segunda-feira, 1 de agosto de 2011

As versões do mesmo fato

Rio de Janeiro

todos os bairros
todas as tribos
todos os fatos

Ambas as máscaras são faces de um mesmo rosto


Fiz Direito com a intenção de ser advogada.
Não consegui.
Afora a burocracia e a demora do setor judiciário, irritantes, eu não conseguia manter minhas convicções. Sério isso. Era quase uma infidelidade.
Uma vez lida a contestação da outra parte, eu desmontava. Morria de pena e dava razão ao que antes parecia-em um absurdo.
Julguei-me volúvel, sugestionável, vira casaca. Parti para outra.

Hoje estou no ramo de relacionamento com cliente, vejam, caríssimos, que bom. Escuto o cliente e escuto a empresa. Preciso eu mesma chegar a uma conclusão. Poderoso exercício de apuração dos fatos.

Assim sendo, vou levando minha vida ouvindo aqui, ali, e concluindo. Ainda que provisoriamente há de haver uma conclusão. É preciso achar um ponto em comum, em que todos concordem, e a esse ponto combinamos chamar de verdade.
Lêdo engano. A verdade depende da versão apresentada, e do poder de persuasão de quem a apresenta.

Acho que a chave é esta: PERSUASÃO. Tudo muda com o poder da argumentação.
Porém já não sou recém formada e trêmula de sensibilidades. Não é qualquer argumento bem apresentado que me convence.

Aprendi a ter olhos bem abertos para o FATO NOVO, que tal qual no Direito, lança por terra a sentença mais legítima do Fórum.

Venho observado uma queridíssima amiga. Controlada. Segura. Dona de si. Eu tinha certeza que havia algo escondido ali. Ninguém é assim tão soberana de sua vida. Lembrei-me de Scott Turrow, em seu livro, " O ônus da Prova", onde tudo gira em torno da vida dupla (invisível) das pessoas. Dos sentimentos muito bem disfarçados a construir uma rede paralela no cotidiano do cidadão comum.

Pronto. Eis que ela contou tudo. Não sei porquê fazem isso comigo.
Peço a Deus que nunca me seja aplicado o soro da verdade; o que guardo aqui nesta cachola quebra o Pentágono, acreditem.

Quando a encontro agora ponho-me absolutamente intrigada: qual das que conheço é a real?
Ambas?
Nenhuma?

Sua versão dos fatos corresponde à realidade? Haveria outra leitura dos fatos? Não sei. Sei que saber do que as pessoas vivem (ou dizem que vivem ) confunde-me. Crio versões. Quero entender. Quero comprar a briga alheia.

Acredito que precisamos, todos, dosar nossa sinceridade. Não em relação às nossas revelações não, podemos ser rasgadamente francos entre amigos, mas nossa sinceridade em encarar os fatos. Gosto disso. Não gosto daquilo. Sou boa. Sou má. Não sou apaixonada por ele. Quero continuar com ele. Casei-me por amor. Separei-me por outro amor.

Tudo tão simples não houvesse esse lamaçal entre o SIM e o NÃO. Sem os pantanosos talvez, se, entretanto, ainda, só mais um pouco. Essas variáveis deviam explodir no ar. Cada palavrinha destas abre novos caminhos. NOVOS FATOS.

Já não sei qual a verdade. Há uma única verdade? Todas as versões são possivelmente viáveis, e todas as respostas acima são corretas.

Disse o Pequeno Príncipe que o essencial é invísivel ao olhos. Trinta anos depois de ler este livro,e de ter visto e ouvido o que vi e ouvi, acrescento baixinho: depende de quem vê. Olhos físicos ou olhos do coração? O essencial varia muito e se mascara muito. Nossos olhos nos enganam muito. Agarramo-nos à esperança que a verdade salte aos olhos.

O essencial é intermitente - mostra-se e esconde-se, e aparece com outra cara.

Mais não digo. Não posso. Não saberia o que dizer.

Nota: Minha amiga (e somente ela saberá que é para ela) - independente de qualquer coisa neste mundo, querida, seremos sempre amigas.

Um comentário:

  1. Adorei, como sempre, mas esse post nem vou comentar, simplesmente, porque daria um outro post. Bom, daria também uma bela sessão de terapia, mas isso nós faremos, certamente!

    ResponderExcluir