Rio de Janeiro e de Carnaval
Ilustre Av. Marechal Floriano
Nêga muito maluca
Corre sangue de folia em minhas veias. Mas este ano, ah este ano, tudo está especial. A bateria come solta dentro de mim.
Bola preta, bola preta, bola preta. Quero ir de Nêga Maluca. Pego o ônibus para a Casa Turuna, camarim do samba. Vou cantando em silêncio - "eu tava jogando sinuca... uma nega maluca me apareceu..."
Distraída. A felicidade distraí, peguei o ônibus errado - fui parar no Mosteiro. Rezar nem pensar, eu quero mais é deixar cair, saí apavorada. Rio Branco afora, piso o chão ilustre da Av. Marechal Floriano. Inspirei um ar diferente. Um ar forte de Carnaval, misturado a outros ares.
O Centro do Rio tem aromas simultâneos. Beco da Sardinha, água na boca. Tabacarias com cheiro de café moído na hora. Botecos cheirando carne assada, refogados ferventes. Frangos a passarinha em bandejas. Temperos livres de royalties, nenhuma franquia, nenhuma marca patenteada a limitar nosso paladar. Cadeiras na calçada, contrariando a fiscalizaçao. Mendigos dormindo, cheiro de sujeira e cachaça. Mulheres com sacolas cheias de compras do Saara e executivos. Ambulantes com isopores, desodorantes vencidos, executivas cheirando a perfume doce e caro. A mistura é forte, a desarmonia é afinada, e tenho sorte de estar por ali, fazer parte desse cenário. Minha roupa de trabalho, pasta na mão, e óculos escondem a identidade secreta do ziriguidum.
Meu coração batuca. Só de ir para comprar a fantasia já começo a folia, não é Carnaval ainda, mas sua identidade já instalou-se no coração do carioca. Não falo dos pré carnavalescos, dos blocos, dos ensaios não. Falo da Rosa do Pequeno Príncipe, que avisou: se chegas à tarde, de manhã já sou feliz.
Certíssima como só as belezas podem ser. Confira. Natal. É só dia 24? Claro que náo, começa-se muito antes, ao primeiro Papai Noel da propaganda. E reveillon? Começa dia 31? Não, nos preparativos. Páscoa? Escolher os ovos já é uma delícia. Verão. O primeiro anúncio de fitro solar espalha um cheiro de maresia pela casa.
Casamentos, nascimentos, aniversários, viagens. O encontro marcado dos amantes.
Festejamos antes, por antecipação. O prazer é certo, e se aproxima, se mostra, te chama e se esconde entre as horas. Imagens passam na sua cabeça como um óasis, como miragem, como ilusão. Somos tentados a imaginar, a pressentir, a desejar. Seguimos os prenúncios do deleite. Queremos prazer, queremos presente, queremos beijo, queremos samba.
Feche os olhos e respire. Veja. Sinta.
O Carnaval está por dentro, está por fora, está solto pelo ar.
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