quarta-feira, 24 de junho de 2015

Terra Brasil





Terra Brasil
Pátria Amada
Salve? Sim, nos salve

  
       Temos assistido vídeos de cortar o coração.

     Os imigrantes africanos, desesperados, tentando entrar na Europa pelo mar, pelo céu, pelo ar, pelos subterrâneos. Mês passado, 1800 morreram no mar. Os que tentam por terra estão sendo repelidos com força e com vontade por soldados armados até os dentes.  A política européia de vigilância das fronteiras, inflexível, bate e arrebenta. Brutos, implacáveis, sem dó nem piedade.  O sujeito veste um uniforme e reencarna os soldados romanos, que matavam criancinha fácil.

    Vejamos bem, caríssimos. O indivíduo fugiu para viver e poderá morrer por fugir. Poderá não, é quase certo que não chegue ao seu destino.  Seu país de origem e´ uma praça de guerra, fome e doenças. E a criatura não tem saída.  Que agonia, que luta vã, que claustro universal. O humano preso na miséria, sem encontrar dignidade em lugar algum.

  Levanto este questionamento com muita tristeza. Fico aqui sentada digitando, em Copacabana, confortavelmente, entre um cafézinho e outro, enquanto o sentimento de piedade e revolta me assaltam. Inúteis, pois não salvarei ninguém de seus cruéis revezes.  Inútil, pois sou uma só, brasileira mal desenvolvida, cujo Governo está falido, corrompido e desmoralizado mundo afora. Ninguém tenta entrar aqui, e os que podem, pensam em sair.

    Neste exato momento, os traficantes de gente, os comerciantes da sobrevivência, todos esses piratas da dor estão na ativa. Extorquindo, escravizando, prometendo o que não se promete: uma vida nova. Os  políticos do mundo também estão com a mão na massa, em reuniões muito demoradas, em seus ternos caros e mesas bem polidas e lanches servidos com esmero.  Protegidos em carros blindados com ar condicionado. Fazendo contas impagáveis com dinheiro que não é seu, e cuja terça parte salvaria a vida de milhares de criaturas desassistidas.

   Espero ( às vezes é tudo que podemos fazer - esperar; torce por)  que a Europa abra suas portas aos estrangeiros. Aos seres humanos. Entre meus suspiros tropicais, anseio por um mundo mais justo,  onde haja amparo na dor, Onde não se precise fugir, nem se esconder; onde que  não temamos agressões, nem ladrões, nem retaliações.

  Mundo azul, que combine alegria, encontros, ajuda. Trabalho,  saúde, respeito. O milagre da compreensão mútua.

  Espero que o Brasil abra suas portas aos brasileiros. Aos homens do mundo inteiro. Deus não desenhou fronteiras nem inventou a alfândega.  A todos e cada um,  sem etiquetas de fábrica, deu-nos o planeta.
   Eu sigo sentada, impressionada pelo valor que tem nosso pedaço de chão. Nosso imenso país que poderia ser um doce lar, uma pátria gentil, fértil, cariciosa.  A Terra Adorada afunda lentamente, atropelada por esta pseudo democracia desgovernada. Ainda assim - violenta, corrupta, inundada, mal sucedida -  por ela milhões de africanos famintos venderiam seus órgãos e seus filhos para aqui chegarem. Largariam para trás ouro e marfim.

  Nosso ponto geográfico no mundo é  generoso. Nós é que temos sido bem cruéis conosco.
 Temos como salvar-nos? A todos? Luther King, Gandhi, Mandela, Calcutá. Meu amado Paulo de Tarso. 
 Que falta fazem. O mundo precisa de Salvação.


terça-feira, 23 de junho de 2015

Encontro de dois pontos

Rio
Brasil
                                                                    Caminho livre


"A menor distância entre dois pontos
é uma linha reta.

A menor distância entre duas linhas retas
é o ponto em que elas se encontram." 
                            (Janaína Michalski, em "Bocozices Próprias com pequenas exceções para terceiros")

Gosto da escritora Janaína Michalski. Escreve verdades simples, que chama de coisa de bocó, carinhosa e jocosamente.  Gosto da forma, e do conteúdo de suas palavras, e concordo com a filosofia de sua escrita: a verdade pode ser simples, se a simplificarmos. O simples é mais elegante, mais clássico, menos efêmero que as modas do mundo; a simplicidade permanece, intacta. Os prazeres simples são os mais raros, e de certa forma, mais caros, pois o dinheiro não os compra - sua moeda de troca é o coração puro, artigo de luxo nos dias de hoje.  Se olharmos a vida assim, com o coração puro, podemos até parecer bocós. Sábios bócos, os que vivem sem preocupar-se em impressionar ninguém.  Não lutam para ter razão sobre a razão do outro - quer coisa mais inteligente que respeitar a razão alheia?

E nos versos acima, que parecem repetir nossas aulas de matemática, eu, bocó mor, encontrei muita simplicidade, característica principal da verdade.  Sou dessas que encontram, pasmam e espalham. Pronto.
Vejamos bem a coisa dos pontos.

Eu sou um ponto,
chamarei-me de ponto 1.
Vi, a metros de mim, meu amorzinho.
Chamarei -o de ponto 2.

Eu poderia fugir dele,
e ele de mim.
A reta então não iria atingí-lo,
embora já tivesse partido de mim,
como a flecha do cupido.

Não teria sido, portanto reta,
( seriam as tais paralelas que se encontram no infinito?)
não teria sido fácil a ligação,
e tive pena dessa vida,
que tem tantos traços tortos.
Que nos leva por suas rotas,
tortuosas rotas aflitas.

Ah eu queria caminho reto, queria nada torto não.
em caminho torto os pontos se perdem.

(ponto é coisa pequenina, preciosa, exige cuidado; tem que ter mira)

Tem tanta gente que se conhece aqui, e se solta ali.

Não traça a tal reta certeira.

É, Ponto 1 e  Ponto 2 tiveram muita sorte.
Traçamos a reta mais reta de todas as retas,
Firme, tinindo de esticada
(linha reta, de qualidade. Resistente)
Um ponto encontrou o outro,
uma linha firme e maleável os prendeu pelo umbigo.
O Ponto 1 é fixo;
O Ponto 2 é dinâmico,  e um tem o outro sempre consigo.



sábado, 11 de abril de 2015

Amor em quarteirões





Imperdível Janela

Barata Ribeiro
Copacabana
Tumultuado corredor do Rio de Janeiro


Temos cá por estas bandas um ditado: " - Fulano chegou agora e já quer sentar na janela!".  Isto é,  abusada é a criatura, novata no meio, que pretende se beneficiar rapidamente com as melhores posições. Não, não, não. Tem que esperar a sua vez.

Procede. Estar à janela é posição privilegiada mesmo. Especialmente para quem é adepto da arte da contemplação - reconheçamos, neste mundo de zaps e wi-fis, se o caríssimo não foi iniciado na arte da contemplação, não desapega da telinha. Perde muito, estou certa disto.  Vai, contesta, diz que  contempla o mundo real através de seu mundo virtual. Um novo internético olhar. Sugiro: lance seu mais direto e atento olho mágico 'a beleza que o cerca. Sem filtro, sem edição. No apps. Abra os olhos e o coração.  São milhóes de valores  visíveis confirmando íntimos valores invisíveis - assim, simplesmente, através do deleite dos contornos que nos cercam.

Eu acredito que grandes maravilhas do mundo estão ao ar livre.  O céu, mar, montanhas, praias, árvores verdejantes. Flores. Estrelas. O sorriso de uma criança sob a luz do Sol. Uma fruta no pé, a feira manhãzinha cedo, o orvalho, a areia. O véu do brilho da lua sobre o Lagoa Rodrigo de Freitas. Cachoeiras. Corcovado. Arcos da Lapa.

Portanto, justificada estou; adoro uma janelinha. 
E como é do conhecimento dos senhores passageiros, gosto ver GENTE. Pessoas. Seres humanos. 

Espanto-me.   Plena Barata Ribeiro, um trecho de Copa City onde passam mais de quinhentas mil pessoas ao dia, onze da matina. O amor, gente.
 Quer coisa mais livre sob o céu? Disse uma poeta que o amor é coisa que tem que quarar. Expor à luz do dia para tirar as manchas. Certíssima. Arejar, ventilar, soltar na brisa como pipa, como beijo que a gente manda, como bolhas de sabão. Nesse contágio com o mundo diurno, curar-se do tédio, do ensimesmismo, da clausura colateral dos amantes. Sol cura alergia respiratória, fortalece os ossos, fixa as vitaminas. Imagina o bem que faz ao amor.

Barata Ribeiro, pela janela do onibex, está lá. Amor em quarteirões. Quarteirão 1 - um casal de idosos. Lentos, imprecisos, meio tontinhos. Braços flácidos dados, passos emparelhados. Anos neste compasso. Anos neste vagaroso e frágil compasso. Frágil? não. Devagar e sempre. Juntos vida afora. Claro que é amor.

Quarteirão seguinte, um casal inter racial, inter etário, e inteiramente alheio ao ir e vir do caos urbano. Ela, loura, cinquentinha. Ele, negro, trintinha. A cada sorriso dele, podem-se apagar as luzes do Astro Rei. Ilumina a galáxia.  Ela se ilumina. Não anda, ela levita, desliza. Olhos nele, parece mais jovem, mais bonita.  Claro que é amor.

Vou seguindo, um casal homo e seu cachorro. Tão bem tratados, sarados, limpos, vê-se que saíram de banho tomado, que são cheirosos, dentes perfeitos. São parecidos, mesmo porte, mesmo corte de cabelo.  Um atravessa a rua, o outro fica com o bichinho no colo - " dá tchau para papai". Papai dá tchau. Manda beijo. Carinhosos, detalhistas, caprichosos.  Como pode o preconceito, gente? Claro que é amor.  

Em frente a Padaria, outro casal homo. Ela bermudão, cabelo curto, moicano. A segunda ela, minissaia florida. Uma forte, a outra uma bem violãozinho, cintura fina.  Conversam, olho no olho, paozinho na boca. A vida passando, onze da matina, paõzinho na boca. Risinhos ao pé de ouvido. Não estão em Copa, estão numa patisserie parisiense, onde tudo é muito mais chique. Pãozinho bom, ela quer mais. Ela 2 dá, e beija o pão antes. Beija o pão que a namorada vai ingerir. Senhor, é claro que é amor.

Uma mummy e seu baby no carrinho, mummy pára, contorna o carrinho, se inclina. O baby sorri, desdentado, inocente, boca escancarada. Mummy saca de súbito uma mamadeira. Baby adora, segura, mama.  Seguem, a mãe, o baby, e a tangível alegria da maternidade, essa oportunidade divina de ser feliz nesta existência. Claro que é amor.

O casalzinho jovem, muito jovem, despedem-se apressados, e ela entra no ônibus onde estou. Bela, jovem, apaixonada. Ele ao lado de fora, em pé na pedra portuguesa, pescoço espichado para assegurar que sua fada passou pela roleta. Ela procura a janela, senta, acena. Em seguida atende o telefone. Olhei para conferir, e pimba. O moço também com celular na mão. Apuro o ouvido. " - Eu também, suspiros, risinhos, voz baixa, eu também".  Já com saudades??? Pensei. Claro que é amor.

Desço, caminho, atravesso, entro.
Meu pequeno terminando a aula de capoeira. Vê que estou assistindo os últimos momentos, capricha, termina, corre para mim, suado, cansado, ofegante, se joga em mim, fosse eu um colchão, um gramado, uma enorme almofada de estimação. Eu o abraço, não ligo para seu suor, nem para seu calor, nem para minha roupa ainda limpa, não ligo para nada. Fui envolvida por uma onda viva e quente de aconchego; sinto junto a mim esse corpinho que cresce, muito, e que se entrega para mim, sem medo. 
Fecho os olhos. Sou feliz ali.
È amor? Claro, muito claro que é amor.


                       Claro que é muito amor


quarta-feira, 8 de abril de 2015

Tempo Presente

Rio de Janeiro
Terras de Ipanema
A ordem do tempo



Calendário Maya, descoberto em escavações na Guatemala: prevê, pelo menos, mais 7 mil anos de vida para nosso Planeta Azul.  (from web site: Curiosidades).  O  estudo foi publicado no dia 10 de maio, nos Estados Unidos. Que coincidência, 10 de maio é dia de meu aniversário.

Eu era miúda, talvez 4 anos. Queria completar 7 anos. Achava lindo o número 7. "  - Vô, quero que chegue logo meu aniversário de 7 anos", dizia.
Os numerólogos podem, talvez, explicar minha admiração pelo número 7 - grafia elegante, conta de mentiroso ou número místico? Sei lá. A menina que fui queria muito soprar suas velinhas de sete anos. Com isto, milagrosamente, eu iria para a primeira série do colégio, e passaria a brincar no pátio dos "grandes".
Feito.
Então eu passei a ter em mente meu cumple años de 10 anos. Festa disco, estilão fins de anos 70; o brilho, luz, cores, O cenário agradava meus olhos ávidos, e em cheio.  E que músicas!... Donna Summer, Diana Ross, Stevie Wonder, Bee Gees.  Mais: eu adquiriria o direito de ir sozinha ao curso de inglês, e outras liberdades ínfimas que pareciam, à ocasião, a carta de alforria. Completei os 10 anos, ganhei a festa disco, e passei a andar sozinha nas cercanias da minha casa.
O sonho então foi a fronteira, invisível e poderosa, dos 12 anos. Mais liberdade. Peitos. Soutien.
Adorei, e parti para os planos dos 15 anos.
Depois dos 15, a formatura do segundo grau. Depois o vestibular. Depois a formatura da faculdade. Depois a primeira união, depois contei os dias para a primeira separação, e a nova paixão, e a nova separação...
Fui abençoada com o tesouro do primogênito, ( 9 meses de espera), com o orgulho de seu  primeiro aniversário ( 3 meses de preparativos), com a tensão do  primeiro dia do primeiro colégio  do primeiro filho ( horas de agonia) . E depois esperei o segundo filho, ( mais nove meses)  fui premiada com o príncipe regente, o amoroso e sorridente segundo filho ( esperei toda esta encarnação para ver este sorriso). O batizado do segundo filho. ( 2 meses de organização) O jardim de infância do segundo filho. (... meses de escolha).

Sempre, sempre, esperando, preparando e ansiando pelo próximo e importante evento. De uma certa forma, neglicenciando o tempo presente. Passando correndo, afobada, não vai dar tempo, olha a hora, isso não está bom, não vai ficar como eu quero. Vamos vamos, tenho mil coisas para fazer.

Em minha católica educação, nasci, cresci, e me reproduzi sob a égide da espera; sob a promessa da premiação posterior.  Seja bom aqui, e vai dar tudo certo depois.. Eu fui, como tantas outras da mesma idade, habituada e treinada para ser feliz depois. E a aguentar os sacrificios em nome da paz futura. Acreditei que o motivo do sacrifício é o sucesso. E se não for, gente? A menina que fui me acordava de madrugada. E se não for nada disto?

Busquei a resposta nas terapias. Vieram mesmo através das durezas da vida.
As coisas são diferentes do que a gente planeja. Do que a gente espera. Do que a gente acha que vai merecer.
Minha fé então, começou aos poucos, a ser mais livre, tal qual a menina que fui.
Passeei por filosofias budistas, PLs, Evangelismos. Sessões no Alanon. A embarcação da religiosidade ancorou no espiritismo cristão. No horizonte suave de tais veneráveis religiões, um poderoso fio comum: a imortalidade da alma e a importância da vida presente.

Sinto que encontrei, nesse grande paradoxo, a mais lógica e legítima chave de libertação: posso alçar o  Céu, no Inferno, o Paraíso, a Vida Eterna, o Lado de Lá, a Paz do Senhor, como queiram; mas através da caprichosa vivência, intensa e profunda, do Hoje, que determinarei  minha felicidade.
Que enfeitarei com flores os caminhos de minha alma.
Eu posso ser feliz hoje. O beijo é hoje. A gratidão é hoje. A compreensão é hoje. O sorriso é hoje, o carinho é hoje, o dia lindo dentro de mim, é hoje.
Hoje eu posso ficar de bem com o mundo, comigo, com Deus. Hoje posso perdoar, pedir perdão, hoje estou mais livre e consciente que ontem.

Para o Hoje converge o meu amor, a minha depuração, a minha evolução.  A pena e o sacrificio não são uma poupança para depois; são as lições de hoje, a serem aprendidas em profundidade. O ensinamento é maior que a dor. Não sei se terei amanhã para me corrigir; nem para exercer, por exemplo, minha paciência. Então é hoje.

A sabedoria Maya diz que o  planeta terá mais Sete Mil Anos. Com todo o respeito, eu não sei. Não sei se estarei aqui, ou se terei alçado outras galáxias.
Pode ser que eu tenha Sete Mil Anos para ser feliz.
Contento-me, satisfeitíssima, felicíssima, agradecidíssima, com o dia de Hoje.

domingo, 5 de abril de 2015

O pau de Selfie ou a Selfie do Paulo - você decide



Myself
Yourself
Herself
Himself
E uma porção de gente ligada



  Ser usuário de transporte público no Rio de Janeiro é coisa para monge hindu.
  Exercício de paciência e abnegação.
  Se for para atravessar a Rua Real Grandeza, então, esta eternidade que corta o bairro de Botafogo em direção à Copa City, o prezado vivenciará a experiência arrastada do caminho de Santiago, inclusive com revelações de arrepiar.
  Lá estava eu. Presa no trânsito (paradoxo). Uma lenta procissão em devoção a um Santo Desconhecido.  Tédio.
  Mas eis que optei por ver, ouvir e dizer. Fim da monotonia.  Eu vi, eu ouvi. E digo:

  A moça à minha frente começou a mexer na bolsa. Sabemos que trata-se de um celular que vibrou, lógico. O bicho Homem tem sempre o seu fone fácil, à mão,  de fato mais prático que as fêmeas de sua espécie.  Nosso fone e juízo dificilmente estão em locais de fácil acesso, e ficamos visivelmente nervosas com isso, por não termos resolvido tais previsíveis questões.
 Ela pegou o aparelhinho, reparei em suas mãos bem tratadas e clarinhas. Jovens. Mãos  que ainda guardavam o despojamento da infância, sem jóias.  Diferentes do diálogo que seguiu-se.

- " Oi, amiga, eu tava louca para falar com você."
- "..."
- " Sabe o Paulo? Então, me deu um boa noite ontem que eu tô tonta até agora"
- "..."
- "Não, por telefone. Me mandou uma selfie do Paulinho"

Pensei:  - Que graça. Uma foto do filho.

- " Assim, do nada!!!! Apitou e tchum! Do nada, amiga. Estava do jeito que eu gosto"

Ai que fofo. Ela gosta do filho dele.

- " Explodindo, encerado e envernizado"

Pausa. Não estamos falando de nenhum bebê.

 - ",,,,"

- " Mandei a criança para ele. Ele adorou. Risos"

"-...."

" - Bel, peraê que vou te mandar a foto do Paulinho do Paulão ". Risos nervosos.


Bel esperando, e a Criança ERGUE o celular procurando melhor luz, para enxergar com mais claridade, e assim, encontrar a tal foto bomba de Paulão.

Carísimos, eu dei de cara com o Paulinho do Paulão. Não, não vi a criança da Criança. Fui poupada.

Choque, estarrecimento, mudez. Tudo junto.

"-..."

"- Depois nada. Fui dormir. " (risos)

Nem uma musiquinha? Nem um beijo? Nada mesmo?

Eu não fumo, não bebo, não uso drogas, mas sou viciada em romantismo. Em sedução, em meia-luz. Fundamental é o olho no olho,  o dançar de rosto colado, o envolvimento, o perfume, o puxar a cadeira, o abrir a porta. Percebi que são pérolas da época deliciosa em que Paulinho e Criança eram  descobertos, a dois, em momentos de profunda entrega. Para o mundo de hoje, existem novas possibilidades. Estamos em tempo de selfie. Eu tiro selfies, nós tiramos, vós tirais. Mas não do Paulão e da Criança. E também não a conferiríamos de punho alto no ônibus, equivalente a projetar numa tela de cinema e anunciar no megafone.

O constrangimento, meu e de uma senhora ao meu lado, que testemunhamos a erudita palestra, bem ilustrada, foi perceptível. A senhora fez sinal para descer, não sei se pretendia alcançar seu destino, ou unicamente sair dali. Eu não sairia nem amarrada antes da dona da Criança. Precisava fechar esse up to date personagem na minha cabeça.

Ela puxa o sinal logo na descida de Copa. Enganei-me quanto à sua idade, é uma mulher feita, na base dos trintinha, miúda, e ligeira de passos. Entrou direto no Metrô da Siqueira Campos, sem olhar para os lados, uma flecha disparada em direção ao subsolo.  Será que Criança deu-se conta que estava em um lugar lindo, tão perto do comércio, das sorveterias, cinemas, do calçadão, do mar. Região  convidativa ao namoro, à contemplação da simplicidade e da magnitude da vida carioca. Um ponto privilegiado, geograficamente, rico para quem tem olhos de ver, que não exige dinheiro nem muito tempo. Pede apenas um olhar, breve porém atento, Não. Este olhar foi negado, à Rainha Copacabana, mas cedido com facilidade à selfie do Paulo.

Senti uma profunda tristeza. Uma transa assim, à seca, na marra, na base do selfie, me parece um ato extelionatário - o oferecimento de um produto ou serviço que tem outro significado completamente diferente. Que deveria ter.
Não podemos transformar a intimidade em uma coisa pública. Sim!!! O mundo virtual é público. Inúmeras criaturas podem acessar esta imagem, que fica registrada de formas que somente Bill Gates pode evitar. A intimidade é tão linda, caríssimos, a sós, entre paredes, entre portas, entre escadas, entre blindex, entre um andar e outro, mas entre, between, among, in! Não outdoor... Assim, ao ar, esta que vos escreve considera uma inversão, com sofrível redução.  Banalização.
Se estamos banalizando o corpo e o sexo, é porque banalizamos a alma, nosso bem maior, mais precioso, que torna tudo belo e encantador. A alma tem uma força invisível e sensível que encontra beleza e ensinamentos até no que é triste e doloroso. Traz um novo sentido. Imagine as maravilhas que realiza em terreno mais fértil; a vibração da alma traz amplitude à entrega carnal. Leiam bem, não me refiro ao AMOR, ao encontro escrito nas estrelas, no Céu, no destino, nada disso. Não é tão pretensioso assim.
Tampouco é um discurso moral.
É a voz de quem tem muitas horas de vôo. Está provado que o exercício sexual é energia poderosa, e devemos tratá-lo como corresponde. Com alma, basta um pouco, uma pitada, um it.
O tempero da alma é  suave, é presente, o gosto fica na boca e no coração. Revigora. Faz prosseguir melhor.

Tive pena.  Muita gente vivendo de selfie e pouca vivendo de alma.




   Post-Scriptum: Caríssimos - taí uma selfie, com o seu respectivo e respeitoso pau de selfie, transmitindo alegria e maravilhosas vibrações. Agradeço à minha amiga Camila Tinoco, que cedeu gentilmente sua imagem e seu sorriso. Assim vale a pena.








terça-feira, 24 de março de 2015

Escrever para quê




" Tem razão quem tem paixão
   Tem razão quem fala
    pela voz do coração "  ( O Rappa)

Caríssimos, tem razão quem tem idéias. E quem tem coragem.

Hoje alcancei a sugestiva marca de 66 mil visualizações. 101 seguidores.

Ora, números modestos para nossos padrões de seis dígitos. As blogueiras da moda estão aí com 5 milhões de seguidores e o número de acessos é contabilizado como nos cassinos de Las Vegas, com aquele cronômetro girando.  Só que esta que vos fala não troca os seus 66 000 e nem em pensamento faço pouco dos deliciosos 101. Vejam se não tenho excelentes porquês  -   66 são os iguais, os pares de irmãos, os gêmeos que se identificam e se repetem. Andam juntos. 101 são os dálmatas, fofos, desejados, disputados, lindos, chiquérrimos, em preto e branco.

Eis que finalmente, neste simples retângulo sem valor monetário, somos todos irmãos e somos todos chiquérrimos.

Estou que não posso em mim, Rindo à toa. Feliz toda vida.

Mas há criaturas que indagam. Questionam. Desconfiam de minhas intenções. Ganhou fama? Não. Dinheiro? Não. O amor verdadeiro? Não. (Bem, todo amor é verdadeiro, não é mesmo? ...) Carros, viagens, prêmios? Não.  Ganhou o quê?  Para quê isto?

Suspiros. Valha-me São Tomé das Letras. Há gente que precisa de muita explicação.
E é tão simples - porque eu gosto. Porque eu adoro. Porque escrever me fez orgulhosa detentora de artigo raro, raríssimo -  S A T I S F A Ç Ã O.

Satisfação é algo, caríssimos, que o amor não garante, o dinheiro não compra e o tempo não leva.
Você dorme e acorda, está lá. Fica rico, fica pobre, adoece, se cura. Ninguém te tira. É seu.

Uma alegria consigo. São as suas idéias. As suas palavras. A sua coragem.
Tenho prazer do começo ao fim, artigo de luxo nos dias de hoje, que os moçoilos não estão com essa bola toda.
E viajo nisto, doce e lenta viagem. Teclo, faço, desfaço, recorto, copio. Até que mexa, faça rir ou chorar, faça refletir; até que instigue meu próximo, até que tome vida própria. Não escrevo movida por sobrenatural inspiração. Imagina. Eu sei exatamente o que quero dizer. ´E racional. Como o sangue que se mistura e se separa dentro do coração, a razão e a emoção se fundem e se despedem. Como amantes fortuitos e delituosos.

O sopro que me infla é a vontade de transmitir, exibicionista que sou. Sempre fui.
Certa, errada, parcial, torta, reta, não importa,  minha a palavra é como uma filha menor em quem se confia muito, e eu aqui a  emancipo, neste surreal mundo verídico-virtual.

Já não me pertence mais. Carne de minha carne, passa a ser de todos, e de si mesma. Diz do que fui, do que sou, do que serei. Representa uma geração, uma tribo, e é a voz do meu amor por todas as gerações e todas as tribos.

Aqui quem fala é meu coração. Este território é livre.  Prenda-me? eu fujo. Conceitue? eu desminto. Manipule? eu desmancho.

As páginas de minha vida não ficarão em branco, tenho um milhão de palavras e um milhão de idéias. Um milhão de sentimentos, um milhão de razões. Trago tudo para esta grande sala de estar.

A casa é sua. Entre, e fique à vontade.





   Mãos a obra - nada de páginas em branco no livro do destino











segunda-feira, 23 de março de 2015

Achilles e Eu

Calcanhar abençoado

Pisando leve
Que a vida é curta
E o tempo é breve


Ser pego pelos calcanhares, caríssimos, não é privilégio de Achilles.
O esplêndido herói da mitologia grega, soldado imbatível,  foi banhado por sua mãe, Tétis, nas águas do Rio Estige, ao nascer. Um sagrado banho de invulnerabilidade. O coração materno, antevendo seu futuro de batalhas mis, correu a providenciar-lhe uma blindagem, uma capa eterna, sonho esse comum a todas as mamãs, deusas, semi deusas, mortais e ordinárias mesmo. A poderosa segurou seu baby pelos calcanhares, mergulhou-o, e pronto!!!! Feito. Nada, nem o mais furioso dos raios do Olimpo o atingiria. Narra a lenda que o moço tinha o corpo fechado, à exceção dos.... calcanhares,  ocultados pelas mãos da genitora, que ela não largou o rebento, não, que água de rio grego tem correnteza. Segurou-o firminho pelos calcanhares.

Calcanhar de Achilles. Ponto onde a criatura morre fácil, portanto.

Não sou heroína, e não foi profetizado ao meu nascer que eu enfrentaria criaturas mitológicas ou ferozes guerreiros.  Cresci sem escudos, e enfrentei quase os mesmos monstros. Meu corpo, nem por um segundo, esteve invulnerável a nada - mais do que sinto e sofro e vibro, impossível. Uma brisa me desperta. Afora estas irrelevâncias, eu e o prezado Achilles temos muito em comum: o calcanhar. Coisa boba, parece de vidro. Quebra que é uma beleza.

Sábios os gregos, sábia a Mãe Natureza. Foi à toa não. A criatura tem que ter um ponto frágil, para se humanizar. Sempre me tive na mais alta conta. (E Achilles, então, gente?) Sinto-me capaz de qualquer batalha. Não há quem me amedronte. Que venham os machistas, os racistas, os escravagistas, os corruptos, os traficantes, os traidores, os egoístas, os psicopatas, os canalhas todos. Ai, pobre de mim. Fui-me. Estou que nem ando.

É uma dor, caríssimos, humilhante. Virei criança pequena, chorosa. Se eu piso, dói. Se não piso, dói também. As distâncias mínimas até ao banheiro, até a cozinha, até ao abatjour, até ao armário, são vencidas em silêncio e resignação. E a hora da injeção? No bumbum, queridos. O farmacêutico conhece minha derriére, e não dá-lhe a menor pitomba. Isto é um horror. Bumbum não é coisa que passe em branco, que se revele assim, sem um charme, uma música, uma intenção. " - A senhora abaixe o short. Pronto, acabou. São vinte reais". O tal apelo erótico zerou. Virou um pedaço de carne sem significado nenhum. Um espaço carnal sem função cênica.

Já tive filhos, desamores, desempregos, assaltos, decepções, decorrências. Agora tenho um calcanhar de achilles. Diagnosticado como Esporão de Calcanha ( assim mesmo, sem o "r" final), este ínfimo osso que resolveu crescer depois que eu cresci, em lugar que não é para ter osso nenhum,  incomoda mais que dor de cotovelo - fosse isso, a gente resolveria fácil, colocando um chifre em cabeça de cavalo,  ou arranjando uma sarna para se coçar. Esporão não. É coisa de galo de briga, que só sossega com uma boa rinha.

Ai, Valha-me Zeus, Deus do Olimpo, pai adúltero de Achilles. Estou indo pelos calcanhares. Roubam minha liberdade de ir e vir, limitam meus passeios, minhas danças, meus exercícios. Limitam meus sapatitos, não mais sandálias rasteiras de gladiadora, ou altíssimas plataformas marítimas; é tudo medido, calculado, palmilhado. Conto os passos que dou. Economizo meus deslocamentos.
Não corro mais pelos trilhos da aventura sem medo. Não, estou presa pelos pés. Não escalo mais as montanhas do perigo, que amo, que me fascinam. Estou atada aos horários da fisioterapia. Dar um bom chute na porta fechada? Nem pensar. Tenho que marcar hora e aguardar pacientemente.

Mas se eles acham que venceram, enganam-se.Tenho meus truques, que me valem nestas horas difíceis. Estou presa pelos pés, mas solta pelas idéias.

Nunca li tanto, nunca vi tanto filme, e há muito tempo não escrevo tanto. Poder-se-ia dizer que estou passando minha vida a limpo. Minha cabeça roda em velocidade resistente de maratonista. Perservero nesta viagem emocional. Nada me abala. Estou protegida, muito bem abrigada no trem intercontinental das letras, dos cenários, dos personagens, dos idiomas sonoros dos filmes sem dublagem. Expresso do Oriente.

Perdi os calcanhares. Ganhei asas.

Em meu pensamento, corro livre, leve e solta por campos lindos, verdes, sem fim. No segundo seguinte, parto em expedições humanitárias. Estou na África com o Médicos Sem Fronteiras; voei para Síria, e acalanto os órfãos. Faço curativos nos feridos da Ucrânia. Estou lá, no Alemão, entrincheirada, defendendo as crianças do tráfico.

Poder maior e mais inebriante do que o das idéias? Duvido.
As idéias são o fermento do mundo.
Sem idéias não há revolução.

Obrigada,  obrigada, repito agradecida,  em prece a Achilles, e aos demais deuses do Santo Esporão.




                                                                   A obra de arte de Veyrier - Achilles morrendo.
                                                                   1683

sexta-feira, 20 de março de 2015

O FINAL FELIZ

    Minha coroa é torta; e meu coração vale por mil


Afinal
O Final Feliz
O tal final feliz


Eu sempre imaginei que um conto, bem contado, teria que ter um final feliz.

Com as pessoas fazendo tudo certinho e sendo felizes assim.
Como foi explicado no tradicional colégio de freiras. Como nos ensaios da aula de teatro. Para cada emoção um traquejo, um trejeito, um efeito. Imediata ação. Imediato reconhecimento. E no ballet, então? um passo e um compasso. No adágio ou na polca, o clímax dos inseparáveis pares.
Na tela e nas páginas, no final feliz o casal fica junto.  A gente envelhece com charme. Fica um coroa enxuto, malhado, saudável, culto, descansado, com dinheiro no banco. Realizado. Faz coisas legais, juntos.  E nos filmes?  Os órfãos são adotados, a guerra acaba, os heróis sobrevivem, esfarrapados, sofridos, vitoriosos. O desempregado arruma trabalho, e a doença se cura. E se não curar tem velório, mas é uma cena linda, amplo gramado, flores, familiares elegantes. Leitura de testamento. Tudo organizado.

Para o pecado, o castigo. Para a injustiça, a vingança. Para a realeza destronada, a Coroa.

Ora pois, caríssimos, a vida não é bem assim.  Assim é irreal. Assim é Monteiro Lobato, é Agatha Christie. Assim é Janete Clair.

Estou mais para Dias Gomes e Nelson Rodrigues. A vida é inexata, é irreverente, é desorganizada. E e é linda em sua assimetria, em seu encaixar e desencaixar.  Em seu chaqualhar.

A minha coroa da felicidade, caríssimos, é meio torta, repararam? Devo esta irregularidade a meu sangue napolitano; saí aos meus e vivo a maledeta. Se preferirem, como dizem os franceses, je suis à gauche. Por isso custei a adequar-me, ao mundo, e a mim mesma.

Estou fora do molde, sempre estive, sempre estarei. Maior para cima e para os lados. Maior por dentro, que meu coração é a melhor parte de mim e vale por mil. Menor no egoísmo, menor na mágoa, menor no medo, na pressa, menor na raiva. Maior na fé. Menor na solidão. Maior na aceitação, principalmente aceitando a mim. Solta, solta, solta pelo perdão.

A cada dia me liberto mais. A cada dia me comprometo menos. Eu me desprendo. A cada dia olho no espelho e me vejo diferente de mim, do que fui, do que quis ser. Que bom que é  perdoar-me por ser diferente do que quis e do que quiseram para mim. Que bom que eu escolhi meus caminhos, tortos, esquisitos, mas eu os escolhi e os sigo. Torci o nariz para o caminho mais fácil; não  me levaria a lugar algum. Era um círculo disfarçado. Sou feliz porque não aceitei a escravidão. Por que não me vendi, não me corrompi, não me enganei. Eu me desculpei e parti.

Aprendi a desculpar as criaturas que me feriram, por amor, por dor, por medo, por quem eu fui, por quem eu sou; por temer quem eu poderia ser. Aqueles que nada me fizeram, mas eu cismei que fizeram.  A cada dia eu esqueço um erro que cometi. Esqueço os motivos, esqueço a razão. Esqueço o passado, e reescrevo um novo final, para uma história que recomeça todo dia.

Hoje, caríssimos, é um dia muito especial. Eu reencontrei-me; e assim sendo, para representar-me, como Narciso diante de seu reflexivo lago, eu reencontro um ex amor.

Confessêmos: ex-amor é lenda. A gente sabe que existe, queria que existisse, mas nunca se vê. Visto, é amor. Amor é amor, muda de ano, muda de nome, muda de endereço, muda de corpo. Amor é para sempre, como o velho livro da infância que não damos nem emprestamos. Que lemos e relemos e pensamos que esquecemos (engano!) até que um dia, em uma gaveta, está lá: reencontramos. E nos emocionamos.  Olhos cerrados, ao aspirar o cheiro, reler as linhas, apreciar as ilustrações. Abraçamos o livro ao peito, suspiramos, podemos até lê-lo novamente. Voraz ou lentamente. Vamos rir das mesmas passagens e chorar nos mesmos parágrafos. Vamos descobrir detalhes antes não vistos.

Podemos até escrever mais alguns capítulos, agora que crescemos, que mais sabemos. Agora que temos um blog.

Este é o meu final feliz.

Criatura torta que sou,  não é final, não é recomeço, não é pausa. É um momento tinindo no ar, momento de choro, de alegria, de esperança. É o livro que reabro.

Felicidade é a senha.

Tente.