sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Vale Tudo

Rio
Leblon
Eu e Você Você e Eu
Juntinho


Prepare-se para uma viagem ao mundo redondo de Tim Maia
Foto: Divulgação.
Tim Maia: Vale Tudo
Texto: Nelson Motta, Direção: João Fonseca



Eu já sabia que era bom.  Excelente até. Muitas reportagens sobre a temporada de TIM MAIA:Vale Tudo no Teatro Carlos Gomes. Lotação esgotada, brigas na bilheteria. Sucesso. Tiago Abravanel superando  expectativas, cantando, dançando, incorporando.

Mas não esperava o que vi no Oi Casa Grande. Eu vi Tim Maia.  Seu vozeirão. Seu swing. Suas maluquices.

Vi o Tim da infância, entregando marmitas, beliscando petiscos das marmitas dos fregueses. Engordando...O Tim boa praça da adolescência, cheio de amigos, botando a galera para dançar no meio das ruas da Tijuca.

Vi quando foi para os Estados Unidos, quando foi preso por porte de drogas e dirigir veículo roubado. Deportado, retorna,  e solto, e livre, se joga na música, criando um som irrestível e inédito no Brasil.

Assustada. Não sei se estive na platéia do teatro ou se estive no mundo espiritual, guiada por sua música para uma visita ao passado. A presença de Tim é real, e não há nenhum toque mórbido ou póstumo, é Tim ao vivo. Não me falem em Tiago Abravanel. Falem de Tim Maia.

Amparado por elenco de talento, o ator-revelação impressiona tanto quanto a personalidade que incorpora, reconheçamos,  interpretar, cantar e dançar como Tim não é para qualquer um mesmo. Abravanel contracena com feras - Isabela Bicalho ( como canta! E já foi Narizinho!), Lilian Waleska, ("É com esse que eu vou"), e os maravilhosos Pedro Lima, André Vieri, Bernardo La Roque, Reiner Tenente, Evelyn Castro, Pablo Ascoli, Aline Wirley (Rudge / Hair)e Leticia Pedroza, que representam as feras Roberto Carlos, Imperial, Nelson Motta, os amores e a família de Maia. Roberto Carlos é uma figuraça, um comédia. Aliás, a direção consegue manter um tom debochado, nessa história de triste fim. Mais: consegue um tom descarado, como era Tim. Debochado.

As quase três horas de espetáculo são livres, leves, soltas, embora temperadas pelo uso de drogas e pela solidão que o acompanhava; por sua busca sôfrega pelo amor. Busca vã. Sua ironia, que fazia piada da vida e de si mesmo. Piadas amargas, que são nossas também: "Aqui nesta platéia 99,9% é corno, não é não?" Desminta quem puder. "Gordo. Ou beija, ou penetra."  Houve controvérsias na platéia.

Compartilhamos, agoniados, da impotência de seus amigos e de suas mulheres diante do descabimento de suas ações, loucas e incrivelmente coerentes com seu descompromisso com a vida.
O fascínio deste gênio é sua coerência extremada. Para ele Valia Tudo, mesmo. Sem ressalvas ou meios caminhos. É droga? Então é droga, muita, todo dia, misturadas, desmanchadas no whisky. É música? Então é música, a melhor, o melhor timbre, o melhor som. È amor? Amor, porrada, paixão, entrega. Solidão? Solidão. Para valer? Para valer e doer.

Tim cria uma conduta desregrada para si e para seus próximos. Acompanhe quem puder, ou caia fora.

Esse foi o mundo de Tim. Um mundo de brilho, de sucesso, e de solidão. Fora do mundo possível. Impossível sobreviver. Ele era de outro planeta, e fez o planeta Brasil dançar até o último minuto. Muito. Com tudo.

O resto? O resto, caríssimos, o resto vale.

Nota: neste momento você deve ouvir a metaleira da Banda Vitória Régia. Ouça. Vale tuuuudo...vale.... vale tuuuuuuuuudo....

Foto: divulgação.
Tiago Abravanel, Isabella Bicalho, Lilian Valeska, Pedro Lima, André Vieri, Bernardo La Roque, Reiner Tenente, Evelyn Castro, Pablo Ascoli, Aline Wirley, Leticia Pedroza

Um comentário:

  1. Ótima resenha do espetáculo!
    Já assisti(infelizmente só uma vez, mas pretendo voltar), e suas palavras foram perfeitas pra descrever essa maravilha de musical!
    Parabéns a você pelo ótimo artigo, e ao elenco e produção pelo show impecável!

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