náo temos certeza do que falamos. Baixo, rápido e olhando para outra direção.

Fui. Fui e encantei-me.

Pedro Miranda é jovem, muito jovem. Mas canta com a dignidade da velha guarda. Solta a voz como os mestres do samba. Eu vi. Eu sambei. E voltei para ver e sambar outras vezes.

Voltei para o samba pelo pandeiro de Pedro. É um convite para o tradicional saláo da gafieira. Avisa que vai começar, prepare-se. Vem ele, e náo há quem náo vá. Empolguei-me por ter-me reconciliado com o assoalho riscado do Democráticos. Por poder recuperar o tempo perdido.

Sim, não se pode perder tempo nesta fugaz existência. Quero mais. Quero é mais pimenta.

Cheguei em casa e futuquei. Ah futuquei. Sou boa de futucar na internet. Descobri tudo sobre Pedrinho. Caetano elogia seu CD Pimenteira, rasgados elogios ao rapaz. Assisti emocionada sua interpretaçao de "A vida é um Moinho" do Santo Cartola, no  Som Brasil. Astro do projeto Oi Novo Som.

E vai.  Nova geraçao do samba. Novo talento do samba. Novo, novo, novo. Não. Ouso discordar da crítica. Pedro não inova. Pelo contrário, Pedro resgata. Traz de volta a tradiçao do samba, com capricho e correção. Com respeito. Samba de bamba.

Esqueça sambinhas e pagodes. Esqueça tudo que náo for de primeira. Em sua voz só as letras preciosas, só as pérolas da nossa música.  Vontade de decorá-las, sáo poesias do nosso povo. São orgulho do compositor popular.

O que há de novo, de nunca visto, é o honroso resultado.  Tem a elegância de um Paulinho da Viola e a alegria de um forrozeiro. Faz-se acompanhar por músicos de primeira, estudados, premiados, disputados. Produzido pelo maestro Luis Felipe de Lima, Pedro Miranda  desfilar um repertório de primeira - Elton Medeiros, Zé Keti, Nelson Cavaquinho, Rubinho Jacobina. Caymmi e seu vatapá. E ele mesmo, com sua excelente Pimenteira.

Até aqui já estava bom demais. O artista sempre se supera, digo porque vi.  Pedro interpreta um malandro diferente a cada música; mais um compromisso com o conceito do samba. Sabemos: o samba elogia as figuras da boemia carioca; narra malícias, ironias, picardias, valentias, desencantos. Pronto. E vem um a um os personagens do imaginário do samba - o malandro enganado pela nêga sestrosa; o malandro chameguento, que quer namorar na rede; o malandro 171 de Hello my Girl, metido a falar inglês. O que vive de samba, que aprendeu samba com quem faz samba bom, e dali tira o seu páo. Todos no corpo e voz de Pedro Miranda. Os bons malandros, os inocentes, os simpáticos, os mal intencionados, os irresistíveis. Traz os sambistas como imaginamos -  contornando na batucada as contrariedades da vida.

O mignon tem traquejo.

Encanta-me. O samba há de se perpetuar nesse rapaz. Vejo glorioso futuro para ele, e para o seu samba-interpretação. Samba brincadeira, samba de verdade, samba do bom e do melhor. Tem partitura. Tem dedicação. Tem choro, tem molejo, tem até um breque. Tem variedade, fartura, e tem pimenta.

Mas onde  derruba-me, de vez, é na simpatia. Bom malandro, ele também. Na última vez que o vi, pedi uma  uma foto. Aceitou meu pedido, e veio sorrindo, um sorriso fácil dos que estáo felizes.
  
Claro que tive que manifestar-me. Minha natureza náo permite que eu me cale. Cochichei: " - Adoro quando você canta a música do Zé Keti, aquela da nêga que se farta de boa vida e engana o malandro."

(Para quem náo conhece: " ela pede um vestido eu dou, ela pede um sapato também dou... Não vacilo náo, já comprei geladeira e televisão"...)

Ai. Provoquei o bonito. Ele voltou para o show, é chegada a hora da referida música. Começou a cantar. Olhou na minha direção.
Morri. Entoou: "ela pede um sapato também dou..." Apontou para minhas sandálias douradas e perguntou: "esse sapato fui eu que dei?"

Pedro é assim. Agrada. Agrada os fãs, agrada os músicos, agrada os espectadores, os dançarinos, os casais.


Já foi ver o Pedro, nêga?
Então vá


É ele
Foto: Divulgação.






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