segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Mais moralista do que parece

Rio de Janeiro

Será?

Pague e fuja



Nada como um dia frio e uma tv a cabo, e um edredon, e um chocolate quente.
Bem, podia-se ter a companhia de Rodrigo Lombardi, assim, desinteressadamente, mas não se tem, então sigamos buscando um bom filme.

Encontro " O preço da Traição ", com duas feras de primeira - a ruiva Julianne Moore e o premiado Liam Neeson. Esses nomes garantem o lazer do espectador. O roteiro pode ser fraco e tudo o mais pode conspirar para um fiasco, mas mesmo que o cenário seja fraco, que a direção seja fraca, e que tudo conspire para um fiasco, valerá a pena assistí-los.

Acertei. Ambos estão ótimos em seus papéis. Ela como médica, assustada com o caminho dolorido que seu casamento está tomando. Ele, o marido bonitão, distante, professor de adolescentes. Um acadêmico de sucesso, carismático, que flerta com mocinhas na frente dela. Diante da evidência de traição, o filme esquenta. Ela resolve tomar uma atitude.

Como se diz no popular - a chapa esquentou. A eficiente doutora contrata uma prostituta para testar a fidelidade do marido. Qualquer prostituta? Não. Uma linda jovem que já a conhecia de vista.

E la nave va. Um ato lançado ao vento tem desdobramentos incontroláveis.

A doutora, sim, de traída passa a traidora. Daqui em diante o filme podia ter sido a virada na vida de qualquer ser sexualmente ativo - mudar de opção, ou assumir uma dupla opção, enfim, romper com o paradigma e experimentar novos moldes para os velhos sentimentos do amor e do desejo.

Nada disso. A moralidade deste filme é como a de Chapeuzinho Vermelho: não obedeceu? entrou pelo bosque? O lobo é mau, a chapeuzinho é boa, e o caçador vai salvar todo mundo.

Senhores, irritei-me. O desfecho deve ter sido escrito pela professora de Moral e Cívica do meu colégio de freiras. A doutora corajosa arrependeu-se amargamente pelas ousadias. Dá para trás quando descobre-se bi. Subitamente, revela-se que seu marido jamais a enganou, que a perdoa e a quer de volta. De compulsivo galanteador passa para o santinho fiel. Toda a culpa para a prostituta - mentirosa, ardilosa, desequilibrada.

Preservemso a boa família, de bons modos, de boa condição social, a médica e o professor. São eles os bons e terão seus pecadilhos esquecidos. Seguirão sua rotina de trabalho honesto e rendimentos no banco.

Lamentei muito. Torci para um final de rumos verdadeiros. De felicidades maiores. Descobertas. Surpresas. Libertações. Julianne e Liam mereciam mais da vida a dois.

Mas Holywood preferiria saídas menos imorais.

Assim sendo, sejamos bonzinhos. Obedeçamos. Respeitemos o marido e o lar, e cuidado com as prostitutas - ou não valem nada ou são desequilibradas mesmo.

Um comentário:

  1. Oi Bettina!
    Assisti esse filme ontém também, e fiquei com essa impressão de final feliz forçado... É isso, Holywood não costuma fazer concessões à vida real...
    Ótimo texto!
    Grande beijo!

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