sexta-feira, 2 de junho de 2017

Sobre Ratos e Homens - ou, sobre amar um louco

Centro Cultural Banco do Brasil
Celeiro
Loucura
Mais louco é quem me diz


             O premiado dramaturgo John Steinbeck, falando sobre a vida dura e sem prêmios, dos sofridos trabalhadores braçais na época da terrível recessão norte-americana. 
              Encenado pelos premiáveis e reais e maravilhosos Ricardo Monastero e Ando Gabriel, braços fortes da arte.


Há tempo não falo sobre teatro.
Sofrido, pois foi um casamento feliz -  com o teatro a gente casa, leva para o coração, para a vida, para o sonho. Casamento feliz não devia ter férias conjugais. Mas teve.
E fiel que sou, volto. Voltarei sempre. Amor de verdade a gente esquece que ama, mas não deixa de amar. Outros amores menores vem e vão. Nem sempre são menores, não posso ser injusta. São mais provisórios, mas não menos importantes. Apenas transformam menos e castigam menos, e gratificam mais. Ou menos? Ainda não sei.

Mas sei que desfrutei de um lindo revival de amor com esses ratos. Homens? Sempre. Ratos? Muitas vezes ratos, pequenos, irritantes, nojentos. E misteriosamente, apaixonantes.
Voltemos a um passado distante e triste, quando os homens só tinham a força bruta com a qual ganhavam o pão.  Em terras norte americanas.
O caríssimos está se questionando. É isso aí. Houve muita crise em terras de Obama e Trump, anos atrás, e os "chapas" trabalhavam em troca de comida e casa, fazendas afora. Escravos brancos. Não é privilégio do hemisfério superior, for telling the truth.
Nossos homens passam o pão que o diabo amassou para ganhar o pão de cada dia. Unidos por um amor fraternal emocionante, Lennie e George dividem o suor do rosto e a palha seca onde dormem. Vivem num mundo marrom, árido, empoeirado,  regado unicamente por gritos e lágrimas. Dividem a nuvem ilusória de um sonho de dias melhores. De um trabalho digno, do lucro repartido, da moradia simples e própria. Um mundo fértil onde tudo poderia ser diferente.
(Será que poderia?)
Um deles é louco. Não direi qual. Não importa.
Importa que é louco, que é bruto, que é perigoso. Que aniquila sonhos bons sem querer, ou sem poder evitar. Importa que um é insano e tem o álibi da loucura. Importa que é amado perdoado. Importa que é protegido mata adentro, rio adentro, alma adentro.
Importa que destrói sucessivas vezes a vida do outro, e de qualquer outro que venha a amá-lo.
Mais não direi. Seria estragar a emoção da revelação da verdade final. Da tristeza final. Da vida e morte finais.
Alguém sempre morrerá por amor. Alguém matará nas guerras, em nome do amor e da liberdade, e da necessária sobrevivência. Matar ou viver?, eis a questão.
Alguém que ame um louco não encontra resposta simples. São muitas respostas, muito dramáticas e difíceis de aceitar.
Essa tragédia não é no celeiro. É no divã do terapeuta e no confessionário.
É na alma de quem amou o rato, o homem e o louco.
Digo por vi - vá.
Vá. Chore e se arrepie.
Somos todos loucos e sobreviveremos aos maravilhosos ratos que abrigamos em nossa vida.
Ou eles nos matarão.
A escolha é sua, é minha, é nossa. No Brasil, no mundo, e neste nada árido coração.

       


Nenhum comentário:

Postar um comentário