quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Um conto chinês

Flamengo
Vai, Darin
Me conta um conto, que eu te conto...


Darin e Ignacio Huang, em seu conto chinês

Os deuses tem várias formas de nos contar o que precisamos ouvir.
E repetem seus recados enquanto acreditam na gente - é melhor portanto, ouvir logo o conto do Darin, e sair do cinema com a leveza e a surpresa dos que presenciaram uma preciosa revelaçao.

A vida tem de fato sentido. Há sentido, nexo, causa e efeito em tudo, em absolutamente tudo que existe, existiu e existirá ao nosso redor. Chineses e argentinos, americanos e árabes, judeus e alemãos, a humanidade náo tem raça, a humanidade tem gente, e gente que precisa de gente.

Gente que precisa aprender a amar. Gente que precisa aprender a deixar-se amar.

Descolar dos sofrimentos, ultrapassá-los interiormente, desprender-se de idéias arraigadas, que arrastam a energia solo adentro.

Escolher novos caminhos e partir por eles, seguir, caminhar, respirar. Avançar.

Transformar-se em uma pessoa mais feliz.

O destino coloca as peças sobre a mesa. É o jogo da felicidade.
O tabuleiro é o tempo, e as peças estáo à sua disposiçao. Tem a peça em forma de chinês, tem uma vaca, tem uma porcaria de uma caixa de parafuso. Tem o sorriso da moça, e tem o jornal velho com uma notícia trágica. E tem o tempo passando, dia após dia, noite após noite, sem que o homem mova uma peça sequer.

Inspirei-me.

Inspiradores sentimentos tomam conta de mim. Posso até culpar os olhos azuis do argentino. Posso culpar meu coraçao mole, minha tendência a romancear tudo. Culpa também desta língua espanhola que imprime música e poesia aos aos diálogos mais simples.

Assim deu-se com as palavras simples e diretas de Mari, como devem mesmo ser as palavras e o amor: "Você é ranzinza, rabugento, ermitão, justo, bom, corajoso, e tem esse olhar que me mata". Mari, sí, sí, escolheste muy bien. Esse texto em espanhol arrebatou o rapaz. Suas palavras quase cantadas ficaram em seu coração resistente, como devem mesmo ficar as palavras e o amor.
Muriel Santana, Mari, prática, oferecendo o que há de melhor nesta vida

Sinto-me obrigada a confessar que a cena de Darin caminhando pelo campo ao encontro de sua amada, pronto para amar e ser amado, tirou-me o fôlego.

Mas o que me inspirou está além disso - o filme alimenta o senso de que os justos seráo felizes. Para os que duvidarem, os deuses mandarão mensageiros, que talvez nem falem sua língua, e tenham outra cor e outros modos, e outra idade, e sejam também sobreviventes.

Talvez nem falem, só desenhem.

Os mensageiros estáo por aí, cairão em sua frente, perseguiráo seus pensamentos. Náo temos como escapar.

Escutem o aviso do destino e estejam atentos - o Amor vai chegar, chegou, e está por aí.

Ricardo Darin, o Roberto, atento

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