segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Mind the Gap

Rio
Imenso Rio
Imenso Vão
"Sua segurança também é sua responsabilidade"


´"Mind the gap" (Cuidado com o vão) é uma advertência para o comboio de passageiros, pois por vezes há uma vala entre a porta e a plataforma. Foi introduzido em 1969 pelo Metrô de Londres.´ (Wikipedia)

No, gentlemen, it´s more than that. Much more.

Amo os ingleses e sua música, e sua loucura. Sua sensatez. E sua advertência - cuidado. Há um vão.

E ingleses e brasileiros avisam: não coloque o pé ali. Não se deixe derrubar.

Sem cuidado você cai, cai vão abaixo, vão adentro. Cai e some; do movimento para o porto seguro, na chegada ou partida, na transição do status do seu ser, há um vão. Vão. Não vão. Fique. Espere. Vá.

Atenção - há uma fenda quase secreta para um território misterioso; tão discreta que é preciso alertar. Sem vigilância o perigo íntimo torna-se público. Espalha-se. Pulveriza-se, imperceptível, entre nós, os senhores passageiros deste comboio, de ignorado destino. Devemos evitar esse engano; não se engane. Há um vão.

Passe por ele. Seja rápido, preciso, e não olhe para baixo. Deve-se avançar com decisão. Pay attention. Não pise em falso, pelo amor de Deus, não dê esse mole. Só um passinho, só um pulinho. Pronto. Pisou de novo em solo seguro. Adeus, Vão.

Um segundo de desmazelo, e distraiu-se, não viu, não mediu a distância, errou por pouco, ai que pena, basta tão pouco para que tudo desça vala abaixo. Nem pense que é estreito demais para você; vão é vão, e caberemos todos, inchados pelo nosso orgulho ou esvaziados pela desconsideração. Nem pense que está protegido. Pobre ou rico, o vão é democrático e não quer saber de seus rendimentos. Se estiver perto da linha de segurança está por um triz, porque perto do limite, a tolerância é menor; prazos menores, tempos menores, riscos maiores. Perigo progressivo. Fique portanto, atrás da faixa amarela. É mais prudente.

Essa é sua parte - manter-se na área de controle. Não deixe que te empurrem. Tome conta de seus pés. Do que carrega consigo. Que nada te prenda e impeça seus movimentos de salvação. Tenha-se sob seu próprio domínio. Sem tropeços e sem atropelos.

Se ficou para trás da multidão, é passada a hora de ter sido mais atento. Babau. Devia ter se cuidado - o alto falante avisa telepaticamente que você também é responsável por sua segurança - devia ter olhado onde pisa. Onde se mete. Os danos podem ser irreparáveis, e a culpa também é sua. Quanto mais culpa, mais dor; há lesões leves, sanáveis, e outras, profundas, que não tem cama, repouso e terapia que dêem jeito. O vão era fundo demais. A culpa pesada demais. Você caiu fundo demais.

Portanto, caríssimos, mind the gap. Podemos avançar, confiantes, conscientes, seguros; adiante, avante, sãos e salvos. Sobreviventes. Ou não. Podemos, por pressa, azar ou desatenção, cair no vão. E descer pelo ralo, como água suja.

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