sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O Terceiro Elemento

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Via Láctea

Vamos dançar a dois



Quem tem um não tem nada, já dizia minha avó. Mas ela falava de sapatos.

A moça tinha um namorado, um único. Brigavam. Voltavam. Choravam. Ficavam de bem.

Bem, mais ou menos bem.

Traíram-se. Culparam-se. Reconciliação sem perdão. Perdão é coisa que nasce onde não há culpa, e a culpa da traição persegue o traidor. Mais que o traído, é o traídor o grande perseguido...

As moças não são rapazes. Não se desvencilham das dores. A dor batuca. É cuíca insistente no coração de ressaca.

A dor empurra. Como um parceiro cruel da contra dança, conduz a moça por passos de nível demasiado avançado. Ansiosa por acertar, tenta seguir. Tropeça, tropeça em mais dor.

Elegeu um terceiro elemento para ampará-la. Auxiliar nos momentos de hesitação.
Para consolar, acudir. E mais, para desempatar. O terceiro gol, o terceiro voto, o terceiro milênio.

Mas o amor não é partida com regras claras. É jogo com dois vencedores.

O terceiro elemento atropelou-se. Acabou por confundir. Descompassou o canto desafinado de um amor em seu fim, canto sem refrão, sem emendas, sem soneto.

Canto triste, lamento.

Com todo o carinho de meu coração ressucitado eu aconselho a moça a tirar o time de campo. Não há elemento terceiro, quarto ou quinto que venha resolver. Eles vem é complicar.

Uma equipe inteira de amantes apaixonados não conseguirá esclarecer o que uma alma sozinha não pode entender - compreender o amor é prerrogativa das almas sinceras e dedicadas à causa egoísta de amar. É tesouro de privilegiados, sábios, que conhecem o tempo exato de agir, momento preciso de escolher, de ficar e de partir. A hora da aposta e da retirada; da espera e da desistência.

Finalmente a teoria da salvação pelo terceiro elemento cai por terra: esse molde de sobrevivência emocional da nossa histórica sociedade machista é uma grande armadilha. Quem o seguir, mais cedo ou mais tarde se enroscará em pernas demais, em braços demais, em beijos demais. Em sonhos disparatados demais. Perde o ritmo deste pas-de-deux.

Quem quer ter par, tem que dançar com um por vez. Segundo o estatuto da gafieira, tem que esperar a música acabar para trocar de cavalheiro. Esse é o esquema da malandragem, e não é à toa.

Quem tem um pode não ter nada. Mas quem tem dois, tem menos ainda. Menos amor e mais desilusão...

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