terça-feira, 18 de outubro de 2011

A menina chinesa

China
Brasil
África


Um minuto de silêncio por Yue Yue




Todos vimos na TV, atônitos, as cenas do atropelamento da menina chinesa, que vagava desacompanhada por uma via pública. Foi atingida por uma van, atingida por um segundo carro, e foi atropelada novamente como se fosse uma boneca sem vida. Dezoito pessoas passaram a seu lado, e a ignoraram, cruel e friamente. Estava sozinha no mundo dos inimigos. Um lixeiro gritOU por ajuda, e foi também ignorado. A menina foi levada em coma para o hospital e náo resistiu.

Tinha dois anos e chamava-se Yue Yue.

A máe náo estava por perto, e levou vinte minutos para ser localizada. O pai apareceu chorando na TV, desesperado.

Comenta-se pela mídia: que gente má. Que raça terrível, essa dos chineses. Matavam meninas desde a antiguidade. Cometem atrocidades, e atualmente escolhem nos hospitais quais receberáo atendimento. Náo atendem portadores de HIV, podem contaminar os demais pacientes, por exemplo.

Os chineses passaram pela pequena, minúscula criatura, ferida em estado gravíssimo, sem olhar duas vezes. O brasileiro chamaria uma ambulância, faria um escândalo. Somos solidários, e ficaríamos a seu lado até que os bombeiros, nossos maravilhosos bombeiros, a socorressem. Certa disso. Aqui no Brasil esta menina náo teria ficado no cháo, como ficou. Ok. Nossa solidariedade finda aí.

Sim, façamos uma pausa. Somos assim tão superiores? Quantas crianças famintas, doentes, e abandonadas vagam pelas nossas ruas? Frio, sujeira, pedófilos, a tudo expostas? Qual atitude tomamos? Chamamos a SAMU para socorrer o menino negro e pobre que grita de dor? Talvez, se em local seguro. Lembremos que a polícia matou Juan a tiros, a queima roupa, e jogou seu corpo no rio. Polícia brasileira. Lembremos do Nardoni, que jogou a própria filha pela janela.

As imagens do atropelamento chocam.

Ë menina muito pequena, parece uma boneca, de pele clara, e aparentemente bem vestida. Temos tribos inteiras na África a morrer de fome, de sede, de Aids, e náo nos chocamos mais com o sofrimento destes inocentes.
Temos milhares de crianças Brasil adentro, a secar de fome, e náo corremos para acudí-los. E muito mais que dezoito cidadáos passam por elas todos dias.

Náo falemos em iminência da situaçao. Toda vida em risco exige urgência.
Sempre podemos dar uma desculpa para que um mal pareça maior e amenize os demais atos. Focamos no que tem mais impacto, e os atos menores parecem menos importantes. Náo são.

Somos todos uma raça de gente cruel. Náo só os chineses.

Alguns cruéis pela força, outros pela mente, outros por armas de fogo, outros por armas químicas, outros por corrupçao, outros por violência. A esmagadora maioria é cruel por omissáo.

Ao chorarmos pela chinesa, choremos por todas as demais. Talvez esse anjo de olhos puxados tenha vindo ao mundo unicamente para esse sacrifício. Para que chocados e estarrecidos, mudemos de rota e paremos para acudir o próximo que sofre. A vida humana TEM que valer mais do que vale hoje, muito, muito mais.

Ao julgarmos os motoristas criminosos e os 18 transeuntes assassinos também, julguemos os homens maus de todos os povos, e de todos os Governos, que tiram a comida das crianças, e enriquecem com a sua miséria. Que negam-lhes socorro diariamente nos hospitais sem médicos e sem equipamentos. Sem remédios.

Senhores, os internautas estão aí afirmando que os chineses náo valem nada mesmo. Mas nós, brasileiros, também estamos precisando valer mais.

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