domingo, 17 de junho de 2012

Poderosa Martha Medeiros

 Rio de Janeiro
 Arpoador
 Martha Medeiros na pauta do dia

 
Martha Medeiros, que fez o carioca pensar mais sério hoje 
Foto: Divulgação


‎"O início da paixão é estratosférico, as pessoas não param quietas exibindo tudo que podem fazer. Depois passam a confessar o que realmente querem. A paixão é mentir tudo que você não é. O amor é começar a dizer a verdade." Fabrício Carpinejar - in Revista O Globo, 17 de Junho.


Leio a página de Martha Medeiros na Revista do Jornal todo domingo, eu e a torcida do Flamengo.  
Intriga-me como ela sempre acerta no alvo. Escreve sobre o que queremos ouvir e sobre o que precisamos ouvir.
Sucesso semanal. 
Bem, hoje a coisa transbordou.

Mal pisei no calçadão para a caminhada profilática do sétimo dia, minha amiga: "- Já leu a Martha hoje?".  Recebi uma mensagem no celular, de outra amiga: "-Leia a Martha hoje!!!". 
Facebook: citações sobre a coluna. Teve uma que postou a página na íntegra, scanned.

Li. Reli. Li de novo.

Martha descreve com sua habitual clarividência o comportamento dos casais no início de sua relação, a partir da citação de Fabricio Carpinejar (acima).  Que canetada de mestre. Falou sobre todos os casais do mundo em um texto só. 

Hoje, a Poderosa Martha colocou o dedo na ferida aberta, pelo menos na minha.

As relações amorosas tem curta duração, e essa é nossa grande mágoa.  Apenas 5% dos casais passam dos cinco anos juntos, as estatísticas e os círculos que frequentamos comprovam esta estimativa. E o ser humano, que inegavelmente deseja ser feliz no amor  e viver um relacionamento em plenitude, frustra-se quando isto não ocorre. O motivo, caríssimos, pode ser esse aí da citação - entramos no esquema meio equivocados. No começo tudo são flores. Mostramos o que de melhor temos, e se não temos, criamos. Como pavões exibindo cores exuberantes. Há agitação, há ansiedade, há um desfile de qualidades e habilidades. Frisson. Queremos emagrecer, esbanjar charme e distinção, profundidade intelectual, irreverência. Mostrar-nos seguros de nós mesmos.  Mas esse enaltecer-se não é vão. Não é mentira. Não é invenção. 

É uma projeção. Desejamos ser assim, é o "dever ser "  de Kant, na esfera amorosa. Desejamos que o eleito nos veja assim, e vendo, e parecendo ser, assim seremos. Seguiremos o modelo que criamos. Comprometemo-nos a sermos especiais, gentis, compreensivas, fogosas. Companheiras. E elezinho também. Um doce, um docinho. Viril, disponível, cheiroso.


O começo de uma relação é um começo de esperança.  Vamos com sede ao pote mesmo, porque somos (ou estamos) sedentos de amor. Enraizada no terreno arenoso do coração, a esperança pode afundar ou desaparecer a qualquer momento, basta uma mudança de ventos mais expressiva.

O personagem ideal não se sustenta sequer por médio prazo. Passados 6 meses para uns, 9 meses para outros, ano e meio para os demais, a vida real se impõe.  Não temos mais como alardear as vantagens e a imensa alegria que é viver lado a lado; o outro já tem dados reais de avaliação, e constatou que de tudo que foi prometido, pouco se realizou. A propaganda foi substituída pela realidade. 

Mas houve mentira? Houve enganação? Afora os casos clássicos de gente que esconde casamentos, filhos, e propriedades, não há muito como mentir sobre si mesmo, pois não sabemos a verdade sobre nós mesmos. Quem se conhece a tal ponto? Quem é capaz de prever como será, se amado e cuidado e realizado? Ou como se comportará diante de um desagrado, uma frustraçãozinha, uma ofensa? Tudo muda a cada segundo. Trazemos conosco um código indecifrável, no nosso DNA sentimental.  O que alegra hoje, inferniza ano que vem. O que me faz feliz  aqui e agora, não é suficiente para um mísero suspiro em circunstâncias distintas. As pessoas e seus corações mudam. Expectativas altas demais, metas arrojadas demais, e pronto.

Foi-se.  

É preciso desenterrar a esperança do coração, e plantá-la em terreno mais fértil. Coração é terreno arenoso.
Talvez, no solo mais firme do mútuo conhecimento. Da prudência. Avançar um passo de cada vez. Um dia de cada vez. Devagar, devagar se vai mais longe.

Mas dosar-se assim, caríssimos, exige anos de treinamento. Como dizia-se na malandragem,  isso aí é biscoito fino. É coisa rara, para muito poucos.





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