quinta-feira, 17 de março de 2011

O Cabaré de Ute Lemper

KABARETT

Rio de Janeiro
Teatro Oi Casa Grande
Grande Leblon


UTE LEMPER
Kabarett

A diva dos grandes musicais, a alemã Ute Lemper

Senhores, eu vi e ouvi. Digo mais, caminhei; atendi ao sinuoso e sedutor convite da voz magnífica de UTE LEMPER. Nos seus pés, e em seus braços de bailarina, fui para Berlim, antes e depois da guerra.
Começou nos anos vinte, com Brecht. Cantou o impacto do nazismo em sua obra. Cantou sua dor e sua alegria. Fomos indo para França, beijamos Piaf e voltamos para Berlim.

A interpretação de UTE LEMPER está além de poder fazer o que quiser com sua voz e com a elegância de seu corpo. Graves, agudos, roucos, sax, jazz, tango. Estamos aos pés de uma profissional exímia, que aprimou os dons recebidos com rara precisão e disciplina. Seu ponto de perfeição reflete incansáveis anos de dedicação. Canta Piaf, Weill, Brecht Piazzola. Estamos diante de um talento clássico e privilegiado, de uma prova viva dos grandes musicais – Cabaré, Chicago, Cats, Anjo Azul. Prêmio Moliére de melhor atriz. Musa de Maurice Bejart e Pina Bausch.

Entendo todas as palavras de seu inglês perfeitamente audível. Todas as letras são pronunciadas com clareza. Muito confortável ouvi-la falar, e seu canto fascina os ouvintes. Não foi ‘a toa que dublou a voz da Pequena Sereia, em sua versão alemã. Dentre todas as suas habilidades, como cantora supera-se. Sua voz levará quem quiser para outros territórios, reais ou não.

A fantástica dama dos compassos é também show woman. O público sequer pisca, absorvendo o bom humor e a sensibilidade que marcam sua narrativa rica de informações. Generosamente divide seu conhecimento sobre as composições interpretadas, e visitamos os panoramas que influenciaram criações de gênios. Preciso reconhecer: não brilha sozinha. Está em ótima companhia - o pianista mágico Vana Greiger, que ela entusiasmadamente avisa que é seu eterno acompanhante - e o "bandido", Tito Castro, em seu bandoneon argentino.

Depois do balanço de Mack the Knife, o aplauso final. Para o bis, um ne me quittes pas de doer o coração.

Aguardo sua saída. Sai simples, sem maquiagem, agarrada a uma garrafa de água mineral. Serena, parece menor e mais magra que no palco. Rendo minha homenagem à diva: Lady, you are wonderful, thank you for the great nigth. Estende a mão, e agradece.
Muito chique.

Realmente, a vida é um Cabaré, e com Ute, um dos bons, e dos chiques.

Ute and me

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