quarta-feira, 1 de março de 2017

A ferida na perna

A chaga
A chama
Inflama

Poética imagem 

Tinha uma coceirinha e eu cocei. Quem não coçaria? Pois é. Inflamou.
Por baixo da pele, há vida. E vida exige cuidado. Higiene. Assepsia. Consegui eu mesma me infectar - tá lá a feia chaga, prova da minha inocente coçadinha. (Pausa. Reflexão necessária . Quando é que não é assim? Pouquíssimas vezes as causas dos machucados são os outros.)
Podem pensar que exagero. Que seja dengo, charminho, não foi não . O negócio doeu, inchou, cresceu, e corri para o médico.
Terça de Carnaval.  Descubro-me descoberta. De quê meu Deus, indago à mocinha da clínica? - descoberta pelo plano de saúde. Assim descoberta, exposta à saúde pública do Rio de Janeiro.
Vivo até aqui me safando das armadilhas dos sistemas. Mais uma para conta. Não é um planinho findo a mais que irá me derrubar. Parti para o SUS, que a ferida, outrora botão, por ora estava em flor.
Chego no hospital. Estou lúcida, limpa, banho tomado, bem calçada. Destoando lamentavelmente da maioria. O carioca de forma geral não é caprichoso. Não tem muito zelo pela sua imagem nem pelo seu comportamento.  Não faz nenhuma questão de ser arrumado, nem educado, e costuma implicar com quem é.
Isolei-me num canto e olhei ao redor. Quantas mazelas. Ah, o frágil corpo. Pressão alta. Taquicardia. Hemorragias. Febres. Uma ambulância traz uma moça muito jovem desmaiada, a mãe narra que ela acordou, botou a mão no peito e desmaiou. Um rapaz ferido, bravo,  com jeito de quem estava em briga feia.
Idosa muito idosa e muito sozinha. Inclusive desacompanhada de sua consciência.  Não sabe dizer o que sente.
Envergonho-me de minha pouca ferida. Sinto-me plena e vigorosa. A enfermeira que tira meu sangue é carinhosa. Lembra minha babá da infância e eu sinto a velha certeza de que nada de errado neste mundo me acontecerá se ela estiver por perto.
O médico surpreende. Jovem. Gentil. Atencioso. Intenções duvidosas. Tem medo de botar a mão na minha perna. Fica gago. Faz perguntas repetitivas. Minhas respostas não o satisfazem.  A contra gosto me entrega a receita, me despeço,  ele me chama de volta. Sento-me empertigada. Pergunta onde moro, com quem moro. Esta' visivelmente nervoso. Pede que eu volte ao fim de seu plantão para conversarmos melhor. Sobre o quê???? Minha ferida???? Meu sangue???? Prossegue nesta conduta atípica, tira o jaleco, atravessa a meu lado a sala de espera indiferente aos que o aguardam e me conduz determinado à porta do hospital. Quer me levar ate' o ponto de táxi no outro quarteirão. Não entendo a fragilidade que este homem viu em mim. Sequer atingida por um tiro de canhão eu seria frágil; e entre meus mortos e os feridos da emergência eu estou perfeitamente bem. Ou não? Estarei equivocada? Será  que estou, afinal, bem mal? Entro no primeiro táxi que passa. Largo o médico na calçada. Agora vejo a fragilidade dele; queria fugir dali.
Escapuli.
Socorro.
Repouso.
Remédio.
Curativo.
Suspensão de atividades físicas.
A voz serena e carinhosa de meu bem a me cuidar.  Que eu me cure da perna. E da loucura alheia. E de mim.








Um comentário:

  1. SUS...? rssss
    Lindo texto... É ficção? Literatura? ...É sim!

    Bom..., por outro lado, a Realidade. Eis:

    E quanto ao (muitas vezes “esquecido” dos blogs…):

    LULOPETRALHISMO:

    Lula é um perigo para a volta à normalidade, lula é o atraso e o prejuízo. Um homem mentiroso VIGARISTA, PeTralha e Picareta.

    Lula é incompetente, foi incompetente quando apostou naquela mulher ignorante em ECONOMIA cujo nome é Dilma Rousseff.


    A pseudoesquerda, certamente. Hipocrisia publicitária e pura propaganda. Já está fazendo Campanha (inflitrado nos blocos de Carnaval, disfarçado).

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