sábado, 19 de maio de 2012

Vamos malhar

Rio de Janeiro
Copacabana City
Paralela cidade


Força
             Nada de moleza

A pessoa chega a uma certa idade. Acontece com todos os vivos que passem dos quarenta anos de existência terráquea.
É uma nova era após atravessarmos o portal das quatro décadas. A pessoa descobrirá um cabelo branco ali, uma dorzinha no corpo aqui, e uma preguiça por todos os lados. Sentirá saudades boas e mágoas menores. Surpresa, os rancores estão transparentes! É há uma distância protetora dos problemas insolúveis, e uma força total para as novas saídas.

Enquanto o emocional se vira quase que sozinho, o físico não encontra soluções longe de exercícios e dieta.   (Perguntarão:           "- Preocupações estéticas no blog?"  Responderei: " - Sim. Moramos no país em que manequim 40 é Tamanho 10 infantil. Ou você se encaixa, ou manda fazer roupa fora, e quero saber onde.)
Sem demagogia: a decadência física não traz felicidade. O ser humano precisa curtir sua imagem, seja em que padrão for.

Justificada portanto a minha matrícula na Academia. Quero curtir minha imagem no espelho. Se não for possível, curtir meu esforço em atingir uma imagem mais favorável aos meus olhos, adestrados a admirar um padrão mais esguio que esse que o espelho insiste em me mostrar. E certa de que assim terei minha consciência mais tranquila, enfio-me em roupinhas de ginástica e sigo para a malhação.

Roleta na porta. Confere. Tal qual em ônibus e metrô, precisamos apresentar o ticket que adquirimos para o novo mundo, repleto de novos personagens  A sala de aula é um palco. Luz, cenário, e trilha sonora. Enredo? Variadíssimo, um para cada personagem.

Tem aquela que vai a academia mas não vai malhar. Ela vai falar. Fala com a recepcionista, com o pessoal da limpeza,  com as colegas da turma, com os rapazes da musculação, pára na esteira e quer falar. Pode ser ouvida ou não. Não importa. Ela não quer ouvir, quer falar.

Tem a louca. Barriga de fora, em bom estado ou não, mas de fora sim. Tiara na testa, luvinhas, ela se acredita entre a Jane Fonda e a Claudia Raia. Fala um pouco, mas só sobre exercícios. Mãozinhas na cintura, agitadinha, sorri o tempo todo. Não sei se é uma senhora fingindo ser muito jovem, ou uma jovem fingindo ser uma senhora. Nem ela sabe, provavelmente.

E as muito fortes, que sustentam pesos imensos, em ritmo constante, sem parar. Olhares impassíveis. Acostumadas a grandes sacrifícios, ficam na comissão de frente. Dão o tom de fanfarra ao exercício, com movimentos amplos e precisos. Não faltam, não falham e não falam com ninguém. Chegam, se penduram de pesos até o pescoço, malham como soldados da boa forma, e marcham academia a fora.

O tom colorido fica por conta dos gays.  Chegam cantando, se espalham na sala, precisam de mais espaço, de mais som, de mais alegria. Nos intervalos de descanso, não descansam. Balançam, fazem passinhos. Estão mais vivos, tem mais dentes, mais músculos, tem mais segundos por minuto. São os mais bonitos, sempre, mais proporcionais, mais torneados. Barriga zero, pernocas lindas, peitorais. O padrão de beleza masculina hoje é gay.

Entre mortos e feridos, tenho me salvado. Em momentos de profundo desespero e desejo de jogar-me ao chão, desmaiada pelo esforço hercúleo, lembro-me de todos os paêzinhos e docinhos que comi e que estão entupindo minhas artérias e meu jeans.
As guloseimas desfilam na minha frente. Centenas de franguinhos, paêzinhos, chocolates, bananas fritas, batatas fritas, sorvetes. Gravitam em linhas retas e curvas, caminham, requebram, batem na parede e voltam.

Ouço meu nome ao gritos, retomo o prumo, e prossigo. Fui resgatada da inércia e avanço, sobrevivente de guerra, para a próxima série. Tenho pesos nas mãos, nos braços, nas pernas; barras, anilhas, colchonetes, garrafa d´água, toalhinha.

O que tenho mesmo, caríssimos, é esperança.






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