segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Medianeras

Mi Buenos Aires querido
Si


Encontro marcado com os argentinos



Medianera é a parede lateral de um prédio, chamada de parede cega, habitualmente náo tem janelas e por vezes há propaganda.


Caríssimos, temos um encontro, e é em Buenos Aires.
Problema para alguns, já que cariocas e argentinos estranham-se. Futebol, talvez.

Para mim, náo. Detesto brigas de futebol e adoro Buenos Aires. Já desembarquei em Ezeiza com camisa 10 da seleçao e fui muitíssimo bem recebida. Efusivos olás.

Eles náo nos odeiam, para nada, como dizem. Somos muy amigos.

E o argentino é uma criatura especial - politizado, apaixonado, sôfrego, orgulhoso, brigáo. Lutam pelos seus brios, e pelos alheios. Opinam sem cerimônia uns sobre a vida dos outros, como terapia coletiva e pública, questionam-se mutuamente.

São críticos, reclamóes, e...na maioria das vezes tem razáo.

Este filme é bem isto. O casal Martin e Mariana náo se conhece. Sáo fóbicos, fumantes, sofridos, bolas baixas, reclamam da vida, da economia, da arquitetura sufocante, das contrariedades urbanas, e... tem razáo. As cidades de hoje náo convidam ao romance, e ainda o dificultam. Há poucos janelóes, poucas varandas, poucas flores. Poucos momentos de paz, e muitos desencontros. O ambiente moderno, afirmam, sufoca e angustia, e incentiva o afastamento dos indivíduos. Tem razão, estáo afastados. Cruzam um pelo outro mas náo se vêem.

A tela mostra uma Buenos Aires difícil de reconhecer. Muito cimento, muito prédio antigo, muito trânsito, nenhum apelo portenho. Muito isolamento, cada um no seu micro apartamento, numa independência que mais parece solidáo. Raros diálogos, ouvimos o pensamento dos personagens, suas lástimas.

O filme, apesar da cor cinza, e do teor deprê, tem tiradas ótimas, pitadas de ironia, toques de humor, e vai-se levando a película como fazemos com a vida - buscando o próximo dia com uma certa esperança, ainda que tímida, pequena, escondida, mais semelhante a uma provocaçao com o destino do que propriamente uma esperança.

Entre cigarro e outro, entre trabalho e mais trabalho, entre chat e outro, entre decepcáo e outra, o casal fóbico resolve abrir uma janela na medianera e deixar o ar entrar. Deixar arejar, entrar a luz do dia.

Cinza, mas luz.

Eu curti. No meio de vida moderna, autômata e repetitiva, temos que abrir uma janela a marretadas e olhar para fora. Para as ruas cheias, com pedestres e ciclistas e motoristas indiferentes, que náo te olham, náo te vêem, mas que ainda assim, é preciso olhar. Inconformar-se com esta cegueira geral.

Um dia acharemos o que procuramos. É preciso firmar a vista; tal qual no livro de Wally. É difícil, está misturado na multidão, mas tem lá o Wally com seu cãozinho, na cidade, e o encontraremos, ou ao grande amor de nossa vida. E correremos para ele, parceiro ideal para uma Cumparsita.

Martin (Javier Drolas) y Mariana (Pilar López de Ayala), portenhos, solitários universais - Premiados no Festival de Gramado e no de Toulouse

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