domingo, 20 de fevereiro de 2011

O Cha Cha Cha de Lana Lee

Tango Bolero Cha Cha Cha
ôba!

Direção da Maravilhosa Bibi Ferreira


Marcia Cabrita, Maria Clara Gueiros, Edwin Luisi, Carlos Bonow e Miguel Rômulo.
Aline Borges substitui Maria Clara Gueiros no elenco atual.



Eu vi um Almodóvar, "Tudo sobre minha mãe", onde a história é uma que bem conhecemos.
O cara é gay, mas tem um filho. Inrustido ou não, a mulher engravida e a criança nasce.
O pai rompe com o padrão hetero. Assume, se traveste, silicone, mechas. Fica muito doida, arruma homens, briga, canta, bebe. Faz shows em boites. Apronta todas. O macho, mesmo gay, por onde for leva com ele o seu machismo, sua intrepidez. Pode tudo. Quem quiser que saia da frente.

Mas no silêncio do seu quarto pensa na cria.
E quanto mais exercita seu o lado feminino...mais pensa na cria.
A fantasia de mulher o protege e o acusa. O passado grita e presente chama.

Tudo pode ser trágico, mas é cômico.
Pode ser ridículo, mas é muito engraçado.

Nunca pensei. Edwin Luisi trabalhou na Escrava Isaura. Um galã contido e sedutor. Voz impostada. Rosto de príncipe. Apertado em roupas de época, aperta-se aqui em um bom vestido de cintura marcada com gorgurão. Saltos altos. Meias finas.
Ele entrou, dançou, requebrou. Vedete, chacrete, drag queen.

Espumante, pula, se joga nos braços do amado. Adoro sua loucura, leve, colorida e giratória. Adoro sua coragem.

Lana Lee, ex-Daniel, veio ver a cria, veio para ser visto, veio para levar a família para Paris. Muita confusão, todo mundo se aceita, e há muito tempo eu não via um final tão verdadeiro e feliz. Emociona pela quantidade de alegria. Farta, jorra do palco. Inocente num mundo tão picante.

A outra vitoriosa no palco é Marcia Cabrita. Emagrecida pela doença, de peruca, ri e faz rir. Atuar é vencer.

Tenho elogios do começo ao fim. Não tiro nem acrescento; passei ótimos momentos ali. Festa pura.

Mas não termina assim não. Há um momento, findos os textos e a música, que me tocou especialmente. O agradecimento.

Tenho visto agradecimentos. Sóbrios, solenes, simpáticos. Silenciosos ou falantes.
Mas esse me fez parar. Eu estava rindo há duas horas, e parei. Os rostos mudaram. Os personagens tinham desencarnado. As mulheres estavam pálidas e cansadas, mas sorriam serenas. Carlos Bonow e Miguel Rômulo se apertam as mãos como maratonistas, como pugilistas vencedores e empatados; olhos úmidos, tarefa cumprida com gosto. Sôfregos.
E Ele, ou Ela, a Lana Lee, ex-Daniel, Edwin, ele tira a peruca, inclina-se, e passa os dedos pelo palco, e se benze, abençoando a si com a poeira do chão sagrado do palco.
Por 10 breves segundos, eu vi os homens por trás dos atores, e eles eram lindos.


Edwin Luisi e Lucelia Santos, em Escrava Isaura

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