quarta-feira, 27 de junho de 2012

E aí, comeu?

Um Roxy perto de mim
Três moços e uma só vontade
Mas, comer o quê?




A partir do texto de Marcelo Rubens Paiva, E aí, comeu? Em cartaz nos melhores cinemas, nos melhores endereços, e nos melhores corações


Se tem um negocinho gostoso de fazer nesta vida é pegar um cineminha. Pode ter Tv a Cabo, LCD, HD. Cinema é diferente, é como entrar numa nave espacial,  e mais: filme assim, como esse, pagou um ingresso de cinema, valeu uma sessão de terapia, com troco e tudo.

É o caso. Fui sem nenhuma pretensão de nadíssima alguma. Fui para rir, só rir, comer minha pipoquinha, espairecer. "Quero a alegria das coisas simples ",  ensinou Manuel Bandeira, e quem sou para contrariar. Com E aí, comeu? Tive tudo isso e ainda saí cheia de genuína esperança. De fé na vida, no casamento, no homem, na mulher, no encontro. E no desencontro também, porque não?  Sem desencontro não pode haver novo encontro...

Excelente a estratégia da direção.O filme começa  em tom bem pejorativo. Em linguagem chula, Marcos Palmeira em close detona com a mulherada. Reduz nosso gênero a pó de mico. Gargalhadas no cinema. Companheiras, calma, a luta continua. Fará total sentido.

Cena a cena a situação firma-se. Temos três rapazes frustrados com suas companheiras ou com sua solidão. Ou com  ambas, a companheira e a solidão. Acontece, ah, acontece. Temem. Temem o momento presente, o futuro, estão apegados a modelos que deram defeito, e não tem conserto.

Mas o Bicho Homem é teimoso e acredita mais no garçon do boteco do que no Papa. Principalmente se o garçon for S.Jorge, que convence no papel do bom malandro, do novo malandro; trabalha honestamente e pinta o sete fora do horário do batente. É o confessor do trio, e toca a bola com Mazzeo, Palmeiro e Orsioo que é uma beleza.
Entre um chopp e outro o consultor dos rapazes vai mostrando que a coisa está feia, o mercado disputado, e a mercadoria de qualidade, escassa.  O filme conta com  participações especiais brilhantes, (Juliana Paes, Murilo Benicio, Renata Castro Barbosa e Luciana Fregolente, entre outros)  e que analogamente podemos afirmar que repete a vida real. Muita mulher bonita, muito sexo, muita diversão. É. Vê-se muita participação, e claro que dá brilho, dá alegria, dá charme. Tem muito espaço para a festa. Mas para o papel de protagonista, caríssimos, temos dificuldade em escolher.  Poucas opções com o perfil desejado. Poucos são os escolhidos para as cenas de maior intimidade emocional, e dentre estes, alguns não aceitarão esse personagem. Não estão preparados.

Neste cenário, os bonitões vão se apavorando. Sozinhos, abandonados, ameaçados por traição, (inimiga número 1 de dez entre nove varões brasileiros)  cada um tem seu drama e nenhum parece enxergar solução. Até que decidem, corajosamente, libertar-se das soluções antigas, e partir para novas soluções. cada um ao seu estilo. Nada de padrão, eu já disse isso aqui. O padrão aprisiona. Amor não tem bula, não tem receita de bolo, não é por encomenda. Revela-se. Invade. Surge. Você tem medo, olha pelo vão da porta, mas ele atravessa sua hesitação e instala-se, dentro de sua sala.

É preciso coragem para viver, e para acreditar. Para romper com o passado, com o padrão imposto, com maluquices, cismas, picuinhas.  Permitir-se uma caminhada por outros rumos, aos poucos, com a curiosidade do cientista e a delicadeza do ourives. E assim, dado o primeiro passo, os seguintes virão naturalmente. Os pés leves, e já não são passos, são compassos, delicados, dançantes.

Parabéns aos corajosos produtores. Além dos quesitos técnicos de praxe estarem corretíssimos, do início ao fim, acertaram em cheio no campo subjetivo do filme. Partiram de um contexto masculino e criaram um dos filmes mais feministas já exibidos em nossas telas. Iludiram o espectador, hein, espertinhos. Muito folgadões, os galãs passando-se por machistas de carteirinhas. Só queriam amar, só queriam amar, só queriam amar.



Luciana Fregolente, Bruno Mazzeo e Renata Castro Barbosa. As Alucinadas entraram no Comeu, separadamente,  e hilárias

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