Rio de Janeiro
Ou outro lugar qualquer
Ela era bela, alegre e jovem.
Chique e cheirosa.
Tinha filhos mas devem ter nascido pela boca,
porque a barriga era de adolescente.
Tinha sofrido mas não se entregava,
Porque seu coração era valente.
Tinha sonhos ululantes,
Dançantes.
E ela mesma era saltitante,
Andava e o cabelo balançava.
O marido era um homem bom
Mas chato.
Muito trabalhador, mas sem talentos visíveis
E os subterrâneos, se existissem, eram invisíveis.
Mas era honesto, e correto, e cumpridor de deveres
E pontual e organizado,
E ausente, e meio impotente, e indiferente,
E calado, e reservado.
E não sabia rir nem dançar.
Conhecê-lo era entendiar-se.
Cada vez que ela saía com as amigas
Ou sozinha
Ou com a família,
Ou com ele – ele sempre estava distante
Arrumava mais um amante.
Já contava mais de cem.
Combinava encontros com olhares
Fazia-se entender com gestos mudos
Trocava telefones e sorrisos até por telepatia.
Fartava-se de prazer,
e de melancolia.
Pobre menina,
Um marido, mil amantes,
E nenhum amor....
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