sábado, 21 de abril de 2012

Amor Exato

Rio de Janeiro

Exatamente na Lapa
Exatamente no Leblon
Exatamente em Copa


" O amor precisa da sorte, e de um certo trato com o tempo, para que o momento do encontro seja para dois o exato momento" (Zé Ricardo, em Exato Momento)

Estou com esse post incomodando no peito há dias. Hoje é o momento exato para que saia de mim, e eu nem fiz trato com o tempo.
As palavras tem destino e movimento traçados, e são tão exatas. Enquanto me incomodavam, eu não as entendia.

Eu não ia aceitar isso assim não. Como? Amor precisa de momento para os dois, ao mesmo tempo, encontro marcado pelo tempo?

Não. Amor precisa de Amor, Amor somente, o encontro pode ser marcado e desmarcado, porque se for de Amor, será impossível fugir dele. Adiar, talvez. Mas o Amor permanecerá lá. Firmão.

Exatidão? Claro que não. Ama-se mais, ou menos, há dias em que o Amor é maior, poderoso, infla o peito, arrebita a bunda e a auto-estima, e ainda faz brilhar a inteligência. Em outros, é melhor fazer de conta que não se ama, tamanho seu estrago. Por isso diminuiu? Claro que não. Pelo contrário. Ficamos avisados da imensidão da sua presença.

E nada de exato para os dois, isso é mais difícil ainda. Amar a criatura na medida exata em que se é amado, é outro parto. Um dos dois amará mais. Amará com mais certeza, com mais força. Como uma balança onde um dos pratos suporta mais peso sem rachar. Que Deus nos desse a graça de amar na medida igualzinha em que somos amados e não sofreríamos por falta ou excesso. Que Deus nos desse um amorzinho prêt-a-porter, experimentou, gostou, levou, acabaríamos por confundir Amor com Utilidade Amorosa...ou é amor, ou é conveniência, não andam juntos. O amor exige por si só, questionamentos, movimentos, mudanças.

E diante da minha curiosidade pelos versos da música tema da novela das sete, beijinhos mis, fui conferir a letra na íntegra, a fim de esclarecer se o moderno compositor, voz contemporânea, vai insistir em entregar o amor à própria sorte. O amor depende de sorte? Depende de tudo, menos de sorte. A Sra.Sorte sozinha não faz amor nenhum nascer, crescer, viver, reproduzir-se e morrer. Quem faz isto é sua amante, a Coragem.

Encontrei o que eu queria. Gol. A última estrofe, antes do último refrão, avisa: "Se o amor quiser mudar as leis do que é certo, ele faz que o improvável aconteça"
E para arrematar: " Talvez só seja assim para mim, e para você não seja nada disso. Mas eu prometo tentar aprender a te amar do jeito que for preciso"

(os últimos avisos costumam ter mais peso)

O poeta tem sua regra do coração - o tal do Dever Ser, de Kant. E a possibilidade de não ser bem como devia ser, mas ainda assim, Ser. Sim, essa é a possibilidade maior do Amor: impor-se, ainda que contrarie o Dever Ser. Mudar o provável, o esperado, mudar os atingidos pela flecha do cupido. Mudar o Destino. Com medos e acertos, com esforços, com voluntários e inevitáveis movimentos, com afinações ou descompassos.

Aí eu me apaixonei pela música. Aí eu me aliviei, e as palavras de Amor Exato saíram, coração afora. As palavras repetiram o mecanismo dos sentimentos contraditórios, vividos plenamente quando entendidos e aceitos em sua contrariedade.

Alívio...

O Exato Momento do Amor não obedece a regra nenhuma. Não é Exato, é diário, diariamente variável e inexato. Não precisa de dois juntos, concordando, adestrados, nada disso. O primeiro pode ir na frente e esperar. Ter bolhas nos pés e sustentar-se nessa espera. Esmorecer, duvidar, até entregar os pontos. O segundo pode adiantar-se, atrasar-se, desistir, seguir, voltar. Chegará. Chegarão.

Se é Amor faz o momento. Não faz trato com o tempo; faz o Tempo. Faz acontecer. Determina.
E ainda que seja assim só para mim, o amor promete tentar do jeito que for preciso.

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