terça-feira, 21 de agosto de 2012

O Policial e o Sapato Chanel

Rio de Janeiro
Ocorrência: briga de casal
Chanel que nos acuda





Um mimo, o par de sapatos Chanel

Carissimos, essa história é baseada em fatos verídicos. Mesmo. Tomarei todo o cuidado para preservar os envolvidos.  (segundo advogados, agora que afirmei que é real tenho que tomar mais cuidado ainda )

O caso é o seguinte.  A mulher de hoje está perdendo o charme. Esquecendo da distinção. Andando muito à vontade,  largadinha mesmo. Qualquer roupinha  a gente veste, um batom e já vamos para a rua. Errado. Erradíssimo. Nós, cariocas, somos mestres no despojamento, mas alto lá - a elegância mais tradicional pode salvar nossa pele. Vejamos a vida real.

A moça, moça bonita de gênio forte, como manda o figurino e o já referido ditado do meu avô  ("moça bonita tem que ter gênio, senão é só enfeite") namorava rapaz de futuro promissor.  Homem jovem, belo, inteligente, bom partido toda vida. Assediadíssimo, portanto. Disputado a tapa no escasso mercado do gênero homem tipo homem, com h para toda obra, trabalhador, e etc.

Ela não ficava atrás não. Elegantérrima, arisca, atrevida. Moça bonita mesmo dos pés a cabeça. Olho aberto, ela desconfiou.
Tinha uma pequena no caminho. Seu nome muito citado, volta e meia vinha à conversa entre os dois. Gostou não.  Trabalhavam juntos, o que é perigosíssimo, sabemos. O convívio aproxima demais, cria oportunidades demais. Homem é bicho bobo, cai em armadilhas fácil demais.

Faro apurado, ela partiu para o flagra. 
Impecável. Chic de doer, Chanel da cabeça aos pés. Dirigiu-se à casa do rapaz, hora de serviço, que fazia ele em casa aquela hora? Mulher tem radar, e funciona que é uma beleza.  O rapaz tinha caído em tentação sim, e o flagra estava armado.

O caríssimo abriu a porta? Nem ele. Escândalo, porta socada, gritos. Moça bonita em Chanel,  gritando,  chama atenção até de falecidos, e os vivos atentos chamaram a polícia. 

Chegou a polícia. Rapaz trancado.  Passara rapidamente do status de namorado para o status de inimigo perseguido; queria vê-la algemada, e distante dele o mais rápido possível.  Moça desconsolada. Ninguém a convencia a deixar o local. Passa hora. Outra hora. Veio amiga, veio mãe, veio ex-namorado prometendo amor eterno, veio irmão. Nada.  A moça só saía dali com o flagra constatado.

Mas tem gente que está no lugar certo, na hora  certa. Aproximou-se um policial, assim, de soslaio, falando baixo. À paisana, distintivo discreto, meio mais velho, meio sabidão. Chegou perto, ofereceu lenço de papel, ofereceu água mineral. A moça acalmou, bebeu água. Ofereceu cigarro. Aceitou. Charmosa até na dor, tragou, sôfrega, como uma diva do cinema.

Era a deixa para o homem da lei. " - Sabe, eu sei que a senhora está nervosa, com razão. Como que é que um rapaz faz um negócio desses com a senhora? Uma moça assim tão chique... De sapato Chanel e tudo".
A moça parou. " - Que adianta um Chanel numa hora destas??? Mas o senhor conhece Chanel, como sabe que meu sapato é chanel?"
Polícia "- Sapato não, né. Isto é uma obra prima, uma coisa rara.  A senhora está muito bem, muito bem calçada e trajada. Chanel, eu vi o filme.  E pode usar, é elegante, tem porte. Fica muito bem. Muito melhor que essas maluquetes de piercing no umbigo, isso não é estilo fino. Mulher para casar, para apresentar para mãe tinha que ser assim, igual a senhora. Chique. Chanel."
A moça insiste: "- É, que adianta? Estou aqui do lado de fora, e ele aí com outra"
Policial: " - Ah, mas não deve ser assim que nem a senhora não. Onde é que se arruma mulher assim, de sapato bonito, bolsa bonita, por aí? Tem não. A senhora fica tranquila, vai arrumar namorado muito melhor que esse, que lhe dê o devido valor. Que admire assim, sua elegância, sua presença, seu estilo. Fosse a senhora uma moça largada, qualquer, que não se cuida, eu não falava nada. Mas a senhora, a gente tá vendo que é moça de gosto, que merece o melhor. Vai arrumar marido à sua altura, e não é qualquer coisa não"
Moça: "- O senhor acha mesmo?"
Policial: " - Tenho é certeza. Uma pessoa que se veste assim, tem capricho. Tem cabeça para escolher roupa, como é que não vai saber escolher namorado? Deve ter fila para sair de braço dado com a senhora. Posso falar, tem idade para ser minha filha. Uma beleza de  moça, isso é que a senhora é. Esse rapaz deve estar é doido, e doido é com médico, não é com a gente da polícia não"
Moça: "- Sua filha, não, quê isso. Nem me chame de senhora, por favor.  Sei que é por educação, mas pode me chamar pelo meu nome"
Policial: " - E qual o nome desta flor?..."

E nessa prosa de moda, capricho e flor,  o policial foi adoçando a madame.  A moça foi retirada do local sem sentir. Saiu de braços dados com o policial, esperançosa de dias melhoras. Levada pela família para merecido descanso e recuperação de sua integridade emocional.

Fica o recado. Chanel. Dior. Givenchy.
Prada.
Marcas assim, que destacam um mortal na multidão.
Embora no amor - e na dor - corpo e alma estejam nus e descalços, e embora o coração não permita etiquetas,  e as rejeite veementemente, na hora do flagra um bom Chanel  pode fazer a diferença, pode sim. Ajuda, e como.



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