quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Italo Rossi e o Sr. Claudio

Rio de Janeiro,
Que feio


Caríssimos, faleceu o maravilhoso Italo Rossi.
Famosíssimo, talentosíssimo, queridíssimo.
Perda amplamente sentida e divulgada.

Não pouparei palavras ou elogios ao grande ator Italo Rossi.
A ele, toda honra e toda glória. Aos seus anos de carreira, aos seus feitos, aos seus passos trilhados com raro talento.

Lamento que partiu, e muito. Mas venho criticar a cerimônia de seu sepultamento, que teve lugar no Cemitério do Caju em 3 de Agosto.

Virou ocasião. Virou point. Flashes. Autógrafos até.

Uma lista de gente famosa e comovida, que foi se despedir de seu colega, de seu professor, de seu ídolo. Era hora de calar, sentir, reconhecer, resignar-se. Chorar.
Era um momento de dor, de pesar, onde a tristeza e o silêncio tinham lugar cativo. O silêncio, caríssimos, é uma grande homenagem.


Só que não houve a necessária paz para esses atos profundamente sentidos. Para os fãs lá presentes, era hora de tietar. Estavam eufóricos com a vitrine móvel de atores e atrizes, e acredito que talvez sequer reconhecessem os feitos do grande Italo. Miguel Falabella e Diogo Vilela abordados insistentemente. Leticia Spiller desfigurada em lágrimas e seu pranto registrado em celulares e digitais.


O Cemitério virou a Ilha de Caras em dia de luto. Celebridades e seus óculos escuros por todos os lados. O ba-fá-fá prejudicou outros cidadãos também.

No mesmo dia 03 de Agosto, faleceu o pai de uma amiga querida, sr. Claudio(usarei este codinome para preservá-la). Foi sepultado no mesmo local.

Que azar para este sofrido e honesto senhor e sua sofrida e honesta família. Não era publicamente conhecido ou famoso, mas merecedor de todo o respeito sim. Não para os funcionários do Caju, que estavam enlouquecidos, de cabeça virada, como se diz por aí.

O velório do sr. Claudio atrasou uma hora e meia. O serviço religioso foi corrido e apressado. O coveiro (sim, é coveiro) encarregado de remover o caixão para uma Kombi estava com seu celular ligado, e o toque, pasmem, era o hino do Flamengo. Tocou, tocou alto, o tal coveiro atendeu e confirmou com seu interlocutor que o cemitério estava bombando.
Fechou o caixão sem dirigir-se à viúva, enfiou-o numa kombi e partiu para o jazigo, a aproximadamente 2 km da capela.

Viúva e filha, e valorosas companheiras, seguiram a pé, abaladíssimas. O caixão foi descarregado como um pacote e depositado em um carrinho sobre o chão. Falando ao celular, o coveiro partiu para ver mais artistas.

As moças não tiveram a quem recorrer. Procuraram administradores, gerentes, nada. Com muito custo, empurraram o tal carrinho e depositaram o caixão em seu devido lugar. Aí apareceu um funcionário para dar uma mãozinha, tardiamente, o trabalho duro já estava concluído.

Lamentável. Tenho certeza que Italo Rossi não gostaria disso. A classe artística não gostaria de saber disso. Já a administração do Caju, não está nem aí.

A família do sr. Claudio não tem culpa da coincidência de datas, e sequer pleiteou paparicos ou serviços gratuitos. Seu enterro foi pago e o Caju,
bem o Caju só queria saber dos globais.

Nosso Brasil carregou por anos o estigma de não ser um país sério.
O que é ser sério? É simplesmente cumprir. Horários, prazos, deveres.
Promessas. Com a devida compenetração e respeito. Até com alegria de ser eficiente.

Povo carioca, vamos mostrar nosso valor. Vamos ser sérios, vamos ser mais distintos. Vamos nos livrar dsse peso insustentável do ôba ôba. Na hora do aplauso, aplauso. Mas na hora dos pêsames, pêsames, e mais nada.

E se sincera for, cabe a lágrima.

Um comentário:

  1. Que situação, garota! Total falta de respeito aos vivos e mortos. A administração do cemitério deveria ser mais responsável.E acho horrível essa coisa de achar q artista é diferente. Mas atualmente, com as atuais exigências da mídia, eles se mantêm no topo mais pela imagem q pelo talento. Portanto, se o point é o Caju, é pra lá q eles vão. Só não dá pra saber quem está atuando ou sofrendo realmente.
    Bettina, te agradeço o convite para o evento ( não lembro o nome do escritor agora... Conrad, né?) Mas sábado de manhã é um pouco complicado pra sair, meu marido sempre inventa alguma coisa pra fazer...eu adoraria ir, mas fica pra próxima, ok?
    beijos, Márcia

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