quarta-feira, 8 de abril de 2015

Tempo Presente

Rio de Janeiro
Terras de Ipanema
A ordem do tempo



Calendário Maya, descoberto em escavações na Guatemala: prevê, pelo menos, mais 7 mil anos de vida para nosso Planeta Azul.  (from web site: Curiosidades).  O  estudo foi publicado no dia 10 de maio, nos Estados Unidos. Que coincidência, 10 de maio é dia de meu aniversário.

Eu era miúda, talvez 4 anos. Queria completar 7 anos. Achava lindo o número 7. "  - Vô, quero que chegue logo meu aniversário de 7 anos", dizia.
Os numerólogos podem, talvez, explicar minha admiração pelo número 7 - grafia elegante, conta de mentiroso ou número místico? Sei lá. A menina que fui queria muito soprar suas velinhas de sete anos. Com isto, milagrosamente, eu iria para a primeira série do colégio, e passaria a brincar no pátio dos "grandes".
Feito.
Então eu passei a ter em mente meu cumple años de 10 anos. Festa disco, estilão fins de anos 70; o brilho, luz, cores, O cenário agradava meus olhos ávidos, e em cheio.  E que músicas!... Donna Summer, Diana Ross, Stevie Wonder, Bee Gees.  Mais: eu adquiriria o direito de ir sozinha ao curso de inglês, e outras liberdades ínfimas que pareciam, à ocasião, a carta de alforria. Completei os 10 anos, ganhei a festa disco, e passei a andar sozinha nas cercanias da minha casa.
O sonho então foi a fronteira, invisível e poderosa, dos 12 anos. Mais liberdade. Peitos. Soutien.
Adorei, e parti para os planos dos 15 anos.
Depois dos 15, a formatura do segundo grau. Depois o vestibular. Depois a formatura da faculdade. Depois a primeira união, depois contei os dias para a primeira separação, e a nova paixão, e a nova separação...
Fui abençoada com o tesouro do primogênito, ( 9 meses de espera), com o orgulho de seu  primeiro aniversário ( 3 meses de preparativos), com a tensão do  primeiro dia do primeiro colégio  do primeiro filho ( horas de agonia) . E depois esperei o segundo filho, ( mais nove meses)  fui premiada com o príncipe regente, o amoroso e sorridente segundo filho ( esperei toda esta encarnação para ver este sorriso). O batizado do segundo filho. ( 2 meses de organização) O jardim de infância do segundo filho. (... meses de escolha).

Sempre, sempre, esperando, preparando e ansiando pelo próximo e importante evento. De uma certa forma, neglicenciando o tempo presente. Passando correndo, afobada, não vai dar tempo, olha a hora, isso não está bom, não vai ficar como eu quero. Vamos vamos, tenho mil coisas para fazer.

Em minha católica educação, nasci, cresci, e me reproduzi sob a égide da espera; sob a promessa da premiação posterior.  Seja bom aqui, e vai dar tudo certo depois.. Eu fui, como tantas outras da mesma idade, habituada e treinada para ser feliz depois. E a aguentar os sacrificios em nome da paz futura. Acreditei que o motivo do sacrifício é o sucesso. E se não for, gente? A menina que fui me acordava de madrugada. E se não for nada disto?

Busquei a resposta nas terapias. Vieram mesmo através das durezas da vida.
As coisas são diferentes do que a gente planeja. Do que a gente espera. Do que a gente acha que vai merecer.
Minha fé então, começou aos poucos, a ser mais livre, tal qual a menina que fui.
Passeei por filosofias budistas, PLs, Evangelismos. Sessões no Alanon. A embarcação da religiosidade ancorou no espiritismo cristão. No horizonte suave de tais veneráveis religiões, um poderoso fio comum: a imortalidade da alma e a importância da vida presente.

Sinto que encontrei, nesse grande paradoxo, a mais lógica e legítima chave de libertação: posso alçar o  Céu, no Inferno, o Paraíso, a Vida Eterna, o Lado de Lá, a Paz do Senhor, como queiram; mas através da caprichosa vivência, intensa e profunda, do Hoje, que determinarei  minha felicidade.
Que enfeitarei com flores os caminhos de minha alma.
Eu posso ser feliz hoje. O beijo é hoje. A gratidão é hoje. A compreensão é hoje. O sorriso é hoje, o carinho é hoje, o dia lindo dentro de mim, é hoje.
Hoje eu posso ficar de bem com o mundo, comigo, com Deus. Hoje posso perdoar, pedir perdão, hoje estou mais livre e consciente que ontem.

Para o Hoje converge o meu amor, a minha depuração, a minha evolução.  A pena e o sacrificio não são uma poupança para depois; são as lições de hoje, a serem aprendidas em profundidade. O ensinamento é maior que a dor. Não sei se terei amanhã para me corrigir; nem para exercer, por exemplo, minha paciência. Então é hoje.

A sabedoria Maya diz que o  planeta terá mais Sete Mil Anos. Com todo o respeito, eu não sei. Não sei se estarei aqui, ou se terei alçado outras galáxias.
Pode ser que eu tenha Sete Mil Anos para ser feliz.
Contento-me, satisfeitíssima, felicíssima, agradecidíssima, com o dia de Hoje.

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