quarta-feira, 31 de agosto de 2011

400 contra um

Ilha Grande

Caldeirão do crime

Bandidos bem intencionados
Daniel Oliveira e Daniela Escobar, o Professor e Tereza, bandidões. Nunca pensei

400 contra um conta um período histórico da administração penitenciária do Brasil - um sistema que nasceu falho, cresceu corrupto e pesa, podre e caro sobre o orçamento da União. O filme é ambientado na década de 70, tempo do militarismo. Presos politícos encarcerados sob o mesmo teto que os presos comuns, e a troca didática foi péssima. Formou-se a Falange Vermelha, quadrilha de alta periculosidade, cujo objetivo maior era assaltar bancos e levantar verba para financiar fugas de mais presos políticos. Mas náo foi bem assim, e a idéia náo seguiu coesa.

O ideal perdeu-se. O filme também.

Palavras demais para poucos dialógos, que beiram em em certos momentos, ao incompreensível. Construir a história no tal do vai e vem do tempo exige precisáo, e náo ocorreu. Em certos momentos o espectador náo sabe em que pé está a coisa, já teve fuga, que fuga é esta, já teve rebeliáo, que rebeliáo é essa agora? Enfim, faltou. Faltou o que sobra em Cidade de Deus e Carandiru. O ir e vir do tempo fora de ordem, mas totalmente ordenado aos olhos de quem assiste.

Bem está Daniela Escobar, descolorida e engordada para o papel. Pela primeira vez em sua vida, atua. Convence como uma mulherzinha de última categoria, a quem o destino ofereceu somente duas opcoes: ou apanha do marido bêbado ou vira mulher de bandido, e o bandido é Daniel Oliveira. Ela opta pelo item 2 e empunha uma arma que é uma beleza.

Preocupa-me deveras outro item. Mui particular.
Veja a foto abaixo
O time acima náo está tirando onda? Sim, sáo os assaltantes de banco da Falange Vermelha. Dinheiro no bolso e arma na máo

Agora bandido é bonito. É corajoso. É charmoso. Bandido virou objeto de desejo. Garotas da classe alta se mandam para as comunidades atrás deles. Eu babei pelo Duque cruel de Milhem Cortaz no "Assalto ao Banco Central". Estamos curtindo o crime, gente?

A injustiça da sociedade é tanta que confunde as convicções. Entendemos o roubo porque somos roubados, e porque, sinceramente, talvez roubássemos se estivéssemos no lugar dos infelizes de outras castas. Entendemos a violência porque temos raiva também, e precisamos de terapia e remédios para náo fazer besteira.

Estamos próximos demais dos sofrimentos humanos e das suas reações.

Estamos táo misturados entre o Bem e o Mal, entre o licíto e o ilícito que fica difícil manter a clareza. Estamos correlatos demais, Avizinhados demais, entremeados demais. O bom moço náo existe mais. A moça tem péssimas intençóes.

Paremos. Vai falar de crime? Posicione-se. Contra. É preciso firmar-se nisso. Os crimes, violentos ou náo, sáo crimes. Seráo castigados, ou deviam ser. Podem trazer dinheiro e até poder, mas ferem inocentes. Punem quem não merece punição.

Temos que manter em mente que bandido é bandido, independente da melhor da intençoes. Com arma, sem arma, rico, pobre, bandido é bandido e merece condenaçao. Senáo queridos, já já começaremos a perguntar: Quem é bom? Quem é mau? Quem é você?

domingo, 28 de agosto de 2011

O bonde náo é mais aquele

Rio

Bonde

Bode

Pena de tanta coisa nesse mundo


Náo sei de quem é a arte acima, mas é linda


Caríssimos, foi-se.

O Bonde espatifou-se e levou com ele, de pronto, cinco pessoas. Feridos? Mais de 50.
Julio Lopes, nosso excelentíssimo secretário de transporte, onde estava? Náo no bonde, né? Pena.

Os inocentes pagaram pela culpa dos irresponsáveis. É a regra cruel da coletividade. A pena dificilmente atinge o culpado. Mas dessa vez foi demais. Gravemente ferido, um menino de 3 anos está na CTI do Souza Aguiar. Mortos, feridos, desassistidos. E Julinho gente, onde estará? Jantando a esta hora, em um bom restaurant, bem penteadinho e enfatiotado.

O bonde está um caco há anos. A população local náo tem segurança no sagrado direito constitucional de ir e vir.

O Bonde sem freio, sem conserto e sem jeito é o histórico Bonde de Santa Teresa. Criado em 1872, após a concessão para a exploração de uma linha entre a atual Praça Quinze de Novembro e o largo da Lapa até à rua do Riachuelo. Deste ponto, foi inaugurado, em 1896, o ramal de Santa Teresa, que se estendia até ao largo dos Guimarães e à rua Almirante Alexandrino. Em qualquer lugar do mundo haveria um lugar de honra no museu para o bondinho. Polido, brilhante, conservado, orgulhoso de sua idade avançada e serviços prestados.

No Rio, não. Aqui seguiu rodando, superlotado e desmazelado. Estamos falando de cento e tantos anos de revelia. O bonde sempre deu problema e seguiu, à revelia dos dirigentes, que náo interviram, e deixaram o bonde rolar. Houve acidentes, de maior e menor gravidade, mas o povo é teimoso e o governo é displiscente. Resultado? Taí. Tragédia.


Tenho que mencionar outro bonde revel: o do funk. Sem repressáo policial desde que a Assembléia Legislativa em 2009 entendeu que funk é cultura, o bonde do funk vai atropelando a dignidade das moças que nem entendem o que podem ser nesta vida, mas estáo lá, no funk às sextas, e sábados e domingos. Bebendo muita cerveja, decorando letras obscenas e coreografias pavorosas. Pena, pena, pena. Enriquecendo a Furacão 2000.

Perguntem a última vez que foram a um cinema. Perguntem se foram a aula de inglês.

Talvez na mesma tarde em que o Bonde de Santa Teresa esteve em manutençao.
Nunca. Indeterminável. Sem registros.

As decisóes políticas de nossos administradores impregnaram o substantivo bonde com sérios significados pejorativos. É sinal de perigo "O bonde vai passar". É gíria importada da bandidagem.

Mas quem é bandido no Rio? O sujeito que amarrou um arame no bonde e achou que ia dar certo? Ou nossos administradores que náo dáo a mínima para a segurança do carioca e sabem que vai dar errado mesmo? Ou o pessoal da Furacâo, enchendo o báu às custas de pornografia e mau gosto? O Rio está perdido na máo desses senhores, gente, estou falando e ninguém me escuta.

No Rio náo há manutençao, prevençao e repressáo. Não tem educação, no sentido amplo da palavra, de zêlo, de proteção. De cuidado com os menores, com os usuários dos serviços públicos, com os contribuintes. Náo, isso náo, mas tem o bonde do Sérjáo, o Cabral, e o Rio que se cuide, o Bonde vai passar.







quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O Discurso do Presidente

Leme
Rio
Sempre

Vamos escutar


Tenho recebido críticas. Dizem que uso meu blog para declarações de amor e guerra. Sim, declaro mesmo.
Prosseguem. Uso o blog para tietar. Sim também. Para paparicar amigas. Lógico que sim. Corujar meus filhotes. Sem dúvida.

Deixa eu explicar - nem todos os elogios significam bajulação e angariação de simpatias. Apenas deixo sair a admiração que sinto em forma de letrinhas digitadas. Ninguém vai me amar mais ou menos por causa do blog. Não vendo nada aqui, não compro nada aqui.

O blog, tecnicamente falando, é um diário eletrônico, portanto, é o canal legítimo para lavar a alma.

As pessoas estão confusas em relaçao aos meus propósitos. E, para confundí-las mais ainda, vou elogiar o discurso proferido pelo dirigente da empresa onde trabalho.

Não citarei nomes. Não quero. Não quero elogiar condutas profissionais, estratégias de atuação, tomadas de decisão, nada disso. Quero apenas aproveitar de suas palavras o significado genial que tem. Segundo os ensinamentos do meu antigo professor Sidney, (volta e meia o cito aqui), o grande mérito do aprendizado é prover-nos com sabedorias específicas que podem melhorar nossa vida pessoal. Aplicada que sou, tentarei seguir esta linha:

1. " Sem homens para as máquinas elas não funcionam. Sem o pessoal treinado, as máquinas mais modernas do mundo não produzem."

* é a máxima: o ser humano é insubstituível. Você pode ter uma mansão com piscina e jardim. Uma Ferrari. Se não tiver um bom companheiro, ou filhos, ou amigos, ou um empregado para conversar, não terá como desfrutar de toda a riqueza. Ela não terá utilidade para você, e se deteriorá aos seus olhos. Impossível cuidar de um palácio sozinho. A Ferrari anda sozinha? Sairá todos os dias alone em sua Ferrari? Todos mesmo? Impossível desfrutar de um banquete sozinho. Ficará parado olhando as bandejas de prata e as paredes de mármore carrara, e o drink terá o sabor amargo da saudade.

2. "Odeio esse negócio de divisão, de grupinhos. Somos todos da mesma empresa"

* nada de guetos. Somos todos iguais e precisamos nos relacionar mutuamente. O que queremos nessa existência, é a certeza do amparo, da solidariedade, da segurança. Nada de exclusáo, nada de embarreirar ninguém. Portas abertas para o saláo de festas. Uma família é um time, um casal é uma dupla, amigos são sua rede de apoio. Observaram? O plural tem sua tradução no singular. A união é fundamental para o bem estar emocional. Mais que remédio, exercício e lazer, é a certeza do apoio do próximo o grande remédio para os males modernos.

3. " Precisamos de informação concreta, rápida, precisa. Senão, é mentirinha."

* Essa foi forte. Vamos encarar de frente. Você sabe exatamente o que se passa na sua vida? Sim? E na vida de seu marido? Também? Tem certeza? E no seu coração? E no de seus filhos? Não dá para gerar relatório dos sentimentos alheios, ok, mas e dos seus sentimentos? Observa-se? Analisa? Acompanha a melhoria de seus resultados? Tem idéia de como reagirá mediante uma notícia ruim? Não? Cuidado. Pode estar acreditando em suas próprias mentirinhas, e na dos outros.

4. " Você não ter hoje e saber que nunca terá é uma coisa horrível. As condições estão aí, e vamos aproveitar"

* caríssimos, até podemos nos conformar com privações provisórias. Esse é o truque que nos fortalece: avistar um segundo momento mais favorável. Reparem nos casais de tempos idos que viveram juntos por 30, 40 anos e um deles faleceu primeiro. O segundo? Definha. Porquê? Sabe que não terá mais o seu amor. Definitivamente, irrevogavelmente não o terá mais. Desoladora certeza.

Se mergulhamos na terra da negação, afundamos em seu solo de areia movediça. Quanto mais ouvimos os nãos, mais enterramo-nos. É preciso enxergar possibilidade de salvação. O ser humano necessita desesperadamente ser feliz, e acreditar que pode sê-lo. Realizar-se. Vencer. Superar. Tire essa possibilidade de um homem, e está tirando, e atirando longe, sua alma.

Este inconformismo fez eclodir revoluções, derrubou e ergueu impérios.

Não nos conformemos com o que não satisfaz. Um filho precisa ser educado, à exaustão. Um doente precisa ser curado, a todo custo.Um negócio precisa dar lucro, como a terra tem que produzir. Se houver a aceitação do problema, o problema se instala e aí, só Maomé para mexer na montanha.
Vamos lá. Niguém está a fim de aceitar o cartáo vermelho da felicidade. Queremos participar da festa dos vitoriosos. Se hoje há briga, que haja conciliação. Se hoje há frieza, que venha o carinho. Se há solidão, que venha o verdadeiro amor. Se hoje há limitação, que venha a liberdade. Criemos as condições. Demos o primeiro, o segundo o terceiro passo. Caminhemos, insistentemente, caminhemos.

Ele falou outras coisas. Mas páro, já há muita informação a processar.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O Samba de Pedro Miranda

Lapa Lapa Lapa

Lapear
Sambar
Apimentar

                                                         
Capa do Cd Pimenteira, com o bamba Pedro Miranda


Tudo começou quando conheci meu benzinho. Ele perguntou:
" - Gosta de Pedro Miranda? Vai tocar no Demo hoje."

Confesso - andei por fora do samba muito tempo. Fiquei assim, meio sem graça, e falei: "- Gosto, gosto sim", respondi baixinho, tipicamente baixo, como fazemos quando náo temos certeza do que falamos. Baixo, rápido e olhando para outra direção.

Fui. Fui e encantei-me.

Pedro Miranda é jovem, muito jovem. Mas canta com a dignidade da velha guarda. Solta a voz como os mestres do samba. Eu vi. Eu sambei. E voltei para ver e sambar outras vezes.

Voltei para o samba pelo pandeiro de Pedro. É um convite para o tradicional saláo da gafieira. Avisa que vai começar, prepare-se. Vem ele, e náo há quem náo vá. Empolguei-me por ter-me reconciliado com o assoalho riscado do Democráticos. Por poder recuperar o tempo perdido.

Sim, não se pode perder tempo nesta fugaz existência. Quero mais. Quero é mais pimenta.

Cheguei em casa e futuquei. Ah futuquei. Sou boa de futucar na internet. Descobri tudo sobre Pedrinho. Caetano elogia seu CD Pimenteira, rasgados elogios ao rapaz. Assisti emocionada sua interpretaçao de "A vida é um Moinho" do Santo Cartola, no  Som Brasil. Astro do projeto Oi Novo Som.

E vai.  Nova geraçao do samba. Novo talento do samba. Novo, novo, novo. Não. Ouso discordar da crítica. Pedro não inova. Pelo contrário, Pedro resgata. Traz de volta a tradiçao do samba, com capricho e correção. Com respeito. Samba de bamba.

Esqueça sambinhas e pagodes. Esqueça tudo que náo for de primeira. Em sua voz só as letras preciosas, só as pérolas da nossa música.  Vontade de decorá-las, sáo poesias do nosso povo. São orgulho do compositor popular.

O que há de novo, de nunca visto, é o honroso resultado.  Tem a elegância de um Paulinho da Viola e a alegria de um forrozeiro. Faz-se acompanhar por músicos de primeira, estudados, premiados, disputados. Produzido pelo maestro Luis Felipe de Lima, Pedro Miranda  desfilar um repertório de primeira - Elton Medeiros, Zé Keti, Nelson Cavaquinho, Rubinho Jacobina. Caymmi e seu vatapá. E ele mesmo, com sua excelente Pimenteira.

Até aqui já estava bom demais. O artista sempre se supera, digo porque vi.  Pedro interpreta um malandro diferente a cada música; mais um compromisso com o conceito do samba. Sabemos: o samba elogia as figuras da boemia carioca; narra malícias, ironias, picardias, valentias, desencantos. Pronto. E vem um a um os personagens do imaginário do samba - o malandro enganado pela nêga sestrosa; o malandro chameguento, que quer namorar na rede; o malandro 171 de Hello my Girl, metido a falar inglês. O que vive de samba, que aprendeu samba com quem faz samba bom, e dali tira o seu páo. Todos no corpo e voz de Pedro Miranda. Os bons malandros, os inocentes, os simpáticos, os mal intencionados, os irresistíveis. Traz os sambistas como imaginamos -  contornando na batucada as contrariedades da vida.

O mignon tem traquejo.

Encanta-me. O samba há de se perpetuar nesse rapaz. Vejo glorioso futuro para ele, e para o seu samba-interpretação. Samba brincadeira, samba de verdade, samba do bom e do melhor. Tem partitura. Tem dedicação. Tem choro, tem molejo, tem até um breque. Tem variedade, fartura, e tem pimenta.

Mas onde  derruba-me, de vez, é na simpatia. Bom malandro, ele também. Na última vez que o vi, pedi uma  uma foto. Aceitou meu pedido, e veio sorrindo, um sorriso fácil dos que estáo felizes.
  
Claro que tive que manifestar-me. Minha natureza náo permite que eu me cale. Cochichei: " - Adoro quando você canta a música do Zé Keti, aquela da nêga que se farta de boa vida e engana o malandro."

(Para quem náo conhece: " ela pede um vestido eu dou, ela pede um sapato também dou... Não vacilo náo, já comprei geladeira e televisão"...)

Ai. Provoquei o bonito. Ele voltou para o show, é chegada a hora da referida música. Começou a cantar. Olhou na minha direção.
Morri. Entoou: "ela pede um sapato também dou..." Apontou para minhas sandálias douradas e perguntou: "esse sapato fui eu que dei?"

Pedro é assim. Agrada. Agrada os fãs, agrada os músicos, agrada os espectadores, os dançarinos, os casais.


Já foi ver o Pedro, nêga?
Então vá


É ele
Foto: Divulgação.






Mais moralista do que parece

Rio de Janeiro

Será?

Pague e fuja



Nada como um dia frio e uma tv a cabo, e um edredon, e um chocolate quente.
Bem, podia-se ter a companhia de Rodrigo Lombardi, assim, desinteressadamente, mas não se tem, então sigamos buscando um bom filme.

Encontro " O preço da Traição ", com duas feras de primeira - a ruiva Julianne Moore e o premiado Liam Neeson. Esses nomes garantem o lazer do espectador. O roteiro pode ser fraco e tudo o mais pode conspirar para um fiasco, mas mesmo que o cenário seja fraco, que a direção seja fraca, e que tudo conspire para um fiasco, valerá a pena assistí-los.

Acertei. Ambos estão ótimos em seus papéis. Ela como médica, assustada com o caminho dolorido que seu casamento está tomando. Ele, o marido bonitão, distante, professor de adolescentes. Um acadêmico de sucesso, carismático, que flerta com mocinhas na frente dela. Diante da evidência de traição, o filme esquenta. Ela resolve tomar uma atitude.

Como se diz no popular - a chapa esquentou. A eficiente doutora contrata uma prostituta para testar a fidelidade do marido. Qualquer prostituta? Não. Uma linda jovem que já a conhecia de vista.

E la nave va. Um ato lançado ao vento tem desdobramentos incontroláveis.

A doutora, sim, de traída passa a traidora. Daqui em diante o filme podia ter sido a virada na vida de qualquer ser sexualmente ativo - mudar de opção, ou assumir uma dupla opção, enfim, romper com o paradigma e experimentar novos moldes para os velhos sentimentos do amor e do desejo.

Nada disso. A moralidade deste filme é como a de Chapeuzinho Vermelho: não obedeceu? entrou pelo bosque? O lobo é mau, a chapeuzinho é boa, e o caçador vai salvar todo mundo.

Senhores, irritei-me. O desfecho deve ter sido escrito pela professora de Moral e Cívica do meu colégio de freiras. A doutora corajosa arrependeu-se amargamente pelas ousadias. Dá para trás quando descobre-se bi. Subitamente, revela-se que seu marido jamais a enganou, que a perdoa e a quer de volta. De compulsivo galanteador passa para o santinho fiel. Toda a culpa para a prostituta - mentirosa, ardilosa, desequilibrada.

Preservemso a boa família, de bons modos, de boa condição social, a médica e o professor. São eles os bons e terão seus pecadilhos esquecidos. Seguirão sua rotina de trabalho honesto e rendimentos no banco.

Lamentei muito. Torci para um final de rumos verdadeiros. De felicidades maiores. Descobertas. Surpresas. Libertações. Julianne e Liam mereciam mais da vida a dois.

Mas Holywood preferiria saídas menos imorais.

Assim sendo, sejamos bonzinhos. Obedeçamos. Respeitemos o marido e o lar, e cuidado com as prostitutas - ou não valem nada ou são desequilibradas mesmo.

domingo, 21 de agosto de 2011

Vale a pena ver de novo

Leblon

O segundo olhar sobre o Violinista

                                     

Extremamente curiosa a relação de um espectador e um espetáculo.

O espectador é o mesmo, no caso eu mesma.
O espetáculo é o mesmo, no caso, O Violinista no Telhado, em cartaz no Oi Casa Grande.

Assisti logo na primeira semana da estréia e encantei-me com a atuação de Zé Mayer, e suas filhas, principalmente as mais velhas. Aproveitei cada segundo dos ensinamentos da tradição judaica. Admirei os cenários, figurinos, e esfreguei os olhos, incrédula, com a grandiosidade da cena do sonho, surreal, engraçada, assustadora.

Saí feliz por Charles e Botelho serem brasileiros e nos presentearem com sua fábrica de musicais. Muito que bem.

Volto dois meses depois, por um convite delicioso e surpreendente. O espetáculo está lá. Igualzinho, na mesma temporada, mesmo teatro, mesmo tudo.

Sou também a mesma. Dois meses náo me modificaram tanto assim, mas recebi outra mensagem: o segundo olhar da espectadora enxergou além de quesitos técnicos. Enxerguei o Violinista como uma história de amor.

Percebi o amor em todas as falas e ações. Entre o pai e a mãe; entre a filha mais velha e o noivo alfaiate, e no velho açougueiro com quem queriam que se casasse; entre a segunda filha e o belo revolucionário; a terceira filha e o soldado russo, inimigo do povo judeu. Até entre os bailarinos do czar encontrei amor.

A histórias narradas no Violinista não sáo privilégio dos prezados judeus náo. Os personagens poderiam ser muçulmanos, budistas, evangélicos. Há amor e vontade de amar em gente de todas as religíões e também entre os ateus. O sucesso desta peça repousa na mensagem de fé e crença no Amor, para todos os espectadores, de todas as religióes. Amor maior que religiáo, que política, maior que convicções arraigadas. Maior que fronteiras geladas e ortodoxos inflexíveis

Menor unicamente que o Medo de náo ser vivido e da possibilidade de ser roubado dos apaixonados pela mão forte do Destino. 

Afora isso, gente, é Zé Mayer. Amando as filhas e a felicidade de sua cria acima de tudo. Amando a esposa, com amor que existe e náo é visto. Que se prolonga vida afora sem ser percebido, como que invisível, mas permeável pelos dias e noites e estações e mudanças.

O Amor que justifica atrevimentos e ousadias. Coragens. Ironias, persistências. Justifica alguma privaçao, em nome de objetivos mais nobres.

Compreendo porque uma reconciliaçao sucede favoravelmente. Após um descanso, um segundo olhar penetra na essência. Os detalhes e adereços já são conhecidos e náo impressionam, desvirtuando as atenções. As qualidades relevantes saltam; é um filtro onde o que interessa prevalece.

Precisei de dois meses para ver melhor. E agora que vi, digo - o amor torna melhor o que já é excelente.

As Jucicleides da nossa vida

Rio de Janeiro


da zona norte a zona sul
estáo soltas por aí
sei lá onde mais



   Para uma cidade linda como essa, só rainhas...
   Foto: Ana Schnneider

Caríssimos, conhecem a Jucicleide?

Não?

Conhecem sim.

Jucicleide é carioca, injustiçando a majestade de nosso Rio. Seu nome de batismo acusa o mau gosto do ambiente onde nasceu e pode apresentar variações, mas por corporativismo manterei o Jucicleide mesmo.

Tem clones pelo Rio de Janeiro afora, da zona norte a zona sul, chegando, evidentemente, a Jacarepaguá, onde abundam, sei lá porquê, talvez pela vizinhança com a Cidade de Deus, onde a educaçao e cultura náo sáo prioridade no governo de nosso município.

As referidas moçoilas sáo bonitas. Cabelão. Corpão. Tropeçam aqui e ali na gramática, mas acertam na plástica, desde que não se exija elegância; muita plataforma, muito tamancão, calça strech, barriga de fora. Pode ser que usem piercings, talvez, e os cabelos são sempre bem esticadinhos. Rola decalque colorido na unha postiça. Comem muita besteira, mas náo pesa na cintura ou no quadril. Falam besteira, mas não pesa na consciência também.

Para elas, mulher de trinta é coroa. Adolescentes recebem a nomenclatura de "novinha". Mães de amigos e sogras são chamadas de~"tia". Música? Funk.
Lazer? Churrasco. Teatro? só comédia, pô, maior coisa socialzinha. Livro? Jornal? Náo faz pergunta difícil náo.

Queridas, náo as menosprezemos. Por elas nossos maridos ficam bobos.
Adoram sua superficialidade, sua facilidade para a diversáo.
A vida com essas senhoritas é mais limitada, porém sem dúvida alguma, mais leve. Perto delas somos chatas, reclamonas e gordinhas.

É, meninas, morte cruel às Jucicleides. Enquanto estudamos Proust e Descartes, estáo malhando. Enquanto experimentamos roupas estilosas e criamos tipos e fantasias, usam uma simples calcinha fio dental, e o sujeito (aquele que diz que você tem classe, e que você é mulher de orgulhar qualquer um) vai perder a cabeça na hora.

Ah, os homens. Nada mais óbvio: são bobos. As mulheres inteligentes os ameaçam. As mulheres carinhosas os sufocam. As mulheres independentes os diminuem. As estudadas os humilham. As engraçadas debocham deles. As elegantes os ofuscam.

E as Jucicleides... bem essas os atraem.

Meu segundo ex-marido optou por sua Jucicleide há anos atrás. Náo aguentou. Meu ex-namorado fez pior: sua Jucicleide é da turma do baile de briga, e se entitula Barbie do Castelo. Que vexame.

Uma querida amiga acaba de passar por esse necessário capítulo de nossa existência emocionalmente ativa: a criatura preferiu uma Ju, dessas que tiram fotos de costas nas redes sociais, para mostrar a derriére. Está incomodadíssima, cabeça pensante que é, intrigada com essa lógica da atração.

Porque se for para perder, que seja para uma adversária mais respeitável. Concordo.

Mas o homem brasileiro é tão previsível. Prefere as presas fáceis, as que adulam o ego, e que se náo agregam valor, também náo introduzem mudanças. Não dá trabalho amar o inferior. Já a paridade exige esforço para manter-se; estar ombro a ombro com um par qualificado demanda movimento. Cansa.

Deixe para lá. Daqui a pouco, amiga, ele vai estar falando "ném". Doce vingança.








sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O avesso da Costura

São Paulo
Chique é ter dignidade

Uma das 1.445 lojas da Zara, cuja marca tem valor estimado em US$ 7.468 bilhões (2010), com presença global: 77 países

"O escândalo começou com a marca espanhola Zara, depois de a cadeia televisiva brasileira Band ter acompanhado uma equipe de fiscais do Ministério do Trabalho que acabou por libertar várias pessoas (a maioria das quais estrangeira) que fabricavam peças de vestuário para a empresa AHA, a quem a Zara encomenda trabalho.
Os trabalhadores-escravos tinham sido, na maioria, recrutados na Bolívia com promessas de melhores condições de vida no Brasil. Ao chegarem a São Paulo, eram obrigados a cumprir jornadas laborais de 16 horas por salários que rondavam os 240 euros por mês. Além disso, os empregadores descontavam do salário dos trabalhadores o custo da viagem até ao Brasil e a comida."
(O Globo on line
)

Bem, o assunto é duro, mas necessário. Temos contribuído para a escravidão contemporânea.

Sabe quando você vai ao Shopping Leblon, ou ao Rio Sul, e sente um cheiro de gente rica? Cuidado. Você pode estar na loja da Zara.

Lindas roupas. Tem para os ricos, ou que parecem ricos. Tem para os bem vestidos. Para os que aguardam a liquidação para vestir-se com essa griffe internacionalmente reconhecida como moderna e elegante. É preciso aqui apontar que no Brasil, o assunto moda ainda traz confusão de conceitos. Nesta Terra, a elegância está equivocadamente associada ao sucesso financeiro. Erramos feio neste quesito também - o mais humilde vendedor de cuscuz, com sua alva roupa, impecável, e chinelos de dedo, pode estar elegantérrimo.

Sigamos. Enfim, você é atraído pelo glamour da vitrine, e pensa estar em uma loja bacana.

Entra. Escolhe. As vendedoras são magras, e modernas. Cheiram a perfume francês. Você experimenta. E gosta.

A roupa cai bem, tem ótimo corte, ótimo acabamento, é diferente, e deixa o consumidor melhor do que a natureza o fez. Pode comprar. Vai resistir a lavagens e modismos. Vai valorizar as formas femininas e na linha infantil, será estilosa para os filhotes.

Você sai do shopping com aquela bolsa preta, e quatro letras ZARA indicam que você sabe comprar e tem bom gosto. ENGANO. Tudo errado. Você foi enganado. Seu dinheiro limpo alimentou o trabalho escravo, e não tínhamos nem idéia. Caríssimos, eu já fiz esse roteiro, e não dá para voltar atrás e reescrever o texto. Só deste capítulo em diante.

A Zara, como a Ecko e a Billaboing utilizam mão de obra escrava, em pleno século 21, era de declarações de direitos, constituições, votos. Estados Democráticos de Direito. Ferozes capitalistas, ignoram as teorias humanas, sociológicas e solidárias. Deletaram anos de estudos acadêmicos sobre produção racional e economia sustentável.

Enquanto desfilamos a moda ZARA, uma latino americana é humilhada, vergonhosamente. Só tem sua força de trabalho para vender, ou melhor, para entregar em troca de comida. E o pessoal de compras da Zara não se importa com a covardia da troca. Trocam com prazer.

Para sair da oficina que também era moradia, era preciso pedir autorização (Foto: Fernanda Foroni)

Que pena, mundo. Que pena que os empresários não aprenderam com o passar do tempo, com Hegel, Marx, Weber, com Mandela. Emagrecem a galinha dos ovos de ouro da economia com a exploração desumana. Empobrecendo o trabalhador a sociedade empobrece e perde poder aquisitivo. Não compra, e sem comprar, a indústria não tem para quem vender.

Independe se dez empobrecem e um compra por vinte. O mercado interno perde, e perde feio. O país perde dinheiro se temos menor número de cidadãos sem disponibilidade financeira. O dinheiro precisa circular horizontalmente para que a economia da nação se fortaleça. É preciso irrigar com capital mais e mais classes sociais, sob pena de que miséria pese ao ponto de tombar o tênue equilíbrio numérico da sociedade, fazendo com que as notinhas verdes escorram para um lado indesejado: o da marginalidade.

A Senhora Roseli Meíra, dona da marca, talvez não saiba do que passa. Mas nós sabemos. Boicotemos essas lojas. Por ética, ou por repúdio à sua estratégia fadada ao fracasso.

Ao passar por suas vitrines, viremos a cara. Nada ali nos interessa.

O vendedor de cuscuz é mais chique mesmo, em sua dignidade, que qualquer moça bonita vestida de ZARA.



Alegria para Seguir

Sexta Feira
Agosto de 2011
Que maravilha

A alegria é um dos bens indispensáveis à vida


Ler o jornal é ler toda a maldade do mundo
As ilhas luxuosas e castelos absurdos da corrupção no Brasil
E Dilma e Obama e o imortal Sarney

(- será que Sarney morrerá algum dia?)

E não está no jornal, mas o cruel trabalho escravo infantil
Está mais próximo e contemporâneo do que sabemos

Seguimos sob a ameaça de não termos água e torrarmos sobre o solo,

Mas as ricas indústrias prosseguem com seu desperdício
enquanto os indivíduos economizam as gotas dágua de sua pia e de seu filtro.

Apesar dos loucos nazistas racistas massacrarem
sem dó nem piedade criancinhas e turistas

Apesar da griffe Zara usar mão de obra escrava
e de que tenho, inadvertidamente em meu armário peças e peças da Zara,
as quais evidentemente destruirei, magoada, revoltada
e traída


Apesar de não ser amante de Rodrigo Lombardi ou de Milhem Cortaz
Apesar de estar envelhecendo e engordando
E ter que fazer dieta, ginástica e terapia

E de viver sob a ameaça de doenças e solidões

Apesar de meus filhos serem desobedientes e malcriados (embora lindos)
E de meu sangue estar espalhado em países longínquos

Apesar de não dar conta do recado,
de ter muitas vezes péssima conduta,
mesmo com bons pensamentos, os gestos certos me escapam

E de olhar ao redor com a amargura mansa dos que já sofreram

Hoje sinto-me especialmente forte e feliz.

Tenho um coração vivo, uma alma viva,
um olho vivo, uma pele viva,
um corpo vivo.

Uma alegria viva pelo amor vivo no meu peito.

Sigo convicta de que preciso contrariar meu sábio professor Sidney
que explicou a uma turma de adultos engravatados e estáticos
que o coração só deve abrigar
sentimentos filtrados pela razão.

Mentira, professor.
Fosse assim, eu poderia estar triste, e não estou.
Estou alegríssima.

Vamos evoluir portanto a sua afirmativa:

- A razão sim, é que passa pelo filtro do coração;
- É o coração alegre que escolhe a razão para SEGUIR.


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A Emoção

Rio
Rio de Janeiro

Deixa falar o coração

Beijos que despertam



Eu quero causar reação.

Nunca gostei de gente sem graça, gente que não te sacode.

Gente que fica na superficialidade me enjoa; gente que se limita a uma aparente simplicidade me entedia; são repetitivos, e repetem as mesmas palavras vazias.

Gente medrosa me apavora: o medo pega fácil, altamente transmissível,e o medo paralisa. Nada de estagnação. É preciso mexer-se. Afasto-me, em pânico, dos medrosos.

Gosto de gente corajosa. Gente com sangue, com carne, com suas dores e alegrias. Orgulhosamente portando sua história vão escrevendo novos capítulos psicografados pela sua emoção.

Da emoção vem tanta coisa. Mesmo da emoção dolorosa, o temível terreno da dor, ainda aí a emoção é fértil. Mais do que parece - da dor vem reflexão, vem o aprendizado, o crescimento.

Vem vontade de não doer mais. Vem vontade de mudar para não doer.

Para experimentar emoções mais saborosas, picantes, adocicadas, refrescantes. Enluaradas, perfumadas, quentes.

Quero todo o cardápio das emoções humanas.

Quero o afeto, a compaixão. A saudade, a solidáo, o tesáo.
Quero o amor, o amor em sua força e leveza.

Sem emoçao náo poderei encontrar o som da palavra que busco, falada, escrita, sentida, cuspida, gemida. Como escrever sem o ditado da emoçáo?

Muitas vezes escreverei impropérios. Cometo e cometerei erros e ofenderei os bons injustamente. Estarei sob império dos sentidos e assumo o risco de errar.

Errar muda tudo de lugar.

Talvez eu acerte em outros textos, em outras ações.

Mas viverei tentando acertar.

Pretendo despertar você, caríssimo leitor. Despertar o desejo pela vida vivida com o coração. Quero acordar seu corpo. Despertá-lo para uma vida diferente, com mais possibilidades no sentir.

Pode sentir um comichão na pele, e um rebuliço nos órgãos vitais, e um mexer involuntário de músculos voluntários. Apurar a antena dos sete sentidos. Conectar-se no universo paralelo do sentir, do querer, do poder. Do levitar.

Começa no alto da barriga. Segue para a garganta, para os lábios. Sai. A palavra de amor sai.

Como escrever e cantar sem o som dos beijos? Como fazê-lo inerte? Quem trará a melodia e o compasso? Como cantar a vida sem vivê-la?

Impossível. Impossível ser feliz sem sentir.







terça-feira, 16 de agosto de 2011

A vida é eterna

Sempre haverá
Mais um nascer do Sol
A vida vai, volta e segue



Para os que sentem saudade


Linda vida

Neste dia dos pais, penso nos pais que se foram.

Penso no meu avô, pai que conheci nesta vida. Pai, anjo, avô.

E penso que fui feliz na infância. Muito. Devo-lhe. Penso que sou feliz. Muito. Devo-lhe também.

Gostaria que meus filhos tivessem, por alguém, quem quer que seja, a admiração e a confiança que tive pelo meu avô. A certeza do amor, incondicional, incontestável, incomensurável.

O que ensinou, ficará. O tempo náo levará nem diminuirá seus feitos. Pelo contrário, quanto mais vivo, mais o admiro. Mais conheço das dificuldades que deve ter atravessado, e mais glória atribuo às suas vitórias.

O que deixou, o dinheiro náo compra, náo vende, náo empresta; o que me deu, está cravado no meu peito, e se repete nas batidas do meu coração - ama, ama, ama, ama, ama, ama.

E quando amamos, o amor se aproxima. Avizinha-se de nós. Vem sob forma de músicas, de brisas, de sonhos bons, de sorrisos. De pequenas preciosidades. Assim, cercada por amor, recebo com amor a oração abaixo, atribuída a Santo Agostinho.

Surpreendo-me, não a conhecia. Não faz parte dos estudos de catecismo. Estudei em colégio católico, mas o Santo Agostinho que apresentaram náo era assim, compreensivo e consolador; era o bispo, o filósofo, o fundador de congregação aristocrática, conhecida pela tradicional linha pedagoga que adotou. A linha dura do catolicismo.

Precisamos ir além do que nos apresentam. Precisamos enxergar além do que nos mostram. Precisamos abrir mais os ouvidos da nossa alma. E ouço essas palavras como vindas de um anjo. Ou de um amigo espiritual, se preferirem.

Verào que são palavras suaves sobre a vida eterna, onde conceitos católicos e kardecistas subitamente assemelham-se pelo Amor, comum a ambos. O Amor ecumênico, que está acima dos rótulos e dos muros. Acima dos preceitos.

E como a criança que fui, crédula, rezei de novo.
Rezei com fé.
Acreditando nessas palavras, ontem, hoje, e sempre, que explicam e consolam minha saudade.
Acreditando que meu avô gostaria de me ver rezar.

E porque tive esse avô, porque o tenho, porque apenas está do outro lado da ponte, e para ele correrei, quando chegada for minha hora.

E feliz, porque eu já não conseguia mais chorar, assim, como criança, e hoje chorei.

"A morte não é nada.
Eu somente passei para o outro lado do Caminho.

Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês, eu continuarei sendo.

Me dêem o nome que vocês sempre me deram, falem comigo como vocês sempre fizeram.

Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas, eu estou vivendo no mundo do Criador.

Não utilizem um tom solene
ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.

Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.

Que meu nome seja pronunciado
como sempre foi, sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra ou tristeza.

A vida significa tudo o que ela sempre significou, o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora de seus pensamentos, agora que estou apenas fora de suas vistas?

Eu não estou longe, apenas estou
do outro lado do Caminho.

Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua, linda e bela
como sempre foi."
Oração de Santo Agostinho.

domingo, 14 de agosto de 2011

Assalto ao Banco Central

Cinelandia
Odeon
Onde Onde Onde
No Rio


Eu quero mais é que me assaltem

Em cartaz, e como...


Deixa que digam, que pensem, que falem. Não estou nem aí.
Li queixas sobre o filme. Eis coisa que adoro - ver filmes criticados. Só para contrariar.

O povo quer reclamar, caríssimos. Reclamar de quë, náo sei. O filme é ótimo, e a história é real.

Vamos parar de comparar com os filmes de ação que vendem a rodo mundo aforta, esbanjando efeitos especiais, correrias e tiroteios e faltando talento. Foi assim, sem explosões, sem carros voando, sem milhóes no orçamento. E foi com talento. E foi um sucesso. Roubaram o Banco Central do Ceará, e cá para nós, parabéns. Esse dinheiro não era do Banco não. Era o meu e o seu, e o dos cearenses. Estava ali indevidamente.

Aconteceu: bandidos experientes e especializados roubaram R$ 165 milhões do Banco Central de Fortaleza, Ceará, em agosto de 2005. Cavaram um túnel de 84 metros que saiu de uma casinha simples para dentro do cofre, como dizem nas Igrejas, das trevas para a luz. Foram três meses de planejamento e execução. Trabalharam pesado e carregaram sacos de terra, e quase quatro toneladas em notas de cinquenta. Alguns foram presos, outros se safaram, e pouca grana foi recuperada. Portanto, há bandidos ricos e vivos por aí, mas isso não é novidade, é coisa que já se sabe.

Eu curti. Amo Lima Duarte, da nossa Minas Gerais, da nossa Terra, do nosso mato, da nossa roça. Monstro da arte. Eu nem sabia, mas amo Giulia Gam também. Solta, magra, jovem, forte. Descobre, apura, prova, prende. Curti demais o menino da Central do Brasil, lembram dele, claro. Vinicius Oliveira cresceu, é um ator de mão cheia, merecedor de elogios efusivos. Que mais meninos tenham suas vocaçoes descobertas e desenvolvidas. Dá gosto vê-lo na tela.


O menino Josué, na Central do Brasil, e o Devanildo, do Assalto. Vinicius Oliveira cresceu e apareceu. Faz rir, faz tremer, e faz aplaudir


E com Hermila Guedes, descobri que brasileira tem beleza holywoodiana. Poderia facilmente ser uma Bond Girl. Bandida, mulher de bandido, vulgar, atrevida, cara. Um verniz brilhante sobre a madeira podre. Tipinho fácil nas altas e nas baixas rodas, é o par perfeito para um bom mafioso.

Hermila, mulher de bandido toda vida

Só não curti, nem amei, e muito menos descobri Eriberto Leão. Eu vi, tenho que dizer, estou aqui para isso: enjoado. Não é bandido, não é malandro, tenta ser engraçado e não é, tenta ser gostoso e não é. Teve seu papel e o amassou. Faltou o sal, a pimenta, ficou entre morno e frio, entre bobo e burro, entre risonho e sem graça. Não adiantou ter olhos verdes. Há gente que faz melhor.

No mais e em tudo o mais, o diretor Marcos Paulo conseguiu. O espectador mergulha no túnel, e faz parte da quadrilha. Quase fez apologia ao crime, com bandidos tão trabalhadores e dedicados, e bem sucedidos. No decorrer da película, convenci-me do oposto. Com a simplicidade dos bons, o maestro dá seu recado. O crime não compensa, ainda que enriqueça alguns.

E antes que eu me esqueça - Milhem Cortaz, assalte-me. Mas assalte-me toda. Tome posse de meus bens. Sequestre-me, obrigue-me. Não tenha pena de mim.

Dê uns bons gritos, use de força bruta e mostre quem manda nesse lugar.

Com um Cortaz assim no comando, o crime há de compensar.

O bandido Barão, na pele de Milhem Cortaz. Quem quiser que seja gente boa, eu não



sexta-feira, 12 de agosto de 2011

As meninas de São Paulo

Planeta Terra
Brasil
São Paulo

Lugar nenhum


As Sete Meninas
"SÃO PAULO - A Polícia indiciou por abandono de incapaz e prendeu quatro mães de meninas que praticam arrastões em lojas da Vila Mariana, Zona Sul de São Paulo. Elas foram presas na noite desta quinta-feira quando foram buscar as filhas, que novamente haviam sido levadas para a delegacia, após a tentativa de assalto a uma motorista." (O Globo on line)

"São direitos Constitucionais da criança:
Ser bem alimentada, vacinada e receber acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento.
Contar combons servios de saúde, boas creches e pré-escolas.
Viver em lugar saud[avel, ter oportunidade de brincar e aprender.
Receber afeto e viver sem violência.
Ser acompanhada pela mãe nos serviços de saúde."

- Constituiçao Federal, 1988.

Se você mora no Rio, está acostumado com elas.
Faz de conta que náo as vê, ou, apavorado, foge. Atravessa a rua. Fecha bem a janela de seu carro.

Falam alto, palavrões, baixo calão, barrigas e pernas de fora. Cabelos duros de sujeira.

São vizinhas suas. Minhas.
As da foto acima moram em São Paulo. Cidade rica, produtiva, industrial.
Cidade dos Jardins da Elite. Das Faculdades USP e Mackenzie. Do Hospital Albert Schweiser.

É, são de lá.

Essas meninas que vemos na foto estavam na rua dando trabalho a polícia. São bandidas, assaltantes, criminosas. O policial Ibrahim (eu o vi na TV) disse que foram presas nos seus últimos plantões. Presas, e soltas.

Até que o delegado Marcio de Castro Nilsson resolveu prender as mães. Pronto. Cheguei onde eu queria. As mães. Foram chamadas para buscar as menores, e compareceram com suas calças, casacos e bolsas. Não estavam assim rasgadas e sem proteção, sujas, descalças, e ao relento. Não. As mães tem se beneficiado do crime das filhas menores, e quiçá de outros crimes. É visível. Não deviam estar sem banho e sem teto.

As mães foram presas e indiciadas por abandono de incapaz - são essas senhoras aí em cima

O delegado merece toda nossa admiração. Chamou as mães, sob pretexto de entregar as filhas, e prendeu as progenitoras por abandono de incapaz. Encontrou na lei uma armadilha - não há registros de que estivessem procurando as filhas - e prendeu as distintas. Se náo estavam procurando, estavam abandonando. Quem náo cuida, abandona. Não há meio termo ou disfarces. Ou é abandono, ou é responsabilidade. Bravo, delegado, esse pensamento é maior do que parece.

Sabem o que mais me intrigou? Não as víboras incitando a prole ao crime. Não foi corromper, abusar, maltratar, privar. Talvez essas senhoras tenham também sobrevivido assim. Talvez sejam vítimas de vítimas e náo conheçam outra saída para o pão e a cervejinha de cada dia.

Intriguei-me com a alegria que as meninas manisfestaram quando as mães chegaram. Uma dava pulinhos, toda feliz. Cortou meu coração. Queriam suas mães, cruéis, vis, leite e sangue venenosos, no entanto o único pseudo amor que conheceram.

Talvez até as defendam, e encontrem justificativas infantis para suas ações. E todas as sete choraram, muito, quanto foram separadas - mães para a prisão, meninas para o abrigo.

É. As meninas malandras e maliciosas, treinadas para furtos e arrastões, essas que podem te cortar com navalha, choraram como bebês. O que tiveram por família tinha se acabado.

Talvez sonhem com uma mãe diferente, carinhosa, que dê banho, faça dever, leve ao médico. Que converse. Que ajude. Talvez vejam com essa generosidade, com essa teimosia de ilusão.

E eu teimo também. Sonho com um Brasil diferente. Com controle da natalidade e aborto legalizado.

Com as tais boas creches e escolas da Constituição.

Com mães que gostem de serem mães. E meninas com o direito de serem meninas. E com um Estado Brasileiro que possibilite a ambas o cumprimento de seus deveres e o gozo de seus direitos.

Ilhas

Rio Rio Rio
Não é rio, é mar

e é ilha

Vamos navegar



Percebo a vida em ilhas.

(Djavan já explicou que o seu coração é uma ilha, a centena de milhas daqui.)

Entáo.

Ilhas do Sim.

Ilhas do Não.

Se preferir acreditar em Djavan, há a ilha onde se escondem, longínquos e solitários, os corações.

Se quiser acreditar em mim, sáo duas nossas ilhas.

A ilha do Sim, onde temos os prazeres da carne e do espírito. Prazeres do desejo, do conhecimento, do sucesso, da fortuna. Música, fartura, candura, colo, consolo, carinhos. Presentes. Prazeres vários, como frutas em árvores, pegamos e saboreamos.

Cobiçamos as coisas boas da vida, nos sorriem, estão ao nosso alcance.
Andamos entre as fileiras do pomar tropical, e nos fartamos.

Saciados. Exagerados. Como castigo, somos levados para a Ilha do Não.

Silêncio, sombra, susto, solidão.
Insônia.
Esforço em vão.

Reclamamos desta estadia. Queixamos. Gritamos. Choramos, pedimos, cansamos, murchamos.

Nesta ilha dura e carrancuda enfrentamos as madrugadas lentas, o dinheiro contado, o desamor. Sede, sede de liberdade, fome de plenitude. O tédio, a ansiedade. O pensamento vago. Preguiça. Teimosia. Terra da negação. Para tudo que se pede e se quer, a resposta é não.

Beijo?nào
Abraço? nào
Canção? nào


Entre o sim, e o não,
Vem ele.
Unindo e consolando,
festejando e amparando,
indo e vindo,
partindo e chegando,
libertando, transpondo
Navegando
navegando
navegando - vem ele, o incansável coração cheio de amor.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Outside

Rio de Janeiro

Lindo Rio
Lindo Espaço Tom Jobim
Linda lua linda noite


Long long life to David Bowie
e para os maravilhosos atores brasileiros
que o honram


OUTSIDE

" A peça é inspirada em um poema que o músico David Bowie escreveu no encarte do disco “Outside”, de 1995. O texto, que conta a história de uma adolecente de 14 anos que morre e doa seu corpo em nome da arte, ganha uma adaptação d’Aquela Companhia de Teatro, com texto de Pedro Kosovski e conta com Letícia Spiller, André Mattos e grande elenco." (O Globo)



Sou do samba e náo posso negar.
Mas o rock mandou me chamar.
Fui,
como deixar David Bowie no sereno?


É um musical, uma ópera rock. Narra uma suspeita de assassinato ao som dos sucessos de David Bowie. O texto é fantástico, cheio de referências subliminares, de meandros policiais e armadilhas que só um roteirista de máo cheia pode criar.

As guitarradas combinam perfeitamente com a suspeita e com os sustos da trama. A música de Bowie transporta para o mundo louco dos loucos sofisticados. Dos artistas, a quem a sociedade permite extravagâncias. Dos criadores, dos vanguardistas, dos irreverentes, dos incompreendidos. Dos corajosos.

Os personagens sáo caricatos, todos, espalhafatosos, sedentos, violentos.
Vestidos ricamente, penteados como loucos, maquiados como o KISS, ou como o Coringa, do Batman, ou como o Maskara, do Carrey.
Como criaturas inviáveis, mas compreensíveis.
A estética agride, mas é coerente. Convence que náo podia ser de outro jeito - essa pessoa náo existe, é uma ilusáo, mas se existisse, seria exatamente assim. E daria um trabalháo aos bem comportados cidadàos da pacata sociedade contemporânea.

O pessoal do Outside

Cada personagem por si daria uma novo roteiro. Caprichados, requintadamente concebidos e interpretados. Há riqueza de personagens, personalidades e talentos. Abundância e fartura de diáologos, gritos, histerias, e solos de guitarra, solos vocais, solos de interpretaçao. Pas de deux moderníssimos. Apoteoses musicais.

Sucessáo de shows em um só show.

É preciso elogiar e aplaudir as atuaçoes. Sáo hipnóticas, e acreditamos de fato no planeta surreal da Galeria de Arte de Peggy Guggeinheim. Peggy, encarnada por Leticia Spiller, vem palco adentro tomada por uma pomba gira de frente, e das que tem gilette na roda da saia. Ela cega e ensurdece o o público com suas aparições.

George Sauma é Zig SpaceBoy, um bad boy da alta roda artística. Revendedor, coloquemos assim, de biscoitinhos envenenados. Gosta de uma coisa mais forte na cama com a namorada gatinha. Tão fantástica a direção do espetáculo que conseguiu-se até deixá-lo sexy. Abusado. Sem camisa, bate no peito e diz que é ali que que se goza, isso mesmo, goza. Quando estamos quase lá, sapateia, e aí, caríssimos, aí é um escândalo. Nunca antes o rock pedira um sapateado. Mas quando pediu, teve, e como teve. Sauma é feio, franzino e engraçado. Eu digo porque vi, e vi duas vezes: quando sapateia, Sauma é um gato.

Jorge Caetano se traveste e solta a voz. Arrisco dizer que é a estrela, mais brilhante. Alucinado, sofrido, atrevido. Sua perfeição vocal supera muitos cantores famosos. Sua voz é ampla. Arrebata pela imensidáo...

Canta, Ramón Ramona, Canta

Todos mereciam elogios, sinceros e profusos. Náo posso. Seria over.

Mas náo posso deixar passar a atriz cantora. É miúda, acredito que tímida fora dos palcos. Altíssima soprano, Suave, seu visual é mais leve, traz flores vermelhas nas têmporas. Representa a esposa conflituada do policial. Nao sei seu nome. Busquei seu nome no programa, na internet, nas publicaçoes. NADA. Quem souber, me ajude.

Devo-lhe um sincero agradecimento. Sua interpretaçao de "Loving the Alien", braços abertos e olhos fechados, solta na galáxia de um palco, convenceu-me.

O AMOR náo é coisa desta Terra. O AMOR é um estranho, um viajante inter planetário. Aparecerá trazido por notas musicais, e nos carregará, felizes, para o outside dos mundos náo habitados.


















sábado, 6 de agosto de 2011

Os filhos de todos nós

Rio de Janeiro
Botafogo

O tempo que passa


A Banda 3x4 - no baixo e vocal, Danilo Azevedo. Guitarra, Rodrigo Metne. Bateria, Gabriel Gonzalez.


Estudamos juntas, primário, ginásio e segundo grau.
Foi a primeira da nossa turma a ter filhos.
Um, e depois dois de uma vez. Sim, gêmeos.

Vida para lá, vida para cá.
A vida segue às vezes mais fácil, às vezes mais difícil.
Caso, separo, caso, separo, caso e separo, e separada fico.
Filho 1, filho 2.

O carinho permanecendo em recordações, doces, especiais. Eis que fomos materializadas uma para a outra novamente pelas maravilhas do facebook. Unidas pela tecnologia, encontramo-nos de novo.

Curioso, a amizade verdadeira resiste a tempo e distância.

Vejo seus filhos grandes e moços. Vejo que o tempo passou.

Vejo que não tenho mais 15 anos, mas tenho amigas, alegres amigas do colégio, e podemos rir com vontade desta vida.

E cantar. Sim, cantar, e muito, em público e em voz alta: um de seus filhos tem uma banda, e fui assisti-lo. É a ótima 3x4, e se apresentaram na Cobal do Humaitá.

Emocionada. Podia ser meu filho. Há 20 anos atrás era só um sonho, sermos mães, termos bebês - sonhamos, engravidamos, parimos, amamentamos, embalamos, levamos para o colégio, fizemos dever, pediatras, médicos, festinhas.

Hoje o garoto empunha uma guitarra e sua banda apresenta um dos melhores repertórios que já ouvi: Nando Reis, J.Quest, Paralamas. E por aí afora.

A juventude de sua banda canta com alegria.

Seus amigos e amigas cantam junto com a banda. A juventude é bela, como são belos e alegres, como se movem com facilidade, levantam-se, circulam, sorriem, bebericam seus copos.

Tem uma facilidade sintomática de sua idade em agruparem-se e dispersarem-se sem mágoas. Mexem-se graciosamente. Juntam-se em rodinhas, e vão trocando de grupos, assim, como quem náo se importa de trocar. SEm muito apego. As moças mostram sua exuberância, formas assim redondas que só as muito jovens tem. Os rapazes parecem crianças perto delas.

E são todos tão belos, tão mais magros que nós em nossa meia idade, mais altos, viçosos. Os cabelos são mais brilhantes, os olhos também. Acredito que os corações ainda sejam inquebráveis. Há o cheiro e a aparência do novo, intrinseca e verdadeiramente novo.

Parecem ser mais inocentes, e com isso mais permissivos.

Há corpos máximos e saias mínimas. Há as mais recatadas, mas náo menos sorridentes. Olham para os rapazes atléticos em suas básicas T-Shirts apertadas, e olham para Os menos malhados, mas náo menos fortes, talvez só mais despojados. Olham-se sem nada a esconder.

Percebe-se que não temem as dores. Os sorrisos e os sentimentos são mais simples, sorriem mais, falam mais. Estáo despreocupados com os sorrisos e as falas.

Parecem soltos dos moldes em que se encaixarão em alguns anos.

E senti uma vontade imensa de ser assim jovem novamente.
De que tudo, absolutamente tudo, seja facilmente possível.
Com um sacudir de cabelos renovar-se. Com um trocar de lugar redescobrir-se.
Com um breve sorriso começar uma nova amizade.

Como se todos fossem meus filhos, tive vontade de protegê-los da amargura que os anos vindouros provavelmente trarão.

Gostaria de estalar os dedos e mantê-los assim, cantando em coro, dançando, bebendo, rindo, beijando. Soltos numa união de identidades livres.

Sei que náo será assim. Chega um dia a maturidade. Mais cedo ou mais tarde adquirimos uma consciência maior de nós mesmos, e de nossa limitada existência, de curta duração, e de tantos erros; chega o dia em que os dias parecem iguais e sem novidades, e que a lista de afazeres é maior que a de prazeres.

E que se não houver amor para mais um dia, para um dia de cada vez, envelhecemos dez anos por dia.

E que esse dia de reflexão náo chegue para eles, e que passe logo, rápido, por mim. Quero é cantar mais uma, do J.QUEST, quero uma canção extremamente fácil.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Italo Rossi e o Sr. Claudio

Rio de Janeiro,
Que feio


Caríssimos, faleceu o maravilhoso Italo Rossi.
Famosíssimo, talentosíssimo, queridíssimo.
Perda amplamente sentida e divulgada.

Não pouparei palavras ou elogios ao grande ator Italo Rossi.
A ele, toda honra e toda glória. Aos seus anos de carreira, aos seus feitos, aos seus passos trilhados com raro talento.

Lamento que partiu, e muito. Mas venho criticar a cerimônia de seu sepultamento, que teve lugar no Cemitério do Caju em 3 de Agosto.

Virou ocasião. Virou point. Flashes. Autógrafos até.

Uma lista de gente famosa e comovida, que foi se despedir de seu colega, de seu professor, de seu ídolo. Era hora de calar, sentir, reconhecer, resignar-se. Chorar.
Era um momento de dor, de pesar, onde a tristeza e o silêncio tinham lugar cativo. O silêncio, caríssimos, é uma grande homenagem.


Só que não houve a necessária paz para esses atos profundamente sentidos. Para os fãs lá presentes, era hora de tietar. Estavam eufóricos com a vitrine móvel de atores e atrizes, e acredito que talvez sequer reconhecessem os feitos do grande Italo. Miguel Falabella e Diogo Vilela abordados insistentemente. Leticia Spiller desfigurada em lágrimas e seu pranto registrado em celulares e digitais.


O Cemitério virou a Ilha de Caras em dia de luto. Celebridades e seus óculos escuros por todos os lados. O ba-fá-fá prejudicou outros cidadãos também.

No mesmo dia 03 de Agosto, faleceu o pai de uma amiga querida, sr. Claudio(usarei este codinome para preservá-la). Foi sepultado no mesmo local.

Que azar para este sofrido e honesto senhor e sua sofrida e honesta família. Não era publicamente conhecido ou famoso, mas merecedor de todo o respeito sim. Não para os funcionários do Caju, que estavam enlouquecidos, de cabeça virada, como se diz por aí.

O velório do sr. Claudio atrasou uma hora e meia. O serviço religioso foi corrido e apressado. O coveiro (sim, é coveiro) encarregado de remover o caixão para uma Kombi estava com seu celular ligado, e o toque, pasmem, era o hino do Flamengo. Tocou, tocou alto, o tal coveiro atendeu e confirmou com seu interlocutor que o cemitério estava bombando.
Fechou o caixão sem dirigir-se à viúva, enfiou-o numa kombi e partiu para o jazigo, a aproximadamente 2 km da capela.

Viúva e filha, e valorosas companheiras, seguiram a pé, abaladíssimas. O caixão foi descarregado como um pacote e depositado em um carrinho sobre o chão. Falando ao celular, o coveiro partiu para ver mais artistas.

As moças não tiveram a quem recorrer. Procuraram administradores, gerentes, nada. Com muito custo, empurraram o tal carrinho e depositaram o caixão em seu devido lugar. Aí apareceu um funcionário para dar uma mãozinha, tardiamente, o trabalho duro já estava concluído.

Lamentável. Tenho certeza que Italo Rossi não gostaria disso. A classe artística não gostaria de saber disso. Já a administração do Caju, não está nem aí.

A família do sr. Claudio não tem culpa da coincidência de datas, e sequer pleiteou paparicos ou serviços gratuitos. Seu enterro foi pago e o Caju,
bem o Caju só queria saber dos globais.

Nosso Brasil carregou por anos o estigma de não ser um país sério.
O que é ser sério? É simplesmente cumprir. Horários, prazos, deveres.
Promessas. Com a devida compenetração e respeito. Até com alegria de ser eficiente.

Povo carioca, vamos mostrar nosso valor. Vamos ser sérios, vamos ser mais distintos. Vamos nos livrar dsse peso insustentável do ôba ôba. Na hora do aplauso, aplauso. Mas na hora dos pêsames, pêsames, e mais nada.

E se sincera for, cabe a lágrima.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

As versões do mesmo fato

Rio de Janeiro

todos os bairros
todas as tribos
todos os fatos

Ambas as máscaras são faces de um mesmo rosto


Fiz Direito com a intenção de ser advogada.
Não consegui.
Afora a burocracia e a demora do setor judiciário, irritantes, eu não conseguia manter minhas convicções. Sério isso. Era quase uma infidelidade.
Uma vez lida a contestação da outra parte, eu desmontava. Morria de pena e dava razão ao que antes parecia-em um absurdo.
Julguei-me volúvel, sugestionável, vira casaca. Parti para outra.

Hoje estou no ramo de relacionamento com cliente, vejam, caríssimos, que bom. Escuto o cliente e escuto a empresa. Preciso eu mesma chegar a uma conclusão. Poderoso exercício de apuração dos fatos.

Assim sendo, vou levando minha vida ouvindo aqui, ali, e concluindo. Ainda que provisoriamente há de haver uma conclusão. É preciso achar um ponto em comum, em que todos concordem, e a esse ponto combinamos chamar de verdade.
Lêdo engano. A verdade depende da versão apresentada, e do poder de persuasão de quem a apresenta.

Acho que a chave é esta: PERSUASÃO. Tudo muda com o poder da argumentação.
Porém já não sou recém formada e trêmula de sensibilidades. Não é qualquer argumento bem apresentado que me convence.

Aprendi a ter olhos bem abertos para o FATO NOVO, que tal qual no Direito, lança por terra a sentença mais legítima do Fórum.

Venho observado uma queridíssima amiga. Controlada. Segura. Dona de si. Eu tinha certeza que havia algo escondido ali. Ninguém é assim tão soberana de sua vida. Lembrei-me de Scott Turrow, em seu livro, " O ônus da Prova", onde tudo gira em torno da vida dupla (invisível) das pessoas. Dos sentimentos muito bem disfarçados a construir uma rede paralela no cotidiano do cidadão comum.

Pronto. Eis que ela contou tudo. Não sei porquê fazem isso comigo.
Peço a Deus que nunca me seja aplicado o soro da verdade; o que guardo aqui nesta cachola quebra o Pentágono, acreditem.

Quando a encontro agora ponho-me absolutamente intrigada: qual das que conheço é a real?
Ambas?
Nenhuma?

Sua versão dos fatos corresponde à realidade? Haveria outra leitura dos fatos? Não sei. Sei que saber do que as pessoas vivem (ou dizem que vivem ) confunde-me. Crio versões. Quero entender. Quero comprar a briga alheia.

Acredito que precisamos, todos, dosar nossa sinceridade. Não em relação às nossas revelações não, podemos ser rasgadamente francos entre amigos, mas nossa sinceridade em encarar os fatos. Gosto disso. Não gosto daquilo. Sou boa. Sou má. Não sou apaixonada por ele. Quero continuar com ele. Casei-me por amor. Separei-me por outro amor.

Tudo tão simples não houvesse esse lamaçal entre o SIM e o NÃO. Sem os pantanosos talvez, se, entretanto, ainda, só mais um pouco. Essas variáveis deviam explodir no ar. Cada palavrinha destas abre novos caminhos. NOVOS FATOS.

Já não sei qual a verdade. Há uma única verdade? Todas as versões são possivelmente viáveis, e todas as respostas acima são corretas.

Disse o Pequeno Príncipe que o essencial é invísivel ao olhos. Trinta anos depois de ler este livro,e de ter visto e ouvido o que vi e ouvi, acrescento baixinho: depende de quem vê. Olhos físicos ou olhos do coração? O essencial varia muito e se mascara muito. Nossos olhos nos enganam muito. Agarramo-nos à esperança que a verdade salte aos olhos.

O essencial é intermitente - mostra-se e esconde-se, e aparece com outra cara.

Mais não digo. Não posso. Não saberia o que dizer.

Nota: Minha amiga (e somente ela saberá que é para ela) - independente de qualquer coisa neste mundo, querida, seremos sempre amigas.