sábado, 30 de julho de 2011

Pimenta Erótica

RIO
RIO VIVO
E
ARDE

Vai uma pimentinha aí?


Vivemos cercados por outros seres humanos.

Todos sentem desejo por outros humanos.

de outro sexo, do mesmo sexo, de ambos os sexos.

da mesma idade, de outra idade,

formatos e aparências diferentes ou semelhantes.

tudo é possível no campo do erotismo.

Pulsam a carne humana e os sentimentos humanos.

Assistir a estas ebulições

faz a cabeça e o corpo funcionarem mais

e me pergunto: há razões?

há padrões?

Não senhores, o que nos diferencia dos bichos é só a lei

que impõe

comportarmo-nos com decoro (algum que seja) publicamente,

e valer tudo entre quatro paredes.

O que nos diferencia dos bichos não é a vontade carnal,

é a vontade sentimental de amar.

Noto, dia a dia,

e mais a cada dia, que o erotismo é a pimenta desta existência,

o demais é discurso puritano.

Pimenta não faz mal à saúde,

Desejo não faz mal algum à saúde.

pelo contrário, dizem que é bom para circulação,

então circulemos, meu amor,

circulemos entre beijos,

entre escurinhos,

entre espelhos.

(o beijo tem em si movimentos circulares!)

Apimentemos e giremos, sim, rodemos até ficarmos tontos


- não há plenitude sem sinceridade,

não há sinceridade sem reconhecimento,

do sentimento, do sonho, do prazer,

e não há prazer algum em viver sem desejo.


Somos todos tão sortudos neste mundo...

Invasões, liberdades, paz e amor

Rio de Janeiro,
Copacabana City

Paz e amor para você também



Esse ano de 2011, amigos, tende a revoltas.

Começamos empossando a Presidente Dilma. Um negro é presidente dos Estados Unidos e uma mulher é presidente do Brasil - o racismo e o machismo foram amordaçados, pelo menos aparentemente.

Os bombeiros cariocas, justamente, revoltaram-se com seus salários.

A Orla do Rio revoltou-se em ressaca violenta e a população do Rio revoltou-se por Juan, e exigiu que os assassinos fossem desmascarados.

Os artistas paulistas da Funarte, revoltaram-se.

Mundo afora, crises econômicas quebram Europa e Estados Unidos. Ocupações em Praças, feminismo, listas de direitos.

( Cá para nós, a mulherada revolta-se quando vê o Rodrigo Lombardi e sua ametista - pergunta por que não eu, por que não eu, porque, meu Deus? )

E eu também revoltei-me. De verdade.

Perdi as estribeiras.

Tanta mágoa presa na garganta.

Gritei.

Descabelei, arremessei objetos na parede, no chão, escadas abaixo. Escandâlos noite adentro e insônias.

Rasguei retratos e cartões.

Esclareço: sou de Touro, Touro tem 3 estados de espírito, afirmam os mais confiáveis estudiosos da astrologia: 1.calma e silêncio; 2. alegria; 3. fúria incontrolável.

Ninguém segura um touro bravo. Furioso. A revolta vem da fúria. Da necessidade de romper a impotência. De demonstrar sua força, a chutes e pontapés. A chifradas.

Mas os bombeiros foram soltos, os assassinos de Juan foram identificados, a ressaca passou; os artistas paulistas escutarão a voz do bom senso. Também eu havia de acalmar-me.

Estou mansinha mansinha, na minha vida taurina de alimento e natureza. Ao ar livre, como pede a essência humana.

Eu quero nessa vida, caríssimos, é paz e amor.

Todos queremos - nós, os bombeiros, as vítimas, as testemunhas, os artistas, os amantes, os sambistas.

Há paz e há samba por aí.

E há vida após a guerra. Sempre houve. Há solução depois da depressão. Sempre houve.

E há de haver mais amor, mais paz; há de haver mais samba.

A vida não vale uma violência. Uma revolta, um quebra quebra.

A vida não vale nada mesmo, e melhor, que bom que é assim, assim podemos tudo.

Podemos até ser felizes. Sem dor, sem revolta, sem invasões, e sem prisões.

Vivendo de beijos, de samba, de paz, e de amor.

Beijar, sambar e pacificar. Tudo, tudo, tudo de bom.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Azul champagne

Rio de Janeiro,
Céu Azul
Um dia livre

Bem, o champagne está servido


Eis que nesta vida, vim carioca.
E os cariocas, já disse a gaúcha, não gostam de dias nublados.

Deprimem.

Hoje fez um céu azul lindíssimo,
desses que doem os olhos sem proteçao de um bom RayBan

Dias assim, de um azul assim,
deviam ser proibidos pelos conservadores reacionários.

Dias assim libertam.

E sinto-me absurdamente livre
em pensamentos e ações.

(Amplos pensamentos e pequenas ações)

Amy morreu,
Está mais livre também.

Dilma está no poder,
eleita pelo voto de um país que náo sabe ler
como votar sem ler?
e é louca e poderosa também.

Eu ouvi a filha do Guevara,
e ela jurou que há saída para o Brasil,
através da reforma agrária.

Assim sendo teremos famintos para sempre.

E dia adentro, madrugada adentro,
Estive cara a cara com a solidão,
e também ela pareceu-me ótima companhia.

Pessoalmente, mais um sonho de amor acabou,
meu dinheiro acabou,
já passo dos quarenta e certamente náo serei mais jovem
e matematicamente falando jamais serei rica.

Estou anestesiada?
Não, claro que náo, estou é livre,
livre de dores nesta vida,

e com uma vontade enorme de mandar o redator chefe do Jornal Nacional
plantar batatas

vontade de mandar os teólogos filósofos espiritualistas
catarem coquinhos no mato

eles e seus discursos falhos

E as pseudo atrizes maquiadas da novela das oito lavarem a cara
para mostrarem o botox torto
e as cicatrizes das plásticas.

Quero os defeitos
as qualidades hoje me parecem todas inúteis e falsas

quero as deformidades
as não conformidades

as infrações são de fatos mais sinceras
e mais lógicas que os padrões

brindemos aos comportamentos condenáveis.

- a sensatez hoje me parece táo insensata
- e pode ser que uma taça de champagne gelado me salve,
ou então, quem sabe, um minuto a sós, com Rodrigo Lombardi

domingo, 24 de julho de 2011

Vida longa a Amy

Oh no,
Do not rest in peace
I hope you rest in FUN

Amy não era Lady Di


Como
diz minha irmã - é preciso ter uma visão tridimensional.


Lamentamos, e muito, porque Amy se foi. Mundialmente afirma-se que foi vencida pela compulsão de seu vício, pelas drogas. Como tantos famosos, talentosos, e geniais (a genialidade traz em si, a inquietação), sucumbiu à sua fraqueza.

Nào aceito a afirmativa coletiva. Não vejo Amy como perdedora, em nada e para nada. Prefiro olhar de outro ponto.

Amy escrevia, compunha, cantava, e se drogava. Do mesmo jeito que tantos fazem sexo sem camisinha - porque há mais prazer. Sentirão mais, mais intensamente o prazer, e o sentiráo na pele. Risco? Sim. Prazer? Sim. As duas grandes adrenalinas, juntas, e de uma vez.

Suas composições, brilhantes, falam da vida underground. Flagram os rompantes emocionais dos que vivem à la gauche. Jogados, libertos, desprovidos, despojados.

Como cantar as rebeldias da alucinação sem alucinar-se? Como ser revolucionário sem revolucionar?

Sua arte era essa. Nào sonhos de amores, náo delírios de mocinhas inglesas que querem o príncipe do futebol ou do trono.

Seu discurso, queridos, náo era oco. Era transgressora mesmo. Essencialmente transgressora do dedão do pé ao último fio de cabelo. Da composiçao ao último trago. Do bikini frouxo e velho às montanhas de dinheiro que sua música rendeu.
Sua música. Seu trabalho. Sua vida.

Ouça Rehab quando ela diz que náo quer se reabilitar. Não perdeu batalha alguma porque náo quis entrar; curtia, e muito, se drogar. As pessoas que provam a droga se viciam porque há prazer em entorpecer-se; o ser humano tem reveladores lampejos de lucidez sobre si quando fora da realidade. Irônicas descobertas e possíveis aceitações após a quarta dose...

Amy entendeu-se nesta viagem. Quis ficar ruinzinha pelas esquinas, magra, anoréxica, sem dente. E vendendo 12 milhões de CDs.

E parando toda a mídia com suas aparições. E sendo amada e perdoada por fãs em todo mundo.

Amy não era Lady Di. Nào precisava da áurea pose britânica.

Amy era uma juncker, corajosa. Ofendeu o mundo e nossa sensatez. E nos encantou com tamanha exposição de hábitos condenáveis. Não tinha nenhuma vergonha de si.

Publicamente drogada, publicamente consumista, publicamente usuária.

Respeitemos sua vontade até o fim. Nada de coitadinha. Ela gostava e pagou para ver.

Neste momento está tomando um trago com Kurt Cobain. Botou o peito para fora com Cassia Eller, e por que náo dizer, canta Je ne regrait rien (não me arrependo de nada)com Edith Piaf. Nenhum arrependimento de ser o que se é.

Está fumando mais um com Bucowski, entre um Black Label e outro. Cumprimentou Elis Regina, bêbada e equilibrista Amy. E dançam, assim, meio cambaleantes, sob as guitarradas de Hendrix. E Cazuza quer mais uma dose, é claro que ele está a fim.

Deve estar rolando uma festa da pesada, ao som do soul das estrelas, e Miss Winehouse solta a voz explicando: You know that I'm no good. No, I don't want rehab.

O ídolo náo precisa ser um exemplo. Pode ser apenas um ídolo, adorado, cantado, e drogado.

Saudades, Amy, muitas, e que a nova vida te seja agradável.

sábado, 23 de julho de 2011

A Saudade no Facebook

A Terra do Mundo

Escrever diminui a saudade

"Saudade

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...
( Pablo Neruda)



Viva o Facebook, e Viva a loura amiga que promoveu esta semana uma discussáo sobre a saudade em sua página. Dez pessoas curtiram publicamente e acredito que outras cem tenham curtido secretamente.

Nào gostamos de curtir o que possa ser apontado como fragilidade. O facebook tem sido, para muitos, uma vitrine de suas virtudes. Que bom que somos todos assim tão felizes, e temos passeios, fotos, amigos, amores, programas, famílias, é incrível como formatamos nossa imagem pública.

Tudo errado. É preciso mostrar-se gente, senáo seremos azeitonas, iguaizinhas e separadinhas em vidros transparentes, rotulados para que ninguém compre gato por lebre. Repetitivas azeitonas em escala de produção industrial.

Vou sair do meu vidro e meter minha colher nesta panela e manifestar-me. Saudade é teimosia.

Sim. Se temos saudade de um ser que está vivo, estamos teimando.

Não há nesta Terra, neste mundo globalizado, motivos de afastamento. Nem quando náo havia internet, as pessoas enviavam cartas, cartas lindas de amor, de amizade, diários mínimos da rotina, fatos, recortes, fotos.

Hoje temos internet, telefones, rádios, passagens aéreas acessíveis, albergues que hospedam barato. E temos cartões de crédito se quisermos nos hospedar caro.

Hoje temos estradas, terrestres e virtuais. Aéreas. Construídas pela vontade poderosa de simplificar as distâncias. Temos pontes, inclusive submersas e secretas.

Hoje há a palavra livre de imposições. Livre de censuras. Conquistamos o poder de amar seres de outras raças, outras classes sociais, outros estados civis. Somos livres e estamos no exercício da liberdade.

Ninguém está preso em lugar indisponível. Incomunicável. Está lá porque quer. Porque se colocou lá. Infantilmente lamentamos a ausência de uma criatura que poderia muito bem estar ao seu lado, poupando-lhe desta dor.

Saudade é teimosia do pensamento, chefe do coraçao. O coração só sente o que a cabeça pensa.

Tive um professor que explicou isso magistralmente. Afirmou, do alto de sua sexagenária sabedoria, que as pessoas inteligentes só abrigam no coração os sentimentos filtrados pela razão.

E depois de tudo dito, percebo que sou teimosa. Ou que náo sou inteligente.

Ainda há a terceira possibilidade: o filtro de minha razão está demasiado aberto, e a saudade transbordou.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

A ametista de Rodrigo Lombardi

Rio de Janeiro
O Astro
O Ator

No banheiro com Rodrigo

O casal mais invejado do momento, Rodrigo Lombardi e Carolina Ferraz, com todo o respeito


Resisti o quanto pude, mas não posso mais. Eu me permito: estou louca por Rodrigo Lombardi.

Minhas amigas estão loucas por ele. Minha mãe está louca por ele. Minha vó, se estivesse viva, estaria louca por ele. Minhas amadas amigas gays confessam que podem ficar loucas por ele a qualquer momento.

O que ele tem? A testa é grande, o nariz é mal feito, rugas pelo rosto.
O que ele tem náo é físico; é o CONVITE, o convite ao sexo e ao prazer está estampado no seu olhar. Escutamos o PEDIDO no som da sua voz. Nada de bonitinhos fortinhos bombadinhos produzidinhos. Estamos falando do latino que arrasta uma mulher para a cama em dois minutos. Derretida e implorando por isso.

E esse homem está na Tv. Encarnou mocinhos bonzinhos e galãs, personificou o príncipe. Em Passione, um porte de dar gosto diante da decepção. A impecável firmeza de caráter a toda prova, na alegria e na tristeza, na tristeza do amor perdido, e a confiança no amor que sobreviverá. A vontade de mais.
Mayanna Moura, a Melina, era louca por ele

Incorporou o extravagante e elegante indiano Raj, com quem nos casaríamos mil vezes, alegre, família, gostoso, rico, bem sucedido. Adorava ir para o quarto dançar com sua amada. Tão feliz e tão enganado, amando seu filho que era de outro. Torcíamos por ele, queríamos que tudo ficasse bem para ele, que o Bem triunfasse em sua vida oriental.

Agora ele vem meio cafajeste, e continuamos a torcer por ele. Herculano Quintanilha. Mente, oculta, planeja. Piorou para gente - nós brasileiras não resistimos a uma pitada de cafajestice. É o deslize fatal, caímos mesmo nesses braços. Há uma certa habilidade na cafajestice, e o homem hábil que tem o controle da situação, esse diabo é sempre mais sedutor. Queremos, desesperadamente, ser controladas por um belíssimo de um cafajeste. Poderemos alegar inocência e nos vitimizar à vontade, aliviando a culpa por desfrutar de tanto prazer.

Ferraz e Lombardi, Herculano e Amanda,apenas

Basta entrar em cena, a cena é dele, a situação é dele. Os quadris de Ellen Roche passam desapercebidos. A boca de Aline Moraes fica pequena. Até a monumental Juliana Paes parecia uma inofensiva menina a seu lado.

Todas nós espectadoras invejamos suas parceiras - lembram dos beijos com a miúda Carolina Dickmann? - e agora a imperdoável Carolina Ferraz. Essa sim, é parceira à sua altura, e com quem a química me parece muito mais forte.

Essa mulher (magra!) é um capítulo à parte. Digo, porque vi, que é muito mais bonita pessoalmente. Tal qual la Brunet : bonitas na tv e em fotos, e deusas ao vivo. A fotogenia não traduz a amplitude de seus encantos. Tem algo do outro mundo, como descidas de Vênus, intergalácticas, sobrenaturais, uma beleza inexplicável e hipnótica.

Rodrigo Lombardi tem o desafio de resistir a esta dama, em meio a lençóis, areias, e... no banheiro.

A cena do banheiro simplifica toda a arte da sedução.
Quer? Pegue. Deseja? Tenha. Goze.

Sem lero lero nem vem cá que eu também quero. Sem muito assunto.
Hoje as coisas estão muito enjoadas, picuinhas, discussões, magoazinhas.
Discute relação, você me magoou, vou dar uma de gostosa. Chegou com essa história, esse molegontengo. O homem entrou e resolveu a situação com um piscar de olhos. Essa situação em rede nacional mostra por A mais B que não é rapidinha, papai mamãe, não tem receita. O que a mulherada quer é a pegada do macho.

Somos chefes, somos empreendedoras, somos mães, somos gente boa, mas somos fêmeas e queremos que nos arranquem o melhor orgasmo do mundo do fundo de nossas entranhas. Olhando nos nossos olhos.

Rodrigo Lombardi devia ser proibido. Faz a gente pensar que não viveu direito, que fomos enganadas até o momento, tudo que fizemos até agora foi brincar de salada mista. A gente olha então para o lado e vê o marido que está cansado. Que tem 120 anos de amargura. Que só fala alto para pedir um chopp ao garçom. Que te engana vizinhança afora. Ah, meu Pai.

Quem quiser que diga que enlouqueci, perdi a razão. Qual a mulher se mantém comportada mediante tal exemplo de atuação? Aquilo é que é homem, gente.

É meninas, ele é o Astro. Que ametista. E estou na fila do banheiro.

O Astro

terça-feira, 19 de julho de 2011

Do facebook para Salvador

Rio de Janeiro
Salvador
Ipanema, Ondina, Pelô


Duas baianas e um vatapá


A amiga de uma amiga de uma amiga de uma amiga me contou.

Preciso repassar.

O sujeito era um mulherengo daqueles. Incorrígivel. Casado com santa senhora,
uma lady. A santa dentro de casa, a fuleiragem na rua.

Mas a rua tem esquinas e nem só de fuleiras vivem as esquinas. Tem gente interessante pelas esquinas, e ele interessou-se.

A coisa foi. Mês, dois meses, três meses, quatro meses. O sujeito exausto. Sai com uma à noite, boemia, shows, gafieiras. Sai com a santa de dia, almoços, exposiçoes, cineminhas. O fôlego do rapaz é monumental. Gosta do esporte e o pratica com vontade.

O sujeito exausto. Uma quer múltiplos, sucessivos, variados. No Rio, em Búzios, nos táxis. Mete a mão por suas calças, abre botóes, zípers, abre sua boca, quer sua língua. Quer mais dele, mais do desejo, mais da vida.

Dá trabalho.

A outra, bem, a outra quer edredon.

Uma esquenta e a outra devora.

Bem, a coisa tem limite. Na nossa sociedade, o limite é próximo.
Muitas redes sociais, e nada como um olhar treinado e murais destravados para derrubar os limites. Fotos abertas, comentários compartilhados. Amigos de amigos de amigos e vai indo. Quem procura acha, quem acha se assusta.

Quem se assusta, grita.
Horrível isto de flagra on line. Era melhor à moda antiga, detetives, conspirações, surpresas. Podia-se dar uns tapas na criatura, puxar cabelo, desmaiar.
O bom de ser traída é poder fazer escândalo. Acusações de cafajestice, empurrar toda a culpa para o outro, ser a vítima, injusta e inocente vítima.
Uma outra opção é olhar friamente e ir embora, no salto. Interpretação perfeita para Bergman, para Deneuve. Que oportunidade para imitar as divas da dissimulação numa cena dessas.

Hoje o texto é outro.

" - Fulano foi tagged com outra no Face.
- Mentira! Mas como ela soube?
- Futucando no face, filha. Chegou nas recents activities... Fulano commented on photo... e aí foi. O wall estava aberto...
- Com AQUELA?
- Sim, AQUELA que vimos com ele.
- Vixe, mas aí nem precisa de facebook..."

Reconheçamos: perde-se um pouco da encenação. Flagra on line é muito contido, em inglês, língua culta. Certas situações exigem belos palavrões em português.

Para piorar, seguiu-se para o tal do Messenger. Quem nunca recebeu isto? É a pimenta do Face. "Fulano sent you a message on Facebook." Você corre na hora para ver o que é. É um alerta, um sinal de perigo, talvez  MENSAGEM, que remonta à REVELAÇÃO. Sabe-se na hora que é coisa séria. Talvez sobrenatural.

Tão eficaz. Incisivo. Era ler e entender. Efeitos: choros, desatinos, vinganças.

No que deu? Salvador. Ele fugiu. Náo aguentou. O sujeito largou as duas e se mandou para o Pelô.

Deve mandar um postal, ou uma messagem dessas no Facebook, a qualquer momento, para a amiga da amiga da amiga da amiga da amiga da amiga. Depois de se conectar de novo, claro.

Porque quem é do mar, náo enjoa. Ou muito me engano, ou o camarada já está por lá com duas baianas.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O Gatilho da Mentira

Himalaia
Ponto mais alto do mundo
Onde só há gelo
ecos
silêncios

" - Verdade?", Perguntei.
O Eco disse náo náo náo não não não náo náo náo náo náo



Nobres sentimentos esses que nos ensinaram, nas aulas de catecismo, nos livros, nos filmes, nos cursos qualificadores. Temos nossos certificados.

Aprendi a ser analítica, sensata, comedida. Ser lúcida e tomar decisões racionais. Medir probabilidades, resultados. Providenciar soluções.


Blá, blá, blá.

Inúteis aprendizados perante a mentira.

Diga-me a verdade
a dura e amarga verdade mil vezes ao dia.
Justifique, explique, mas fale a verdade
nua, crua e doída.

Para a verdade tenho os certificados, válidos, em dia.

Nunca para a mentira.
Diante da mentira sinto raiva do covarde
(ocultar a verdade é uma grande covardia)

E sentindo raiva, perco o juízo,
e desajuízada entendo os juízes, e suas atenuantes do Código Penal
que diminuem anos de prisão para os assassinatos acometidos por estados de profunda emoção.

Para uns será um flagrante adultério que dispara o gatilho,
para outros o abuso, a grosseria.
Assalto a mão armada, ou furto, o gatilho varia,
mas há um estopim,
e há a bomba. A pólvora e o pavio.

Para mim, senhores, é a Mentira, a arma que atira no meu pé,
e eu grito.
A faca que apunhala,
e com sua lâmina fatalmente me firo.

Tomada de fúria faço loucuras, quero vingança,
quero desaventurança,
varrer a raça, varrer da planície toda a raça,
quero o mundo vazio.
Prefiro.

Furiosa e impotente, pesada e obesa impotência que acompanha o oprimido
furiosa e enlouquecida,
Montanhas de gelo acima e mares salgados adentro,
Repito que náo há opressão maior que a Mentira.

Ironicamente, tal qual sua inimiga, a Consciência,
a Mentira chega tarde, chega atrasada,
e encontra sua vítima, irremediavelmente, sozinha.

- viva o Himalaia, e suas montanhas geladas,
só de ecos, e de palavras sem teor
sem verdade, nem mentiras

domingo, 17 de julho de 2011

Até tu, Chokito?

Orla
Rio
Mar



Cachorrices



Impressionante. Os hormônios masculinos transcendem a espécie.

Homens e cachorros. Machos bravos.

O cachorro em questáo chama-se Chokito. Bravo igual o cão, é o trocadilho em carne, osso, e dentes afiados. Recebido com carinho por sua família humana, apresentou desde os primeiros dias um comportamento selvagem.

Não suporta pessoas nem cachorros. Avançou em todas as pessoas da casa e em todos os caninos do prédio. Aproxima-se de qualquer ser vivo latindo e mostrando as garras. Assustador. Passa metade da vida trancado, a outra metade com focinheira. Elevador nem pensar. Atacou vizinhos, crianças, idosos. A família sofre retaliações. Apareceu distinto senhor tencionando adestrá-lo; sua técnica era a de Pavlov, a dos choques na incidência de desobediências. O voluntário foi expulso a gritos por sua dona, transgressora, rebelde, que jamais apoiaria tal coerção.

Bem, a vida segue. Eu, particularmente, invejo Chokito. Identifico-me com ele.
Há dias em que náo suporto a voz humana. Não suporto os próximos nem os distantes; mas não tive sua sorte, de nascer, crescer e viver em um ambiente que preserve minha ferocidade e meu espaço. Chokito, é em sua essência, feroz, como somos todos essencialmente ferozes. Nós, porém, fomos adestrados a choques pelos fiéis seguidores de Pavlov.

E é isso. Chega visita, tranca-se Chokito. Chokito no carro, ninguém entra. Chokito preso na varanda late até que o salvem, e olhem que a vista da tal varanda é paradisíaca. Atacou um desafeto de sua dona, arrancando sangue sua mão. Passeia três vezes por dia, sob gritos de sua curadora, que avisa aos passantes que seu cão ataca. Corajosa que sou, junto-me a essa dupla, e vamos pelo calçadão de nossa Ipanema afora, só para espantar os nativos ipanemenses que pacificamente fazem sua caminhada matinal. Tudo igual. Chokito é contido a puxões, a escandâlos, promove o pânico, desconhece etiqueta, e ameaça os comportados animaizinhos de Ipanema e suas dondocas.

Mas de repente
Nào mais que de repente
Eis que ao longe vem surgindo uma cachorrinha.

Chokito, o herói da resistência, sucumbe. Atende prontamente ao seu instinto sedutor e imóvel, permite-se cheirar. Cheira também. Cafunga com vontade. Pescoço com pescoço, afagam-se. Escuto California Dreamings on such a winter`s day como sonoplastia, afora o som delicioso do mar. A fera senta-se nas patinhas traseiras, olhar simpático. Sereno e suave. O momento de carinho prolonga-se. Chego a pensar que vai pedir um chopp.

Ai, Chokito, até tu. Sem vergonha. Não nega tua raça de macho. Ao mundo, o mau humor e a raiva, a revolta, o destempero, as vontades prontamente atendidas, sob pena de vinganças cruéis.

Ao objeto de desejo, assim que o avista, o charme e o veneno do macho brasileiro.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Móveis Novos

Rio de Janeiro
Lapa, Sacrilégio,
boa e velha Lapa

Vamos mudar tudo de lugar


Há tempo estou para contar essa história,
mas tudo tem seu tempo certo
e é um sacrilégio sabotar o sábio relógio do tempo.

As pessoas saem do Brasil para o mundo,
mas voltam ao Brasil,
e voltam a Lapa,
e encontram pessoas que nunca saíram do Brasil,
mas conhecem o mundo,
e a boa e velha Lapa.

E se encontram como boas e velhas conhecidas,
mas se conheceram há minutos.
E entre palavras e músicas,
descubro que minha nova amiga gosta do meu blog,
porque gosta da forma como arrumo os móveis.

Essa imagem intrigou-me.

Dias e meses passaram, e os móveis realmente mudaram de lugar.

Sim, as idéias são móveis, as palavras tem movimento, os sentimentos se aconchegam pela casa.
São sofá para o conforto, e mesa para as refeições.
São a luz exata do abat jour para a leitura.
O espelho para a vaidade.

As idéias são cama para os amantes,
visíveis filmes pornôs para as paixões.

Arrumo as palavras junto com as idéias,
em gavetas escondidas, ou cristaleiras abertas.
Conforme a censura,
ou a clausura que as cerca.

As palavras são todo meu conforto,
o meu único porto seguro
neste bom, velho e conhecido mundo.
São meus móveis, e eu os arrumo desarrumados
Surrados,
desbotados,
no entanto cheiram como novos.

Há dias em que as cadeiras e mesas estão de pernas para o ar,
as janelas ostentam cortinas escancaradas.

Dias impecáveis em que posso abrir portas e convidar
a fina flor da sociedade carioca.
Receber com orgulho e orquestra em black tye,
Entrem, dancem, o salão está encerado,
e a mesa está servida.

Eis que vem os dias tristes, sós, escuros, vazios, em que não há móveis,
Só paredes nuas e descascadas cercando e sombreando o chão frio.
Dias sem visitas que demoram para passar.

sem plantas sem quadros sem canções
sem almofada nenhuma

É isso mesmo, sou assim mesmo,

Preciso de espaço para palavras móveis e idéias fixas.
Para mudar a pesada estante de lugar,
para lavar lavar a roupa suja,
rasgar decorações e assistir, desesperada,
mais desmoronamentos.

Hoje é um dia diferente. Saiu o caminhão da mudança.
- Quero outra cor nas paredes e uma mobília novinha.

Para Flavia Enne, pássaro brasileiro,
aniversariante de hoje,
com todo o carinho

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O Aprendizado

Rio de Janeiro
dia após dia


Desistir e seguir


Crescemos desejando fortemente o Amor. Está no nosso DNA.

Brincamos de casinha: " - olhem bebês, Papai chegou!" Assistimos Cinderela, Branca de Neve, Bela Adormecida. O momento mais feliz das mocinhas é quando chega o príncipe.

Esperamos alguém para Amar; zelamos pela relação, pela continuidade. Somos condescentes, compreensivas, criamos situações de favorecimento a sedução, ao diálogo e a harmonia. Cedemos, compensamos, dividimos.

Ah, sim, o sexo. Grande arma. Alimento para a libido, para o ego, para a auto-estima. Caprichamos bastante neste quesito também.

Mas há o inevitável momento em que nada adianta. Nada resolve. Ser alegre, gentil, carinhosa; ter sua individualidade, sua independência, seus sonhos. Qualidades vãs, e defeitos notados. Não há o que conquiste o coração do ser Amado.

O que aprendemos e praticamos não surte efeito. Como assim????
Bem, mudemos de abordagem. Retrocedamos para ganhar fôlego.

Lembramos de tudo que está em jogo e batalhamos mais um pouco. Desesperar jamais e não vamos entregar os pontos, não mesmo. Fortalecemo-nos na ilusão, amarga ilusão, cujo efeito maior é prolongar a ansiedade e esticar a corda até que possa dar a volta em seu próprio pescoço.

Um coração que não deseja ser conquistado, não o será. É um muro. De Sartre, de Berlim, das Lamentações, a Muralha da China, todos esses num só. É O Muro.

É preciso então, ser sábia e desistir. Ou deixar-se ferir indefinidamente. Ou sentir uma solidão que corta o peito e a madrugada. Ou sentir-se à mercê do outro. Ou magoar-se, dia e noite, dia após dia, noite após noite.

O bom técnico joga a toalha antes do boxeur apagar. O inteligente coach tira o jogador de campo enquanto está bem, muitas vezes após ter atingido sua melhor performance. Percebe que não se manterá neste alto nível e o poupa da exposição de um rendimento inferior.

No amor, no esporte e na guerra, sobreviver é uma questão de desistir na hora certa.

Isso sim, devíamos ensinar às nossas meninas: Ame na medida do possível. Na medida do impossível, desista. Deixe, prossiga.

Essa história de morrer lutando, queridos, é só para a revolução. Para o campo minado do amor, a estratégia honrosa, muitas vezes, é bater em retirada.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

A sandalinha branca

Rio de Janeiro

Infâncias

Que lindas eram as sandalinhas...

Ai, lá vou eu e as histórias das minhas amigas.
Mas essa é especial. A mulher é um baú de raras qualidades. Educada, sincera, delicada, engraçada.

Espantei-me, quando em conversa mais particular, confessou-me que sua infância foi marcada por agressões. Emocionada, mencionou que em um foto do colégio aparece com o olho fechado, machucado por um sapato, sim, um sapato, que o pai usou para atingí-la.

Assustei-me. Acrescentou, com voz doce e mansa, que seu pai era alcóolatra, batia nela, no irmão e na mãe.

Admirada pelo equilíbrio e serenidade de seu temperamento adulto, espantei-me, pois acredito que tais violências deixem marcas insuperáveis, talhando com agressividade o comportamento humano. Nada disso. A moça mantém-se gentil, e firme, sob pressão e provocação. Não porta traço algum de vinganças e revoltas. E mais, cuidou com carinho deste pai até o último de seus dias.

Sei que o único elemento possível de cura das mágoas reside no afeto. Mais que educação, terapias e tudo o mais, para uma criança que foi tratada a pancada, um carinho vale ouro. Um beijo e um abraço para essas vitimazinhas vale mais que um remédio.

Indaguei:
"- Amiga, o que guarda de bom de teu pai?"
Seu semblante iluminou-se.
" - Ah, amiga, o dia em que ele me deu uma sandalinha branca. Eu estava de mãos dadas com ele, em Madureira, tínhamos ido resolver alguma pendência ali, sei lá, e eu vi a sandalinha em uma loja. Ele entrou, comprou e me deu. Fiquei tão feliz. Calcei-as imediatamente, e usei até que ficassem muito pequenas. Guardei-as anos a fio" - e ela repetiu, suspirando: " - Como eu gostava das minhas sandalinhas brancas..."

Nào estou aqui para afirmar, sequer de longe, que um presentinho compense a agressão. Especificamente há uma particularidade, a ser estudada aí pelos psicológos. Ela lembra da agressão com um sapato e de uma sandália presenteada, objetos de uso equivalente. Curioso. O que fere, consola.

Estou aqui para afirmar, caríssimos, que uma ação sincera e despretensiosa (talvez apressada) pode ter efeitos balsâmicos para uma criança. O inocente coraçãozinho infantil enxerga carinho e afeição em gestos simples e espontâneos.

É mais fácil do que parece e faz toda a diferença.

Se nós, burros velhos, castigados, surrados, e céticos, nos consolamos com um sorriso e uma palavra de carinho, e nisto muitas vezes nos agarramos para seguir adiante, imaginemos o que o mesmo sorriso pode significar para uma criança. Pode significar que é amada. Pode fazer desta criança um adulto melhor.

Para minha amiga, fica o beijo especial.

Com os demais compartilho o que aprendi com suas sandalinhas brancas - no campo do sentimento não há irrelevâncias.

Nào há presentes caros e baratos; escolhidos a dedo ou na correria. Não há gestos a subestimar. Do mínimo ao máximo, tudo é muito bem vindo, e tudo, tudo tudo conta no balanço final da nossa vida.

domingo, 10 de julho de 2011

Gelatina

Copacabana


Sirva-se



Estar de repouso é complicado. Complica sua visão dos fatos.

É tudo tão bom quando estamos passeando, fotografando, felizes mundo a fora, ou ao menos distraindo-nos. Escolher um passeio, um programa, amigas, filhos, o que for e desfrutar. A vida fica melhor.

Fique em casa. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito dias.
Fique imóvel, ou quase.
Filmes, livros, reflexões.

O perigoso caminho dos questionamentos - questionar-se é sempre tão doloroso.
Caminho tortuoso o dos pensamentos.

A identidade é reafirmada pelos hábitos, não pelos pensamentos. Os pensamentos podem ou náo mudar seus hábitos, mas novos hábitos certamente mudarão sua identidade.

E a verdade muda de forma. Firme como rocha, esmorece.

O que era claro, escurece, e o que era oculto, mostra-se.

O que afirmava sobre mim, agora paira como interrogação. Não tenho mais algumas respostas que estavam na ponta da língua.

Engoli-as. Indigestas verdades.

Penso neste momento que a verdade é gelatinosa, inconsistente,vulnerável.

E tal qual a gelatina Royal que se compra por centavos no mercado pode ser linda, colorida, transparente, brilhante, mas tem medidas exatas para que seja assim. Um copo d'água a menos, endurece demais. Um copo dágua a mais, desanda. Mesmo que se tente salvar a receita com iogurte, creme de leite, leite condensado, lo que quieras, não é mais possível, a mistura de ingredientes não funciona, a consistência perdeu-se, a receita náo deu certo.

Come-se assim, ou joga-se fora a gelatina.

A verdade é uma receita simples, e precisa. Mínimos detalhes - nem sempre sob nosso controle - mudam definitivamente a sequência e o sabor dos fatos.

sábado, 9 de julho de 2011

A trapaça, ôôôps, um dia de Sol

Rio de Janeiro,
Terra Adorada,
EUA, Grécia Antiga


Vamos resistir à tentação

Giges, o pastor, e Candaules,a rainha, de Jean-Leon Gerome

Estou de molho. Repouso. Pé torcido.
Ler, ler, reler.
Releio com atenção redobrada o espetacular FREAKECONOMICs, de Levitt e Dubner, dois jovens economistas norte americanos, corajosos o bastante para derrubar as teorias sócio-econômicas facilmente aceitáveis. Encaram a economia sob o prisma humano: o comportamento individual que se multiplica pela sociedade afora, e impacta em perdas ou ganhos, em aumento ou diminuição da criminalidade, e modificações na legislação. Muito que bem. Até que chego ao capítulo onde os autores dissecam pesquisas e relatórios que provam, por A + B que somos todos, trapaceiros em potencial.

Haja a oportunidade, a invisibilidade da ação, o faremos. Ser flagrado apavora mais que ser punido; o flagra é imediato e indiscutível. A puniçao pode ou não ocorrer em virtude de influências, escolaridade, e por aí afora. Sabendo que seremos pegos no ato, náo fazemos. Em contrapartida, o medo de ser preso náo inibe nosso bicho homem, acostumado a livrar-se dos ditames legais.

Entáo mentimos. Mentimos nas pesquisas de opinião, para parecermos politicamente corretos, mas não mantemos as manifestadas preferências nas escolhas de parceiros, amigos, e lugares que frequentamos; professores roubam nas respostas dos alunos, para que as instituições onde lecionam tenham resultado superior ao real; diretores e executivos roubam broas do lanche e presentinhos dos funcionários, e abusam do plano de saúde da empresa, por acharem que tem direito a isso. Os órgãos estatais mascaram as pesquisas e levantamentos de dados a fim de evitarem mudanças drásticas nos planos de governo.

A verdade dos fatos é a que nos convém, seja por interesse financeiro, bem estar, auto estima, aceitação social ou comodismo.

Estamos longe de sermos tão éticos quando professamos. Seremos criteriosos até que nos prejudique ou até que descubramos que trapaceando, ganharemos mais, com menos esforço e investimento.

Triste, tristíssimo, mas sempre foi assim, desde a Grécia Antiga. O mesmo livro lembra o mito de Gyges, o pastor, que encontrou um cadáver em uma caverna. Rouba-lhe o anel. Começa aí sua saga de desonestidades; o anel confere a invisibilidade, e uma vez invisível nosso Gyges faz miséria. Rouba, mata, engana, espiona, apropria-se, enriquece, enfim, cumpre a lista da marginalidade. Finda por seduzir a rainha e assumir o trono do país, supostamente a atual Líbia. Vejam bem se há mentiras ou fantasias nisso. Quantas vezes pensamos: "eu queria ser uma mosquinha para saber se fulano está no trabalho mesmo..." ou " quando ele desceu para comprar pão, vi que seu mail estava aberto. Li tudo. O canalha tem outra"..."passei pela sua mesa, a agenda estava aberta, vão almoçar juntos sim, te disse, sáo gays, tem um caso, esqueça sua promoção"...

Poderia eu aprofundar-me mais no tema vil. Tantos exemplos e situações que confirmam minha teoria, que ser ético, ou melhor, parecer ético, está na moda. Por isso levantamos essa bandeira. Só por isso. A moda e a aparência da correção, essas sim, definem nosso comportamento social. Na intimidade, e na prática, queridos, a conduta é outra.

Mas não sigo mais nesse assunto hoje náo.

Chega de mentirinhas e mentironas, de enganações, de tramóias. Chega de dores várias.

Está um lindo dia de sol e sou carioca. O clima influencia-me diretamente. Minha vontade hoje é a de Beto Guedes - "fazer agora uma canção alegre, brincando com palavras simples, boas de cantar"...

Queria, quero, tenho palavras alegres para esse mundo egoísta e corrompido.

Há Sol, há vida, há esperança. Há Drummond, de óculos, à minha espera no calçadão, e simplesmente estar simbolicamente a seu lado ( em belas manhãs ou frias madrugadas), espantará para longe de mim, reles mortal, as tentações de também trapaçear nesse planeta.
Drummond, me espere!!!!

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Acharam Juan e perdemos todos

Rio de Janeiro,
lamentável Rio,
lamentáveis notícias.
Lamentáveis Príncipes

Eu quero outro Brasil

Nós o colocamos aí



"Perdemos o que ainda havia de confiança.
Quando dizes que não, eu duvido.
Se vais, náo sei para onde nem a custas de quem.
Quando dizes que farás, e o quê farás, não aposto.
Quando dizes que é pedra, é barro,
e quando afirmas que é água, é ouro."
.


Este podia ser o discurso de um amante traído.
De um fim de relação.
Náo é. É do coração do brasileiro, enganado pelo seu Estado Democrático.

Perdemos a confiança no voto. Lutamos, tenazmente, para conquistar o direito ao voto.
Universal. Universal confusáo, esta em que nos metemos.

Votamos para decepcionarmos-nos, tão somente decepção e corrupção.

Perdemos a confiança na Polícia. Nos Hospitais, pelos seus erros médicos, pelas falcatruas com remédios e equipamentos.

Nos legisladores, que legislam para sua classe.

Nos bueiros, que parecem fechados, mas explodem e ferem.

Nas màes e pais, que deviam cuidar e zelar e prover, mas abandonam e surram e privam de alimento, de amor, de orientação.

Não cremos mais nos peritos técnicos, concursados, juramentados. Depositários de nossa atenção, convenciam-nos dos fatos com clareza e precisão. Estavam acima de qualquer suspeita e esclareciam casos insolúveis.
Agora náo mais. Náo sabemos se mentiam antes, quando afirmaram ser de uma menina o corpo de Juan. Não sabemos se mentem agora, pois a pressáo é imensa e tem que aparecer um corpo.

Falham em suas especialidades.
Falham em suas juras.
Falham em seu caráter.
Sucumbem.

Falham, e não podiam. Não os peritos. Não os especialistas. Uma sociedade organizada conta com seus especialistas. Conta com seus líderes, para que garantam o bom andamento e a correta prestação dos serviços públicos.

Coitados de nós, liderados por péssimos Príncipes. Falham estrategicamente.
Escolheram uma péssima tática de dominação, a falta de tática. Querem unicamente encher seus bolsos.

As grandes tiranias da História do mundo tiveram o cuidado de manter o populacho satisfeito, com pão e circo. Com brioches. Com monarquias reluzentes para serem adoradas e temidas. Com espelhinhos para os índios, e promessas de salvação eterna para os fiéis.

Os Príncipes são cínicos. Faz parte. Mas há o entendimento (ou devia haver) de que o povo precisava iludir-se. Precisa existir essa parca preocupação: manter outrem iludido para manipulá-lo. Discursos falsos, interesses econômicos, mínimos ganhos superficiais, demagogias, o que for, mas manipular exige algum esforço dos Estadistas. Exige moeda de troca. Acreditar exige convencimento, ainda que ínfimo.

O desrespeito, para manter-se, exige uma gota de respeito.

No Brasil, em 2011, não. Sem gotas, a seco mesmo.

Salve Zagalo - o melhor Príncipe do nosso século - nosso povo precisa apenas engolir.

domingo, 3 de julho de 2011

Onde está Juan

Quem tem o mapa de Nova Iguaçu?
E Juan, onde está?
Você sabe?


"Rio - Técnicos da Polícia Civil realizaram, nesta terça-feira, perícia para averiguar o que pode ter causado o sumiço do menino Juan Moraes, de 11 anos, que desapareceu há oito dias, após tiroteio entre policiais militares do 20º BPM (Mesquita) e um traficante na Favela do Danon, em Nova Iguaçu." ( O DIA )


"Polícia, para quem precisa
Polícia para quem precisa de Polícia?" (Titãs)


Eu não sei.
Você, caríssimo, sabe?

O menino Juan, de 11 anos, com certeza, onde estiver, talvez possa dizer.
Seu irmão, de 14 anos, baleado, em estado gravíssimo também.

Mas eu, queridos, eu só sei que Juan desapareceu. Sua existência não era suficiente confiável, devia ser um traficante perigosíssimo. Ele e seu irmão.
O tráfico devia render-lhe fortunas, por isso morava numa favela em New Iguassu, e usava um chinelo da mãe.

E a Polícia, cumprindo o especial dever de caça aos criminosos, os mais terríveis, deve ter atirado neste menino de 11 anos, pobre, negro, favelado, que sequer um chinelo de seu tamanho possuía. E em seu irmão, de 14, que evidentemente era o cabeça da organização.

A delegada responsável afirma que 38 polícias foram interrogados. Beltrame afirma que se houver envolvimento de funcionários públicos todos seráo punidos exemplarmente. Buscas, cães farejadores, uniformes pela mata. Eles estão apavorados. Sumiram com a loura dentista na Lagoa da Barra e agora sumiram com o negro infante da favela. Párem. Vão encontrar mais do que procuram: já achararam o corpo de uma menina de 11 anos, em decomposição.

A criança da favela é sobrevivente de guerra. Sobrevive a fome, frio, sujeira, doenças, torturas físicas e mentais. Foge de balas e de ratos. Foge de metralhadoras, de alagamentos, de tarados. Foge em desalabada carreira, da Polícia.

Foge de seu presente cruel e de seu futuro assustador.

Esse Juan pequenino me apavora. Lembra meu filho mais velho, que recebeu em batismo um nome espanhol para um pedaço de brasileiro. Tem o mesmo marrom da pele e os mesmos olhos negros. Mas nossa sociedade determina o destino de seus cidadãos pelo ponto geográfico onde nascem e Juan, nascido assim condenado, náo teve a sorte de meu Pablo.

Aguardei os jornais de hoje com a esperança, vã, que Juan tivesse sido encontrado. Construi, na minha mente materna, a idéia de que uma família o tivesse secretamente socorrido e abrigado; outra idéia, mais possível, é que seu corpo fosse encontrado e o menino tivesse ao menos um enterro, já que todo o resto náo teve. E sua mãe, que chora e treme e está amparada por ONGS e Defesas Humanas, substituísse o peso do desespero pela punhalada da tristeza. Mas as Ongs e Defesas Humanas apareceram tarde. A Policia chegou primeiro.

Procurem Juan no Céu. É onde deve estar. Segundo as sagradas escrituras, o Reino dos Céus é reino dos bem-aventurados, dos sofredores, dos injustiçados, e dos que choram.

Nota: Horas depois deste post, o Fantástico reproduziu, em rede nacional, o testemunho do rapaz Wanderson, de 19 anos, trabalhador, também baleado, e que afirma ter visto a polícia atirar em Juan. Narra que o pequeno caiu, brutalmente ferido. Os quatro policiais envolvidos estão afastados, e dois deles respondem por homicídio qualificado e resistência, por eventos anteriores a esta emboscada.
Tenho portanto, como certo, que Juan está no Reino dos Céus, e torço para que lá, entre anjos, seja mais feliz.