quinta-feira, 7 de junho de 2012

Novas Rotas

Copacabana Posto Seis
Tijuca
Copacabana Posto Seis
Tijuca
De Pajero


    Novas Rotas a Tempo Certo


    Se eu pudesse escolher, eu traçaria rotas de fuga.
    Pela orla, ar livre, céu aberto. Cheiro de mar, cheiro de sal, vento.
    Avançaria Brasil afora rumo ao nordeste, em caminho livre, perfumado de maresia.

    Faço parte da população economicamente ativa. Não tenho tempo hábil para levar meus pimpolhos ao colégio, os horários são incompatíveis. Contratei uma van. Não era bem uma van, era uma Pajero, igualzinha a esta da foto. O motorista, de total confiança. Profissional experiente. Pontual, responsável, zelando pelo bom comportamento dos pimpolhos uniformizados.  Possibilitando, mediante acertado pagamento, o acesso diário de meu caçulinha ao seu colégio, a sua professora, aos seus amiguinhos. A uma das partes mais importantes e determinantes de sua vida -  o terreno da educação formal. Da instrução.

    E assim foi. Infalível como um trem suiço, às seis da manhã, S.Jorge e seu Pajero na minha porta, Pedro vai,  Às 12:30, Pedro volta,  meu pimpolho entregue em perfeito estado. Ano após ano. Sexta última, o prezado motorista desceu de sua máquina de transportar criancinhas e fez queixa de meu Pedrinho. O pequeno é guloso demais. Come na van. Suja os bancos. Derrama Toddynho. Mostrou-me papéis de bala, de sanduíches, canudos sujos.  Pediu que eu conversasse com ele. Argumentou que tantos lanchinhos haviam  também de atrapalhar o almoço. Aceitei sua queixa. Concordei prontamente. Higiene é limpeza e inclui bons hábitos de alimentação. Despediu-se de mim, estava bem disposto, ativo, dinâmico.  Apertamos as mãos, e eu desejei bom fim de semana.
Ok.
Segunda feira S.Jorge e sua Pajero não vieram. Sem sinal. Quatro crianças sem seu guia. Ligamos para o colégio, e fomos informados que S.Jorge falecera sexta feira à noite, de enfarte fulminante. Horas, poucas horas, talvez seis horas depois de nossa conversinha amigável.

Foi-se.
Assim somos nós, e assim é nossa existência fugaz.
Hoje estamos aqui, em pé, trabalhando e papeando. Em horas não estamos mais. Regra injusta, desconhecida, não sabemos nossa hora, talvez não tenhamos feito as malas e nem pago as nossas contas; mas teremos que ir, e deixaremos pessoinhas nos esperando.

Nosso contrato de serviço na Terra foi firmado sem a devida clareza. Não temos conhecimento do nosso prazo de validade. Não sabemos, simplesmente não sabemos o dia da rescisão do contrato, e pode ser que não haja tempo de resolver aquele assunto difícil ou de beijar o filho com quem fomos injustos. Pode não dar tempo de ficar de bem com o marido. Ou de separar dele de vez e partir para um novo amor.
Não. Pode não dar tempo de pedir ajuda. De seguir o conselho, de erguer a taça.
De decidir, de escolher. De mudar.

Pode não dar tempo de voltar atrás ou de seguir em frente.
Pode ser que a gente não tenha tempo para consertar nossos mal feitos. Nossos desafetos, nossos arremedos.  Tampouco comemorar de verdade nossas vitórias. Estamos sempre correndo e a qualquer momento podemos não ter mais um segundo.

Como viver assim, com as malas prontas e as contas pagas? Com as atitudes tomadas? Como estar sempre em dia com seu sonho e com sua realidade?  Ah, regrinha terrível esta do tempo curto, que nos toma o futuro sem aviso prévio, que tira nosso destino de nós mesmos. Que nos impõe a rota de fuga, sem saber se ainda precisamos ficar.

Desejo que S.Jorge tenha tido o tempo que precisou ter. Que tenha tomado então a rota do céu, escolhendo o melhor caminho, e que lá chegando conduza os querubins para suas mestras, com o mesmo carinho que conduziu meu filhote todo este tempo. Anjos sortudos, esses que o terão por guia.

Nota: para Jorge Matte com um beijo de Pedro

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