sábado, 5 de março de 2011

A fila do Senhor Banco

Rio de Janeiro
Copacabana, Posto 3.
Agência da Bradesco.
Sexta Feira que antecede o Carnaval



Senhor, por favor, faça que essa fila ande. Estou bem aqui. Meus sapatos são, finalmente, confortáveis e trouxe o livro da Elisa Lucinda, que fala o tempo em todo em liberdade, alegria, auto estima.
Leio desesperada o livro buscando amparo. O que fazer quanto à filas? Nenhuma indicação específica, sigo a genérica, que é manter a cabeça erguida. O tempo é curto, preciso pagar contas vencidas, que só na boca do caixa. Boca de leão, só pode ser. Ergo mais a cabeça.
É preciso. Percebi a coisa esquisita quando a máquina que imprime a senha de atendimento e o horário de sua retirada não funcionou. O visor da máquina garante que em véspera de feriado náo ficarás mais de 30 minutos na fila. Mandamento legal. Estou sem provas, sem senha. Uma moça de colete jura que trocará o papel, náo troca. Mais uma a jurar em vão sob o Céu.
Sabe o que parece? Uma fila de pobres coitados. São 37 pessoas na minha frente. Humilhando-se como nos momentos solenes da missa católica. Imploramos: Por favor, por favor, receba meu dinheirinho. Aceite meus reais. Esta oferta é singela e é tudo que posso entregar. Ficarei grata se salvar-me.... O que é isso????
Os Bancos ganham muito com nossos pagamentos. Não falo de aplicações, depósitos à vista, não, falo do recebimento de contas, convênios, títulos, muitos nomes técnicos para a mesma operação financeira - recebo, autentico, repasso. Há lucro alto nesses três verbos de ação. Se há um pedinte, é o Banco, e pede pagamentos. Precisa mais de dinheiro que eu.
O pior acontece - um rapaz, em frente ao caixa, abre uma mochila recheada de contas. Papéis coloridos, cheques, dinheiro. Sua oferta era rica e farta. Assisto calada. Ergo os olhos do livro, desperta que fui por uma voz de trovão atrás de mim: - ô palhaço!!!! ( e eu amo os palhaços, discordo que a palavra seja usada como agressão) acha que vai pagar as contas para os seus amigos, é? Meu Deus, de novo, acuda. Vai começar um quebra pau aqui dentro. Vejo os seguranças observando. O tal abusado revida, em palavras feias, feíssimas.
Aí não. Aí não vai dar não. A pessoa está cansada gente. A pessoa quer pagar suas contas. A pessoa quer ficar na fila 30 minutos que é o que a lei pretende garantir. A pessoa não quer ferir seus ouvidos e tomar um soco perdido. A pessoa não quer ser boba náo. Somos todos filhos de Deus.
Tomo uma atitude supostamente civilizada, acho que é o que se espera de mim, preparada que sou a resolver assuntos de clientes - vou à gerência. Todos ocupados. Digo: vai ter um quebra pau na fila, estou avisando, e vou ligar para a Ouvidoria. Empunho ameaçadora meu celular. Calmamente, volto ao meu lugar na fila. Outros homens gritam. Os caixas impassíveis, como são bem treinados!
Vem uma moça. Mocinha. Não tem 25 anos. Fala baixo, é bonita. Os homens se acalmam, diminuem o tom de voz. A beleza feminina é uma ótima arma contra a raiva, náo? Mas não para mim, querida. Sou imune. Quero a solução. Estou há uma hora e cinco minutos na fila, o cara continua a pagar todas as contas do mundo e eu continuo a esperar na beira do caminho.
A mocinha fica meio apavorada comigo. Olho nos seus olhos e aviso que sou supervisora de atendimento há 15 anos, sei todos os direitos e deveres do cliente, e estou de fato, ligando para a policia.
Reclamamos da polícia. Corrupta, violenta, ineficaz. Porém mencioná-la é milagroso. Evita-se uma atitude mais radical, não queremos a polícia não. O bom senso, e acredito, a vontade de partir logo para o Carnaval, fizeram com que alguém - ninguém viu bem quem - desse um tapinha no ombro do abusado e o levasse para uma confortável mesinha com água e café.
A fila, queridos, a fila andou.
É o que se espera. Andam. Andem. As pessoas tem seus caminhos a percorrer, o Banco tem cálculos e conferências a fazer, as mocinhas devem ter namorados ou namoradas para encontrar e eu tenho um Carnaval todo pela frente. Não quero ficar um minuto além do necessário.
Felizes os convidados para a ceia do cafezinho.
Pecadora que sou, fiquei na fila aguardando, ansiosamente, o perdáo do Senhor.

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