sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Divinas, e ponto

Rival,
Revival,
Rive Gâuche

O espetáculo Divinas Divas, sob direção de Berta Loran

Elas são Divinas.
Divinas divas, divinas damas, divinas deusas.
Divinas, ou divinos, e ponto.

Os historiadores dizem que os deuses não tem um sexo. De fato, a maioria dos deuses da mitologia grega (e as entidades da umbanda também) podem apresentar-se sob as formas masculina e feminina, conforme a necessidade da situação.

Aí está. Jane di Castro nasceu Luiz. Rogeria, Astolfo. Kamille, Carlos.

Há anos, décadas, travestem-se com o maior orgulho e coragem. Épocas menos covardes, os homofóbicos (náo havia esse termo), mas enfim, eram homofóbicos e queriam surrar travestis. Sabe-se lá porquê, alguma tara mal resolvida, talvez. Davam-se mal: as divinas os enfrentavam na mão mesmo, e mão grande, coisa de homem para homem, e não havia Orgulho Gay para defendê-las. Não estavam ainda garantidos os tais direitos humanos, e o tal do direito à opção sexual, como se alguém pudesse não tê-lo.

Hoje desfrutam do reconhecimento conquistado através de anos de trabalho sério. Foram aplaudidas mundo afora, e temos a honra de tê-las entre nós, dando o seu recado. Apresentam-se neste espetáculo como deslumbrantes senhoras elegantes. Exageradas, senão não teria graça, pero no mucho, tem bom gosto, tem charme, e distinção. Vestidos em seda, renda, esvoaçantes, longos. Meias finíssímas, jóias. Deixam o aroma de perfume no ar.


Vive la difference.

Em uma sociedade de culto à mulher melancia e outras criaturas, a Sra. Jane di Castro é um exemplo de recato. Sim, e de altivez, de dignidade. Quem dera que estas moças de barriga de fora e piercing pendurado sobre o ventre livre tivessem seu porte.

É fato - as Divinas Divas representam com perfeição os modelos de feminilidade, raros hoje em dia.
Representam a figura feminina, o gostar de ser mulher, se balançar cabelo e pisar leve no salto. Faz falta. A graciosidade feminina enfeita o ambiente. A mulher quis se equiparar ao homem, mas confundiu-se em vários pontos.

Elas náo, não estáo confusas em nada, nadica de nada. Em depoimentos no palco afirmam que sáo homens sim E que adoram se vestir de mulher. E que adoram outros homens. Aplausos.

Além da presença esfuziante nos palcos, além da estética, elas tem talento. Cantam, em vários idiomas e ritmos. Abusam da voz híbrida e possante, afinadíssimas. Desfilam o melhor da música internacional, Nigth and day, Je souvrivais, La vie en Rose, I´ve got you under my skin. Arrepiam com Emoçõs, do Roberto. Rogeria, um furacão. Um arraso, é magnética. Jane cantando salsa levanta um morto do caixão, sairá feliz e sacudido, e a tirará para dançar.

Temos as comediantes. Kamille entra em cena caracterizada de faxineira. Horrorosa e hilária, em nada se assemelhará à chiquérrima senhora que conheceremos, em trajes de Gabbana. É uma atriz de primeira.
E Fujika de Halliway, mignon, cintura de pilão, numa dublagem satírica de ópera. De chorar de rir.
Eloína, que anos a fio apresentou os sarados leopardos, é um doce. Meiga. Suave.

Abaixo qualquer preconceiro, please. O marido de Jane, sentou-se ao meu lado. Um senhor, discreto, simpático, educado. Poderia ser um tio, parente da família. Palmas para ele. Vive seu amor, que já dura 40 anos, sem usar crachá. Não precisa. O que precisa é o carinho que vi em seus olhos, em direçao a Divina Jane - ah, esse carinho vi nos olhos de poucos, pouquíssimos homens ao olharem suas companheiras.

Enquanto assisto-as, encantada, consolo-me. O tempo passa, a vida passa, e o talento fica. O talento, na verdade, amadurece, fica mais saboroso, mais doce. Como as frutas.

Saí motivada. Saí feliz. São pessoas de fibra, de personalidade, de força. E tem suavidade para cantar com todo amor no coração, e coração não se traveste. Coração e alma, nestas senhoras, estão à vista. Sem maquiagem.

Esta que vos fala e Kamille

Com a esfuziante Jane di Castro

Honrada pela aproximação com a musa, Rogéria, cheirosíssima.

Com a doce, dulcíssima Eloína

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