segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Por eles, e por nós: NO DRUGS

Rio de Janeiro
Da Zona Norte a Zona Sul
Passando pela Periferia e Adjacências





Um minuto de silêncio por eles - Christian Vieira, de 19 anos; Victor Hugo Costa e Glauber Siqueira, de 17; Josias Searles e Patrick Machado, de 16; e Douglas Ribeiro, de 17 anos. 

Assistimos mais uma vez às reportagens. Encontrados mortos. Novamente.
Em comunidades, nas periferias, beiras de estradas, descampados. Em termos geográficos, próximos da capital. Sócio,economica e culturalmente isolados, a anos luz, da cidade maravilhosa.
São as vítimas do tráfico, do violento tráfico que ameça nossa Terra Adorada.
A UPP afastou os marginais dos morros, e recuperamos o direito de ir e vir dentro do perímetro urbano.  Que bom para nós.  Mas criaturas resistentes que são,  os senhores das drogas migram para terras ermas onde possam atentar outros brasileiros, menos sortudos, julgá-los e condená-los sem um pingo de humanidade.  Esses refugiados estão armados até os dentes. Entocados nas florestas, sagradas, que deviam estar reservadas ao lazer e contemplação, aguardam ansiosos a hora de disparar.

Só que não é dos traficantes, irremediavelmente traficantes, que eu quero falar. É sobre nós, filhos da rica Zona Sul, educados, criados, cuidados, chiques, respeitados. Nós mesmos, com nossos belos imóveis, nossos carros bonitos, sapatos caros, diplomas, médicos particulares, nossas terapias.

Nós, caríssimos, que fechamos os olhos aos usuários de drogas. Deixamos o filho e o vizinho fumarem. Achamos até legal, cada um na sua, e pensamos: estou antenada. Aceito as opções de vida alheias.
Ou mais: nós que vamos lá, na boca, ou perto dela, e encomendamos um fuminho, um pózinho, um aditivo para dar uma alegria na festinha. Para suportar melhor o dia-a-dia.

Somos nós que estamos puxando o gatilho destes bandidos. Os endinheirados usuários, em níveis vários de dependência. Os que não vivem sem, os que cheiram por onda. Os que fumam para dar um tchum. Os que compram e revendem por gosto ao perigo. Sejamos honestos, todos nós os conhecemos. Estão nas escolas, faculdades, boites, praias, nas festas mais badaladas.  São muito simpáticos e agradáveis até. Eles tem drogas variadas, sintéticas, naturais, orgânicas, a granel, a peso, unidade, oferecem, compartilham, cobram.
Enquanto houver cliente, há negócio. Enquanto comprarmos, seremos nós os caçadores destes infelizes jovens. Partiram mata a dentro, no único momento de lazer que poderiam ter; jovens que não foram ao cinema, ao teatro, ao shopping, ao clube, muito provavelmente porque não tinham cash para isso, e foram a cachoeira dar um mergulho. Que mal há nisto? Pecaram. Invadiram o campo minado que nós estamos patrocinando - o reino deles, dos traficantes. O dinheiro da marginalidade não cai do céu e não vem de assaltos a banco. O fruto dos grandes costuma destinar-se a ações de terrorismo, ou para garantir la dolce vita aos larápios. O caixa alto do tráfico vem sim da compra e venda de drogas. Que me desculpem os modernos, que acham que queimar um baseado é normal. Não é.
O usuário banca a violência, diretamente. É a galinha dos ovos de outro do traficante.
Este hábito tem consequências graves para uma sociedade desorganizada como a nossa: esse relax acaba por enriquecer o bolso de cruéis capatazes e municia suas armas. Nutridos, fartos e poderosos, ele apontam para os indefesos, para Cristian, Glauber, Josias, Vitor Hugo, e outros tantos. Mira certeira. Acertam. Enquanto isso, a Rede Globo noticia. Ceribelli, Zeca Camargo, Patricia Poeta. Os lindos do Fantástico.
A gente do lado de cá, muito bem instalados, trabalhadores e honestos, nós nos emocionamos, rezamos para que descansem em paz e que os assassinos sejam presos.
Assim prosseguimos com nossos velhos hábitos: culpar o próximo, o Estado e a polícia. Lavar as mãos.
Erramos. A culpa, imensa culpa, precisa ser dividida entre muitos de nós.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

São Jorge e a Nossa Senhora das Periguetes

Hoje vai ter Lua Cheia
e tudo pode acontecer


Valha-me Santo Guerreiro e suas auxiliares


A rádio JB anunciou há pouco: no Rio de Janeiro, céu nublado e névoa úmida.
Descrição de um ambiente propício para mistérios, tocaias e sustos.
Que pena!...Somos cariocas, e não gostamos de dias nublados. Cinza é cor que não pega na gente - conhece alguma carioca que use cinza? Nem em calça social, qual o quê, deixemos essa elegante cor para as chiquérrimas paulistas. No Rio a gente parte para a calça preta. Preto emagrece.
Conhece algum filme ou novela que se passe no Rio de Janeiro em dia nublado? Ah, conhece? Qual?

Não combina. Queremos mostrar a pele que nos cobre, e o cinza não nos favorece.  Laranja, branco, azul. Caem bem. Somos assim: definidos e exibicionistas.  Não combinamos com esconderijos, com segredos. Viramos a cara para os tons intermediários e variados sobre o mesmo tema. Xô tramas insolúveis.  Jogamos às claras, cartas na mesa, preto no branco.
Estou então jogando as cartas na mesa, com a sinceridade de meu carioca coração taurino. Sou ciumenta, barraqueira, e venho, através deste humilde blog, decretar morte cruel às periguetes.

Periguete é outra raça.  Tenho certeza que não são cariocas de nascença ou por adoção. 
Não combinam com nosso clima. Logo hoje, dia desse assim, um dia meio argentino, meio portenho; dia que não cai bem na pessoa de bem, e tá lá a criatura se fazendo de tonta no face do maridinho alheio.
Ah, desgraçada. Sorrateira, faz-se de desentendida. Um like aqui, um coment reticente ali, e a careta presente, só para dizer que ainda está com o time em campo, assim, ao alcance de uma mensagem facebookniana. 
Gosto não. Gosto das que entendem do riscado e partem para o ataque direto,  armas em punho. Aprecio as concorrentes que agem com classe e objetividade, eis o que digo. Classe e objetividade, mistura poderosa que diferencia as mulheres entre si.  Mas a excomungada não. Prefere espionar-nos de binóculo, de longe, encoberta por essa névoa úmida que escolheu descer sobre a cidade maravilhosa e que finda por disfarçar seu olho grande sobre nossa felicidade. 

O inocente homem sequer despertou e ela a postos ali, na linha de frente.
O bom homem dorme aqui ao meu lado o sono dos justos, dos que tem consciência tranquila. Pele de bebê, que coisa linda. Preocupe não, amorzinho. Estou em guarda.
Louca e furiosa, sinto cheiro de sangue neste estranho dia cinzento, que convida a um assassinato.
Controlo-me, e por via das dúvidas, clamo por São Jorge Guerreiro e pela Nossa Senhora das Periguetes . Meu amor, nossos inimigos não nos alcançarão.