O primeiro dos Contos de Casais
Um beijo a mais
O beijo - Auguste Rodin
Havia um homem. Forte, alto, bonito. Corajoso. Um homem comprometido, o que não significa impossível.
Havia uma mulher. Queria um homem como aquele. Uma mulher livre, o que não significa disponível.
Não se conheceram pela internet não. Cada um com sua solidão, foram dar um passeio, e os caminhos se cruzaram, assim, como se atravessa na esquina e depara-se com uma árvore florida, linda, e se põe a pensar que o mundo seria melhor se tivesse mais árvores assim floridas, ou mais flores mesmo, as ruas com flores são as mais bonitas.
Um olhou, o outro sorriu. Que sorriso bonito tinham um para o outro. Combinaram um passeio a mais. Foram. Havia tanto assunto, tanto a ouvir e tanto a dizer. Combinaram outro passeio, e foram também.
Ouviram música. Gostaram. Uma música a mais, e o beijo.
Para quê isso? Para que se beijaram? Da onde tiraram um beijo como aquele?
Um beijo de amor, que escapoliu deles como um peixe que escapole do anzol – ávido por vida nova, solta-se para o mar.
Ambos queriam o mar. Se um não pode, o outro devia não querer. E quem manda no querer? Quem pode não querer?
Mas o que não pode, quis. E o que pode, quis muito. O mar ficou cheio de peixes.
Tentaram que fosse só mais um passeio, só mais um beijo, só mais uma noite.
Mas como não há passeio igual, não há beijo igual, não há noite igual, repetiram, repetiram, repetiram.
Ficaram assim, passeando e beijando por aí. O mar ganhou mais vida e a vida ganhou mais mar.
Ele fez-se possível. Ela tornou-se disponível, e só para ele.
Mas não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe. Um beijo proibido assim deve permanecer proibido. O que ninguém pode saber, não pode existir.
Há uma notícia boa e uma ruim: a boa é que foi bom e acabou, e a ruim, é essa também.
Ai... amores...
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