quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O verdadeiro inimigo, e sua senhora

Rio de Janeiro
Centro do Rio
Pinheirinho
Brasil


Mães e seus filhos expulsas de Pinheirinho, com a roupa do corpo, mediante explosivos. Foto: Globo on line

Três prédios desabam na Rua 13 de Maio, rua de acesso à estações de Metrô, ao Teatro Municipal, e a dezenas de prédios comerciais - até o momento quatro mortos, vinte e dois desaparecidos, muitos os culpados. Foto: Terra


Caríssimos, sabem o nome do sujeito que está despejando famílias, explodindo restaurantes e desabando prédios pelo Brasil afora?

Eu sei. É o nosso verdadeiro, maior e maligno inimigo. É o tal do Que Se Dane.

Foi Ele, e somente Ele que colocou seis mil famílias na rua em São José dos Campos, SP. Que se danem.

Foi Ele, e somente Ele, que autorizou que um restaurante funcionasse, em plena praça Tiradentes, em condições que contrariam, não à lei, mas ao bom senso. Que se Dane. Explodiu.

Foi Ele, e somente Ele, que tocou esta obra no prédio velho da 13 de Maio. Tinha tudo para dar problema. Prédio antigo, rua antiga, obra pesada demais. Bem, Que se Dane.

O Que se Dane também não gosta dos brasileiros formados em medicina em Cuba. Não. Questiona a validade de seus diplomas e os proíbe de trabalharem como médicos no Brasil. Estranhamente, acolherá a cubana blogueira que pede asilo político, de que ela viveria aqui? Bem, que se dane. Também os doentes brasileiros, que não tem médicos que dêem conta de todas as suas mazelas, esses que se danem.

E assim, sem preocupação com o próximo, com a população, com as gerações vindouras, com a cidade, com o Brasil, com o mundo, consigo, com a humanidade, com nada, o Que Se Dane cresce e toma corpo.

Começou discreto, mas não muito. Um processo de democratização ultra rápido e ultra questionável. Pronto. Orçamentos públicos desperdiçados em obras super faturadas. Atrasos, multas, fiscalizações vãs. Propinas, gorjetas, advogados caros defendendo o quê não tem defesa. Eleições esquisitas. Judiciário esquisito. O sujeito foi rondando, viu que aqui 'tava para ele, e foi ficando.

Age todo dia, em todos nós. Você atrasa no trabalho, entra no cheque especial, você come demais, bebe demais, gasta demais, dorme demais. Você empurra com a barriga o que precisa ser resolvido. Você engole a palavra franca que queria sair de sua boca. Você trava o abraço, segura o beijo, segura o pedido de desculpas, você não se emenda, repete, repete. Cuidado. Você evita ficar a sós. Precisa o tempo inteiro estar entre gente, falar, matraquear, comemorar, beber. Tampa os problemas e atarracha bem forte essa tampa de ferro. Enfeita com uma mesa moderna e uma luminária art-decò, fica tudo certo.

Você não quer se aborrecer. Dá uma graninha para o porteiro, ele dá um jeito, você entra à noite com a britadeira. Mais outro cinquentinha ali, e arrumamos um lugarzinho para os bujões de gás. Você não está nem aí para regras que não te beneficiam. Não lê o caderno de economia ou de política. Nem aí para o salário mínimo, nem aí para o IPTU, nem aí para o hospital público. Você vota no cara que é conhecido de sua família, chefe da alguém, parente de alguém. Que Se Dane virou seu amigo.

É, caríssimo, vamos nos perguntar se temos agido dentro da moralidade civil em todos os nossos atos. A moralidade consciente, não a moralidade aparente; não a lei, mas o respeito ao semelhante, embora muitas vezes o semelhante em nada se pareça com o reflexo em nosso espelho.

Sinceramente? A resposta, dura e cruel, é não. O Brasil não chegou neste caos de uma hora para outra, nem pelas mãos de um só.

O Que Se Dane incorporou em todos nós. Somos todos responsáveis. Não há causa única para um grande problema. Há muitas situações e pessoas que concorreram, por atos, ações e omissões. Poderiam ter evitado, ter ponderado, ter alertado. Ter lutado. Mas não fizeram, não quiseram, temeram, não puderam. Emprestaram suas mãos para a negligência, a imperícia e para a má fé.

Em toda a tragédia há a mão do Que Se Dane. Pode ter certeza.

Pinheirinho podia ter sido evitado. Há 15 anos estão ali. As obras assassinas de Naji Nahas também, seus credores, seus mortos. Os fiscais da saúde pública, os fiscais da prefeitura, onde estavam enquanto o restaurante funcionava e os pedreiros detonavam, dia a dia, o prédio da 13 de Maio?

Nosso inimigo público é casado com uma senhora, rica, opulenta, extravagante. É a Corrupção.

Mas o povo não liga não. Já já chega o Carnaval. E Que Se Dane o resto.

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