quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Ri, Palhaço

Leblon
Passos
Montes Claros
Selton
Mello

Selton Mello, Palhaço Pangaré


Vi Selton de Palhaço.
Vi Paulo José de Palhaço.

E vi o Circo Esperança, esperança e certeza, e já sinto saudade. Psssou por mim, vi o circo passar, pedi para ficarem, náo me ouviram.

O circo seguiu para Passos, e eu segui os meus passos, mas levei Esperança comigo.

Pensei que fosse filme, mas náo é. É poesia.
A poesia simples, de poucas palavras e valiosos olhares.
A poesia do jovem cineasta e do velho ator, os cavalheiros Selton e Paulo José, homenageando velhos ídolos esquecidos pelo público, tantas vezes ingrato. Um toque de classe. Esses palhaços elegantes váo misturando atores de hoje e de ontem, e oferecendo-os ao espectador aos pouquinhos, um pouquinho aqui, e ali. Quem náo quer um pitaco de Ferrugem, de Jorge Loredo, de Moacyr Franco? Quem náo quer Tonico Pereira e Teuda Bara? Um bom pedaço de Jackson Antunes? Na homenagem prestada, quem ganha é o filme.

Filme náo, poesia. Poesia ainda mais sonora com a música de Plinio Profeta, música de realejo, de artista de rua, de fanfarra. Música que rima.

O filme é arte pura, do enredo à sua realizaçào. Dos percalços que garantiram o sucesso - Wagner Moura náo pode aceitar, Rodrigo Santoro náo quis. Selton entáo, pegou o palhaço para si e fez o melhor palhaço que já vi. Misturou Chaplin e Oscarito, e trouxe o Chicó, do Auto da Compadecida. Pangaré é o palhaço talentoso do circo pobre, neste Brasilsáo pobre, nessas estradas pobres. Pangaré há de ficar na história, ele e seu sonho simples de um ventilador, de um amor, de uma carteira de identidade. De dormir em paz.

E fez também um homem no picadeiro, brasileiro como nós, buscando ser feliz neste país imenso, pobre, vazio. Buscando ser feliz ele mesmo.

Quem quiser que vá ver. Mais náo digo. Quem souber que responda, onde está o Circo Esperança?

Pangaré e Puro Sangue

Quero vê-los mais uma vez, quero ver a menina princesa da lona, sentar ao lado da mulher do prefeito. Quero esconder meu dinheiro da cigana traiçoeira. Trago a Esperança de ir ao circo com meu amor, comer paçoca com ele. Esperança de rever Pangaré e Puro Sangue.

Esperança para rir de mim, de meus sonhos esquecidos. Rir do que náo fui, do que eu náo soube ser.

Quero rir da dor que me atormenta o coraçáo.

Porque sem rir, o sonho é amargo, e a vida é estrada empoeirada.
É estrada longa, canavial afora, que vai dar em nada, nada do que se queria encontrar.
Sem riso a vida é cansaço, a vida é pinga barata. É bolso vazio, é só calor sem ventilador,sem beijo, sem namorada.

Mas se há palhaço no circo há a certeza - ou esperança - de que cada coisa está no seu devido lugar.

Náo adianta palhaço querer ser atendente de loja, e dormir sozinho no quarto vazio. Lugar de palhaço é no circo. Palhaço é palhaço e náo é ladráo de mulher.

E Selton náo é Woody Allen nem Almodovar. Mas está deixando seu nome no cinema, e no coraçao do espectador brasileiro. Gato bebe leite, Rato come queijo, e Selton faz cinema.

Selton

4 comentários:

  1. "E Selton náo é Woody Allen nem Almodovar."...Realmente, não, ele não é. Ele é Selton Mello como deve ser e com certeza o mundo inteiro vai o reconhecer!

    Belas palavras suas...Ele merece.

    ResponderExcluir
  2. Parabéns pelas palavras tão bem colocadas. Você disse tudo e mais um tanto. Perfeito!

    ResponderExcluir
  3. Caríssimas, muito feliz que tenham gostado!
    Na verdade, somos todas sortudas pelo Selton Brasileiro, pelo Palhaço brasileiro, e pelo espectador brasileiro, Sensivel, e de BOM GOSTO!!!

    ResponderExcluir