terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Galopai com eles - Viva o Teatro de Roda

Praia do Flamengo
Lá fui eu
Vi sim, e digo porque vi
Julieta e Romeu

Os amantes, que se "consumirão como fogo e pólvora", incorporados por Karina Diniz e Vinicius Alkaim, estarão no Finep até 30 de Janeiro

"Romeu e Julieta... é uma tragédia escrita entre 1591 e 1595, nos primórdios da carreira literária de William Shakespeare, sobre dois adolescentes cuja morte acaba unindo suas famílias, outrora em pé de guerra. Baseado em um conto da Itália, ao lado de Hamlet, é uma das suas obras mais levadas aos palcos do mundo inteiro." ( Wikipedia)


Estamos na época de super musicais, sei disso e todos sabem também. Estão por aí em cartaz, basta ir e assistir. Você vai cantar, vai até dançar, aliás, tem coreografia para quem não é dançarino, tem muita fantasia, muito cenário. Luzes mis. Nada contra, já fui, gostei, curti.

Mas há o texto, de qualidade tal que não tem época. Fala do HUMANO, e o HUMANO atravessa os séculos. E há, graças a Deus e aos atores, o teatro que não tem época. Que não entra e sai de cartaz. Está em cartaz e estará enquanto existir a arte cênica: é o teatro da interpretação. Perdoem-me os especializados, inventei este nome, e o explico. É o teatro onde vale o ator, e tudo que lhe é que indivisível - o texto, a direção, a voz, a dicção, o gestual, o olhar, a transformação. Onde vale o ser humano, que escolheu ser ator; que se permite dominar pela alma dos personagens, e dominado, liberta. Liberta para os demais mortais os personagens imortais.

Assim eu vi Romeu e Julieta, com a Cia do Teatro de Roda, de Mariozinho Telles. Assim eu vi um quadrado, no chão sagrado do palco, marcado com fita preta e amarela. E nesta marcação, desprovida de cenário, eu vi uma sacristia, um quarto, uma taberna, um campo, um túmulo. Não, não foi luz, nem projeções. A luz foi exatamente a mesma durante todo o espetáculo.
Os atores também não tinham figurino. Todos de preto. Atores, atrizes, personagens masculinos e femininos.

E assim Mariozinho, sem cenário, sem figurino, sem cortina, sem aparelhagem de som, sem super produção alguma, Mariozinho consegue criar, diante de meus olhos, a ilusão de ótica. Usou um capuz, era o frei. Tirou o capuz, Mercuccio. Usou uma máscara, um traficante. Karina Diniz usa um lenço vermelho em seu cabelo, era Julieta. Tirou? Teobaldo. O tal lenço, amarfanhado no peito de Mercuccio, era seu sangue derramado que exigia vingança. Roberta Mancuso transforma o mesmo lenço em um buquê, de noiva, sob meus olhos incrédulos. Maria Rita Rezende, sem acessório algum, mãos agitadas, mãozinhas brancas, nervosas, mãozinhas fofoqueiras, ela era uma tremenda alcoviteira.

Em pé, Maria Rita Rezende e as mãozinhas que Deus lhe deu. Ajoelhada, Roberta Mancuso. De lenço vermelho, Karina Diniz.

O talento é a grande super produção da arte.

O texto, adaptado para os dias de hoje, promove surpresas ao espectador, e o tempo passa sem sentirmos. Fomos transportados para outro universo, onde o amor de Romeu e Julieta nasce, cresce e se suicida, duplamente, a metros de nós, cariocas, que acreditamos no amor, e no teatro, e na arte.

Assusta-me a juventude das atrizes Karina Diniz e Roberta Mancuso. Rosto lavado, cabelos puxados para trás. Não precisam de adereços. Elas tem o que ninguém pode tirar-lhes, o dom da intepretação. Do convencimento imediato, da voz perfeita, da dicção perfeita, letras compreendidas com perfeição. Força da cabeça aos pés, andam, galopam, e deslizam quando necessário.

Dentre todas as cenas,fica difícil escolher uma para citar. Por sua beleza, escolho a cena final. Braço erguido para o céu, empunhando o punhal, Julieta resolve se matar. Romeu jaz em seu colo. Determinada, a heroína implora pela morte, é seu consolo e sua vitória. Fiquei apavorada. Vi o punhal entrar em seu peito. A cena termina um segundo antes, ou veríamos seu sangue no palco.

Fica o meu recado: eles estarão lá, de novo, dia 30 de janeiro, segunda feira, às 19 horas. Se você acredita no poder do ator, caríssimo, vá. Se não acredita, vá também. Vai mudar de idéia.

Ele, Mariozinho Telles, ator, diretor, ativista da arte

ROMEU E JULIETA, de William Shakespeare.
Tradução: Onestaldo de Pennafort.
Direção: Mariozinho Telles.
Elenco: Maria Rita Rezende, Karina Diniz, Vinícius Alkaim,
Roberta Mancuso, Último de Carvalho e Mariozinho Telles.

CURTA TEMPORADA (ÀS SEGUNDAS-FEIRAS)
Temporada: Segundas-feiras de 21 de novembro de 2011 até 30 de janeiro de 2012
Local: ESPAÇO CULTURAL FINEP – 180 lugares
Endereço: Praia do Flamengo, 200. Pilotis. Rio de Janeiro.
Duração: 75 min
Classificação: 10 anos
Hora: 19h.
Inteira: R$ 40,00
Estudantes e idosos: R$ 20,00

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