terça-feira, 31 de janeiro de 2017

48 horas com o Snipper


Delírio
Viagem
Fetiche



                                     
  Um herói para chamar de seu 
  Cena do filme "Snipper Americano"




Olha, dizer que vi, não posso. Eu não vi.
Eu ouvi e como ouvi - os tiros? Não, caríssimos.
As batidas do coração.

Moça solteira procura ( e acha) confusão.
Perfil de facebook, sugestão de amigo de amigo de amigo. Aceitou prontamente. Que belo moço, gente.
Soldado americano lotado em Kabul, no Afeganistão.
Que honra! Que máximo!
Que fantasia? Claro que sim. Quem não a teria?
Vamos ter um pouco de compreensão... o mundo anda tão árido por aqui. Vamos para outros desertos. Instigantes. Misteriosos.

O universo feminino precisa do romance. Do frisson. Do novo, do inesperado.
Do irresistível.
Poucos entendem,  e menos ainda os que se dispôem.
A emoção se intensifica em nós se temos o arrepio, o sonho, a ilusão, o suspirar. Potência de mil canhões.
È pacote que se compra por engano. É liquidação de ponta de estoque. Tem defeito. Pode apostar.

Enfim. Em tempos de Facebook, nada mais simples que um perfil falso. Eu mesma posso montar um, com uma foto baixada de alguém muito bela, e partir para golpes baixos mundo afora. Tão simples para os psicopatas. Tão convidativo para os solitários.

A moça caiu. Adorou. Adorou estar em contato com o Snipper Americano. From Texas. From US. Olhos azuis e fuzil na mão.
Cheio de virtudes másculas - coragem, abstinência, proteção. Preparo fisico. E patriotismo!.... Justo neste Brasil de mercenários.
" - Mas que sorte conhecê-lo, Mr. Snipper.", dizia, entre conversas de travesseiro.
Durante 48 horas, um pouco mais, mantiveram contato. Quase íntimo.Trocaram músicas. Sonharam um pouquinho. E que bom poder ser este apoio na solidão do soldado.  Que bom participar deste roteiro.
O herói e a heroína. Fotos. Areia. Uniforme. Beijinhos de bom dia, Honey. De boa noite, Sweetheart.
E aí, o ataque da tropa, manobra não prevista pela Convenção de Genebra - o portento da guerra pede um depósito. Urgente. Indispensável. Passa uma conta na Argelia.
Ora ora ora.
Não parece, sequer ao mais crédulo coração, que Obama e Trump deixariam um soldado a míngua. Não há conto de fadas que apresente este capítulo vil e pernicioso.
A heroína, pobrezinha, descobriu em meia hora de pesquisa na internet, sua vocação perdida para o FBI.
Tudo mentira.
A criatura da foto do profile é um lutador famoso no Canadá.  Casadinho, com lindos filhinhos. Jamais deve ter pisado no Afeganistão.
O homem com quem falou, não se sabe quem é: pode até não ser um homem, tem artimanhas de uma mulher. Somos muito mais ardilosas. E tudo é possível para os mentirosos, de ambos os sexos.
Não tem mais Snipper. Não tem mais Kabul. Não tem mais honeymoon.
Tem contas de face e outros aplicativos bloqueados.
Rosto em lágrimas e coração partido.
Perdeu-se um herói no Afeganistão, há que chorar mesmo. Copiosamente.
Vamos e convenhamos. Quem não quer um herói para chamar de seu?