terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O filho que parte

Rio de Janeiro
Maternidade
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Maior Viver


Oui, c´est la vie


A gente é criança. A gente vai ao colégio, e tem uma amiga.

A gente vê todo dia essa amiga no pátio do colégio. A gente fica mais amiga.

A vida, essa vida imensa, essa vida não respeita muito as amizades, e traça destinos independentes. A gente segue esse riscado divergente. Mas a linha que vai é a linha que volta, e a amiga volta, e a gente volta.

A amiga ressurge com três filhos, três filhões. Bem criados, bem orientados, engraçados, inteligentes. Eu não os reconheci à primeira vista, eram bebês quando os vi pela última vez. Não estive ao seu lado quanto tiveram febre, quando cresciam, quando deram o primeiro beijo, não conheci suas professoras, seus brinquedos preferidos. Não os levei a pracinha, ao pediatra. Mas de repente, gente, são filhos de todos nós.

Os capítulos se repetem. O destino volta com seus caminhos riscados pelo destino, e o filhos seguem esses riscados, e vão para longe de seus amigos do pátio, seguirão outros caminhos.

Hoje os filhos da amiga. Amanhã os meus. Não são meus, nem seus, nem nossos, os filhos são de todos nós. Há a proximidade biológica entre os filhos dos amigos; entre os filhos da Humanidade. Olhamos em seu olhos e lembramos dos olhos vivos, no pátio do colégio. Os olhos seguem caminhos riscados pelo destino e voltam. Na verdade, os olhos nunca partiram.

Hoje parte, vitoriosa, a filha de minha amiga, parte para França, para Sorbonne, para estudar. Conquistou uma bolsa. Não estudei com ela, não emprestei livros, não proporcionei absolutamente nada, mas estou tão orgulhosa como se fosse um feito meu. E tão feliz, tenho tanto orgulho dela, tanta alegria por ela, brasileira que vai fazer bonito na França, brasileira bonita, filha bonita, da minha amiga. Filha de todos nós.

Siga seu caminho riscado pelo destino. Todos estamos, de certa forma, inexplicável forma, seguindo com você. Os caminhos são assim mesmo, e você vai, minha flor, partir, aprender, viver, retornar, ir e voltar, porque linha que vai é a linha que volta, e os olhos que partem, voltam, voltam melhores, mais vistos, mais visíveis, mais brilhantes.

Coração de mãe fica apertado. Sabe o que ensinou, sabe o que o filho aprendeu, mas sabe que o mundo é o mundo e não respeita muito seus ensinamentos de mãe. O mundo desconhece muitas regras; na verdade, o mundo não tem regras: o mundo tem só destinos, linhas, caminhos, cruzados, paralelos, caminhos longos, retos, curvos. Atalhos, perigosíssimos.

Hoje o meu caminho é o do coração. Coração apertado, de amiga da mãe, de mãe amiga, pela filha de amiga, pela amiga e por tantos caminhos que se afastam e se reecontram. Coração que caminhou tanto riscado nesta vida, riscado junto e afastado, nesta vida que afasta e aproxima. Coração apertado de tanta saudade vivida, e de tanta saudade por vir...

La Sorbonne

4 comentários:

  1. Com os olhos rasos d´água, transbordando de amor, só posso dizer que não vivo mais um dia sem você por perto. Foi tempo demais, já deu. Sua sobrinha vai chorar quando ler!
    Peço aos Céus que ela não tenha herdado somente o tipo físico da tia. Rezo para que a genética do coração seja forte o suficiente para que ela tenha também sua inteligência e sensibilidade.
    Eu amo você, minha amiga!

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  2. Lindo, lindo...... Escrito de forma maravilhosa, intenso, sensível. Você disse por todos os que conhecem a Anna a mensagem de amor que desejamos a ela. Très Bien!!!!!!!

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    1. Ronaldo, há pessoas cujos elogios valem muito, pela ética que carregam consigo. É seu caso. Obrigada, de coração.

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