quinta-feira, 6 de abril de 2017

Horizonte Carioca

Kilômetros de horizonte


                                                         Copacabana  - click meu
        " Orientar-se no espaço terrestre, do ponto de vista geográfico e astronômico, sempre foi uma das preocupações básicas do ser humano" ( Professor Danilo Pacheco, UFRJ)


Já cantava o bom e velho Roberto Carlos, que além do horizonte deve ter um lugar tranquilo para viver em paz.
Quem sou eu, prezados, ilustres, amados, para retificar o Rei, mas sou abusada mesmo: o lugar existe, e não é além, não. È aqui. É de onde possa ser visto o mar.
As populações litorâneas estão aí para comprovar a teoria sociológica, meio em desuso, de que a visão do horizonte acalma os ânimos. Há quem diga que somos calmos demais. Seríamos indolentes, preguiçosos. Molóides, absorvemos contrariedades e injustiças sem reação a altura.  Não sei se acalma, controla, ou segura, se entorpece ou amolece, mas que há algum efeito levemente anestésico na proximidade com o mar, isso há, e há mesmo. Um privilégio desses, uma sorte geografica, um tesouro planetário tem seu efeito em nós. São kilômetros de costa, de areia, de sal, de coqueiros, a estimular o convivio ao ar livre, o respirar em cheio, o olhar o céu sobre nós.
Nossos endereços são paralelos ou perpendiculares às praias; os valores imobiliários mais caros ou mais baratos, em função da distância ou proximidade da orla.
Não existe Rio sem praia.
Vamos aos fatos complicados. Feia realidade a contrastar com toda essa bênção. O Rio de  Janeiro tornou-se uma cidade caótica. Violência, drogas, desorganização estatal, transportes públicos péssimos, desemprego, governos ladrões, saúde precária, imperio da ineficiência, e por aí vai. O que mantém lúcido o carioca?
O Sonho, caríssimos. O Sonho.
O Sonho de um novo dia. De uma paz maior, de uma vida mais rebelde e livre, de um corpo mais bonito e uma mente mais sã. De uma juventude eterna, interior, que as rugas não apagam e os cabelos brancos iluminam: carioca de crachá não tem medo de envelhecer. E nem pensa em enriquecer também. Pensa em desfrutar da vida, em seus divinos ciclos, distintos e especiais.
De preferência, gastando pouco, entre gente bela e de bom astral. De preferência, com boa música, sem hora, sem frescuras.
Sem muita regrinha social.
Sem muita cobrança de correção moral.
Esse sonho, algo entre bom e arriscado, tem se perdido, e se perde a cada noticiário.
Esse sonho tem sido muito pisoteado, pela ignorância e pela corrupção. Pela falta de amor ao próximo, de respeito ao outro, por um mínimo de bom senso, que está mais difícil de achar que agulha em palheiro.
Mas temos a visão do horizonte. Esse bálsamo divino,  curativo, revigorante. A segurança de que continuamos sortudos por ter uma beleza assim tão pertinho da gente. Devemos valer alguma coisa para o cara lá de cima.
Valham-me os sociólogos. Esse negócio de olhar o horizonte funciona mesmo.
Que paisagem farta e democrática!... Para endereços nobres e miseráveis. Da Vieira Souto, ao alto da Comunidade da Rocinha, é sempre possível avistar o Oceano Atlântico. É sempre possível ressucitar a beleza que anda desfalecida atrás das nossas dores.
Sonho largo, azul, brilhante. Para todos.
Vivo.
Invencível.
Corruptos não o destroem. Desamores não o contaminam.
Tragédias internacionais não o assustam.
O Oceano nos cerca e nos abraça. Lembrando que somos pequenos diante da Natureza estrondosa. Que passaremos, um a um, e a Vida não passará. Há vida, vida em abundância, além dos jornais e dos medos.
Além das solidões.
Temos o remédio da maresia azeda e doce que entra peito adentro e fertiliza o coração, irrigando com sua umidade a aridez do dia-a-dia e preparando corpo e alma para receber um novo amor.
Sempre há um novo amor.
Sempre há um novo olhar para a Vida.
Sempre há um novo caminho que leve ao Mar.
Hoje tenho que agradecer ao Universo por ser carioca, por nunca desistir de ser feliz, por nunca desistir de amar.
Daqui eu vejo o horizonte. E daqui sou feliz.