domingo, 4 de setembro de 2011

Lagoa, by nigth

Lagoa Rodrigo de Freitas


Ao ar livre, tudo é mais bonito

Espie rápido, e fuja


Caríssimos, eu vi.
Eu vi e assustei-me. Surpreendi-me, e porque náo dizer, invejei.

Andavámos táo trajados e corretos pela Lagoa depois de uma pizza. Sim, a pessoa quer comer e náo quer engordar, entáo precisa comer e caminhar imediatamente após a pizza. Seguimos para a caminhada.

Há lugares onde o Rio é mais Rio. Mais convidativo ao encontro a dois. Ao Beijo Desavergonhado, assim mesmo em maiúsculas. A Lagoa à noite, com sua beleza nobre, em sépia e dourado, ladeada por Ipanema, Leblon, Fonte da Saudade, Corte Canta Galo, essa Lagoa Noturna Escura e Côncava chama para o tête-a tête.

Mas já não tenho a mesma desinibiçao de tempos idos.

Fomos convidados pelo cenário e pelo ambiente, mas declinamos com propriedade e prosseguimos em andança terapêutica e profilática.

Cantarolando baixinho, escutamos um farfalhar, um barulho de mato. Stopped. Tememos um assalto, algo assim, opçao prontamente descartada. O assalto que havia ali era outro - da ordem imperativa e indiscutível " - ENTREGUE-SE".

Então os vimos. Um quadro, uma foto, um flash. Um casal fazia amor à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas.

Não direi o local exato para não atrair multidóes, mas era na Lagoa, era ao ar livre, e nem era táo tarde assim. Adolescentes? Náo, o casal náo era táo jovem assim. O homem tinha cabelos grisalhos, vi o belo perfil de sua cabeça, entre as mãos da mulher. Ele ainda tinha a camisa, que náo estava no lugar. Suas calças também não estavam onde deviam. Da mulher eu só vi as màos, enfeitadas por anéis que brilhavam, e as pernas, nuas, bem calçadas, enroscavam-se nas pernas despidas dele. Estavam em pé, pareciam um só, mas eram dois. Ele a beijava com a sede dos náufragos.

Fujimos desta cena. Não se sabe o que fazer num flagra, até mesmo se os flagrados são estranhos desconhecidos. Tive medo de que meu susto também fosse flagrado, como se eu estivesse errada por tê-los visto.

A coragem do casal revisita-me a cada instante. Seu despudor, sua vontade maior de provar do outro, esse náo resistir. Esse permitir. Imagino como vivem, de que vivem, se são namorados, amantes, casados, ou se conheceram-se naquela noite mesmo, e no impulso partiram para as vias de fato.
Se náo se veráo mais.
Pode ser que sejam desses casais que vivem entre tapas e beijos. Era uma cena passional, sem dúvida. Faz sentido que uma discussáo tenha antecedido o ato, e no calor da coisa beijaram-se. E beijando-se náo conseguiram parar.

Outra versão é a de tenham ido a uma festa animada. Pode ter sido no Clube Caiçaras, ou no Piraquê, ou em um quiosque da Lagoa. Tocados pelo álcool e instigados pelo contato que a dança proporcionou, deixaram o corpo falar. E o corpo falou alto, na verdade, gritou.

Essa cena combina com todas as histórias de amor que eu puder inventar.

Inspirou-me profundamente.

Tenho vontade de cantar Renato Russo, pois é mesmo preciso amar como se náo houvesse amanhá. Ele tinha razáo. Amanhã náo sabemos onde estaremos, o que faremos, o que estaremos vivendo. Mas se hoje estamos vivos e nos amamos, deixemos o amor falar mais alto que os padrões. Mais alto que os redatores do Código de Ética e de Conduta. O momento do desejo é precioso, valioso, é um desperdício náo vivê-lo em sua intensidade. O tempo passará por nós, passaremos pelo tempo, e o que diremos no último capítulo? Quero dizer que vivi.

O casal merecia um prêmio. Trouxe-me de volta a vontade de fazer loucuras.

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