quinta-feira, 9 de março de 2017

Acabou a monogamia

Casal
Trisal
Tribal
Normal
Promessa de felicidade - só no céu 
Foto: web 

A psicóloga, antropóloga, socióloga, escritora, intelectual, tudo enfim, Regina Navarro nos explica em sua nova e valiosa obra " Livros do Amor", entre outras análises, que a monogamia acabou ou vai acabar brevemente.
Muito debate em torno da afirmativa e pouco estudo da longa obra. Dois volumes pesados, que poucos estarão dispostos a ler. Prendamo-nos a este bordão, que a midia esperta escolheu como representativo - " a fidelidade conjugal acabou. A  monogamia vai acabar. " Profecia, praga, promessa, ou conclusão científica? Um pouco de tudo.
De fato,  se olharmos ao redor, a colheita dos frutos do "amor romântico" é um fiasco de primeira. O desejo de se completar e de realizar-se fora de si e através do outro não funciona. Descamba para uma neurose insuportável. As namoradas e esposas e amantes desse  modelo viram apóstolas - largam suas sandálias para servir ao Mestre. Melhor dito, apóstolas tiranas e sofredoras condenadas. Se tem bicho duro de aturar é mulher dedicada. Que exigência de gratidão. Impossível pagamento à altura de tamanha devoção. E no terreno minado da exigência e cobrança, e da insatisfação, o amor se desintegra.
O oposto, radical, o egoísmo a dois, também não resolve o vão do coração. Se fosse assim, era fácil, simples, e todo o mundo seria bem feliz.  Seríamos companheiros de quarto, viveríamos uma república emocional, onde cada um tem sua vida. Dormiríamos juntos. ou acompanhados de outras pessoas. Sonharíamos em separado.
Então agora vem mais essa. Relações estáveis sem a preocupação da fidelidade.
Nem precisa preocupar mesmo. Sabemos que não tem vacina que impeça a infidelidade. A fagulha do desejo, quando acende, queima em solteiros e casados. A proposta da teoria de Navarro, é que não precisa doer. A monogamia traz em si a ameaçadora espada da traição, e é um pacotezinho indigesto mesmo. Mudemos então de pacote. Chega dessa história de monogamia.
Com todo respeito aos acadêmicos do comportamento humano, não há nem haverá teorias coletivas para o amor. Escrevam tratados e façam doutorados, como queiram, porém cada ser humano é único em seu amor e sua forma de amar. E quem não é feliz consigo, precisa se tratar e se descobrir, senão não o será tampouco, a dois. Tente a três. Imagino o inferno de Dante com duas ou mais, a perturbar um infeliz. Ou dois belos a dividir a fêmea? Acho difícil. Brasileiro? Impossível fora da fantasia do ménage.
A grande busca pelo impossível - amar, realizar, aumentar o prazer, e extirpar o sofrimento. Não dá. Vai ter um pouquinho de dor e preocupação sim. Temos uma inevitável mão dupla que permeia esse caminho.
Ninguém quer sofrer, e os mais evoluídos não querem causar sofrimento também. Só que sofre-se e faz-se sofrer, desde que o mundo é mundo; e cura-se e cicatriza, e amamos de novo.
A novidade é que esse processo amoroso pode ser menos sofrido, muito menos sofrido, sem promessas falsas, e sem leviandades - o pessoal do  casal e o povo da poligamia; a galera do sexo casual e os adeptos do amor eterno. Ética evita sofrimento, gente, traz segurança e uma imensa, imensa liberdade.

A mega inteligente Regina Navarro,   ou quem quer que seja, não conseguirá dizer o modelo que serve. Ouso afirmar que não pretende e tem sido mal interpretada.
Estou mesmo por ver a receita do amor, afinal.
Quem tiver a fórmula da felicidade no amor, que a apresente.
Se tiver a sua própria fórmula, bem, se dê por muito, muito sábio e sortudo.
Ser poligâmico servirá para uns e não para outros.  Ser monogâmico cai como uma luva ou como uma forca. Depende.
Cabe a cada um encontrar sua tribo. Cabe a cada um ser claro, sincero, honesto. Essa parte é a nossa, é uma longa e trabalhosa parte, que sempre, sempre, sempre, invariavelmente sempre, envolverá escolhas, e perdas, e ganhos.
Vamos encarar nossos espelhos mais escondidos e aquilatar as coisitas nas balanças encostadas do banheiro dos fundos. Caneta da investigação e respostas ao velho questionário do quem sou, o que me importa, o que quero, o que gosto. Até onde posso.
Somos finalmente livres para escolher, para tentar, para descartar.

E sermos felizes, caramba, trocando de respostas e de tribos, se quisermos.


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