domingo, 13 de março de 2011

Antes que o mundo acabe

Rio de Janeiro,
Março de 2011

Terreno minado do Arpoador



Moro a um quarteirão de duas praias, e a dois quarteirões de uma terceira; uma tsunami me acerta em cheio, e de primeira.
Estou próxima de uma favela dominada há anos sucessivos por marginais. Ferozes, organizados, sedentos por mais armas e mais poder.
No Rio de Janeiro há enchentes e epidemias; e ausências de políticas preventivas, opressivas, ou simplesmente racionais.

Encontro-me sob ameaça de alagamentos, assaltos, e balas perdidas.
Assisto diariamente a misérias e mesquinharias.

Por isso não falarei do Japão, ou do Haiti, ou de Teresópolis.
Não falarei das forças furiosas da Natureza,
ou da maldade do Homem.

Não falarei dos terrivelmente injustiçados pela sorte,
pelas ondas, pelas chuvas, pelos vulcões,
ou pelo abandono de seus progenitores cruéis.

Pretos, brancos, japoneses,
serranos,
judeus, africanos, meninos indianos.

Eu quero é falar com Deus,
Que é Pai para os que se entendem como bons,
E o tem como divina referência,
E é carrasco, para os que conhecem os maus pais,
na forma desprezível desta ascendência.

Eu gostaria de vê-lo antes que o mundo acabe
e perguntar-lhe porquê
tantas tragédias coletivas e individuais,
tantas histórias interrompidas,
tanta criancinha sofrida,
tanta alma dolorida.
Tanta gente desaparecida,
sumida pelo chão, e tanta,
tanta terra rachando,
tanta água inundando,
E como se mais não faltasse
ainda temos que nos preparar:
usinas gigantescas ejaculam precocemente seu estéril orgasmo nuclear.

E gostaria de ter logo esse encontro,
Cara a cara urgentemente com Ele,
Botar a mão em seu ombro e encará-lo, olho no olho.
Frente a frente.

E breve, para ontem.
Depois não.
Senhor, depois já foi.

E Ele vai saber que não me engana,
eu sei de seus planos.
Cansou-se do Homem,
Quer destruí-lo,
passou para o lado do inimigo.

Mas eu continuo no mesmo time - o dos amigos.
E é um tíme fortíssimo.
E tal qual no filme de Freeman e Nickolson,
Daremos cabo dos itens da lista.
Realizaremos as melhores coisas da vida.
Aqui, agora e não depois.
Depois, de fato, já foi.

E Ele terá que engolir
que quanto mais obstáculos impuser,
mais faremos para prosseguir.

Somos teimosos, loucos, criativos.
Agarramo-nos cegos, uns aos outros,
Nosso plano é infalível: viveremos, portanto, para resistir.

E livres, felizes, e em paz, até o último segundo.
Até que a Terra e a guerra passem,
Até que se acabe o mundo.


Nota: O filme em questáo é "Antes de morrer", com os insuperáveis Morgan Freeman e Jack Nickolson.

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