segunda-feira, 21 de maio de 2012

Traição?


Solar
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Sufocar


     Traição 
                               

     Leonardo Franco, o marido. Vanessa Lóes e Pablo Padilha, os amantes
     Em cartaz no Solar de Botafogo.
     Texto de Harol Pinter, direção de Ary Coslov.


 Ai, ai, ai.
 Discordarei da melhor crítica de teatro do mundo: Barbara Heliodora, a quem eu adoro.
 Outros, excelentes também, estão elogiando, fervorosos.

Poderei eu ser verdadeira? Sim, estou no meu blog, e escrevo o que entendo que deva ser escrito, com a honestidade que carrego na minha alma taurina. Aqui é território livre. Posso escrever, o leitor pode discordar, e pronto! Teremos excelentes debates virtuais, protegidos que estamos atrás de nossos monitores.

Trair. Escapulir. Pecar. Idéias, que nós brasileiros, associamos a tal da traição. Pinotes. Uma boa farra. Uma brincadeira perigosa,  bem escondida para não machucar. Enquanto isso, aproveitamos, rimos, transamos, trocamos presentinhos, e beijinhos roubados. Romance, aventura, paixão.

Caríssimos, nada disto encontrei. A Traição de Harold Pinter é um sofrimento para todos, um incômodo que se arrasta durante longos anos, em lento ritmo, metade dos quais com a ciência do  traído, e a provável condescendência da traída - respectivamente, o marido da amante Emma (Vanessa Lóes), e da esposa Judith, casada com o amante Jerry ( Pablo Padilha).

 Na esteira dos anos, o amor ficou inócuo. Como a peça. Passou. Como disse um filósofo amigo meu, acabou o milho, acabou a pipoca. Ainda assim, ficou no ar a expectativa do que poderia ter sido. Ficaram no ar perguntas sem respostas, e respostas desconexas. Faltou o conflito que gera boas indagações e faz aflorar dúvidas cabíveis. Faltou a impulsividade que marca a traição em nossa sociedade ocidental. Emoções indefinidas pelo ar, inconsistentes, e a intocável sensação de que falta algo, mas não se sabe se falta no espetáculo ou no sentimento supostamente experimentado pelos personagens. Não estou bem certa se representaram domínio da situação e tocaram seus casamentos, com racionalidade e sensatez, ou se nem pensavam nisto, e queriam apenas contar com a sorte.

As lentas trocas de cenário alimentam essa inerte agonia. Quarto, sala, restaurante. Montados e desmontados diante do  público, à meia luz.  Foram 8 trocas, se não me engano, de aproximadamente 2 ou 3 minutos cada, mas que para mim, pareceram horas.  A mobília acoplada em prateleiras sugere que de fato as situações se arrumam e se reorganizam conforme a necessidade do momento. Depende do fim a que se destinam. Em silêncio, espera-se que surja sob nossos olhos o próximo ambiente para a cena, e talvez aí uma revelação, um susto, um desfecho definitivo. Nada. Espero descobrir o que sentia a esposa/amante Emma, mas Vanessa Lóes não deixou. Não identifiquei maiores sentimentos em sua personagem. Talvez de fato não os tenha, e tenha sido uma folha ao vento, deixando-se levar pelas circunstâncias. A ocasião fez o ladrão. Aceitou. Calou. Prosseguiu. Talvez tenha sido assim, talvez não. Seu marido, defendido pelo ótimo Leonardo Franco, é mais preciso. Sofreu a dor da traição. Aguentou de pé. Quebrou em pé também. Sua ironia o salvou.

Escolho entender que os personagens de Pinter é que foram imprecisos em suas escolhas, passaram a vida em cima do muro. E então tive pena de todos. Do marido, da esposa, do amante. Se assim foi, viveram sem ter vivido, amaram ser ter amado. Tiveram o doce na boca e não saborearam. O amor que sentiram não adiantou, não teve valia. O amor deve servir para melhorar nossa passagem pela Terra. Torná-la mais ampla, mais arejada, mais promissora, mais ensolarada. Não neste caso. Os anos em que os amantes estiveram juntos, foram, antes de tudo, anos de sofrimento mudo, de desesperanças. Faziam de conta que estava tudo bem. Amaram sem esperança, e a esperança, caríssimos, é a convicção do Amor.

Fica aqui o meu recado. Que não exista amor assim. Indefinido. Que o amor sempre dê um jeito de se impor, e que nunca, nunca, nunca, nunca esgote-se em silêncio, em si mesmo, pelo simples trocar dos anos no calendário inanimado.                       









Um comentário:

  1. Te confesso que gostei muito da "Traição" que nos foi mostrada.
    Quando falamos de traição, esperamos sempre reações agressivas fomentadas por atitudes egoístas.
    Essa tal impulsividade esperada , pode não se manifestar .
    Com o tempo um dos elementos da relação, ou os dois, pode se dar conta que o que os move não é amor ..... Pode haver um término com ou sem emoção!
    É estranho....mas alguns "seres" vivem no mesmo mundo que o nosso mas não mostram a que vieram!
    Trabalham, fazem a sua grana estão vivos mas sem vida. Opacos. Secos.
    Alguns relacionamentos são compostos por esses seres.
    Já sabemos qual o resultado disso. Um relacionamento com gosto de nada. Algo como....gelatina sem sabor!
    Acredito que as relações mostradas em "traição" são compostas por elementos do tipo "What Are You Living For?"

    "... é muito solteiro apaixonado e muito casal fingindo que se ama."
    Li ainda pouco no twitter.

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