quinta-feira, 10 de março de 2011

Quem me dera o Bola todo dia

Bola Preta - o Quartel General do Carnaval
Rio de Janeiro, vamos pela Av.Rio Branco
Vamos para a Rua da Relação
Bola
Bola no coração


O cordáo dá um banho no centro da cidade, banho de gente e de animação.
Sábado, 5 de Março de 2011.



Quero ver o povo colorido. Mas pode ser em preto e branco mesmo.
O Rio liberto, musical. Não posso perder um segundo. Prossigo no Bola. Deixa o Bola rolar, com sua família do Carnaval.



Quem não chora não mama,Segura meu bem, a chupeta
Lugar quente é na cama, Ou entáo, no Bola Preta
Vem para o Bola meu bem, Vem para o Bola meu bem
Com alegria infernal, com alegria infernal.
Todos são de coração,todos são de coraçao
Foliões do Carnaval, Sensacional


Estive no Bola por três vezes neste Carnaval. Por três vezes fui privilegiada pela emoção da folia, pois aqui todos são foliões de coração, e o coração fala mais alto que os trombones e os bumbos. É fato: me esbaldei, um Carnaval que começa e termina no Bola não pode ser diferente. É quente.

O Bola extrapola, e eu extrapolei também. Banhei-me em sua alegria, único bem indispensável à vida. Escorria pelas paredes, pelas portas largas, pelo salão.
Fartei-me.
As paredes de tijolo e cimento aparente estão cobertas com bandeiras, bonitas, bem desenhadas, coloridas. Escondem o acabamento tosco e homenageiam grandes composições: Mulata Bossa Nova, Balancê, Iê Iê Iê, e por aí vai. Vamos fazer assim também: esconder nossas (poucas) dores com (muitas) músicas estampadas em faixas imensas e coloridas.
A grande homenageada aqui é a música, é a banda, é o talento dos compositores brasileiros. Tiro o chapéu, de panamá, lógico.

Na macarronada, a presença marcante de senhoras. Senhoras septuagenárias, e outras ainda mais avançadas na linha do tempo. Estão enfeitadíssimas. Explicam-me que só vem uma vez por ano, e não falham há décadas. Juram voltar ano que vem. Sambaremos juntas de novo, quero cumprir esta jura, não juro mentiras.

E que entrem as drags, queens da Alegria, de toalhinha, brincam de ser mulher. São mais femininas que eu em sua graça. Arrasaram no salão.
Em seguida, Rainha, divina, é ovacionada pela banda, e pelos foliões. Sentimo-nos todos muito honrados pela sua beleza.

As drags, em toalhinhas


A amiga enfeitadíssima,e a chiquérrima Rainha

E mais baile, baile no Bola para fechar com chave de ouro meu Carnaval de amor.
Quem me dera, quem me dera o Bola todo dia. Carnaval com amor e fantasia todo dia.
Quem me dera essa fibra, renovável em sua perseverança, em sua categoria. Superam-se, e supero-me por estar aqui. Permito-me.
Sen-sa-cio-nal .

Um pouco da história, que explica a fidelidade e a garra dos bola pretenses: fundado em 1918, no Rio Antigo, no Rio de Sempre Lindo. Falamos, portanto, de 93 anos de luta pela causa. Atravessou sérias crises financeiras, e está em fase de revitalização. Ocupa uma sede alugada, na Rua da Relação. Passou por outros endereços durante sua história, mas sem dúvida a sede da Rua 13 de Maio marcou as noites da Cinelândia. Foi leiloada em 2007, para quitar a dívida de oitocentos mil reais de IPTU. Ironia ou não, no mesmo ano, o Bola Preta ganhou o título de Patrimônio Cultural Carioca.

Pela primeira vez conseguiu patrocínio de uma Boa cerveja. O Presidente, sr. Pedro Ernesto Marinho, tem feito de tudo para manter vivo o Bola Preta, e transformar a agremiaçao em um negócio sustentável, sem perder a identidade inconfundível do cordão. Desafio que está sendo atingido. Apresentam-se em bailes e festas particulares. São contratados, mas o cardápio musical não se negocia: só marchinhas, sambas enredo, e sambas tradicionais. Não tocam axé nem funk. É a dignidade do Carnaval. O Bola está dando seu jeito - quem não chora, não mama - e com sucesso fez mais um Carnaval maravilhoso.

E viva. Viva suas fardas impecáveis, seus metais reluzentes chamando para a fanfarra. Viva a banda que toca alto, a compostura de seus músicos. Viva seu hino, sinônimo de baile, de festa. Composto em 1930 por Nelson Fonseca e Vicente Paiva, e imortalizado em 1959 por Carmem Costa. O hino convoca a comparecer, e com alegria infernal. Adoro.

Sei que no Paraíso deve imperar uma alegria infernal. Viva o cordão e vivamos eu e meu amor, que o cordão nos amarre e nos leve cantando.

Com orgulho, muito perto deles, das estrelas do Bola Preta

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