Uma nega
chamada
Santa Tereza
Amanheceu uma segunda feira
em Santa Tereza.
Horários corridos
Filhos
Estribilhos
Corre pega a bolsa
Agenda, celular, chave.
Brinco!
Lembra do bombeiro
deixa a chave de volta com o vizinho
Fechou o gás desligou tudo
Olha o dinheiro da empregada.
Olha essa sacola nao vale, tá furada
Anda a hora que a hora passa
Hora passa hora passa hora passa
Corre corre correria da manhã
corre, salto alto para descer a escada? Segura
Segura que essa escada liga, em flor, o ninho ao asfalto;
o paraíso ao trilho;
escada íngreme, firme,
escada de cimento
rolante e fixa
estática e infinita
Sigo então sem muita poesia
escada abaixo e tarefas acima,
que a hora passa a hora passa a hora passa
passa a hora passa manhã lá foi-se o dia
ôpa ôpa ôpa
pára tudo.
Eis que nessa escada tem ele.
Ele, que pára a hora
pára o triho
muda o caminho.
Pára a infinitude útil ou inútil da poesia
Sim, ele parou também a escada
estancou essa doida e necessária correria.
Segurou minha cintura com o poder manso dos mais honestos
Segurou minha pressa com o controle tranquilo dos íntegros
Segurou em suas mãos, como sempre fossem seus, o calendário e o meu destino.
Olho no olho
Boca na boca
Beijo com beijo
Língua quente.
Gosto bom de dente de saliva
Gosto cheiro sabor de alma nova
de alma viva
Já não é mais segunda, terça ou sexta.
Eu até então tinha quarenta e dois
e ele, um pouco mais.
Mentira.
Desci a escada com quinze anos.
este foi meu primeiro beijo,
eu era virgem,
e ele era o prìncipe herdeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário