Rio de Janeiro,
Metrô.
As mãos do meu bem
Eu vinha no metrô distraída de mim e atenta aos outros.
Uma moça no banco em frente falava ao celular.
E o segurava com suas mãos, claras,
Pequenas, magras.
Com leveza, superficialidade.
Parecia que suas mãos eram fracas.
As unhas finas, as mãos pequenas.
Mãos que servem para suave carícia em uma flor.
Olhei para as minhas mãos.
São brutas, não parecem mãos femininas.
As unhas são quadradas, curtas, infantis.
As palmas são largas,
E o dorso é marcado por veias.
Mãos feias.
Lembrei-me neste exato momento das mãos de meu amor.
Como servem perfeitamente para as minhas mãos brutais!
São maiores, bem maiores que as minhas.
Mais amplas, mais macias.
Carnudas.
A pele é toda por igual, lisinha.
Arredonda, arremata, aveluda,
Com conforto, com segurança.
Uma mão gigante de criança,
E que lembra a criança feliz que ele traz em si.
Em cada uma, enfeites representativos,
E que o apresentam também.
São mãos que jamais bateriam em ninguém,
Não precisam.
Convencem pelos gestos, pela expressão.
Expandem-se ao redor dele,
Quanto fala, quando explica.
São mãos persuasivas.
São mãos que comandam.
Que montam palavras e textos,
Digitam, telefonam, teclam.
Separam idéias, organizam feitos.
São mãos que disparam ações e acertos.
E digo, e afirmo,
Uma só de suas mãos vale o ardor de um corpo inteiro.
Uma mão dessas na coxa, rapaz,
Espalha calor do ombro ao tornozelo.
Nas costas é como um cobertor
De carinho, de proteção, de zelo.
E por onde menos imagina
Essa mão enorme se ajeita,e onde pousa, enfeita.
E me tenta.
Como pode a mesma humanidade
Ter mãos imprestáveis e mãos assim.
Como posso eu resistir,
A tuas mãos, pedaços livres da tua vontade,
Passeando na minha carne, no meu pensamento,
Passeando por mim
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