quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Perigo à vista
Rio de Janeiro
Mundo inteiro
Sem medo






O  tempo passa para ensinar, mas é preciso aprender.
Aprendi que escrever é perigosíssimo. Pode ofender, bajular; pode vir a ser ignorado ou copiado (perigoso para o escritor, mortalmente atingido por estas possibilidades).

Tive bons professores este ano: um senhor magoado com minhas espontâneas letras; susto! Ameaça, tira do ar, deixa no ar, processa, perdoa, releva. Censurado post.
Professorinha sem vergonha que surrupiou sua mais humilde colega, assim, na mão grande. 
Professorzão pós graduado, doutor na malandragem, que volta e meia rouba alguns parágrafos, muda um adjetivo, e pronto: assina. Com força e com vontade.

E a solidão? E acima de tudo, escrever é um ato solitário. Isolador.

Outro perigo terrível, esse da solidão. É esse medo que nos ronda e que nos apavora; é este nosso impulso diário em busca do amor verdadeiro - delicioso remédio, bendita solução. Onde há amor verdadeiro não há solidão. A solidão é o preço que pagamos, nós que escrevemos. Somos egolátras e nos alimentamos do prazer de escrever; o preço deste prazer é exorbitante. O monitor é nosso Muro de Berlim, antes da queda. Impenetrável.  Ficamos entrincheirados por trás deste escudo eletrônico, e nada e ninguém nos alcança. Saímos do mundo real e avançamos, hipnotizados, por um mundo inteiro a dentro.  Sim, a dentro, para dentro, por dentro - as palavras saem do mais profundo recanto do coração. Vamos até lá para buscá-las, e o caminho é estreito.
Para nos seguir? Ha Ha Ha. Só quando permitimos. Somos egoístas com nosso bem imaterial - a idéia, que se concretiza em palavra digitada. Antes de liberada para outros olhos, a palavra concebida e digitada é exclusivamente nossa, não dividimos, não emprestamos, sequer a pronunciamos, para que possamos mais acalentá-la em nosso ventre, como uma criança sendo gestada.

Mas como a criança, como o fruto, como tudo que há no planeta, uma vez parido não há retorno. Será lido, será mal interpretado, será bem sucedido, será amaldiçoado. Não há controle sobre sua rota; é etérea, intocável, impalpável. Cruel. Não é mais do autor, e nem de ninguém. 

Digo porque vi, e repito: escrever é perigosíssimo.

Como escrever, se não se é mais só?
Como arrancar palavras do próprio coração, se o sabe inserido em outro ser?
                


Como partir para dentro de si, se não existe mais esse caminho egoísta a seguir?
                 
        - Se eu escrever hoje, é porque tenho muita coragem.
        - Se eu escrever hoje, serão suas, meu amor, as palavras a saírem de minha boca.
                                    

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